ALEMANHA - O ex-premiê britânico Boris Johnson foi considerado culpado nesta quinta-feira (15) em uma investigação parlamentar por ter mentido ao Parlamento britânico sobre as festas que ocorreram na residência oficial durante a pandemia de Covid-19, no caso que ficou conhecido como "Partygate". O conservador nega sua responsabilidade no caso e denuncia um "assassinato político".
A investigação parlamentar sobre a realização de seis festas em Downing Street enquanto o país cumpria regras restritas de confinamento por conta da pandemia levou 14 meses e resultou em um relatório de mais de cem páginas.
O inquérito conclui que Boris Johnson mentiu "deliberadamente" ao repetir diante do Parlamento que todas as restrições de saúde haviam sido cumpridas. O caso, que já lhe rendeu uma multa, foi fator importante para sua saída da chefia do governo no ano passado.
O resultado da investigação provocou a renúncia de Boris Johnson de seu cargo como deputado na semana passada. Se estivesse no posto, o ex-premiê poderia ser punido com uma suspensão de 90 dias, o que levaria a uma nova eleição.
Ao ser notificado sobre a possível condenação, Johnson deixou seu cargo de forma barulhenta, denunciando uma "caça às bruxas", argumento que ele voltou a usar nesta quinta.
"A comissão não encontrou uma única evidência" contra nós, reagiu Boris Johnson em uma declaração longa e extremamente agressiva, reafirmando que acreditava não ter feito nada de errado. Ele acusou o comitê de fazer "a última tentativa de um assassinato político".
"Essa decisão significa que nenhum parlamentar está a salvo de uma vingança ou expulsão com base em acusações fabricadas por uma pequena minoria", afirmou.
Proibição de entrar no Parlamento
Agora sem cargo público, o ex-primeiro-ministro tem poucas chances de ser punido. No entanto, o documento, que ainda precisa ser votado pelos parlamentares, pede que seja proibido seu acesso às instalações do Parlamento, o que é geralmente garantido a ex-primeiros-ministros.
O relatório considera ainda que o ex-líder "minou o processo democrático" e foi "cúmplice" de uma "campanha de intimidação" contra o trabalho dos deputados.
Ele denunciou a virulenta carta de renúncia de Boris Johnson, que soou como um "ataque às instituições democráticas britânicas".
O relatório reacende as guerras internas no Partido Conservador, que está no poder há 13 anos.
Apesar das polêmicas ao longo de seus três anos no governo, Boris Johnson tem aliados influentes e ainda apoio entre as bases por ter conquistado uma vitória histórica nas eleições gerais de 2019 e conseguido o Brexit.
Johnson agora deixou evidente sua rivalidade contra o governo do também conservador Rishi Sunak, seu ex-ministro das Finanças cuja renúncia, seguida pela de outros ministros, levou à queda de Johnson em 2022.
(Com agências)
LONDRES - O primeiro-ministro britânico Boris Johnson renunciou ao cargo nesta quinta-feira (7), após grande pressão para tomar a decisão e depois da renúncia de 59 membros de seu governo desde a última terça-feira (5).
"Claramente, a vontade do Partido Conservador agora é que deve haver um novo líder e, portanto, um novo primeiro-ministro. Eu continuarei até que um novo nome esteja no meu lugar", disse. Segundo ele, o processo de escolha deve começar imediatamente e o cronograma será divulgado na próxima semana.
"Ninguém é indispensável. (...) Quero que saibam como estou triste por estar desistindo do melhor emprego do mundo", continuou e agradeceu ao povo britânico pelo "privilégio" de ser primeiro-ministro. "Mesmo que as coisas às vezes pareçam sombrias, nosso futuro juntos é dourado", concluiu.
Durante o discurso, ele ainda mecionou sua participação como líder do Brexit, nome dado à saída do Reino Unido da União Europeia, a grande campanha de vacinação contra a Covid-19 no país durnte seu governo, que segundo ele foi a mais rápida da Europa, e o importante apoio à Ucrânia em meio à invasão russa.
A rede britânica BBC já havia informado que Johnson renunciaria como líder do Partido Conservador nesta quinta-feira, o que significa que também deixaria o posto de chefe de Governo.
O governo do então primeiro-ministro passou por diversos escândalos que contribuíram para que vários políticos protestassem contra a sua legitimidade.
REINO UNIDO - As denúncias de festas envolvendo o primeiro-ministro Boris Johnson durante o restrito lockdown do Reino Unido fez com que a opinião pública atacasse duramente o político. Apesar de pedir desculpas aos britânicos, o premiê afirma que não pretende renunciar ao cargo, que deve ocupar até 2024.
