ARGENTINA - O governo da Argentina anunciou na terça-feira, 21, que irá suspender as contas em redes sociais e os sites dos meios de comunicação estatais. No comunicado, a gestão afirma que a medida faz parte de um processo de "reorganização" com o objetivo de "melhorar os conteúdos gerados". A atitude está sendo vista como "censura" pelo Sindicato de Imprensa de Buenos Aires.
A suspensão afetará a Televisão Pública, Rádio Nacional, as emissoras do interior do país, o canal educacional Encuentro e o infantil Paka Paka, além das rádios FM Clásica, FM Rock e FM Folclórica. O governo destacou ainda que "os critérios de divulgação nas redes sociais serão unificados e a comunicação digital será reiniciada após uma reorganização interna das empresas".
Durante esse período, as contas passarão para as mãos da chefe da Gerência de Mídia Digital e Institucional da Radiotelevisión Argentina (RTA), Agustina Zeballos, conforme relatado pela mídia argentina.
Essa não é a primeira ação do governo Milei contra os meios públicos. Em março, a agência pública de notícias argentina foi fechada, após o presidente Javier Milei informar que seria encerrada por, segundo ele, produzir apenas propaganda 'kirchnerista', em referência à ex-presidente Cristina Kirchner.
A medida não foi bem recebida pelos defensores da imprensa. O Sindicato de Imprensa de Buenos Aires (Sipreba) emitiu uma nota de repúdio em nome dos jornalistas da mídia pública, criticando o "silenciamento das redes sociais de ambos os meios" e acusando o governo atual de "censura e intimidação, que se soma ao silenciamento da Télam", referindo-se à agência estatal.
"Os senadores devem defender a mídia pública rejeitando sua privatização e a lei básica", destacou o sindicato.
ARGENTINA - A maratona de negociações políticas que marcou o governo de Javier Milei em abril passado entrou em uma nova e importante fase na terça-feira (6), quando o Senado da Argentina começou a debater o seu pacote de medidas liberais, a chamada Lei Ônibus ou Lei Bases.
Os números, por si só, expressam o tamanho do desafio da Casa Rosada: a coalizão governista, Liberdade Avança, não alcança nem sequer 10% dos senadores. São 7 entre 72 membros da Casa. Para aprovar uma medida do tipo, são necessários ao menos 37 votos.
sucesso das negociações do governo na Câmara de Deputados, Casa que no findar de abril aprovou o pacotão liberal, deu algum ânimo aos defensores dessa agenda. Mas o desafio e o histórico do Senado são bem diferentes daqueles que tem a Câmara.
O texto de mais de 230 artigos da Lei Ônibus e um pacote fiscal à parte que reduz a isenção do imposto de renda, aprovados pelos deputados, começaram a ser debatidos por comissões antes de ir ao plenário do Senado –a saber, são elas as comissões de Legislação, a de Assuntos Constitucionais e a de Orçamento e Finanças.
São comissões diversas e que, dessa maneira, possuem defensores e detratores do projeto de Milei. Mas, mesmo entre aqueles considerados da "oposição dialoguista", que joga com o governo com frequência, há nomes que recentemente criticaram a administração, notadamente na polêmica sobre o financiamento das universidades públicas argentinas.
O projeto alçado por Javier Milei como sua prioridade legislativa abre caminho para privatização de várias empresas, entre elas a Aerolíneas; permite que o presidente decida sobre algumas áreas da administração pública sem o Congresso por um ano; implementa uma pequena reforma trabalhista e derruba uma moratória previdenciária.
É uma versão desidratada do calhamaço apresentado em janeiro pela Casa Rosada sem qualquer negociação com legisladores. Após derrapar em uma primeira análise no Congresso, o governo deu alguns passos atrás e refez a proposta, mas mantendo seus pilares fundamentais.
Para defender o governo (ou ouvir críticas, como na prática ocorreu) esteve presente no Senado o ministro do Interior, Guillermo Francos, o artífice das negociações com as bancadas legislativas.
"Na história de 40 anos de democracia na Argentina, cada governo teve que resolver problemas que foram gerados por governos anteriores, fundamentalmente crises econômicas", disse ele em seu discurso inicial. "O governo Milei se encontrou com a pior crise de toda a história da democracia, o Banco Central não tinha nem US$ 1."
O projeto ultraliberal na Casa Rosada alega que a lei, "que daria bases para uma nova economia", de acordo com os argumentos de Milei e aqueles que o cercam, é necessária para um Estado menos deficitário.
A oposição mais ferrenha, agrupada no União pela Pátria, liderado pelo kirchnerismo, alegou que o projeto que nesta terça-feira começou a ser debatido tem linhas que diferem do conteúdo aprovado pela Câmara.
