CARACAS - A delegação brasileira nos Jogos de Paris totalizou 220 atletas com a confirmação da vaga olímpica da niteroiense Amanda Schott no levantamento de peso pela federação internacional (IWF, na sigla em inglês), na quarta-feira (15). Amanda, da categoria até 71 quilos, será a segunda representante do país na modalidade, que até o momento só conta com atletas mulheres. No mês passado, a carioca Laura Amaro (81 kg) já garantira presença nos Jogos.
Tem mais uma vaga confirmada em #Paris2024! ??
— Time Brasil (@timebrasil) May 15, 2024
Amanda Schott representará o #TimeBrasil na categoria até 71kg do levantamento de peso.
Atual recordista brasileira da categoria, a atleta fará sua estreia em Jogos Olímpicos! ?️? pic.twitter.com/dHZPsqNUpN
Entre os resultados que contribuíram para Amanda carimbar o passaporte olímpico está a classificação da atleta entre as 10 primeiras colocadas na Copa do Mundo, na Tailândia, no mês passado.
A atleta niteroiense, de 28 anos, foi bronze no Mundial de 2021, quando ainda competia nos 87 kg. Como houve redução do número de categorias para a Olimpíada de Paris, a atleta optou por competir nos 71 kg, na qual faturou o bronze nos Jogos Sul-Americanos de 2022. Em fevereiro deste ano, Amanda foi bronze no arranco durante o Pan-Americano da modalidade em Caracas (Venezuela), mas se lesionou na prova do arremesso, e perdeu a chance de participar da Copa do Mundo.
BUENOS AIRES - O Ministério das Finanças da Argentina informou nesta terça-feira que obteve 77% de aceitação em uma troca de títulos em pesos com vencimento em 2024, liquidando vencimentos futuros de 42,6 trilhões de pesos (cerca de 52 bilhões dólares).
O swap abrangeu 15 instrumentos diferentes com datas de vencimento que variam de 2025 a 2028.
"A vida média do perfil de vencimento foi estendida de 0,46 ano para três anos", disse o relatório, acrescentando que "o ônus financeiro foi reduzido, implicando em uma economia de juros de 555 bilhões de pesos ou 0,1% do produto interno bruto".
A economia do país passa por um período difícil, com inflação alta, gastos públicos elevados, reservas baixas no banco central do país, pobreza e desemprego elevados.
O presidente Javier Milei, que assumiu o cargo em dezembro, está tentando colocar a economia do país de volta nos trilhos com um ajuste fiscal severo, que foi bem recebido pelos mercados, mas criou tensões com governadores.
Por Walter Bianchi / REUTERS
A amapaense Wanna Brito estabeleceu um novo recorde das Américas da prova de arremesso de peso da classe F32 (atletas com paralisia cerebral) ao alcançar a marca de 7,66 metros durante o Desafio CPB/CBAT, realizado no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, no último domingo (25).
O detalhe é que a medalhista de prata no Mundial de atletismo paralímpico de Paris, disputado em 2023, superou um recorde que era dela mesma, de 7,35 metros obtidos em junho de 2023, também no Centro de Treinamento Paralímpico. Porém, a marca alcançada no último domingo ainda necessita ser chancelada pelo Comitê Paralímpico Internacional.
? RECORDE ?
— Comitê Paralímpico Brasileiro (@cpboficial) February 25, 2024
Wanna Brito quebra recorde das Américas no arremesso de peso durante Desafio CPB/CBAT de atletismo. ⚫️
Saiba mais: https://t.co/DSRQKcKljb#LoteriasCaixa pic.twitter.com/MoQiuA9wGY
“Eu amei o resultado de hoje. Porém, quero melhorar ainda mais esta marca. Estou trabalhando muito para isso. É um trabalho muito longo, com uma equipe grande por trás. Não dá para acomodar, ainda mais em um ano paralímpico, em que todos querem estar em Paris. Este ano, o principal objetivo é buscar um pódio nos Jogos”, declarou Wanna Brito.
O Desafio CPB/CBAT foi a primeira oportunidade para que os atletas paralímpicos atingissem o índice mínimo estabelecido pelo Comitê Paralímpico Brasileiro para participação no Mundial de Kobe (Japão) em maio. As próximas duas e últimas chances serão na segunda etapa do mesmo Desafio, no próximo domingo (3), e o Circuito Nacional Caixa de atletismo, nos dias 16 e 17 de março.
