CUBA - Todas essas histórias sobre os cubanos que mantêm carros americanos antigos em uso são absolutamente verdadeiras. É por necessidade: os embargos comerciais impedem que tanto os carros quanto as peças dos EUA cheguem à ilha, e os veículos estrangeiros disponíveis – novos e usados – estão fora do alcance financeiro de todos, exceto dos cubanos mais ricos. Por isso, eles são os melhores recicladores, fabricantes e mecânicos de veículos.
Em uma viagem a Havana em janeiro de 2018, nosso guia era uma mulher afável que dirigia um Chevrolet dos anos 50, magnificamente decorado. Uma noite, a caminho do jantar, entramos no grande carro amarelo e pegamos a estrada. Um quarteirão depois, a alavanca do câmbio quebrou.
A motorista chamou um táxi, e chegamos à nossa refeição sem saber quem nos pegaria assim que tivéssemos terminado. Quase duas horas depois, fomos surpreendidos ao ver o Chevy amarelo nos esperando no estacionamento, com o câmbio totalmente consertado.
Nos EUA, um conserto tão rápido só seria possível se houvesse uma transmissão totalmente compatível em determinada oficina, pronta para ser rapidamente instalada, mas tal cenário seria bem incomum. Em Cuba, a história é diferente. "Conheço pessoas que têm todas as peças de substituição disponíveis em sua garagem no caso de o carro quebrar", afirmou Paolo Spadoni, professor associado da Universidade Augusta, na Geórgia, com experiência em assuntos cubanos.
À medida que os carros do mundo se tornam elétricos, pode ser lógico presumir que a magia mecânica necessária para reparar um clássico de combustão interna em duas horas se tornará uma habilidade profundamente desvalorizada. Afinal, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou que gostaria de ver os veículos elétricos chegando a 50 por cento de todas as vendas de carros novos nos Estados Unidos até 2030. Atualmente, os veículos totalmente elétricos representam cerca de dois por cento das vendas de carros novos no país.
Embora a causa não sejam os embargos comerciais, mas sim essa próxima mudança para carros elétricos, especialistas dizem que é possível que as estradas dos EUA possam se assemelhar a Cuba por algum tempo, com carros mais antigos rodando com motores a gasolina e mantidos em circulação muito depois de terem sido trocados por outro modelo de combustível. "Achamos que será como Cuba, especialmente nas áreas rurais dos EUA", comentou Michelle Krebs, analista executiva da Cox Automotive, acrescentando que os avanços das baterias serão cruciais para aumentar o número de carros elétricos na estrada: "O alcance é muito importante para as pessoas em lugares distantes; você tem de dirigir longas distâncias só para chegar ao supermercado."