URUGUAI - O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, anunciou corte nos salários de altos funcionários do governo para aumentar os subsídios aos setores privados afetados pelas restrições e o fechamento dos "free shop" na fronteira com o Brasil para desestimular a chegada de brasileiros.
O Uruguai vai adotar uma série de novas medidas de restrição até, pelo menos, 12 de abril para conter o acelerado aumento de casos, provocados pela "circulação generalizada" da variante brasileira detectada na segunda-feira em sete departamentos (estados) do país.
"Estas são ações do governo que necessariamente devem vir acompanhadas por condutas individuais. O 'fica em casa' do ano passado será agora 'fica na tua bolha', com o teu núcleo familiar. Esse controle foge ao governo. É quando a liberdade deve ser administrada responsável e solidariamente", pediu o presidente Luis Lacalle Pou na sede do governo uruguaio, destacando "o perigo da linhagem brasileira P.1 (Manaus) mais potente e mais contagiosa".
As medidas de restrição incluem a suspensão das aulas presenciais em todo o país, o fechamento das repartições públicas (com exceção dos serviços considerados essenciais), o fechamento de clubes e de academias de ginástica, a proibição da prática de esportes amadores e de espetáculos públicos, além de uma das mais importantes decisões para frear o contato com brasileiros: o fechamento dos 'free shop' nas cidades de fronteira com o Brasil.
Preocupação com a fronteira brasileira
Milhares de brasileiros semanalmente vão até a fronteira com o Uruguai, atraídos pelos preços mais baixos de produtos para consumo pessoal e para revenda no Brasil. Os dois países compartilham seis cidades binacionais. Em duas delas, Rivera (Uruguai)/Santana do Livramento (Brasil) e Chuí (Brasil)/Chuy (Uruguai), passar de um lado ao outro da fronteira significa apenas atravessar uma rua.
Somente entre Santana do Livramento e Rivera, cerca de cinco mil brasileiros chegam nos finais de semana para fazer compras do lado uruguaio. Rivera está entre as cidades com mais infectados no Uruguai. É considerada a principal porta de entrada do vírus e ponto de maior preocupação das autoridades sanitárias uruguaias.
O anúncio do presidente Luis Lacalle Pou foi a consequência de várias horas de reunião do denominado Conselho de Ministros. O Conselho reuniu-se de forma urgente, depois que, na segunda-feira (22), cientistas uruguaios confirmassem a "circulação generalizada" das variantes brasileiras P.1 (Manaus) e P.2 (Rio de Janeiro), presentes em sete departamentos (estados) do Uruguai.
Risco de saturação sanitária
Lacalle Pou disse que decidiu as medidas "com pesar", mas que se viu obrigado a tomá-las perante "o aumento de contágios que pressionam a ocupação dos leitos de terapia intensiva".
Atualmente, a ocupação desses leitos é de 62,3%, mas, na segunda-feira, a Sociedade Uruguaia de Medicina Intensiva advertiu que, se a tendência de contágio continuar, haverá uma saturação das unidades de terapia intensiva dentro de duas semanas.
Até agora, o Uruguai atravessou a pandemia sem confinamentos nem toques de recolher. O presidente Lacalle Pou defendeu sempre o que definiu como "liberdade responsável", uma combinação de decisões políticas e sanitárias com responsabilidade cidadã.
Redução dos salários no governo
O presidente uruguaio também reeditou uma medida que ficou em vigor durante três meses no ano passado: os membros de alto escalão do governo (secretários, ministros e o próprio presidente) serão descontados entre 5% e 20% do seu salário para novamente formar o chamado "fundo coronavírus".
O dinheiro arrecadado será usado para subsídios aos setores da economia afetados pelas restrições das novas medidas.
"Tudo o que for arrecadado será destinado às atividades econômicas prejudicadas pela redução da circulação", disse Lacalle Pou, rejeitando uma proposta que previa um imposto aos salários privados mais elevados a ser usado com a mesma finalidade.
Campanha de vacinação bem-sucedida
O Uruguai começou a sua campanha de vacinação, tardiamente, em 1.º de março. No entanto, em apenas três semanas 374.265 pessoas foram vacinadas, equivalentes a 10% da população de 3,4 milhões.
A campanha inclui os habitantes das regiões de fronteira que moram no Brasil, mas que trabalham no Uruguai.
Em paralelo a uma bem-sucedida campanha de vacinação, o Uruguai está no pior momento da pandemia. Na segunda-feira, o país teve 2.682 novos casos, um recorde. Nesta terça-feira, foram 1.801 novos contágios.
Desde 13 de março do ano passado, foram 86 mil casos, dos quais 827 faleceram. Atualmente, há 14.826 casos ativos. Apesar de uma piora nos números, o Uruguai continua como o país da região que melhor administrou a pandemia.
*Por: Márcio Resende, correspondente da RFI