SÃO CARLOS/SP - Isto é um negro? é também um estudo sobre como implicar e estar implicado em um assunto e, para tanto, explora na cena os limites entre autobiografia e ficção, assim como entre o humor e o constrangimento, misturando diversas linguagens e formatos, do
stand-up ao vídeoclipe. Sempre buscando engajar a plateia nestes acontecimentos, é a conversa que dita o tom despretensioso do discurso levado ao palco.
Discutir negritude numa equipe formado por negros, negras, brancos, mestiços indígenas e japoneses, foi desafiador e muito importante para construção do espetáculo, e revelou com quem queremos dialogar: um Brasil mestiço e racista. Enquanto não entendermos que racismo é um sistema e que todos estamos dentro dele, e somente pessoas negras se interessarem por discussões raciais, avançaremos pouco nesta conversa. É preciso que todos estejam engajados para o fim dessa sociabilidade excludente, escravocrata e cruel, e a peça, como tantas outras iniciativas em vários campos, que falar sobre isso.
Sueli Carneiro diz:
"Afinal, negro e japonês são todos iguais, não é? Brancos não. São individualidades, são múltiplos, complexos e assim devem ser representados. Isso é demarcado também no nível fenotípico em que é valorizada a diversidade da branquitude: morenos de cabelos castanhos ou pretos, loiros, ruivos, são diferentes matizes da branquitude que estão perfeitamente incluídos no interior da racialidade branca, mesmo quando apresentam alto grau de morenice, como ocorre com alguns descendentes de espanhóis, italianos ou
portugueses que, nem por isso, deixam de ser considerados ou de se sentirem brancos. A branquitude é, portanto, diversa e multicromática. No entanto, a negritude padece de toda sorte de indagações.”
PORQUE É NECESSÁRIO PERGUNTAR PARA CONSTRUIR UMA TRAJETÓRIA DE ELABORAÇÃO?
ISTO É UM NEGRO?
A pergunta não busca uma resposta ou conclusão e sim uma elaboração da experiência do que é ser e existir como negro, hoje no Brasil. A interrogação é uma proposição para o diálogo com o público, a partir do encontro, pensamos sobre como o reconhecimento de
nossas trajetórias são pontos de partida para a construção de novas experiências.
Em um país que possui maioria da sua população negra e que ao mesmo tempo é cenário de processos de aniquilação desta, da sua cultura e identidade, é necessário enxergar que o racismo opera como método de controle social, regendo desigualdades, velando sua atuação de forma sofisticada, se enraizando de maneira truculenta
através das relações de opressões cotidianas e contínuas. A inquietação que busca respostas para os efeitos que o racismo produz em nossa sociedade, gera paralelamente uma contra força que evoca um coro de indivíduos que pretendem através do
reconhecimento do seu percurso e compreensão de sua identidade, causar uma ruptura da manutenção de práticas que neguem sua subjetividade.
Perguntar é uma forma de negar a manutenção dessas estruturas.
O título da peça Isto é um Negro? é uma alusão a obra Isto é
um homem? de Primo Levi, e remete também a algo terrível e que não
podemos esquecer.
Como transformar teoria em cena? Como discutir negritude e questões raciais a partir da experiência singular de cada um dos intérpretes? A peça propõe algumas hipóteses possíveis para essas perguntas.
No Dia 26, sexta, às 20h30, no Sesc São Carlos. (não será admitida a entrada de menores de 18 anos, mesmo que acompanhado de pais ou responsáveis)
Teatro. 18 anos
R$17,00 / R$8,50 / R$5,00
Venda limitada a 2 ingressos por pessoa
269 lugares
https://www.youtube.com/watch?v=XL_GjZwDj4c&t=7s