O paulista André Rocha conquistou, na quarta-feira (14), a medalha de ouro na prova de lançamento de disco da classe F52 (atletas que competem sentados) no Grand Prix de atletismo paralímpico que está sendo disputado em Dubai (Emirados Árabes Unidos).
O brasileiro venceu a prova ao lançar o disco a 20,08 metros. Já a medalha de prata ficou com o letão Aigars Apinis, com a marca de 19,88 metros, enquanto o bronze foi para o lituano Kestutis Skucas, que lançou o disco a 14,92 metros.
OURO NO CAMPO! ??
— Comitê Paralímpico Brasileiro (@cpboficial) February 14, 2024
André Rocha conquista o 1° ouro do Brasil no Grand Prix de atletismo de Dubai. ??
O atleta ficou em primeiro lugar no lançamento de disco, mesma prova que garantiu o bronze no Mundial de Paris 2023.
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A outra medalha do Brasil na competição foi alcançada por Verônica Hipólito, na última terça-feira (13) na prova dos 200 metros da classe T36 (paralisados cerebrais). A atleta de 27 anos garantiu a terceira colocação ao terminar a prova em 32s19. Ela ficou atrás da alemã Nicole Nicoleitzik, segunda colocada com o tempo de 31s94, e da holandesa Cheyenne Bouthoom, ouro com 30s96.
O Grand Prix de atletismo de Dubai conta com a participação de 537 atletas de 71 países e será disputado até esta quinta-feira (15). O Brasil tem cinco representantes na competição.
ARGENTINA - A Argentina corporativa é fortemente contra a dolarização total da economia, uma das principais propostas do candidato que lidera as pesquisas de opinião para as eleições presidenciais, Javier Milei, de acordo com 125 empresários com quem a Reuters conversou.
Em uma importante cúpula de líderes empresariais na cidade litorânea de Mar del Plata, a Reuters perguntou aos executivos de uma ampla gama de setores se eles desejam que o governo mantenha o peso, mude para um sistema duplo de peso e dólar ou faça uma mudança total para o dólar. Apenas duas pessoas apoiaram a dolarização total.
A pesquisa oferece a visão mais clara e aprofundada até o momento sobre como a Argentina corporativa vê o debate sobre a dolarização, que está no centro da disputa presidencial rumo à eleição de 22 de outubro.
Cerca de dois terços dos entrevistados pela Reuters apoiaram um sistema bimonetário proposto pela candidata conservadora Patricia Bullrich, que é popular entre os líderes empresariais, mas que está em desvantagem nas pesquisas. Quase um terço favoreceu a manutenção do peso, apesar de sua recente queda e da inflação de três dígitos no país.
"É realmente desafiador para as empresas sediadas na Argentina pensar em dolarização", disse um executivo de alto escalão do setor automotivo que pediu para não ter seu nome revelado, citando problemas enfrentados por outras economias dolarizadas, como Equador e El Salvador.
"Ficamos sem uma âncora para ajustar as variáveis monetárias e as experiências em outros países não têm sido boas."
A forte oposição corporativa ressalta um dos desafios que um possível futuro presidente Milei enfrentaria para levar adiante seus planos para a economia, que também incluem o fechamento do banco central.
O candidato governista e ministro da Economia, Sergio Massa, apoia a manutenção do peso, mas tem tido dificuldades para reduzir a inflação ou conter a desvalorização da moeda.
Os argentinos votarão em 22 de outubro, com um segundo turno previsto para o mês seguinte, caso nenhum candidato vença já no primeiro turno, o que significa obter 45% dos votos ou 40% com uma vantagem de 10 pontos percentuais.
A maioria dos empresários entrevistados na cúpula empresarial do Idea disse que é importante manter o peso para poder ajustar as variáveis monetárias e manter a competitividade. Uma mudança total para o dólar significaria perder as alavancas da política monetária.
Na pesquisa, cerca de 80% disseram que prefeririam um governo Bullrich, apoiando seus planos para normalizar a economia. Cerca de 11% se inclinaram para Massa e apenas 7% foram a favor de Milei.
