COREIA DO NORTE - Família governa o país desde sua fundação, em 1948. Há dúvidas sobre quem será o sucessor de Kim Jong-un – alguns analistas apostam em Ju-ae, garota de 11 anos que tem feito aparições públicas ao lado do pai.Quando o ditador Kim Jong-un sair à varanda na Grande Casa de Estudos do Povo em Pyongyang neste sábado (09/09) para saudar a multidão e celebrar o 75º aniversário da fundação da Coreia do Norte, grande parte da atenção dos analistas que acompanham a situação no país estará voltada para as pessoas no entorno dele.
A China e a Rússia devem enviar representantes de governo para acompanhar as celebrações e a parada militar. Mas o ponto de maior interesse deve ser a presença – ou ausência – de Kim Ju-ae, a filha de 11 anos do líder.
A garota fez sua primeira aparição pública em novembro do ano passado, por ocasião do lançamento de um míssil, e tem desde então acompanhado o pai em diversas ocasiões. Acredita-se que ela seja a segunda de três filhos do líder norte-coreano.
Embora muito da vida privada de Kim Jong-un seja mantido em segredo, o serviço secreto da Coreia do Sul afirma que o primeiro descendente dele é um rapaz – uma tremenda vantagem para um potencial regente de uma sociedade dominada por homens.
Apesar disso, Ju-ae parece ser a cria favorita. Especula-se que ela esteja sendo preparada para, um dia, assumir a liderança do país comunista.
Três gerações no poder
Governantes anteriores da Coreia do Norte, Kim Il-sung e Kim Jong-il também apresentaram seus sucessores em público para garantir que o clã continuasse no controle. Mas eles passaram o bastão para filhos homens.
Kim Il-sung chegou ao poder em 1945 apoiado pela União Soviética, após o Japão, potência colonizadora, ser derrotado e expulso da península coreana, tornando-se chefe de governo assim que o país foi fundado, em 1948.
O patriarca construiu sua legitimidade como regente de uma nação recém-nascida baseado na guerrilha que travou contra os japoneses – embora seja consenso de que as ações de resistência são largamente exageradas pela propaganda estatal.
Em 1950, Kim ordenou às suas tropas que invadissem a Coreia do Sul, país apoiado pelos Estados Unidos. A China acabou intervindo para salvar o Norte da derrota contra uma coalizão de membros das Nações Unidas liderada pelos americanos. O combate acabou três anos depois em um impasse, e a península desde então segue dividida.
Se a Coreia do Norte, no início, era mais desenvolvida e rica que o vizinho do sul – principalmente devido às grandes reservas minerais, à abundância de fontes de energia e aos parceiros comerciais Rússia e China –, a situação se inverteu rapidamente devido à má gestão econômica de Kim, com a Coreia do Sul se tornando uma potência econômica asiática.
O ex-guerrilheiro morreu aos 82 anos vítima de um ataque cardíaco em 7 de julho de 1994. O governo seguiu então para as mãos do filho mais velho dele, Kim Jong-il.
Milhões morreram de fome
Segundo a narrativa oficial, Kim Jong-il nasceu em 1942, sob um céu raro cruzado por dois arcos-íris, dentro de um casebre de madeira usado por combatentes da resistência e situado na encosta da montanha Baektu. Relatos soviéticos mais prosaicos dão conta de que ele teria nascido em um campo de pessoas desalojadas no leste da Rússia em 1941.
Ao ascender ao poder na década de 90, ele herdou também uma crise gestada pelo seu pai: uma fome generalizada causada pelo mau gerenciamento da agricultura nacional e agravada pela perda de apoio econômico da Rússia e por uma série de desastres naturais que arruinaram colheitas inteiras.
Segundo algumas estimativas, a Marcha Árdua no país isolado custou 3,5 milhões de vidas.
O rígido controle que o governo exercia sobre a educação e os meios de comunicação impediram que o sofrimento se convertesse em revolta, e a crise foi, por fim, superada em 1998.