O porta-voz de Milei, o também economista Manuel Adorni, disse durante sua conferência matinal que se tratavam de erros de digitação e que já estavam sendo resolvidos.
Organizações sindicais buscam escalar a pressão contra o governo nesta semana com a convocação de uma paralisação geral para esta quinta-feira (9). Espera-se que todos os transportes parem neste dia, e moradores, em especial os de Buenos Aires, já começam a reorganizar suas rotinas levando isso em conta.
Até aqui a manifestação popular mais contundente contra as medidas de Milei não ocorreu por sua Lei Ônibus, mas sim pelo imbróglio do financiamento das universidades públicas, que levou milhares às ruas no último dia 23 em cenas impressionantes.
Alguns líderes sindicais, como os da Aerolíneas, prometeram escrachar senadores que votarem a favor da Lei Ônibus quando estes tomarem voos pela companhia. O governo criticou a declaração, e o porta-voz de Milei, Adorni, afirmou que o governo vai garantir a segurança dos legisladores e que uma declaração do tipo tem "um quê mafioso".
É neste Senado no qual Milei tenta lograr uma vitória onde, em março, seu megadecreto liberal, o DNU (Decreto de Necessidade e Urgência), que promove a desregulação da economia argentina, foi rechaçado, em uma derrota contundente. A matéria segue em vigor porque, de acordo com a Constituição, só seria derrubada se também a Câmara a reprovasse. Essa Casa ainda não a analisou.
Se houver modificações na Lei Ônibus no Senado, e tudo indica que haverá, a matéria tem de voltar à Câmara para nova chancela. O governo trabalha com um prazo fictício estabelecido por ele próprio para aprovar toda a matéria e vê-la em prática: o próximo dia 25.
Nesta data Milei diz querer assinar com governadores, em Córdoba, o chamado Pacto de Maio, medida simbólica de dez pontos para afinar quais os objetivos futuros da Argentina. É uma sinalização à população, mas também ao empresariado e aos potenciais investidores externos, de que há alinhamento entre a gestão federal e as províncias.
Na prática, esse diálogo é muito mais complicado, com governadores da oposição se recusando a negociar com essa administração.
POR FOLHAPRESS
ARGENTINA - O governo de Javier Milei confirmou, na quarta-feira (3/4), a demissão de 15 mil servidores públicos como parte de um esforço para reduzir os gastos da máquina pública na Argentina.
“Por outro lado, [o funcionário público] é sustentado por um contribuinte, e muitos [deles] têm problemas para chegar ao fim do mês, e isso não é justo”, afirmou o porta-voz presidencial, Manuel Adorni.
Segundo o governo argentino, os contratos dos servidores que venceram em 31 de março não serão renovados. Inicialmente, Milei anunciou a dispensa de mais de 70 mil funcionários, mas o número foi reduzido para 15.
“Não há muito mais a dizer, simplesmente faz parte do que estamos fazendo para reduzir a despesa pública, para que o pessoal desnecessário não continue a receber recursos do Estado”, enfatizou Adorni.
A Confederação Geral do Trabalho (CGT) anunciou uma “grande mobilização” para 1º de maio, Dia dos Trabalhadores, em protesto contra as medidas anunciadas pelo governo argentino. O grupo já promoveu uma greve geral contra Milei em 24 de janeiro deste ano.
ARGENTINA - O presidente da Argentina, Javier Milei, durante uma entrevista à rede CNN, rotulou Gustavo Petro, da Colômbia, como um "assassino terrorista". Em resposta, o governo colombiano expulsou os diplomatas argentinos da embaixada de Bogotá na quarta-feira (27).
Apenas um trecho da entrevista de Milei foi divulgado, onde ele mencionou que "não se pode esperar muito de alguém que era um assassino terrorista", referindo-se ao presidente colombiano.
Além disso, Milei criticou o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, afirmando: "É um elogio que um ignorante como López Obrador fale mal de mim, isso me enaltece".
Em um comunicado, o Ministério de Relações Exteriores da Colômbia condenou veementemente as declarações de Milei, alegando que ele ofendeu a dignidade do presidente Petro, eleito democraticamente, e destacou que tais declarações deterioraram a confiança entre os dois países.
Essa não é a primeira vez que Milei critica Petro de maneira considerada ofensiva pelos colombianos. Em janeiro, a Colômbia convocou seu embaixador na Argentina para consultas, como sinal de descontentamento. Na ocasião, Milei havia chamado Petro de "comunista assassino" e afirmou que o presidente estava "afundando a Colômbia". O Ministério de Relações Exteriores da Colômbia também emitiu um comunicado, condenando as declarações de Milei como desrespeitosas e irresponsáveis, ferindo a honra de Petro.
