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SÃO PAULO/SP - As últimas duas décadas foram marcadas pelo avanço da fronteira agrícola e áreas de pastagens sobre florestas e campos naturais brasileiros, como o Cerrado. Somados os desmatamentos florestais e vegetações campestres nativas, o Brasil perdeu 513,1 mil quilômetros quadrados dessas áreas verdes de 2000 a 2020, o equivalente a 6% do território do País ou o tamanho de quatro Estados juntos: São Paulo, Rio, Paraná e Sergipe.

A perda de área verde, sobretudo na Floresta Amazônica, é a principal origem das emissões de gases de efeito estufa do País. Por causa disso, o Brasil tem sofrido pressão estrangeira para reduzir o desmate e evitar a aceleração do aquecimento global – cientistas alertam que o prazo para evitar uma catástrofe climática está se esgotando.

Só nos últimos dois anos investigados (2019 e 2020), foram perdidos 23.368 km² de campos e florestas naturais, área maior que a do Estado de Sergipe. Do total, foram desmatados 13.527 km² de florestas no biênio: 60,8% disso viraram um mosaico de ocupações em área florestal e outros 32,7% viraram pastagem com manejo, dentre outros usos. Já da vegetação campestre, que inclui o Cerrado, quase a totalidade foi destinada para o cultivo agrícola e pastagens.

Os dados fazem parte dos levantamentos Contas Econômicas Ambientais da Terra e Monitoramento da Cobertura e Uso da Terra do Brasil. Esses números foram divulgados nesta sexta-feira, 7, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Quem ganhou terreno no País foi a agricultura e a pecuária: a área agrícola cresceu 50,1% em duas décadas, 229,9 mil km² a mais, enquanto as áreas de pastagens com manejo tiveram uma expansão de 27,9%, 247 mil km² a mais. A silvicultura – florestas plantadas para abastecer a produção de celulose e madeira – cresceu 71,4%, 36 mil km² a mais. Dados regionais – que usam imagens de satélite, entre outras fontes – mostram que a Amazônia e o Cerrado foram os mais afetados pelo desmatamento.

“Geralmente a floresta é derrubada, é implantado o pasto com manejo, e depois que o pasto com manejo está mais estabilizado, vem a agricultura. Porque é um custo muito alto derrubar a floresta e colocar já a agricultura”, explica Fernando Dias, gerente do Monitoramento e de Pesquisa da Terra do IBGE.

“Nesses 20 anos foi possível observar isso, essa dinâmica de conversão da vegetação nativa em pastagem, e da pastagem para a agricultura”, complementa Ivone Batista, gerente de Contas e Estatísticas Ambientais do IBGE. “A retirada da floresta é mais custosa.”

Em outras regiões do Brasil, como nas áreas de Cerrado, a dinâmica se altera um pouco. Há substituição de vegetação nativa tanto para ocupação com pastagem quanto para ocupação direta da agricultura, explicou Dias.

Nos últimos anos, tem crescido o esforço de implementar soluções sustentáveis para o agronegócio, a exemplo das fazendas que usam a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), técnica desenvolvida pela Embrapa, como alternativa para minimizar impactos ambientais do agronegócio, um dos principais eixos da economia nacional.

A estratégia permite a convivência de diferentes atividades econômicas (como grãos e gado) e áreas preservadas na mesma propriedade, de forma a não cesgotar o solo ou a disponibilidade hídrica. A adoção do método, porém, ainda é tímida frente ao tamanho da área plantada brasileira.

 

Área do ‘Matopiba’ concentra perdas

Em duas décadas, as mudanças mais intensas na cobertura da terra ocorreram nas bordas da Amazônia e na região chamada Matopiba, formada por áreas majoritariamente de Cerrado nos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, que vêm registrando expansão da agricultura.

Entre 2000 e 2020, as áreas agrícolas tiveram crescimento de 2,8% no Maranhão, 4,4% no Tocantins, 3,8% no Piauí e 2,7% na Bahia. Mas, no ano de 2020, as maiores extensões de áreas agrícolas estavam em Mato Grosso (124.784 km²), São Paulo (102.913 km²), Rio Grande do Sul (98.302 km²), Paraná (72.152 km²) e Goiás (68.359 km²).

A área mais dinâmica de mudança de cobertura nas duas décadas pesquisadas correspondeu às bordas do bioma Amazônia, passando pelos Estados de Rondônia, Mato Grosso e Pará, onde predominou o avanço das pastagens sobre a vegetação florestal. “Essa expansão dos estoques de pastagem com manejo revela uma tendência de migração da atividade agropecuária da Região Centro-Oeste para a Região Norte”, frisou o IBGE.

A escalada do desmatamento da Amazônia tem sido motivo de pressão interna e externa contra o governo Jair Bolsonaro, que afrouxou a fiscalização de crimes ambientais. No primeiro ano da gestão (2019), as multas ambientais aplicadas caíram 30%. A queda nas multas pagas foi ainda maior, de 74%. Em 2020, as multas aplicadas recuaram 54%, enquanto as pagas despencaram 89%.