No entanto, com a atual situação, existe uma pressão para que o partido do primeiro-ministro, o partido Conservador, retire o apoio a Johnson e que seja escolhido um novo nome antecipadamente. Vale lembrar que não é a população que elege quem ocupa essa posição no sistema parlamentarista, mas os membros do partido ou da coalizão com maior número de parlamentares eleitos.
Mesmo neste cenário incerto, a professora da ESPM e doutora em relações internacionais pela London School of Economics Carolina Pavese acredita que Johnson ainda tenha alguns meses à frente do Reino Unido.
“Não há um nome consensual dentro do partido de quem possa substituir Johnson. Há uma pressão para se esvaziar a cadeira, mas não há uma configuração de um candidato para substituir ou uma definição de nomes”, explica Pavese.
As medidas restritivas impostas pelo governo do Reino Unido na pandemia foram uma das bandeiras de Johnson em 2020, levando a população à ira com a revelação do escândalo batizado pela imprensa britânica como Partygate, uma referências as festas realizadas na residência oficial e que violaram as regras de isolamento do país.
“O sentimento geral é de revolta, de indignação e de injustiça. Essas regras de lockdown foram muito restritas no Reino Unido em todas as ondas”, destaca Pavese. “Essa vivência desse lockdown é ainda muito presente na relação dos cidadãos britânicos com a pandemia e uma característica muito forte de como o governo lidou com o coronavírus”.
Johnson assumiu o cargo de primeiro-ministro em 2019 após a saída da contestada Theresa May, em meio a uma tentativa de viabilizar o Brexit — apelido dado à saída do Reino Unido da União Europeia. Logo de início, o jeito atrapalhado e pouco tradicional para um político britânico fez com que a imagem do premiê ficasse cada vez mais desgastada.
O Partygate, por si só, arranha ainda mais a imagem de Johnson, que atualmente enfrenta a deserção de parte da equipe de ministros, incluindo renúncias por suspeitas de fraude em auxílios que podem chegar a 3,4 bilhões de libras esterlinas (cerca de R$ 25 bilhões).
Porém, soma-se a isso as acusações de chantagem dentro do partido Conservador e um caso de islamofobia contra a ex-ministra júnior de Transportes de Johnson, Nus Ghani. Todas essas questões sensíveis à sociedade britânica dificultam a vida do premiê no cargo.
“Nus Ghani fala que na época procurou Johnson, que já era primeiro-ministro, e levou a ele essa denúncia, dizendo que havia acontecido islamofobia dentro do partido. Johnson disse que não iria se envolver com essa questão”, conta Pavese, destacando outros casos de xenofobia envolvendo o atual primeiro-ministro.
Na visão da professora e doutora em relações internacionais, a imagem de político pouco convencional de Jonhson, que um dia alavancou a carreira do premiê, pode estar contribuindo negativamente neste momento.
“Johnson enfrenta também um certo esgotamento com essa imagem de fanfarrão, que é um político atípico e que de certa forma alavancou a carreira dele quanto líder populista, mas que não é um perfil tradicional do político britânico.”
MUNDO - Para os pescadores ingleses, o acordo comercial do primeiro-ministro Boris Johnson com a Brexit é uma traição, porque permite que alguns barcos da União Europeia continuem a acessar as ricas águas costeiras da Grã-Bretanha.
Johnson, que liderou a campanha Brexit de 2016, lançou o acordo comercial da véspera de Natal como uma forma de retomar o controle do destino do Reino Unido, inclusive como um "estado costeiro independente com controle total de nossas águas".
Mas em Newlyn, um antigo porto de pesca da Cornualha tão longe de Londres quanto Paris, há raiva de Johnson ter permitido que os barcos da UE continuassem navegando na rica zona de pesca costeira de 6-12 milhas náuticas.
“Boris, o traidor, nos matou e não vamos esquecer”, disse à Reuters a bordo do barco Phil Mitchell, o capitão de 51 anos do Govenek de Ladram, de 23 metros. “Tivemos a oportunidade de retomar o controle e deixamos de lado.”
“Eles ficaram felizes em nos usar para sua campanha e quando o impulso chegou, nós tivemos o empurrão e fomos despejados de uma grande altura”, disse Mitchell, um apoiador do Brexit que diz que uma oportunidade histórica foi mais uma vez desperdiçada pelos líderes a 290 milhas (470 km) de Londres.