Foi também Kim Jong-il quem ordenou o primeiro teste nuclear da Coreia do Norte, em outubro de 2006, informando ao mundo sobre a existência de armas nucleares em seu arsenal.
Nos anos seguintes, começaram a surgir rumores de que o líder andaria mal de saúde. Ele seria diabético, teria gota e outras doenças decorrentes do apetite que nutria por alimentos estrangeiros e bebidas alcoólicas caras. Morreu também de ataque cardíaco, a bordo de seu trem oficial, em 17 de dezembro de 2011.
Filhos mais velhos fora da linha de sucessão
Em uma situação inusitada, quem foi apontado novo líder da nação foi não o primeiro, nem o segundo filho de Kim Jong-il, mas o terceiro.
O mais velho, Kim Jong-nam, havia enfurecido o pai ao ser flagrado com um passaporte falso da República Dominicana tentando entrar no Japão para visitar a Disneylândia.
O segundo filho, Kim Jong-chol, não teria interesse em assumir a posição do pai e levaria uma vida de playboy, tendo sido avistado em um concerto do Eric Clapton em Londres em 2015.
Já Kim Jong-un parece interessado em seguir os passos do pai e do avô. Como eles, o atual ditador norte-coreano também promove seu próprio culto à personalidade, oprimindo rivais e oponentes, e expandindo o arsenal bélico do país, que agora inclui armas nucleares.
No final de 2013, ele acusou seu tio e mentor, Jang Song-thaek, de traição e ordenou sua execução sumária e a de outros cinco familiares próximos.
Para analistas ocidentais, também não há dúvida de que Kim Jong-un está por trás do assassinato de Kim Jong-nam, seu meio-irmão, morto no aeroporto de Kuala Lumpur em fevereiro de 2017.
Estratégia de imagem contra crises
Hoje aos – acredita-se – 42 anos de vida, Kim Jong-un também teve que enfrentar desafios vindos do exterior, como as sanções internacionais e a aliança cada vez mais estreita entre Coreia do Sul e Estados Unidos.
Park Young-ja, pesquisadora-sênior no Instituto da Coreia para a Unificação Nacional, uma entidade com sede em Seul, afirmou à DW que essa é a razão pela qual o líder tem levado sua filha consigo em aparições públicas.
"Ele a está colocando no centro das atenções para animar as pessoas comuns e reduzir a ansiedade delas em relação ao futuro do regime", afirma. Segundo ela, não seria inimaginável que a garota de 11 anos possa vir a chefiar o país no futuro.
País "confuciano, voltado para homens"
Toshimitsu Shigemura, professor de relações internacionais na Universidade Waseda, em Tóquio, e especialista na dinastia Kim, tem uma outra opinião, e diz que Kim Ju-ae não pode herdar a liderança do país.
"Ela não o sucederá e não tem nenhum cargo oficial ou poder", pondera Shigemura. "Sequer acho que ela vá aparecer no aniversário [de 75 anos do país] porque essa não é uma sociedade moderna, avançada. Ainda há oposição a uma liderança feminina."
"Pode ser difícil para quem está de fora entender isso, mas esse é um país com uma cultura profundamente voltada para os homens, confuciana", argumenta o professor. "A dinastia Yi durou mais de 500 anos, e os reis Koryo ocuparam o trono por 400 anos, então os 75 anos da dinastia Kim não são nada, e para o povo coreano faz muito sentido que o rei passe seu reino adiante para o filho."
Shigemura diz que a reputação de Kim pode ser prejudicada por derrotas econômicas e a volta à região da fome generalizada, mas ressalta que a "coesão interna e a durabilidade são altas" e não há nenhum candidato óbvio à espera de um erro para tirar vantagem. E ainda no início da sua quarta década de vida, o ditador tem tempo para identificar e alçar um substituto.
MUNDO - O novo plano ambicioso de Kim Jong Un para os próximos cinco anos visa desenvolver a economia abalada da Coreia do Norte, mas as propostas podem vacilar diante de grandes crises que já paralisaram os projetos atuais do jovem líder.