Em 20 anos, o Pará foi a unidade da Federação com a maior expansão de pastagem com manejo, 87,8 mil km² a mais, enquanto sediava também a maior redução de vegetação natural, 123,2 mil km² a menos. Os Estados com as maiores extensões de pastagens em 2020 foram Mato Grosso (com 190.016 km²), Pará (162.000 km²), Goiás (151.588 km²), Mato Grosso do Sul (147.635 km²) e Minas (114.345 km²).

“É uma dinâmica econômica avançando sobre áreas naturais”, explica Ivone Batista. “Por isso a importância de a gente começar a olhar as questões ambientais nesse foco da contabilidade nacional. A gente tem um aumento nessa dinâmica agropecuária nesse país, mas a custa de perda. O que a gente está perdendo? A gente aqui está falando em área e vegetação”, acrescentou.

Houve também mudanças relevantes em duas décadas na cobertura da terra no sul do Rio Grande do Sul, e na faixa que se estende do oeste paulista ao leste de Mato Grosso do Sul e Goiás, apontou o IBGE. Ivone ressalta, porém, que, em meio às áreas verdes degradadas, é possível constatar territórios que conseguiram resistir preservados.

“São exatamente as unidades de conservação ou terras indígenas. Lugares de preservação, áreas especiais. Nos mapas, a gente consegue apontar que essas áreas especiais elas efetivamente limitam essas ações e elas são espaços de manutenção da dinâmica ambiental”, diz ela. “Efetivamente mostra a importância dessas áreas especiais para a manutenção da biodiversidade, dos ecossistemas locais.”

 

Dados mostram avanço da mineração e Pantanal mais seco

O IBGE também detectou um avanço da mineração em áreas florestais desmatadas e redução de áreas úmidas no Pantanal, tendo a expansão da agropecuária local como uma das possíveis causas. Essa mudança também se reflete no regime de chuvas pantaneiro.

“Nas bordas do Pantanal, as áreas úmidas apresentaram redução, o que pode estar relacionado à variação no regime da precipitação acrescido da expansão da atividade agropecuária na região”, apontou o IBGE. Nos últimos anos, o bioma também tem visto aumento no número de queimadas, com perda de cobertura vegetal e mortes de animais.

 

 

Daniela Amorim / ESTADÃO

ALEMANHA - Uma das duas linhas do oleoduto Druzhba que liga a Rússia à Alemanha foi fechada depois que um vazamento foi detectado passando pelo centro da Polônia, anunciou a operadora polonesa PERN na quarta-feira (12).

"As causas do incidente são desconhecidas neste momento. O bombeamento na linha danificada foi paralisado. A linha 2 do oleoduto funciona normalmente", informou a PERN em comunicado, explicado que o vazamento foi detectado na terça à noite.

Druzhba é o principal oleoduto que transporta petróleo russo para a Alemanha.

"Esta parte do oleoduto transporta petróleo destinado a duas refinarias alemãs: PCK Raffinerie GmbH Schwedt e TOTAL Raffinerie Mitteldeutschland GmbH em Spergau", disse a porta-voz da PERN, Katarzyna Krasinska.

A refinaria de Schwedt, essencial para o abastecimento de combustível e gás de Berlim e sua região, processa apenas petróleo russo transportado por Druzhba.

Em meados de setembro, as subsidiárias da Rosneft na Alemanha, que respondem por 12% da capacidade de refino de petróleo daquele país, foram colocadas sob "tutela".

As subsidiárias da Rosneft Germany (RDG) e da RN Refining & Marketing (RNRM) possuem ações em três grandes refinarias no país, incluindo a Schwedt.

O Ministério da Energia alemão indicou na ocasião que esta tutela visava "responder aos riscos que pesam sobre a segurança do abastecimento" de energia no país, sobretudo antes da entrada em vigor do embargo europeu ao petróleo russo, previsto para 5 de dezembro.

"As ações de emergência estão em andamento. Todos os serviços estão funcionando", disse Krasinska, citada pela agência local PAP.

Segundo ela, os bombeiros estão bombeando o petróleo, "o que pode levar várias horas".

O vazamento ocorreu perto da cidade de Zurawice, 180 km a oeste de Varsóvia.

A construção do oleoduto Druzhba, cujo nome significa "amizade", começou na década de 1960. Possui uma rede de 5.500 quilômetros que transporta petróleo dos Urais para refinarias na Polônia e na Alemanha.

Outro ramo do oleoduto transporta petróleo russo para a Hungria, Eslováquia e República Tcheca.

 

 

AFP

BRUMADINHO/MG - O namoro das aves e os ninhos com ovos entre as pedras à beira do Rio Paraopeba trazem esperança de que a andorinha-de-coleira, atualmente criticamente ameaçada de extinção, possa voltar a povoar o estado.

Uma população reprodutiva da ave Pygochelidon melanoleuca foi encontrada na bacia do Rio Paraopeba durante expedição de diagnóstico ambiental realizado por biólogos da mineradora Vale e especialistas acadêmicos.

A ocorrência da espécie em Minas Gerais era, até o momento, conhecida de poucos e isolados indivíduos observados nas bacias dos rios São Francisco e Paranaíba. A redescoberta dos indivíduios se deu em um trecho de aproximadamente 60 quilômetros, entre os municípios de Pompéu e Curvelo.