ARGENTINA - Javier Milei completa cem dias de governo na terça-feira (19) com uma ideia fixada na cabeça dos argentinos: "não há dinheiro". A frase, repetida como mantra pelo economista desde a campanha, tem permitido que ele faça os ajustes sem precedentes que prometeu enquanto conserva relativa popularidade.
Pelo menos até aqui, o país parece ter dado um voto de confiança ao economista que chegou ao poder em dezembro passado prometendo uma revolução ultraliberal para acabar com o déficit público e a inflação, em uma Argentina profundamente desgastada por sucessivas crises.
Mas não sem consequências. Se de um lado as primeiras medidas do presidente conseguiram minimamente balancear as contas públicas em apenas três meses de gestão, recuperando certa credibilidade à nação, por outro geraram um alto custo social e levaram a pobreza aos piores níveis dos últimos 20 anos.
Com a desvalorização abrupta do peso e a liberação dos preços que vinham sendo congelados pelo governo de seu antecessor, o peronista Alberto Fernández, os valores de todos os serviços e produtos dispararam de uma vez. As classes mais baixas pulam refeições, enquanto a classe média diminui a lista do mercado, corta plano de saúde e esquece os restaurantes.
Milei responsabiliza os que vieram antes dele pela deterioração e se nega a dar meia-volta. "Se alguém pensava que décadas de populismo barato e empobrecedor seriam resolvidas em 90 dias, estava enganado", defendeu o porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni, numa espécie de balanço.
"Nosso sucesso é que a expectativa foi alterada e que começa-se a entender que evitamos o pior, que evitamos a hiperinflação e que, de fato, estamos em meses complexos, em virtude de corrigir uma série de injustiças e distorções", justificou.
No caminho, porém, o presidente encontra obstáculos: vê suas reformas do Estado travadas no Congresso, sua reforma trabalhista suspensa pela Justiça e ainda tenta apaziguar as diferenças com governadores.
"É um balanço muito atípico. Por um lado, ele está tendo um êxito e levando adiante um ajuste muito impactante, que mesmo com muitas consequências no bolso das pessoas não derrubou sua popularidade. Por outro, tem carecido de estratégia política para lidar com sua falta de apoio legislativo", diz Julio Birdman, cientista político e professor da UBA (Universidade de Buenos Aires).
Segundo Birdman, o governo de Milei é sustentado por três pilares: o profundo corte de gastos através das canetadas de seu ministro Luis Caputo, a desregulação da economia através de um megadecreto de mais de 300 artigos e a reforma do Estado através da chamada "lei ônibus". O primeiro foi o único que ele conseguiu manter de pé até agora.
O decreto ainda está cambaleante e foi rejeitado pelo Senado na última quinta (14), mas segue em vigor até que eventualmente também seja rechaçado por inteiro pelos deputados. Já a "lei ônibus" foi retirada pelo governo da Câmara em fevereiro após discordâncias sobre artigos específicos.
Agora, o presidente tenta negociar uma versão ainda mais desidratada com governadores, que na Argentina têm forte influência sobre os legisladores. O apoio depende de um "Pacto de Maio" que Milei quer que seja assinado por todos os líderes provinciais daqui a pouco mais de um mês, com dez políticas de Estado de longo prazo.
"Na economia ele foi melhor do que na política", opina Andrés Borenstein, consultor e professor de macroeconomia da Universidade Torcuato di Tella, em Buenos Aires. Otimista em relação ao governo, ele destaca a acumulação de reserva de dólares, problema histórico do país, e a inflação que depois de atingir 26% em dezembro recuou para 13% em fevereiro.
"O apoio ao governo depende de que no curto prazo a economia mostre algum tipo de recuperação, em maio, abril ou junho, e obviamente que se consiga um acordo com os governadores no Pacto de Maio. Que os dois lados cedam um pouco e cheguem a uma conclusão", avalia. "O mercado acredita nele."
Fora do tema economia, ao qual Milei se dedica quase exclusivamente, a segurança foi outra área que sofreu mudanças, marcadas pela "mão dura" da ministra Patricia Bullrich, uma admiradora das políticas de encarceramento em massa do presidente de El Salvador, Nayib Bukele.
Ela acionou os militares e deu mais liberdade para o uso de armas pelas forças federais diante de uma nova crise em Rosário na última semana -a cidade do jogador Lionel Messi, a cerca de três horas de Buenos Aires, teve assassinatos e ataques coordenados pelo crime organizado após mudanças nas prisões.
A pasta de Bullrich ficou marcada ainda por um polêmico "protocolo antipiquetes" de tolerância zero contra o bloqueio de vias por manifestantes. Ele prevê o uso de motos, spray de pimenta e jatos de água para romper o método de protesto comum na Argentina, o que gerou novos confrontos nesta segunda (18).