Em comentários divulgados neste fim de semana, Kim culpou sanções internacionais, bem como crises imprevistas, incluindo a pandemia do coronavírus e desastres naturais, por impedir o governo de melhorar a vida das pessoas, enquanto criticava as autoridades por erros que precisavam ser consertados.
Ele propôs tornar-se menos dependente das importações, fazer crescer quase todos os setores e reformar a forma como os funcionários trabalham.
No entanto, é improvável que o novo plano reverta a crescente decadência da economia norte-coreana, tornando difícil para Kim cumprir suas promessas elevadas e potencialmente cortando os recursos disponíveis para valiosos projetos militares, disse Chad O'Carroll, CEO da Coreia Grupo de risco, que monitora a Coreia do Norte.
“(Não há) interesse aparente em reformas, alívio de sanções ou uma abertura da economia”, disse ele em um post no Twitter.
Desde que Kim chegou ao poder em 2011, os padrões de vida melhoraram para muitos norte-coreanos à medida que os mercados proliferaram e os bens de consumo se tornaram mais amplamente disponíveis. Mas agora o país está enfrentando a situação mais desafiadora desde a fome na década de 1990, e projetos como resorts turísticos, zonas econômicas e um grande hospital parecem paralisados.
A decisão de Kim de organizar um grande congresso e falar de projetos ambiciosos em face da séria escassez de muitos norte-coreanos mostra como o governo “internalizou sua própria propaganda”, disse Leif-Eric Easley, professor da Universidade Ewha em Seul.
“As condições econômicas e sociais do país são piores do que muitos estrangeiros avaliam”, disse ele. “Kim fala ao seu povo sobre as deficiências internas e promete melhorias, mas é improvável que ajuste as políticas para receber ajuda e assistência.”
O plano - que inclui propostas para armas nucleares mais avançadas - parece estar se dobrando em relação ao "Byungjin" da Coréia do Norte, ou política de desenvolvimento paralelo, disse Kang Dong-wan, professor de Ciência Política e Diplomacia da Universidade Donga em Busan.
“A Coreia do Norte está voltando ao seu plano para 2017 - política dupla de melhorar sua dissuasão nuclear e economia autossuficiente”, disse ele.
O novo plano de cinco anos inclui uma longa lista de desejos para expandir quase todas as categorias da indústria, desde a produção de metais e produtos químicos até a mineração de carvão, turismo, ferrovias modernizadas e mais transporte público.
A Coreia do Norte planeja investir em usinas de energia elétrica nuclear e maremotriz, bem como em "edifícios com zero carbono e energia zero, de acordo com as tendências mundiais de desenvolvimento arquitetônico", enquanto as redes de comunicação móvel do país devem se tornar a "próxima geração" logo que possível.
Pelo menos 50.000 apartamentos serão construídos na capital, Pyongyang, e outras 25.000 moradias na área de Komdok, que abriga grandes operações de mineração.
Kim pediu capacidade para produzir 8 milhões de toneladas de cimento para apoiar os grandes projetos de construção.
Melhorar a economia não pode depender apenas da solução de problemas externos e só será possível depois de “romper com o atual ponto de vista ideológico incorreto, atitude de trabalho irresponsável, incompetência e forma de trabalho obsoleta”, disse Kim.
A economia da Coréia do Norte deixou de ser totalmente centralizada depois que muitos mercados privados e negócios surgiram em face das falhas do governo em fornecer na década de 1990.
Analistas dizem que esses mercados vieram para ficar, mas há sinais de que o governo está se reafirmando de maneiras que efetivamente reverteram ou reduziram pelo menos algumas dessas reformas.
“A tarefa importante ... é restaurar o papel de liderança e controle do estado nas atividades gerais de serviço de comércio e preservar a natureza do comércio socialista que serve ao povo”, disse Kim.
*Reportagem de Josh Smith / REUTERS
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