Segundo médico e pesquisador Marcelo Demarzo, treinar a atenção plena fortalece “fatores individuais” de aceitação e ajuda indivíduo a lidar com as relações.
Uma pesquisa realizada na China, o ponto inicial da pandemia do novo coronavírus, mostra que 20% da população já apresentam sinais de estresse pós-traumático causados pelo medo e isolamento.
No Brasil, ainda não há registros de aumento no número de ligações para o Centro de Valorização à Vida (CVV), uma rede nacional de apoio e combate ao suicídio, mas segundo a instituição, a maioria dos relatos do último mês gira em torno do sentimento de solidão.
De acordo com o médico e pesquisador especialista em Mindfulness, Marcelo Demarzo, com a prorrogação da quarentena, a sensação de ‘desamparo’ diante da situação pode se agravar e até se tornar um caso patológico, caso não haja uma intervenção.
“Do ponto de vista psicológico, o isolamento pode trazer sofrimento ou mal-estar, incluindo sintomas aumentados de ansiedade e depressão, confusão mental, aumento de emoções negativas e do sentimento de solidão. Esses sintomas podem se tornar mais intensos quanto maior o tempo de duração da quarentena”, explicou.
Segundo Demarzo, os efeitos do isolamento podem ser mais negativos em pessoas acima de 65 anos, o principal grupo de risco, que precisa lidar com a desconexão com o mundo e, também, com o medo do contágio.
“O ‘pânico social’ acaba ocorrendo quando eventualmente temos contato com outras pessoas, pois imediatamente, de maneira automática, nossa mente interpreta que estamos sendo infectados e ficaremos doentes”, disse.
A prática de Mindfulness
Como forma de lidar com os sentimentos ruins em tempos de distanciamento social, o especialista sugere a prática de Mindfulness, ou atenção plena, que é uma forte aliada para o fortalecimento de “fatores individuais” que podem ajudar a combater o sentimento de se sentir só.
“A solidão não é definida por estar sozinho, mas por se sentir sozinho. Assim, a atenção plena nos ajuda no desenvolvimento de habilidades pessoais para uma melhor perspectiva subjetiva frente ao sentimento de solidão, evitando os sentimentos e emoções negativas comuns nessas situações”, disse.
Ao promover uma perspectiva mais saudável frente aos sentimentos de solidão e desconexão social, o treinamento de atenção plena permite que a sensação ruim se amenize, sem afetar a saúde física e mental.
“A atenção plena ajuda a nos sentir mais à vontade conosco mesmos e também cria condições psicológicas mais adequadas para um maior envolvimento com os outros na vida cotidiana, prevenindo problemas de relacionamento, que também são comuns nessas situações de confinamento”, explicou.
A prática de Mindfulness pode ser feita por qualquer pessoa em qualquer lugar, em diversos níveis, várias vezes ao dia.
Uma das técnicas para iniciantes tem duração de apenas três minutos. Para conferir, acesse o perfil do Centro Mente Aberta no Spotify (https://open.spotify.com/show/1VKltZrVsy5ACpzm2w3Vux) e escute a meditação guiada por Demarzo.
*Para pessoas com alguma doença aguda ou crônica (pacientes), o apoio de um instrutor qualificado e de um profissional da saúde é fundamental.
O que é Mindfulness?
Mindfulness é um dos estados da mente, acessível a qualquer indivíduo, que consiste em um exercício de querer vivenciar o momento presente, intencionalmente, aceitando a experiência.
Em Mindfulness, o sentido correto de aceitação é o de se olhar a realidade como ela realmente é, sem julga-la ou reagir a ela no "piloto automático".
Com a prática regular, o processo torna-se mais natural, sendo possível permanecer nesse estado em grande parte do tempo e aumentar a qualidade de vida do indivíduo.
Embora muitos dos termos e técnicas tenham origem nas tradições orientais, o Mindfulness hoje em dia é considerado uma prática laica (secular, não-religiosa), com sólida base científica.
Quem é Marcelo Demarzo?
É médico especialista em Mindfulness para adultos e crianças, com treinamentos na Inglaterra (Mindfulness in Schools Project, em Londres; Oxford Mindfulness Centre, na Universidade de Oxford; e Instituto Breathworks, em Manchester), e nos EUA (Center for Mindfulness in Medicine, Health Care, and Society, na Universidade de Massachusetts).
Fez pós-doutorado em Mindfulness e Promoção da Saúde na Universidade de Zaragoza, na Espanha, e diversos cursos de aprofundamento nas tradições contemplativas e meditativas, incluindo a Psicologia Budista e Tibetana em Dharamsala, na Índia.
Junto com o professor Javier Garcia-Campayo, da Universidade de Zaragoza, desenvolveu a Terapia de Compaixão Baseada em Estilos de Apego (Attachment-Based Compassion Therapy).
É fundador e atual coordenador do Mente Aberta (www.mindfulnessbrasil.com), referência nacional e internacional nos programas e pesquisas sobre Mindfulness.
Mente Aberta
Fundado pelo especialista pioneiro em Mindfulness no Brasil, o Mente Aberta (Brazilian Center for Mindfulness and Health Promotion) é um Centro de promoção e divulgação de intervenções baseadas em Mindfulness com foco em práticas e programas, formação profissional e pesquisas científicas.
O Centro Mente Aberta coordena um Programa de Extensão Social da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um grupo de pesquisa certificado pela universidade e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e segue as Diretrizes da Rede Britânica de Professores de Mindfulness (UK Network for Mindfulness-Based Teacher Trainers).