A maioria dos entrevistados avalia o valor real do peso entre 650 e 1.000 pesos por dólar, muito mais fraco do que a taxa oficial controlada de 350 pesos. O país tem controles rígidos de capital que limitam o comércio oficial de moeda estrangeira, o que tem fomentado os mercados paralelos populares.
por Por Jorge Otaola / REUTERS
CHILE - O banco central do Chile vê a trajetória de política monetária praticamente inalterada, mesmo diante da depreciação do peso e do possível impacto inflacionário de enchentes devastadoras, disse em entrevista o vice-presidente da instituição.
A flexibilização monetária no Chile, combinada com dúvidas sobre a China — importante compradora das commodities do país — e a postura rígida do Federal Reserve pesaram sobre a moeda, disse Paulo Garcia em Jackson Hole, onde autoridades de BCs mundiais se reuniram para um simpósio do Fed.
Mesmo assim, nenhum desenvolvimento foi suficientemente grande para alterar o plano de reduzir os juros para 7,75% a 8% até o final do ano, dos atuais 10,25%, disse ele.
“Até agora, as notícias que tivemos, tanto no cenário internacional quanto dados domésticos, inflação, oscilações da taxa de câmbio, não parecem pintar um quadro dramaticamente diferente do que tínhamos em mente quando iniciamos os cortes em julho”, disse Garcia, de 53 anos. A próxima decisão de juros do país será em 5 de setembro.
O Chile liderou o início da flexibilização monetária na América Latina em um momento em que outros BCs como o Fed e Banco Central Europeu ainda avaliam mais aperto.
O BC chileno reduziu a taxa básica em 1 ponto percentual em julho, e o mercado precifica pelo menos mais 5 pontos percentuais de cortes adicionais em um ano. Mas alguns analistas alertam que ventos contrários como um peso fraco podem dificultar o abrandamento da inflação para a meta de 3%.
O peso se desvalorizou mais de 8% entre o início de julho e a semana passada, antes de reduzir as perdas quando o ministério das Finanças do país disse que iria aumentar as vendas de dólares.
Uma moeda mais fraca alimenta a pressão inflacionária ao tornar as importações mais caras, e o Chile é bastante vulnerável a isso, já que compra bens cruciais, como todo o seu combustível, no mercado externo.
Semana passada, fortes chuvas causaram enchentes em áreas do Chile conhecidas pela produção de frutas e verduras. O governo do presidente Gabriel Boric declarou estado de catástrofe depois que as chuvas inundaram lavouras e destruíram infraestrutura.
Garcia disse que qualquer pressão inflacionária relacionada às enchentes provavelmente será transitória.
As chuvas “podem ter um impacto sobre a inflação no curto prazo, mas é improvável que tenham um impacto mais persistente no processo de desinflação que possa implicar uma mudança na estratégia de política monetária”, disse.
A inflação anual do Chile diminuiu drasticamente desde um pico superior a 14% em 2022, atingindo 6,5% em julho. O núcleo da inflação desacelerou de forma mais gradual, para 8,5%.
©2023 Bloomberg L.P.
ARGENTINA - A promessa de Javier Milei de dolarizar a economia argentina ainda é, em muitos aspectos, bastante incerta. Para começar, o polêmico candidato precisa vencer as eleições presidenciais em outubro. Uma vez no cargo, ele teria que superar uma série de obstáculos para acabar com o peso como moeda oficial do país.
Mas a verdade é que muitos argentinos não estão esperando para ver o que acontecerá. Eles estão dolarizando a economia por conta própria.
Em setores como tecnológica e finança, funcionários qualificados exigem que os salários sejam pagos em dólar. Empresas como MercadoLibre cada vez mais aderem a essa prática. A maioria dos proprietários de imóveis em Buenos Aires agora só aceita pagamentos de aluguéis em dólar. O mesmo vale para Airbnb. E a lista não tem fim: instrumentos musicais, advogados de divórcio, couro importado — se você quer, desembolse as verdinhas.
A utilização do dólar não é novidade no país, mas agora explodiu e se generalizou à medida que a inflação ultrapassa 100% e destrói o valor dos pesos guardados na carteira ou parados no banco.