A presença da espécie entre Pompéu e Curvelo apresenta dados inéditos e relevantes sobre o tamanho populacional e a biologia reprodutiva desses animais. Além disso, o diagnóstico tem produzido o mais completo conjunto de dados a respeito da biologia reprodutiva da espécie em todo o mundo.

O diagnóstico ainda descartou a existência de eventuais impactos do rompimento da barragem em Brumadinho, em 2019, sobre a população desses animais.

“Não havia estudos que demonstrassem a existência de uma população reprodutiva da andorinha-de-coleira no rio Paraopeba e é por isso que os dados obtidos neste monitoramento representam um enorme avanço no conhecimento sobre as populações desta espécie”, destaca o biólogo e especialista em aves, Leonardo Lopes, professor da UFV.

Ave é monitorada em áreas próximas ao Rio Paraopeba

Segundo Leonardo, o monitoramento permitiu a documentação, até então inédita, da andorinha-de-coleira em plena atividade reprodutiva.

Estudos anteriores descreveram o ninho da espécie, mas nenhum pesquisador havia até então conseguido investigar detalhes sobre a sua reprodução. Isso porque a andorinha-de-coleira constrói seus ninhos em locais de difícil acesso, mais especificamente no interior de fendas localizadas nos afloramentos rochosos ao longo das corredeiras de rios.

Para chegar aos pássaros, a expedição contou com a experiência e o conhecimento de moradores locais, como o barqueiro Samuel Santos, um dos guias da expedição. “Conheço bem a região, sou ribeirinho, nascido às margens do rio São Francisco, e gosto de “passarinhar” por aí, sair em busca de pássaros. Sobre a expedição é uma alegria encontrar as andorinhas. Estar no meio dos pássaros faz bem para a alma, faz bem para o coração”.

Como os ninhos da andorinha-de-coleira são de difícil acesso, para “visitar a casa das aves” foi necessário o uso de uma microcâmera própria para inspecionar locais com baixa luminosidade. O material que as aves utilizam para a construção do ninho, incluindo penas, folhas secas e fibras vegetais, é geralmente coletado nas margens, no próprio pedral ou nas pequenas ilhas de vegetação encontradas no leito do rio.

O monitoramento da biodiversidade em áreas impactadas e não impactadas pelo rompimento da barragem em Brumadinho, também chamado de Programa de Diagnóstico de Danos Ambientais sobre o Meio Biótico, é parte do Acordo de Reparação Integral assinado em 2021 pela Vale, pelo Governo do Estado de Minas Gerais, pelos Ministérios Públicos Federal e do Estado de Minas Gerais e pela Defensoria Pública de Minas Gerais.

São monitoradas áreas de biodiversidade aquática e terrestre em 35 pontos do Rio Paraopeba entre Jeceaba e Três Marias, passando por Brumadinho, na confluência com o ribeirão Ferro-Carvão, local mais afetado pelo rompimento da barragem. Todas as atividades de monitoramento são acompanhadas pelos órgãos ambientais competentes.

“Quando monitoramos os locais impactados e não impactados é possível avaliar as condições ambientais de maneira ampla, e como o rompimento pode ou não ter influenciado a ocorrência, riqueza e distribuição da fauna e flora presentes ao longo da bacia do rio Paraopeba. Encontrar uma população saudável dessa espécie, em grande número e em novos pontos no rio Paraopeba é um importante indicativo ambiental e indica que o rompimento não interferiu na qualidade de vida dessas aves”, ressalta Cristiane Cäsar, analista ambiental da Vale.

“Além disso, as expedições e os monitoramentos da Vale realizados em parceria com as instituições de ensino, ficarão como importantes fontes de pesquisas para as próximas gerações”, complementa.

 

 

Mateus Parreiras / EM.com.br

ÍNDIA - Primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, soltou guepardos africanos trazidos da Namíbia no Parque Nacional de Kuno, em polêmico projeto. Guepardo asiático foi declarado extinto nacionalmente há 60 anos.

Oito guepardos da Namíbia (cinco fêmeas e três machos) foram levados em um avião de carga especial para a Índia no sábado (17/09), como parte de ambicioso e polêmico projeto para reintroduzir à natureza o animal extinto no país.

Três dos animais foram soltos pelo primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, no Parque Nacional de Kuno, perto da cidade indiana de Gwalior. A aparição de Modi no novo santuário ao sul da capital Nova Délhi coincidiu com o 72º aniversário do político.

"Agradeço ao nosso país amigo Namíbia e ao governo de lá, cuja cooperação permitiu que os guepardos retornassem ao solo indiano depois de décadas", disse Modi.

No passado, a Índia era o lar de guepardos asiáticos, mas a espécie foi declarada extinta no país há 60 anos, em 1952. Também conhecido como chita, o guepardo é animal terrestre mais rápido do mundo.

 

Longa viagem

A viagem dos guepardos da Namíbia foi longa e cansativa. Primeiro, os animais foram transferidos por terra de um parque de caça até a capital Windhoek. De lá, embarcaram em um Boeing 747 fretado e pousaram em uma base aérea militar em Gwalior, na Índia, após um voo de 11 horas. Em seguida foram transportados para Kuno de helicóptero e, finalmente, soltos em um recinto de quarentena, onde serão monitorados.

