A apresentação do espetáculo, Minhas Queridas, este que foi criado a partir de correspondências de Clarice Lispector às suas irmãs Tania e Elisa, acontece no dia 11 de fevereiro, sexta-feira, às 20h no teatro da unidade do Sesc com venda de ingressos.
SÃO CARLOS/SP - O espetáculo é um recorte da correspondência de Clarice Lispector para suas irmãs durante 15 anos em que viveu fora do Brasil, quando foi casada com o diplomata Maury Gurgel Valente.
O projeto foi contemplado pelo PROAC Edital de Montagens inéditas/2018, da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa de São Paulo e prevê apresentações por dez cidades do interior do Estado.
Centenário de nascimento
Em 2020 completou 100 anos do nascimento de Clarice. Muitas homenagens aconteceram (um longa-metragem a partir do livro A paixão segundo GH, dirigido por Luis Fernando Carvalho, por exemplo.) e coincidentemente, o projeto Minhas Queridas nasceu nesse momento, sendo mais uma das homenagens à escritora, abrindo as comemorações em torno do centenário.
Pano de Fundo
Em 1943, aos 23 anos, Clarice estreou com sucesso seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem. A escritora ucraniana, judia, naturalizou-se brasileira em virtude do casamento com o diplomata Maury Gurgel Valente.
Em 1945, época da Segunda Guerra, Maury foi chamado às pressas em missão diplomática em Nápoles. Clarice o acompanhou e foram 15 longos anos por diversos países. Foi um período difícil para atuar como escritora, sem ambiente para produzir no exterior e durante esse tempo, à duras penas e com um esforço enorme, finalizou seu segundo romance, O lustre, que já estava praticamente pronto no Brasil, e escreveu A maçã no escuro e A cidade sitiada. Quando esteve de passagem no Rio, durante quase um ano nesse período, escreveu os contos que compõem a obra-prima Laços de Família, além de uma coluna feminina em jornal, sob pseudônimo.
Correspondência entre irmãs
Clarice amava o Brasil, amava Recife (onde foi criada dos 5 aos 15 anos) e amava o Rio. Viver longe, sem amigos, rodeada por pessoas que não lhe diziam nada, em meio ao ambiente diplomático e seus jantares intermináveis, lhe causaram um enorme prejuízo do equilíbrio íntimo e de certa forma lhe tiraram a voz como escritora. Como ela escreveu em uma das cartas:
“Sabe quando um touro castrado se transforma em um boi? Assim fiquei eu. Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Nem sei como lhe explicar minha alma. Mas o que queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até um certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias.”
Assim, a correspondência entre ela e as irmãs Tania e Elisa representavam um alento e um bálsamo de cura.
“Receber carta sua às vezes tem o sentido que teria abrir as janelas de um quarto onde eu estivesse fechada há semanas”, escreve em uma carta.
Ela, que desde o nascimento parecia não ter parada e lugar no mundo, que nascera em trânsito, em meio à fuga dos pais do horror da guerra; que perdeu a mãe aos 9 anos e o pai aos 20, só podia contar com essas irmãs, mais velhas que ela 5 e 10 anos. Irmãs que ela amava com um amor incondicional.
“Em meio a tudo isso, sua existência me abençoa”, escreve a uma delas.
Portanto, mais do que o cotidiano da escritora, essas cartas de Clarice em Minhas Queridas contam sobre a desestruturação de uma mulher que, durante 15 anos, lutou desesperadamente para não se afastar de si e do que era mais importante: sua escrita.
Dessa forma, fazendo recortes pelos diversos países e cidades nas quais Clarice morou ao longo desse tempo, buscamos conduzir o espectador pela trajetória dessa escritora genial, a partir de sua voz e conflitos mais íntimos, ou seja, a voz dessas correspondências às irmãs que ela amava.
Ficha Técnica
Direção e Dramaturgia: STELLA TOBAR
Elenco: MARILENE GRAMA E SIMONE EVARISTO
Direção Musical e Trilha Original: SÉRVULO AUGUSTO
Cenário: KLEBER MONTANHEIRO
Figurino: CAROL BADRA
Iluminação: ADRIANA DHAM
Design Gráfico: MARCELO TOBAR
Diretor de Produção: JOÃO LUÍS GOMES
Realização: DIVERSÃO & ARTE PRODUÇÕES
Serviço:
Data: 11 de fevereiro, sexta-feira.
Horário: 20h.
Ingressos: R$ 30,00 (inteira); R$ 15,00 (meia); R$ 15,00 (credencial plena).
Lugares limitados. 14 anos
Local: Unidade São Carlos – Av. Comendador Alfredo Maffei, 700 – Jd. Gibertoni – São Carlos – SP
Mais informações pelo telefone: 3373-2333