É um colapso clássico da moeda fiduciária, como aconteceu na Venezuela devastada pela hiperinflação uma década antes: a confiança na moeda vai embora até o ponto em que as pessoas não querem usá-la nem mesmo para as transações mais básicas, e assim gradualmente a divisa desaparece da economia.
“Quando não há demanda por um produto”, disse Milei em entrevista à Bloomberg na semana passada, “seu valor é zero”.
O valor do peso ainda não é zero, mas está em queda livre. No câmbio oficial, o peso vale menos de um terço de um centavo de dólar. No paralelo, vale menos ainda: um décimo de centavo de dólar.
A divisa afundou 23% só no mês passado, o maior declínio entre todas as moedas monitorado pela Bloomberg, e 91% nos últimos cinco anos. Isto agravou a alta da inflação, que foi em grande parte alimentada pela emissão de moeda para financiar os déficits do governo.
No setor de tecnologia da Argentina, cerca de 200.000 pessoas trabalham sem registro para empresas no exterior pare serem pagas em dólar ou euro e evitar o imposto de renda, segundo a Argencon, uma associação setorial que conta com o MercadoLibre entre seus membros. Um relatório da entidade mostra que a taxa de rotatividade dos trabalhadores em empregos remunerados em peso ultrapassou 30% em várias empresas de tecnologia no ano passado.
Para conter o desgaste, o MercadoLibre, com mais de 10.000 funcionários na Argentina, é uma das muitas empresas que paga pelo menos parte dos salários em dólar e a outra parte em peso. A gigante de consultoria Accenture, a empresa de software Globant e a fintech Uala começaram a implementar políticas salariais semelhantes, de acordo com comunicados corporativos, funcionários e reportagens da mídia local.
“Esse benefício é concedido a funcionários que são muito procurados por empresas locais, bem como por organizações que não operam na Argentina, mas que contratam os melhores talentos oferecendo salários em contas bancárias estrangeiras”, disse a Uala em resposta a perguntas. A fintech oferece entre 10% a 40% dos salários em dólar, dependendo do cargo, e os bônus de desempenho também são em dólares, disse.
A MercadoLibre e a Accenture não responderam a pedidos de comentário. A Globant não quis comentar – no início deste mês, o CEO da empresa disse em entrevista que os problemas econômicos do país contribuem para uma fuga de talentos.
O caso de amor dos argentinos com dólar começou há décadas, depois de uma interminável série de crises, desvalorizações e espirais de inflação. E as pessoas há muito tempo mantêm dinheiro em contas-poupança em dólares, e o país costuma ser classificado entre os maiores importadores de notas de dólar. Compras caras, como casas e carros usados também são quase inteiramente feitas na moeda americana.
Mas o que mudou agora é a quantidade de transacções e setores que estão adotando o dólar.
Em Buenos Aires, mais de 60% dos anúncios de apartamentos para alugar são agora cotados na moeda americana, segundo o site imobiliário ZonaProp. Há dois anos, esse número era de 20%. E outro dia, a equipe do Roux, um bistrô no bairro nobre de Recoleta, que serve ostras cruas, caviar e carne argentina, trocou alguns preços do cardápio por preços em dólar, algo raramente, ou nunca, visto antes.
“A Argentina já está dolarizada”, disse Emilio Ocampo, um economista que trabalha com Milei, em entrevista à Bloomberg em junho. É a forma como as pessoas passaram a se proteger do “imposto” da inflação, disse ele. Se o plano de dolarização de Milei for transformado em lei, será porque o país “basicamente não tem outra opção”.
por Azul Cibils Blaquier e Patrick Gillespie / Bloomberg
BUENOS AIRES - A confiança no peso argentino caiu para novos patamares nesta quarta-feira, com a moeda chegando a 780 pesos por dólar no popular mercado negro, no qual os poupadores estão dispostos a pagar mais do que duas vezes a taxa oficial, agora fixada em 350 pesos por dólar.
O peso, em dificuldades há muito tempo e administrado por controles de capitais há anos, despencou esta semana após um resultado chocante nas eleições primárias levantar a possibilidade de que um economista libertário radical vença a eleição presidencial de outubro. As famílias correram para converter seus pesos em dólares, em busca de uma forma mais estável de proteger suas economias.