Os guepardos africanos têm aparência muito semelhante aos asiáticos, mas algumas diferenças genéticas. No entanto, como o guepardo asiático permanece à beira da extinção, seus primos africanos são a melhor esperança para a Índia de reintroduzir o animal no país.

Embora críticos tenham alertado que os guepardos da Namíbia podem ter dificuldades para se adaptar ao habitat indiano, os organizadores do projeto permanecem confiantes.

"Os guepardos são muito adaptáveis ​​e estou assumindo que elas se adaptarão bem a este ambiente. Portanto, não tenho muitas preocupações", disse Laurie Marker, fundadora do Fundo de Conservação dos Guepardos, com sede na Namíbia.

 

Centenas de animais necessários

A jornada indiana para reintroduzir os guepardos na natureza começou há mais de uma década, com o "Projeto de introdução do guepardo africano na Índia", em 2009. No ano passado, o plano foi adiado devido à pandemia de covid-19.

"Para uma população geneticamente viável na Índia a longo prazo, será preciso ao menos 500 indivíduos", disse Vincent van der Merwe, gerente da Iniciativa de Metapopulação de Guepardos.

 

 

le (AFP, DPA)

dw.com

SÃO PAULO/SP - O mês de setembro deste ano foi mais frio que a média histórica de São Paulo, de acordo com o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas) da prefeitura. O centro dispõe de dados de temperatura máxima e mínima desde 2004.

Segundo o instituto, a média climatológica histórica de setembro medida da capital paulista é de mínima de 15,2ºC e máxima de 25,9ºC. Neste ano, porém, a média está abaixo. Até segunda-feira (19), a mínima foi de 12,5ºC e a máxima, de 22ºC.

Ou seja, neste período, os termômetros marcaram 2,7ºC abaixo da média mínima e 3,9ºC abaixo da média máxima.

A primavera, que começa nesta quinta-feira (22), deve ser marcada por tempo instável na capital paulista. A previsão é de muitas nuvens, poucas aberturas de sol e pancadas de chuva no período da tarde. Além disso, a temperatura oscila entre 15°C ao amanhecer e 24°C no início da tarde.

Já na sexta-feira (23), as instabilidades se afastam, e o frio ganha força. A previsão é de um início de sexta com muitas nuvens, mas o sol passa a aparecer no fim da manhã. Os termômetros devem marcar uma queda de temperatura entre a tarde e a noite, quando a previsão é de mínima de 10ºC. Já a máxima de 20°C será registrada no meio da tarde.

A frente fria deve continuar no fim de semana na capital paulista. No sábado, a mínima é de 7ºC e os termômetros não devem ultrapassar 20ºC. Já no domingo, a temperatura sobe um pouco, com mínima de 11ºC e máxima de 22ºC. À noite, deve chover.

Agosto frio e julho quente Setembro não foi o único mês com uma média diferente da série histórica. Ainda de acordo com o CGE, o mês de julho e agosto também tiveram dias, em 2022, com temperaturas diferente dos últimos anos.

Pela média histórica, julho tem temperaturas mínimas médias de 12,6ºC e máximas de 22,9ºC. Porém, neste ano, o mês foi mais quente, com médias mínimas de 13,5ºC e máximas de 25,2ºC.

No período, também foram registradas chuvas abaixo da média. O centro destacou que o mês em 2022 igualou a julho de 2018, quando as tardes foram as mais quentes e com as temperaturas máximas mais altas da série histórica do CGE.

As madrugadas foram as mais quentes desde 2010. Em 2009 e 2010, a média da temperatura mínima foi a mais alta de julho de todo o histórico, 14,1°C.

Agosto também registrou temperaturas fora do comum. O mês, que costumava ser de temperaturas mais amenas que julho, inverteu a lógica em 2022. Neste período, a capital registrou média máxima de 22,8ºC e mínima de 12,5ºC, diferente da série histórica, em que a média era de máxima de 24,3ºC e mínima de 13,4ºC.

 

 

FOLHA de S.PAULO

IRAQUE - Suas águas foram célebres no jardim do Éden, na Suméria e na Babilônia. Mas no Iraque de hoje, o Tigre está morrendo. Entre as atividades humanas e as mudanças climáticas, a agonia do rio ameaça acabar com a vida que se implantou às suas margens há milhares de anos.

Desde abril, as temperaturas superam os 35 ºC e as tempestades de areia se sucedem, cobrindo com uma fina camada alaranjada máquinas, animais e seres humanos.

O verão é infernal para os iraquianos, quando os termômetros chegam aos 50ºC e há cortes de eletricidade.

O Iraque se tornou um dos cinco países no mundo mais expostos às consequências das mudanças climáticas, segundo as Nações Unidas.

E o Tigre, que corta o Iraque, está ficando sem força, devido à falta de chuvas, mas também às represas, como as da Turquia, onde tem origem.

Um correspondente da AFP percorreu as margens do rio para constatar o desastre que representa para os habitantes mudar sua forma de vida.

