Jornalista/Radialista
ARGENTINA - Javier Milei completa cem dias de governo na terça-feira (19) com uma ideia fixada na cabeça dos argentinos: "não há dinheiro". A frase, repetida como mantra pelo economista desde a campanha, tem permitido que ele faça os ajustes sem precedentes que prometeu enquanto conserva relativa popularidade.
Pelo menos até aqui, o país parece ter dado um voto de confiança ao economista que chegou ao poder em dezembro passado prometendo uma revolução ultraliberal para acabar com o déficit público e a inflação, em uma Argentina profundamente desgastada por sucessivas crises.
Mas não sem consequências. Se de um lado as primeiras medidas do presidente conseguiram minimamente balancear as contas públicas em apenas três meses de gestão, recuperando certa credibilidade à nação, por outro geraram um alto custo social e levaram a pobreza aos piores níveis dos últimos 20 anos.
Com a desvalorização abrupta do peso e a liberação dos preços que vinham sendo congelados pelo governo de seu antecessor, o peronista Alberto Fernández, os valores de todos os serviços e produtos dispararam de uma vez. As classes mais baixas pulam refeições, enquanto a classe média diminui a lista do mercado, corta plano de saúde e esquece os restaurantes.
Milei responsabiliza os que vieram antes dele pela deterioração e se nega a dar meia-volta. "Se alguém pensava que décadas de populismo barato e empobrecedor seriam resolvidas em 90 dias, estava enganado", defendeu o porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni, numa espécie de balanço.
"Nosso sucesso é que a expectativa foi alterada e que começa-se a entender que evitamos o pior, que evitamos a hiperinflação e que, de fato, estamos em meses complexos, em virtude de corrigir uma série de injustiças e distorções", justificou.
No caminho, porém, o presidente encontra obstáculos: vê suas reformas do Estado travadas no Congresso, sua reforma trabalhista suspensa pela Justiça e ainda tenta apaziguar as diferenças com governadores.
"É um balanço muito atípico. Por um lado, ele está tendo um êxito e levando adiante um ajuste muito impactante, que mesmo com muitas consequências no bolso das pessoas não derrubou sua popularidade. Por outro, tem carecido de estratégia política para lidar com sua falta de apoio legislativo", diz Julio Birdman, cientista político e professor da UBA (Universidade de Buenos Aires).
Segundo Birdman, o governo de Milei é sustentado por três pilares: o profundo corte de gastos através das canetadas de seu ministro Luis Caputo, a desregulação da economia através de um megadecreto de mais de 300 artigos e a reforma do Estado através da chamada "lei ônibus". O primeiro foi o único que ele conseguiu manter de pé até agora.
O decreto ainda está cambaleante e foi rejeitado pelo Senado na última quinta (14), mas segue em vigor até que eventualmente também seja rechaçado por inteiro pelos deputados. Já a "lei ônibus" foi retirada pelo governo da Câmara em fevereiro após discordâncias sobre artigos específicos.
Agora, o presidente tenta negociar uma versão ainda mais desidratada com governadores, que na Argentina têm forte influência sobre os legisladores. O apoio depende de um "Pacto de Maio" que Milei quer que seja assinado por todos os líderes provinciais daqui a pouco mais de um mês, com dez políticas de Estado de longo prazo.
"Na economia ele foi melhor do que na política", opina Andrés Borenstein, consultor e professor de macroeconomia da Universidade Torcuato di Tella, em Buenos Aires. Otimista em relação ao governo, ele destaca a acumulação de reserva de dólares, problema histórico do país, e a inflação que depois de atingir 26% em dezembro recuou para 13% em fevereiro.
"O apoio ao governo depende de que no curto prazo a economia mostre algum tipo de recuperação, em maio, abril ou junho, e obviamente que se consiga um acordo com os governadores no Pacto de Maio. Que os dois lados cedam um pouco e cheguem a uma conclusão", avalia. "O mercado acredita nele."
Fora do tema economia, ao qual Milei se dedica quase exclusivamente, a segurança foi outra área que sofreu mudanças, marcadas pela "mão dura" da ministra Patricia Bullrich, uma admiradora das políticas de encarceramento em massa do presidente de El Salvador, Nayib Bukele.
Ela acionou os militares e deu mais liberdade para o uso de armas pelas forças federais diante de uma nova crise em Rosário na última semana -a cidade do jogador Lionel Messi, a cerca de três horas de Buenos Aires, teve assassinatos e ataques coordenados pelo crime organizado após mudanças nas prisões.