Na segunda-feira, o banco central desvalorizou a taxa de câmbio oficial em cerca de 18% e elevou a taxa básica de juros para 118% para proteger o peso e conter a inflação, que já está em mais de 113%, espremendo a poupança e os salários da população.
“A demanda por dólares continua sustentada, com as pessoas procurando se proteger e cada vez mais preocupadas com a aceleração da inflação após a desvalorização”, disse o economista Gustavo Ber, citando um “clima de incerteza política e econômica”.
A eleição primária de domingo terminou com o outsider Javier Milei, que prometeu dolarizar a economia e eventualmente acabar com o banco central, com a maior parcela de votos. O candidato enfrentará uma disputa em três vias na eleição geral de 22 de outubro.
Com o peso caindo, o governo tentou estabilizar a moeda local, reduzindo acesso a alguns mercados paralelos de câmbio, fechando o cerco em torno de negociantes informais de moedas nas esquinas e começando a discutir um teto para o preço da carne para conter a inflação.
O analista Salvador Vitelli, no entanto, disse que, apesar das novas medidas, mais uma desvalorização é esperada, mesmo depois de o banco central fixar a taxa de câmbio oficial em 350 pesos por dólar até a eleição.
“O mercado não parece acreditar que eles serão capazes de manter essa taxa de câmbio até outubro”, disse.
Os preços futuros do peso no atacado, um reflexo das expectativas sobre a provável trajetória do seu valor, mostram 460 pesos por dólar para outubro, 629 até o fim do ano e 890 até julho de 2024.
Milei, que recebeu 30% dos votos em eleições primárias abertas no domingo, enfrentará o bloco conservador de oposição de Patricia Bullrich, que ficou em 28%, e a coalizão peronista liderada pelo ministrado da Economia, Sergio Massa, que recebeu 27%.
Analistas veem uma inclinação a uma política econômica mais rígida, independente de quem vencer, embora qualquer novo presidente precise lidar com grandes desafios para estabilizar a economia, em meio a inflação de três dígitos, reservas escassas e um frágil acordo de empréstimo de 44 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional.
A promessa de dolarização de Milei, alguns acrescentaram, também estava levando mais pessoas a se livrarem de seus pesos, embora seja muito difícil de ser aplicada no curto prazo.
Reportagem de Walter Bianchi, Jorge Otaola e Lucinda Elliott / REUTERS
ARGENTINA - O ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, afirmou que agirá com rigor contra o mercado paralelo de dólar. "Parecia que estava caindo, mas depois reapareceram os mesmos bandidos que estavam brincando", disse o ministro em evento com sindicalistas na última terça-feira (8), segundo informações do jornal Clarín.
Pré-candidato à presidência, Massa ameaçou os especuladores em seguida. "Amanhã (quarta-feira), vamos fazer com que eles sintam o rigor com todos os instrumentos que a UIF (Unidade de Investigação Financeira tem", afirmou. O ministro não especificou quais seriam essas medidas.
Porém, na quarta-feira (8), a cotação no mercado paralelo chegou a 598 pesos para um dólar, um valor recorde e que representa uma desvalorização de 17,5% da moeda argentina em um mês.
Um sistema de controle de divisas vigora na Argentina desde 2019, e diversas taxas de câmbio funcionam paralelamente à oficial, que fechou a 297,82 pesos por dólar na quarta-feira.
Embora o mercado do chamado "dólar blue" seja considerado pequeno, sua cotação reflete as expectativas do mercado, em um país que enfrenta uma inflação de 115% ao ano.
Os argentinos apostam historicamente no dólar para se protegerem da desvalorização de sua moeda, comportamento que ganha força às vésperas de processos eleitorais, que será realizada no domingo (13).
Há meses, as reservas internacionais diminuem a cada dia. Na terça-feira, fecharam em US$ 24,1 bilhões, segundo o Banco Central do país. Analistas econômicos, no entanto, estimam que as de livre disponibilidade se encontrem praticamente em zero.
por FERNANDO NARAZAKI / FOLHA de S.PAULO
BUENOS AIRES - "Câmbio, câmbio." "Dólar, euro, real." "Câmbio, câmbio." Por toda a rua Florida, famoso corredor de lojas no centro de Buenos Aires, dezenas de cambistas atraem turistas e argentinos para trocar moedas estrangeiras pela cotação do "blue", referência para o câmbio paralelo na Argentina.