 

- Faysh Khabur (norte): com a represa, "a água diminui dia a dia" -

O percurso iraquiano do Tigre começa nas montanhas do Curdistão, no entroncamento entre o Iraque, a Síria e a Turquia. Aqui, as pessoas ganham a vida cultivando batatas e criando ovelhas.

Em Faysh Khabur, "nossa vida depende do Tigre", explica Pibo Hassan Dolmasa, de 41 anos, de pé com suas bombachas empoeiradas.

"Todo o nosso trabalho, nossa agricultura, depende dele", mas "há dois ou três anos", a situação vem piorando. "A água diminui dia a dia", afirma, enquanto "antes, a água saía a cântaros".

As autoridades iraquianas e os agricultores curdos acusam a Turquia de reter a água com as represas construídas rio acima.

As estatísticas oficiais confirmam: o nível da água do Tigre este ano, em sua chegada da Turquia, tem apenas 35% do volume médio que fluiu para o Iraque nos últimos 100 anos.

Quanto mais se retém água, mais diminui sua vazão e menos chega ao Iraque ao longo dos 1.500 km que o rio percorre antes de se unir ao Eufrates para formar o Chatt al-Arab, confluência dos dois rios, e chegar ao Golfo.

Este tema é fonte de atrito entre os dois países: Bagdá pede regularmente a Ancara que libere mais água e, em resposta, o embaixador turco no Iraque, Ali Riza Güney, pediu em julho aos iraquianos que "usem a água disponível de forma mais eficiente".

A água é largamente desperdiçada no Iraque, acrescentou em um tuíte.

Os especialistas lhe dão razão e falam de métodos irracionais: como na época dos sumérios, os agricultores iraquianos continuam inundando seus campos para regá-los, o que provoca enormes perdas de água.

 

- Diyala (centro): De deslocados pela guerra a deslocados pela água -

Em alguns locais, parecem simples poças, mas os pequenos acúmulos de água no leito do rio Diyala são tudo o que resta desta confluência do Tigre no centro do Iraque, sem as quais não é possível nenhum cultivo na província.

Este ano, devido à seca, as autoridades reduziram à metade as áreas cultivadas em todo o país. E como em Diyala não há água suficiente, não haverá cultivos.

"Seremos obrigados a abandonar a agricultura e vender nossos animais", lamenta Abu Mehdi, um fazendeiro de 42 anos com bigode preto e cafetã branco.

"Fomos deslocados pela guerra" contra o Irã, na década de 1980, "e agora seremos deslocados pela água. Sem água, absolutamente não podemos viver nestas áreas", diz.

O homem tentou encontrá-la por seus próprios meios. "Vedemos tudo, nos endividamos para cavar poços. Cavei poços de 30 metros, (mas) foi um fracasso".

Daqui até 2050, "um aumento da temperatura de um grau Celsius e uma diminuição das precipitações de 10% causarão uma redução de 20% da água doce disponível" no Iraque, alertou o Banco Mundial no fim de 2021.

Então, cerca de um terço das terras irrigadas não terão água.

A escassez de água, os desafios para a agricultura e a segurança alimentar fazem parte dos "principais motores das migrações rurais para zonas urbanas" no Iraque, advertiu em junho a ONU e várias ONGs.

No fim de março de 2022, mais de 3.300 famílias tinham sido deslocadas por "fatores climáticos" em dez províncias do centro e do sul do país, segundo um relatório de agosto da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

"A migração climática já é uma realidade no Iraque", afirmou a OIM.

 

- Bagdá: "depósitos de areia" e resíduos na margem -

Neste verão, em Bagdá, o nível do Tigre era tão baixo que a AFP filmou jovens jogado voleibol no meio do rio, com a água apenas na altura da cintura.

Isto se deve aos "depósitos de areia", explica o Ministério de Recursos Hídricos. Com uma vazão tão fraca que não consegue arrastá-los curso abaixo, estes depósitos se acumulam no fundo e o rio, onde os moradores da capital lançam suas águas usadas, não consegue desaguar.

Não faz muito tempo, o governo enviava máquinas para dragar a areia dos leitos, mas agora, por falta de recursos, estas funcionam escassamente.

A consciência ambiental do governo e da população é "frágil", mesmo que "todo iraquiano sinta a mudança climática, que se traduz em temperaturas em elevação, uma diminuição das precipitações, uma queda do nível da água, tempestades de areia", diz a militante ambientalista Hajer Hadi.

Com sua ONG, Clima Verde, a jovem percorre escolas e universidades para introduzir os jovens na ecologia e nos efeitos das mudanças climáticas em seu país.

Para ela, é uma necessidade pouco atendida pelo governo iraquiano, que precisa gerir uma crise política e econômica depois de anos de guerra.

 

- Ras al Bisha (sul): terra salgada e palmeiras com sede -

"Você vê essa palmeira? Está com sede", diz Molla al Rashed, apontando para uma dezena destas árvores. "Precisam de água. Vou regá-las vaso a vaso? Com uma garrafa?", pergunta-se este agricultor de 65 anos.

A situação é similar no palmeiral vizinho, onde se vê apenas o esqueleto de árvores decapitadas. "Não há água doce, a vida acabou", diz o homem, com um keffiyeh bege cobrindo-lhe a cabeça.