A pasta de Bullrich ficou marcada ainda por um polêmico "protocolo antipiquetes" de tolerância zero contra o bloqueio de vias por manifestantes. Ele prevê o uso de motos, spray de pimenta e jatos de água para romper o método de protesto comum na Argentina, o que gerou novos confrontos nesta segunda (18).
Milei tem enfrentado frequentes atos e paralisações contra suas medidas radicais nas ruas e critica sindicatos e movimentos sociais por não terem reagido da mesma forma durante a inflação nos governos peronistas. Para analistas, porém, até agora as manifestações não têm tido grande efeito.
"Os atores que já existem nas ruas estão um pouco desgastados, não têm capacidade de gerar um forte impacto. Pelo contrário, Milei tem saído fortalecido quando se mobilizam. Mas isso pode mudar se surgirem outros tipos de protestos, outros atores", pondera Birdman.
POR FOLHAPRESS
LISBOA - Novo relatório da OMM (Organização Meteorológica Mundial) confirmou que a última década foi a mais quente da história. Pelos cálculos da entidade, que é vinculada à ONU (Organização das Nações Unidas), os últimos nove anos (2015-2023) foram os mais tórridos já registrados.
De acordo com o documento, apresentado na terça-feira (19), o recorde absoluto de temperatura é agora de 2023, que superou "com folga" seus antecessores. O ano registrou novas máximas globais em vários quesitos, incluindo temperatura dos oceanos, degelo da Antártida e aumento do nível do mar.
Na avaliação da OMM, o ano passado foi cerca de 1,45°C mais quente do que média registrada entre 1850 e 1900. Em janeiro, o observatório Copernicus, da Agência Espacial Europeia, já havia classificado 2023 como o recordista absoluto de calor, com valores 1,48°C acima dos níveis de pré-industriais.
A secretária-geral da entidade, Celeste Saulo, destacou que a humanidade nunca esteve tão próxima de ultrapassar, ainda que de forma temporária, a meta estabelecida no Acordo de Paris de limitar o aumento global de temperaturas preferencialmente a 1,5°C.
"A comunidade da Organização Meteorológica Mundial está soando o alerta vermelho para o mundo", afirmou.
"As alterações climáticas envolvem muito mais do que temperaturas. O que nós testemunhamos em 2023, especialmente com o calor sem precedentes nos oceanos, o recuo dos glaciares e a perda de gelo marinho na Antártida, é motivo de particular preocupação", completou.
O relatório traz uma compilação de dados considerados alarmantes pelos cientistas. "Em um dia normal em 2023", quase um terço dos oceanos globais foi assolado por uma onda de calor marinha, o que traz danos para ecossistemas vitais. O ano se encerrou com mais de 90% do oceano tendo registrado esse fenômeno.
O documento da OMM destacou também a ocorrência de uma série de outros eventos climáticos extremos em 2023, incluindo inundações, secas, incêndios florestais e ciclones tropicais.
O número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave no mundo disparou, passando de 149 milhões, antes da pandemia, para 333 milhões em 2023. O relatório reconhece que as alterações climáticas não são as únicas responsáveis pela crise alimentar, mas indica que os extremos meteorológicos e climáticos agravaram a situação.
Em uma mensagem exibida durante o lançamento, o secretário-geral da ONU, António Guterres, reforçou o senso de urgência do combate às mudanças climáticas. "Sirenes estão soando em todos os principais indicadores", afirmou.
Ainda que a concentração de gases-estufa emitidos pela humanidade seja a principal razão para o aumento das temperaturas, a presença do fenômeno climático El Niño, a partir de meados do ano, contribuiu para pressionar ainda mais os termômetros em 2023.
Na avaliação do chefe de monitoramento climático da OMM, Omar Baddour, é possível que 2024 também seja de extremos, uma vez que, normalmente, o ano seguinte a um El Niño tende a ser mais quente.
"Se a margem de 2023 fosse menor do que aquilo que nós vimos, eu diria com certeza que 2024 quebraria o recorde de calor", afirmou. Segundo Baddour, ainda "não podemos dizer com certeza que 2024 será o ano mais quente", mas há uma grande probabilidade de que haja ao menos um empate com 2023.
O cientista destacou ainda que o último janeiro teve as temperaturas médias mais elevadas já registradas para o mês. "Portanto, os recordes ainda estão sendo quebrados."
Líder da organização Meteorológica Mundial, Celeste Saulo disse acompanhar com atenção a onda de calor atual no Rio de Janeiro, onde a sensação térmica atingiu 62,3°C no domingo (17), um recorde de acordo com o sistema Alerta Rio.
"Eu estou muito preocupada com o que ouvimos sobre o Rio de Janeiro", declarou, ressaltando, contudo, que os valores registrados na capital fluminense ainda não foram confirmados.
