Com novo equipamento, Renê Pereira foi classificado para os Jogos Paralímpicos de 2020, no Japão
SÃO CARLOS/SP - O Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva (NTA) do Campus Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) desenvolveu o projeto de adaptação de um barco a remo para o paratleta Renê Pereira, bicampeão sul-americano. O equipamento adaptado buscou atender as necessidades ergonômicas do atleta na atividade de remar, melhorando o seu rendimento. Com isso, Pereira, que possui paralisia de membros inferiores, conquistou, utilizando o novo barco, medalha na Copa do Mundo de Remo e se classificou para os Jogos Paralímpicos de 2020, em Tóquio, no Japão.
O projeto foi solicitado e realizado em parceria com a empresa Conforpés, de Sorocaba, que atua no ramo de produção e distribuição de próteses e produtos assistivos. Cleyton Fernandes Ferrarini, professor do Departamento de Engenharia de Produção (DEP-So) do Campus Sorocaba e coordenador do NTA/UFSCar, explica que o equipamento utilizado anteriormente por Renê Pereira apresentava alguns problemas, prejudicando o seu desempenho. "A estabilização dos membros inferiores do atleta foi apresentada como a necessidade primordial para aprimoramento de sua performance. Ao remar, ocorriam movimentos involuntários das pernas que levavam ao desequilíbrio e a consequentes perdas energéticas para retomar o equilíbrio. Também foram identificadas as necessidades de adaptações de equipamentos que compõem o 'cockpit' do barco", destaca Ferrarini.
No novo projeto foram trabalhados a estrutura para estabilização das pernas, encosto, assento e finca-pé. O desenvolvimento do barco a remo adaptado ocorreu no período de abril a outubro de 2019, junto a terapeutas ocupacionais e técnicos da Conforpés. "A equipe realizou a identificação de requisitos do produto por meio de entrevistas com o atleta, seu treinador e integrantes do staff da Confederação Brasileira de Remo [CBR]. Posteriormente, foram discutidas e definidas alternativas projetuais para aprimoramento da performance. Na sequência, os protótipos foram produzidos e testados pelo atleta e sua equipe na raia da Cidade Universitária da Universidade de São Paulo [USP], o que levou a ajustes e novos testes", detalha Miguel A. A. Borrás, também professor do DEP-So e integrante do NTA/UFSCar.
O barco a remo olímpico é composto pelo casco, geralmente constituído por fibra de carbono, fibra de vidro e resina epóxi. Nele há o espaço reservado para acomodação de um (ou mais) remadores denominado "cockpit", onde se encontram o encosto, o assento e o finca-pé. Fixadas nas laterais do barco ficam as braçadeiras que apoiam os remos. Segundo Plínio César Marins, técnico do NTA/UFSCar, a principal diferença entre um barco a remo padrão e o adaptado está na obrigatoriedade de uso de cintos de segurança para tórax e pernas do paratleta. "Encosto, assento e finca-pé podem ser customizados de acordo com a necessidade do paratleta, porém submetidos à aprovação por comitê julgador das provas", completa. Ele explica que "o assento anatômico em fibra de carbono foi customizado para Renê; porém o encosto, finca-pé e estrutura para estabilização das pernas podem ser utilizados também por outros atletas".
Renê Pereira utilizou o novo barco em duas etapas da Copa do Mundo de Remo, conquistando medalha de prata em Roterdã, na Holanda, em julho de 2019, e o quinto lugar na etapa de Linz Ottensheim, na Áustria, em setembro. Com isso, garantiu sua vaga nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, no Japão, que ocorrem de 25 de agosto e 6 de setembro de 2020. No final do ano passado, ele também foi premiado como o melhor atleta de Remo do Brasil na edição do Prêmio Paralímpicos 2019, evento promovido pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).
Sobre o NTA/UFSCar
O Núcleo foi criado em 2013 e, desde então, já desenvolveu vários projetos como protótipos de cadeiras de rodas e de andadores; mesa portátil para uso em cadeiras de rodas; cadeira de banho de baixo custo com estrutura de tubos de PVC; pratos adaptados para crianças com deficiência motora; colheres de silicone para usuários com mordedura involuntária; apoio para smartphone para pessoas com deficiência visual utilizarem aplicativo de lupa; plataforma dirigível para cadeira de rodas; e recursos didáticos para crianças com deficiência visual.
Atualmente, integram o Núcleo os professores do DEP-So Andréa Regina Martins Fonte, Patricia Saltorato, Isaias Torres, Miguel A. A. Borrás e Cleyton Fernandes Ferrarini; o técnico de laboratório do DEP-So Plínio César Marins; além de alunos de graduação, mestrado e doutorado de programas da UFSCar e de outras universidades.
O Núcleo está alocado em sala anexa ao Laboratório de Simulação de Situações Produtivas (LASP), pertencente ao DEP-So, situado no prédio ATLab do Campus Sorocaba da Universidade. Mais informações podem ser solicitadas pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. ou pelos telefones (15) 3229-6116 e (15) 99765-5704 (via WhatsApp).