Ras al Bisha fica nos confins de Iraque, Irã e Kuwait, onde o Chatt al-Arab, o principal canal do delta comum do Tigre e do Eufrates, desemboca no Golfo.

Por causa da baixa vazão, a água do mar engole e escala o curso do Chatt al-Arab. A ONU e os agricultores denunciam o impacto desta salinização no solo e as repercussões sobre os rendimentos agrícolas.

Para dar água para seu gado, Molla al Rashed precisa comprar de caminhões-cisterna. Inclusive os animais selvagens se aventuram nas casas buscando algumas gotas, conta este homem.

"Meu governo não me abastece com água", diz. "Quero água, quero viver. Quero plantar, como meus ancestrais", desespera-se.

 

- Chatt al-Arab (sul): a água salgada dificulta a pesca -

Iluminado pela luz rosada do poente, com os pés descalços em uma barca que empurra como um gondoleiro veneziano com ajuda de um bastão, Naim Haddad volta de um dia de pesca em Chatt al-Arab.

Perto de Basra, a metrópole meridional do Iraque, Naim exibe um saco cheio de peixes.

"De pais a filhos, dedicamos nossas vidas à pesca", resume o homem quarentão de barba grisalha. A pesca é o único sustento para sua família de oito pessoas.

"Sem salário do governo, sem subvenções", diz.

Mas a salinização do entorno provoca estragos. "No verão, temos água salgada, a água do mar sobe e chega até aqui", explica.

No começo de agosto, a taxa de salinidade no Chatt al-Arab, ao norte de Basra, era de 6.800 partes por milhão (ppm), anunciaram as autoridades locais.

A princípio, a água doce não ultrapassa as 1.000 ppm, segundo as normas do Instituto Americano de Geofísica, que descreve como água "moderadamente salgada" entre 3.000 e 10.000 ppm.

Consequentemente, algumas espécies de peixes de água doce, como as carpas, muito apreciadas pelos pescadores, desaparecem do Chatt al-Arab e são substituídas por outras que costumam viver em alto-mar.

"Se a água doce diminui, a pesca e nosso sustento diminuem", lamenta Haddad.

No seu caso, ele não pode migrar para a pesca em alto-mar porque seu barco não é preparado para resistir às ondas do Golfo.

E, sobretudo, já viu pescadores suficientes interceptados por oficiais iranianos e kuwaitianos, argumentando que ultrapassaram ilegalmente suas fronteiras marítimas.

 

 

AFP

SÃO PAULO/SP - Os amantes de dinossauros têm, desde 10 de setembro, um programa imperdível em São Paulo: a exposição Dinossauros: Patagotitan – O Maior do Mundo, cuja estrela absoluta é o esqueleto fóssil do maior desses répteis que já existiu na Terra, o titanossauro herbívoro Patagotitan mayorum. A mostra, programada para ir até 27 de novembro, está sendo realizada em uma área de 2.700 m2 no Pavilhão de Culturas Brasileiras (Pacubra), no Parque do Ibirapuera.

A exposição apresenta 15 réplicas de esqueletos de dinossauros completos e 20 fósseis originais, que incluem, além do Patagotitan, gigantes do período Cretáceo, como o Tyrannotitan e o Giganotosaurus (vitorioso numa disputa contra o tiranossauro rex no mais recente filme da franquia Jurassic Park), com cerca de 120 milhões de anos de idade. Também marcam presença alguns dos mais antigos dinossauros conhecidos, como o eoraptor e o Herrerassaurus, ambos do período Triássico, com 231 milhões de anos de idade, e o “brasileiro” Buriolestes schultzi, o atual recordista, que viveu há 233 milhões de anos no que é hoje o Rio Grande do Sul.

Cuidados específicos

O responsável pela exposição no Brasil é o paleontólogo Luiz E. Anelli, professor da USP e escritor de livros como Brasil dos Dinossauros. “Há espécies curiosas como o Carnotaurus, com seus chifres, e o Amargasaurus, com sua fileira de espinhos no pescoço e nas costas. Mais do que ver de perto esses seres magníficos, essa mostra é uma oportunidade de convivermos com espécies da América do Sul e assim entender melhor nossa história, uma oportunidade única de entretenimento científico que interessa a toda a família, a todos nós”, disse ele.

Alguns cuidados especiais foram tomados para a mostra. No caso do esqueleto do Patagotitan mayorum, por exemplo, a produção da exposição teve de criar um espaço específico, já que, segundo estudos, esse dinossauro tinha 40 metros de comprimento (ou três caminhões cegonha enfileirados) e pesava 72 toneladas (correspondente ao peso de 18 elefantes).

Os ingressos custam de R$ 20 a R$ 50, e crianças de até 2 anos terão gratuidade. Confira mais informações sobre como adquiri-los em https://www.livepass.com.br/artist/dinossauros-patagotitan/.

 

 

REVISTA PLANETA

MANAUS/AM - Cerca de um terço de todo o desmatamento da vegetação nativa do Brasil ocorrido desde a chegada dos portugueses, em 1500, se deu somente nos últimos 37 anos, revelou um levantamento da ONG MapBiomas divulgado no final de agosto.