"Ainda precisamos usar nosso controle de qualidade para ter certeza [dos dados] e confirmar os valores, mas eu considero que a mensagem já clara: estamos com temperaturas muito acima daquelas que costumávamos ter. Nossas populações não estão preparadas para lidar com isso, assim como nossas infraestruturas e nossas casas", completou.
Apesar do cenário negativo apresentado, os especialistas da Organização Meteorológica Mundial ressaltaram que a expansão da geração de energia renovável trouxe um "vislumbre de esperança" para as metas de descarbonização.
Puxada sobretudo pelo aumento da energia solar, eólica e hidráulica, a capacidade de geração de energia renovável aumento quase 50% em relação a 2022.
A entidade destacou a necessidade de ampliar o financiamento para a adaptação e a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. "O custo da ação climática pode parecer elevado, mas custo da inação climática é muito mais elevado", disse Saulo.
POR FOLHAPRESS
TAIWAN - Um homem de 23 anos foi preso acusado de amputar as próprias pernas para receber indenização de R$ 6,5 milhões de empresas de seguro, em Taipei, capital de Taiwan. A prisão ocorreu na última quinta-feira (14).
Homem amputou as duas pernas para receber dinheiro do seguro. O estudante, identificado apenas pelo seu sobrenome, Zhang, foi preso por suspeita de fraude ao amputar suas pernas para resgatar cerca de 41 milhões de dólares taiwaneses (cerca de R$ 6,5 milhões de reais) de oito empresas de seguro.
Golpista teria deixado as pernas por horas em gelo seco para sofrer queimaduras por frio. O plano do estudante foi deixar suas pernas por mais de dez horas em um balde de gelo para deixá-las tão queimadas por frio que seria necessária a amputação.
Contradição com clima e ferimento gerou suspeitas. Alguns analistas de seguros desconfiaram da versão de Zhang, já que as temperaturas em Taipei estavam entre 7°C e 17°C no dia em que o homem registrou a lesão. Além disso, médicos observaram que o congelamento era simétrico demais e não havia marcas de meias ou sapatos.
POR FOLHAPRESS
RIO DE JANEIRO/RJ - O Mundial de ciclismo paralímpico de pista, última competição classificatória para os Jogos de Paris, começa nesta quarta-feira (20), no Velódromo do Rio de Janeiro, sede da Rio 2016. O evento reunirá 287 atletas de 39 países, considerados os melhores do mundo em cada classe. As principais potências na modalidade são Grã-Bretanha, Holanda, Austrália e China.
A delegação brasileira conta com 25 atletas, entre eles está Lauro Charman, número 2 no ranking mundial na classe C5. Medalhista na Rio 2016 e campeão mundial em 2018, o ciclista paulista enfileirou pódios no ano passado: foi ouro na perseguição individual e bronze no contrarrelógio nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago (Chile), e faturou o tricampeonato da Copa Mundo de estrada, nos Estados Unidos.
O Mundial de Paraciclismo de Pista começa nesta quarta-feira, 20, no Velódromo da cidade maravilhosa e termina dia 24 ??#Energyofparacycling #paracycling #CiclismoCBC pic.twitter.com/Sjq0Yt8ECl
— Comitê Paralímpico Brasileiro (@cpboficial) March 19, 2024
Nascido em Anápolis (GO), Carlos Alberto Gomes Soares, número nove do mundo C1 (limitação físico-motora). Entre seus adversários estarão os atuais líderes no ranking, os hineses Weicong Liang e Zhangyu Li.
A disputa também promete ser acirrada na classe Tandem (pessoas com deficiência visual). Entre as representantes brasileiras estão Bianca Canovas Garcia – detentora de um ouro e dois bronze no Parapan de Santiago –, eleita a atleta do ano no Prêmio Paralímpicos de 2023; e Márcia Ribeiro Gonçalves Fanhani.
A classe Tandem reúne oito das dez primeiras colocadas no ranking. A líder é a britânica Sophie Unwin, que defenderá lutará por três títulos: contrarrelógio, velocidade e perseguição individual. Na sequência estão as malaias Nur Suraiya Muhammad Zamri (2ª colocada) e Nur Azlia Syafinaz Mohd Zais (3ª), a australiana Jessica Gallagher (4ª), a britânica Elizabeth Jordan (5ª), a norte-americana Hannah Chadwick (6ª), a britânica Lora Fachie (7ª) e a irlandesa Katie-George Dunlevy (9ª).
Esta é a segunda vez que o Brasil recebe o Mundial - o país também sediou a edição do evento em 2018.
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