Dos barcos em Newlyn, o maior porto de pesca da Inglaterra por tonelagem desembarcada, às cabanas dos pescadores empoleiradas acima do porto, o sentimento de traição está em toda parte.
A raiva dá uma ideia das motivações da crise frenética do Brexit de cinco anos e os limites do acordo que Johnson tentou impor após a tempestuosa ligação de 48 anos do Reino Unido com a UE.
“Os ingressos esgotaram”, disse David Stevens, capitão de 46 anos de uma traineira demersal Crystal Sea de 24,5 metros. “O que mais nos irrita é o acesso contínuo aos navios da UE dentro do limite de 12 milhas.”
“A indústria foi usada como um pião o tempo todo - considerada a razão para sairmos - mas eles nos jogaram sob o ônibus”, disse Stevens.
'BREXIT BETRAYAL'
O grito de retomada do controle das águas britânicas ajudou Brexiteers como Johnson a vencer o referendo de 2016, no qual 52 por cento do Reino Unido votou pela saída.
Para os pescadores da Cornualha à Escócia, a adesão à UE e o declínio da pesca andam de mãos dadas. Eles votaram em massa no Brexit.
A frota pesqueira do Reino Unido caiu pela metade nos últimos 30 anos para menos de 6.000 barcos de mais de 11.000. Mais da metade da frota do Reino Unido foi construída antes de 1991. O Reino Unido - cercado pelo mar - é um importador líquido de peixes.
Os pescadores em Newlyn disseram que foram traídos em 1973, quando o primeiro-ministro conservador Edward Heath liderou o Reino Unido no projeto europeu, e que eles também estão sendo traídos na saída.
“Em 1973, Ted Heath, ele sacrificou a pesca para conseguir que o negócio fosse para a Europa”, disse Stevens, um apoiador do Brexit que pesca solha-limão, raia e pregado. “Saindo da Europa, Boris fez o mesmo, mas desta vez é pior.”
O acordo de Johnson com a UE assegura o comércio britânico com o bloco livre de tarifas e cotas sobre produtos, vitais para indústrias muito maiores do que a pesca. Mas os peixes estavam entre as questões finais a serem resolvidas, com a UE negociando duramente em nome de comunidades costeiras politicamente influentes na França e em outros países que pescam nas águas britânicas há séculos.
Johnson disse que o acordo aumenta a cota para pescadores britânicos em 25% do valor da captura da UE nas águas do Reino Unido, e será implementado em 5 anos.
“Posso garantir aos grandes fanáticos por peixes neste país que, como resultado deste negócio, poderemos pescar e comer quantidades prodigiosas de peixes extras”, disse Johnson em 24 de dezembro sobre o negócio.
Embora o governo tenha afirmado que alguns navios da UE terão acesso a algumas águas territoriais do Reino Unido durante o período de ajuste de 5 anos, os pescadores disseram que, na prática, os barcos da UE manterão os direitos para sempre.
Dada a complexidade dos textos do acordo, mesmo os advogados marítimos não têm certeza de todos os detalhes. O ministério da agricultura se recusou a esclarecer imediatamente as regras de limite de 12 milhas.
'STOMACHED'
Para os pescadores, a retórica de Johnson é irritante.
“Absolutamente estomacal - totalmente destruído”, disse Mitchell sobre o acordo de Johnson, que ele disse ter dado à França o que ela queria em vez de peixes.
“Você nos entregou - não minta para nós”, disse Stevens. “Apenas confesse. Diga-nos como está: você nos vendeu. Não minta para nós. Se isso fosse para o melhor do país, tudo bem - mas apenas admita”.
Os pescadores suspeitam que Johnson trocou peixes por outras questões. Embora a pesca sozinha tenha contribuído com apenas 0,03% da produção econômica britânica, ou 0,1% do PIB do Reino Unido se o processamento for incluído, para as comunidades pesqueiras da Grã-Bretanha é uma tábua de salvação e um estilo de vida que remonta a milhares de anos.
A exclusão de embarcações estrangeiras do limite de 6-12 milhas era uma 'linha vermelha' para os pescadores, visto que a área costeira é considerada um viveiro, tanto para peixes como para pescadores que aprendem o comércio.
“Todo o otimismo se foi - tivemos quatro anos de esperança de recuperar nossa pesca”, disse Stevens. “Boris nos traiu e está à sua porta - ele é o dono.”
*Reportagem de Guy Faulconbridge / REUTERS
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