O levantamento mostra que 13,1% da vegetação nativa do país, entre florestas, savanas e outras formações não florestais, foi devastada entre 1985 e 2021. Nesse período, a porção do território brasileiro coberta por vegetação nativa caiu de 76% para 66%.

As áreas devastadas desde 1985 deram lugar à agropecuária, que atualmente responde por um terço do uso da terra no Brasil. Em 37 anos, a área ocupada pela agropecuária passou de 21% para 31%. O maior crescimento foi nas áreas utilizadas pela agricultura, 228%, que agora correspondem a 7,4% do território nacional.

"Apesar de 72% da área de expansão da agricultura ter ocorrido sobre terras já antropizadas [cujas características originais foram alteradas pela ação humana], principalmente pastagens, é importante ressaltar que 28% da mudança para lavoura temporária se deu sobre desmatamento e conversão direta de vegetação nativa", afirmou Laerte Ferreira, professor da Universidade Federal de Goiás e coordenador da Equipe de Mapeamento de Pastagem e do Grupo de Trabalho Solos do MapBiomas.

 

Segurança hídrica e alimentar em jogo

Os dados, lançados numa coleção de sete mapas anuais de cobertura e uso da terra no Brasil, ressaltam que a alteração no uso do solo agravou os desafios de preservação da segurança hídrica, alimentar e energética no país.

As mudanças do uso da terra desencadearam uma redução da superfície de água que, nos últimos 30 anos (1991 a 2021), registaram perda de 17,1%. O fenômeno atingiu especialmente o Pantanal, um bioma fortemente influenciado, por exemplo, pela variação da umidade gerada na evapotranspiração das árvores da Amazônia.

"A ocupação do solo e a produção rural precisam ser compatibilizadas com a conservação dos biomas", afirmou Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, apontando que a tendência de rápidas transformações é um grande desafio para o desenvolvimento e ocupação territorial sustentáveis e prósperas.

O levantamento mostra ainda que o processo de conversão de vegetação nativa em lavoura e pastagens foi mais intenso em algumas regiões, principalmente no Matopiba – área com predominância de Cerrado entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – e na Amacro, na Amazônia Legal, entre os estados do Acre, Amazonas e Rondônia, e no Pampa, no Rio Grande do Sul.

O Matopiba concentrou 56,2% da perda de vegetação nativa no Cerrado nos últimos 20 anos. Na Amacro, a perda de florestas aumentou fortemente na última década, representando 22% do desmatamento na Amazônia contra 11% no período de 2000-2010. O Pampa, por sua vez, é o bioma de maior transformação proporcional tendo sua área de vegetação nativa reduzida de 61,3% para 46,3% em 37 anos.

"Mesmo tendo como vegetação predominante os campos nativos que são plenamente compatíveis com a atividade pecuária, o Pampa vem sendo convertido para o cultivo agrícola, especialmente de soja e os plantios de eucalipto e pinus", destaca o levantamento.

 

Importância de terras indígenas

O MapBiomas destacou ainda a importância das terras indígenas para a preservação da Amazônia, mostrando que a perda de vegetação nativa em territórios indígenas foi de apenas 0,8% entre 1985 e 2021, contra a perda de 21,5% registada fora de áreas protegidas nesse bioma.

A organização alertou ainda que apesar de 66% do território do Brasil ser coberto por vegetação nativa, isso não significa que essas áreas sejam na totalidade conservadas, já que a análise da evolução das mudanças de uso da terra ao longo dos anos apontou que pelo menos 8,2% de toda vegetação nativa existente é secundária, ou seja, são áreas que já foram desmatadas pelo menos uma vez nos últimos 37 anos ou já estavam desmatadas em 1985.

Para o levantamento, o MapBiomas analisou dados de satélites. "Os satélites nos ajudam a revelar os desafios de como expandir a agropecuária sem desmatamento, como proteger os recursos hídricos e como ocupações urbanas podem ser mais seguras e menos desiguais", afirma Julia Shimbo, Coordenadora Científica do MapBiomas e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

 

 

cn/lf (Lusa, ots)

dw.com

SÃO CARLOS/SP - Uma ave conhecida como ‘mãe-da-lua’ foi vista nesta quarta-feira, 31,  no Condomínio Tibaia de São Fernando 2 em São Carlos. 

A aparição da ave chamou a atenção dos moradores que passava pelo local. O registro foi feito por Marina, seguidora do São Carlos no Toque e moradora do condomínio, ela conta que sempre ouviu o canto da ave que parece um assovio mas nunca viu de perto uma.

O nome da mãe-da-lua é urutau, que em tupi significa “ave fantasma”. As penas acinzentadas com tons de marrom se misturam às cores dos troncos das árvores, situação incomum no mundo das aves, que não costumam se camuflar.

A mãe-da-lua é comum em bordas de florestas, cerrados e campos com árvores, mas também pode ser vista em locais abertos, inclusive dentro das cidades. A ave ocorre em todo o Brasil e tem o hábito de cantar à noite.