Superam 20 os cambistas em cada um dos dez quarteirões da rua. Aos clientes, mostram a cotação do dia na calculadora do celular e os encaminham para dentro de bancas de flores ou outros produtos, algumas só fachadas das chamadas "cuevas", onde máquinas rodam sem parar contando dinheiro.
As "cuevas" da Florida e de outros cantos da cidade têm de armazenar pilhas de cédulas. A maior em circulação na Argentina é a nota alaranjada de 1.000 pesos. Trocando US$ 100, sai-se dali com 39 notas de 1.000 pesos, o dobro de um ano atrás. Com R$ 100, tem-se quase 7.500 pesos.
O valor não dura muito. Como dizem os argentinos, com a inflação anual em três dígitos, gastar rápido é a melhor maneira de "poupar" pesos que "queimam na mão".
No ano passado, o consumo privado na Argentina aumentou 9,4% em relação a 2021 sustentando um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 5,2%. No setor de hotéis e restaurantes, puxado por turistas que surfam no câmbio favorável, o salto foi de 35%.
Nesse ambiente, abstraindo-se os apelos dos cambistas, algumas lojas fechadas ou decadentes e muitos sem-teto pelas ruas da cidade, tem-se a sensação de uma Buenos Aires vibrante, com gente consumindo e se divertindo em cafés e restaurantes, no centro e zonas como Recoleta e Palermo.
Mas, como as fachadas atraentes das "cuevas" na Florida, essa superfície efervescente oculta uma rápida deterioração econômica em curso neste ano de eleições presidenciais, o que tem levado o governo a tomar medidas heterodoxas e extremas sem atacar problemas estruturais que amarram a economia há décadas.
"A pergunta de curto prazo é se a bomba explode antes das eleições, em outubro, ou da mudança de governo, em dezembro", afirma Miguel Broda, um dos mais conceituados economistas argentinos.
A Argentina completou em março 40 anos ininterruptos sob regime democrático, período mais longo da história. Nesse tempo, atravessou nove grandes crises, algumas com anos de duração, e conserva hoje o mesmo PIB per capita também de 40 anos atrás. Em média, o país cresceu só 1% ao ano no período.
O fundamental é o fato de que, em mais de um século, a Argentina fechou as contas públicas no azul em apenas dez ocasiões.
Nos últimos anos, sem credibilidade no mercado para se financiar só vendendo títulos públicos, o país passou simplesmente a imprimir pesos. A ponto de precisar contratar casas da moeda no Brasil e na Espanha e levar os bancos a ampliar áreas de armazenamento de notas e adquirir novos cofres.
Agora, com uma forte crise à espreita, de superinflação em aceleração, o governo de Alberto Fernández e Cristina Kirchner reluta em adotar medidas impopulares e urgentes.
Embora Fernández pareça carta fora do baralho, Cristina pode querer se candidatar a presidente e desafiar as chances do atual ministro da Fazenda, Sergio Massa, da Frente de Todos, coalizão que governa a Argentina desde 2019.
No campo adversário da direita liberal há o atual prefeito de Buenos Aires, Horacio Larreta, e Patricia Bullrich, ex-ministra da Segurança, ambos do Juntos por el Cambio. Na direita radical, o deputado Javier Milei.
Até outubro, quando o pleito se realiza, há o risco de a inflação, e as contas públicas, entrarem em novo ciclo de deterioração.
Nos últimos 12 meses até fevereiro, os preços subiram 102,5%, a maior taxa desde 1991. Somou-se a isso a maior seca no país em 60 anos, que deve reduzir em até US$ 25 bilhões as exportações da safra 2022-2023, numa queda de 48% em relação ao ciclo anterior.
"É uma perda que levará a economia inteira a sofrer, pois a agropecuária é quem mais gera dólares. Haverá sangria em vários setores e nas contas públicas", diz Nicolás Pino, presidente da Sociedade Rural Argentina.
Algumas consultorias preveem queda de 3% no PIB neste ano, e dados oficiais do último trimestre de 2022 mostraram desaceleração de -1,5% em relação ao trimestre anterior.