Ao contrário de muitas aves, o urutau não constrói ninho. Sua reprodução se dá numa cavidade natural na ponta de um tronco ou galho quebrado de uma árvore a poucos metros do solo.  Coloca um único ovo esbranquiçado com pequenas manchas cinzento-violáceas e pardacentas, que mede aproximadamente 40 x 25 mm, sendo incubado pelo macho por aproximadamente 33 dias.  O filhote nasce com penugem branca e permanece no ninho por cerca de 51 dias.
Muitos mitos rondam o Urutau, um deles é que antigamente Quando ele cantava era certeza de morte de gente próxima. 

De acordo com a classificação da IUCN (International Union for Conservation of Nature), seu estado de conservação é considerado como uma ave rara e sua conservação preocupante(LC).

 

 

SÃO CARLOS NO TOQUE

FORTALEZA/CE - Desde o início do período colonial, as aves do grupo dos psitacídeos, entre elas os periquitos, estavam entre os exemplares mais cobiçados pela metrópole. Em um período mais moderno, o tráfico de animais silvestres aliado ao desmatamento passou a exercer ainda mais pressão sobre a fauna brasileira. Muitos grupos, como o periquito cara-suja, passaram a correr sérios riscos de desaparecer por completo.

Um projeto ambiental, porém, tem conseguido sucesso na missão de trazer o periquito cara-suja de volta à natureza. “Os resultados positivos do nosso projeto são consequências de um tripé, que há 14 anos está sendo montado”, afirma o biólogo Fábio Nunes, coordenador técnico do projeto Cara Suja mantido pela ONG cearense Aquasis, com recursos internacionais da Loro Parque Fundación, da Espanha, e da alemã ZGAP.

De acordo com o cientista formado pela Universidade Federal do Ceará, o engajamento da sociedade, o suporte financeiro contínuo e a capacidade técnica desenvolvida pela equipe explicam o retorno da espécie. “Estamos falando de um dos dois projetos que conseguiram recuperar a população de uma espécie de ave no Brasil. O outro é o da arara-azul de lear na Bahia”, afirma Nunes.

No caso do cara-suja, é preciso um "pacote ecológico" para que trazer a ave de volta. O crescimento da população das aves, principalmente na Serra do Baturité, no interior do Ceará, tem relação com a maior preservação da mata, dentro de uma unidade de conservação. E, se a mata está preservada, o ciclo se completa: há mais água potável de nascentes e mais ar limpo - processos fundamentais para o futuro do planeta em tempos de mudanças climáticas.

“Além do tráfico de animais, o grande problema em termos de reprodução é a falta de cavidades naturais para os animais se reproduzirem. Esse periquito usa, por exemplo, espaços ocos feitos por pica-paus e outros animais”, explica o biólogo da Aquasis. Para contornar essa dificuldade, resultado direto do desmatamento das matas do Nordeste do Brasil inseridas no bioma Mata Atlântica, os cientistas desenvolveram um método relativamente simples, considerado hoje um dos mais bem sucedidos do mundo em termos de reprodução de aves em ambiente natural.

 

Caixa-ninho

A caixa-ninho, idealizada e montada pela equipe do projeto, imita as cavidades naturais dos troncos vegetais usados normalmente para a gestação dos ovos que vão dar os filhotes. A reprodução do cara-suja ocorre apenas uma vez por ano, entre fevereiro e junho. A fêmea coloca em média 6 ovos. “É nessa etapa que entra a importância do engajamento da população local”, explica Nunes. Os ninhos artificiais são colocados em 55 sítios diferentes. E as caixas são monitoradas todo o tempo pelos moradores locais, para que a predação, pelo homem, não ocorra.

“Entre 2010 e 2022 voaram aproximadamente 2,3 mil filhotes", comemora Nunes. E a expectativa com a próxima etapa do trabalho, a realização de um censo mais recente sobre a população de cara-suja no Ceará, só cresce. “Em 2010, tínhamos mais de 100. Agora, quando os próximos números saírem, em breve, devemos ter um crescimento de 1.000%. Ou seja, temos mais de mil indivíduos da espécie na natureza”, explica o biólogo.

A contagem dos animais nas matas cearenses também é feita por um grupo de 160 voluntários, que seguem uma metodologia baseada em estudos sobre a biologia dos animais. “Eles ficam parados em um mesmo ponto e fazem uma contagem simultânea.”

O lado educacional do projeto – agora, segundo Nunes, muitos moradores e proprietários de terra entendem a importância da preservação tanto das matas quanto da espécie – é apenas um dos legados que estão se consolidando no Ceará.

A questão das políticas públicas também poderá ter desdobramentos em breve. O fato de o cara-suja aparecer na próxima lista estadual de espécies ameaçadas de extinção (status que já melhorou em relação ao passado) vai ser benéfico para a espécie, avalia Nunes. “Isso é importante porque o tema também deve virar prioridade em nível estadual. Todo esse trabalho é fruto de um monitoramento lento e constante. Todo tempo, quase, precisa ter alguém em campo.”

Os resultados da Serra do Baturité começam também a ser replicados em outras regiões do Ceará, como na Serra da Aratanha, onde o trabalho já começou. A ideia do grupo ainda é espalhar os filhotes, respeitando todo o conhecimento genético e ecológico que se tem da espécie, para outras 14 regiões cearenses.

 

 

Eduardo Geraque / ESTADÃO

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