Com menos dólares entrando, aumenta a pressão sobre o câmbio e a inflação, num país em que economistas estimam que as reservas internacionais estejam negativas.
Isso estrangula a capacidade do governo de financiar de forma minimamente sustentável políticas sociais para atenuar a atual crise, e que consomem grande parte do Orçamento.
Na semana passada, o governo tomou duas medidas heterodoxas conjuntas para tentar aliviar pressões sobre a inflação e o caixa.
Por um lado, determinou às empresas estatais vender ou trocar títulos em dólares por novos papéis denominados em pesos, injetando cerca de US$ 4 bilhões nas reservas do Banco Central, que interveio pesado no câmbio para tentar conter a inflação. Por outro, imprimiu mais 130 bilhões de pesos para honrar pagamentos, sobretudo de benefícios sociais.
Segundo dados do Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina (UCA) e do Indec (o IBGE argentino), 43,1% dos argentinos (19,8 milhões) estão abaixo da linha de pobreza, o que leva o país a despejar enormes subsídios às famílias, de contas de luz e gás a transferências de dinheiro que, direta ou indiretamente (via deduções de imposto), chegam a 95% das crianças e jovens com menos de 17 anos.
Para financiar essas políticas, a taxação do governo argentino sobre a produção agropecuária (maior fonte de dólares) está entre as mais altas do mundo, e há imposto sobre exportações com alíquotas de até 35%.
Outros setores produtivos também vêm sendo mais taxados para financiar a mitigação da pobreza, mas sem que haja mudanças para racionalizar a complexa rede de subsídios e o Estado.
Segundo Gala Díaz Langou, diretora-executiva do Cippec, centro de políticas públicas apartidário de Buenos Aires, os subsídios em 2022, sobretudo para a energia, representaram 82% do déficit fiscal.
"No ano passado, o Estado pagou 79% do custo da luz e 71% do gás a todos os conectados à rede. Muitos estão nas camadas mais favorecidas, o que significa que pagamos pela climatização das piscinas dos ricos", afirma.
Os subsídios estatais em energia e transportes (a gasolina custa menos da metade da brasileira, pelo câmbio paralelo) consomem quase o dobro das despesas em saúde e quase um terço a mais que a educação.
Eles aumentaram a partir de 2001, quando o peso sofreu maxidesvalorização ao fim de um período de paridade da moeda com o dólar, levando ao "corralito" (confisco) de depósitos bancários. Na época, metade dos argentinos caiu na pobreza.
Durante o governo Macri, alguns tarifaços diminuíram os subsídios, mas eles retornaram no governo Fernández e Cristina, com a pandemia e a Guerra da Ucrânia.
Depois de atingir 2,4% do PIB em 2022, o déficit primário (sem contar juros da dívida pública) previsto para 2023 é de 1,9%, segundo acordo com o Fundo Monetário Internacional, credor de US$ 44,5 bilhões. Mas, com a seca histórica e o desaquecimento em curso, a meta parece impossível.
Mesmo um plano para subsidiar menos a energia de quem ganha mais resolveria só parte do déficit, pois há outras questões fundamentais.
Nos últimos dez anos, o funcionalismo nas três esferas de governo aumentou de 2,7 milhões para 3,4 milhões (17,4 pontos percentuais acima do aumento populacional), segundo o Instituto Argentino de Análise Fiscal. O país tem 50% mais servidores em relação à sua população do que o Brasil.
Além dos subsídios à energia, outros programas sociais representam mais de 10% do Orçamento e, segundo o observatório da UCA, chegam a 45% da população.
Por fim, o sistema previdenciário argentino é altamente deficitário, com a maioria (55%) dos 9 milhões de aposentados não tendo contribuído, segundo o Idesa (Instituto de Desenvolvimento Social Argentino). Só 23% dos benefícios foram concedidos com a totalidade dos aportes.
Durante muitos anos, também foram aprovadas milhares de aposentadorias especiais, que pagam mais e contemplaram de militares e medalhistas olímpicos a cantores do teatro Colón.
Com as eleições se aproximando, é praticamente nula a discussão sobre esses temas difíceis entre as possíveis candidaturas. Mas Buenos Aires segue vibrante.
por FERNANDO CANZIAN / FOLHA de S.PAULO
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