Milei tem enfrentado frequentes atos e paralisações contra suas medidas radicais nas ruas e critica sindicatos e movimentos sociais por não terem reagido da mesma forma durante a inflação nos governos peronistas. Para analistas, porém, até agora as manifestações não têm tido grande efeito.
"Os atores que já existem nas ruas estão um pouco desgastados, não têm capacidade de gerar um forte impacto. Pelo contrário, Milei tem saído fortalecido quando se mobilizam. Mas isso pode mudar se surgirem outros tipos de protestos, outros atores", pondera Birdman.
POR FOLHAPRESS
ARGENTINA - O presidente da Argentina, Javier Milei, revogou um decreto que aumentava o próprio salário,
Milei disse que chegou a hora de "políticos pagarem o custo do desfalque que ocasionaram". A revogação do presidente argentino também inclui o aumento nos salários do vice-presidente, ministros e secretários.
O presidente argentino disse que a nova normativa revoga também uma medida de Cristina Kirchner. O texto que estava em vigor desde 2010 e vinculava o aumento da remuneração dos servidores públicos aos salários deles. Para Milei, essa medida havia sido elaborada para "proteger os bolsos da casta".
Milei também ameaçou cortar o dinheiro que Kirchner recebe como ex-presidente. "O que você acha se eu cancelar os 14 milhões (cerca de R$ 82,4 mil) que você recebe como aposentadoria privilegiada e lhe atribuir uma aposentadoria mínima? Imagino que não vá reclamar", disse o presidente em publicação no X (antigo Twitter).
"Felizmente, a cada dia mais leões acordam e decidem deixar de ser ovelhas. Mas você [Cristina Kirchner], como toda a casta política, não vê isso."
AUMENTO SALARIAL
Em fevereiro, o governo argentino anunciou aumento de 30% no salário mínimo. Milei, no entanto, também assinou no mesmo mês outro decreto que aumentou o salário dele e de outros funcionários do alto escalão da administração pública. Segundo a oposição, esse aumento foi de 48%.
"Presidente, você quer brigar comigo para que não falemos sobre o decreto que você assinou dando um aumento de 48% para você e seus funcionários, enquanto destrói as pensões e salários dos argentinos", retrucou Cristina Kirchner, ex-presidente da Argentina.
"Javier Milei nos habituou a mudar de ideia, como quando durante a campanha disse que não iria ingressar na casta política do Juntos pela Mudança, mas acabou fazendo isso para ganhar a presidência no segundo turno", disse Alberto Fernández, ex-presidente da Argentina.
POR FOLHAPRESS
ARGENTINA - Javier Milei e o papa Francisco podem ter trocado presentes e cordialidades por telefone e durante um encontro no Vaticano, mas as diferenças entre o presidente da Argentina e seu compatriota líder da Igreja Católica continuam bem evidentes.
O exemplo mais recente foi dado na última quarta-feira (28). Em um vídeo transmitido na inauguração da sede de uma ONG de juízes em Buenos Aires, o papa disse que o Estado deve "cumprir um papel de redistribuição [de renda] e de justiça social".
"Os direitos sociais não são gratuitos, a riqueza para sustentá-los está disponível, mas requer decisões políticas adequadas", seguiu ele, que falava a uma Argentina hoje sob cortes de benefícios promovidos pelo governo Milei e com os maiores índices de pobreza em 20 anos.
O papa também alertou, entre outras coisas, sobre "o deus mercado e a deusa ganância", que classificou como "falsas divindades que levam à desumanização e à destruição do planeta".
As declarações ocorrem duas semanas após ele ter recebido Milei, que se define como um "anarcocapitalista", com quem compartilhou uma missa e uma reunião privada. O líder da Casa Rosada tem classificado, reiteradas vezes, a justiça social como "uma aberração".
O porta-voz da Presidência, Manuel Adorni, descreveu as declarações de Francisco como "frases, palavras ou definições muito bonitas aos ouvidos", mas rejeitou que o Estado deva ser garantidor da justiça social, pois isso é "tirar compulsivamente de uns para dar a outros".
"O bendito 'Estado presente' tirou tudo de milhões de argentinos", disse ele, referindo-se ao slogan utilizado pelos últimos governos peronistas, como o do antecessor de Milei, Alberto Fernández. "As pessoas não querem isso e demonstraram nas urnas", acrescentou ao responsabilizar essas políticas pelos "50% de pobres" no país.
A abertura da sede do Comitê Pan-Americano de Juízas e Juízes pelos Direitos Sociais e a Doutrina Franciscana, o Copaju, de Buenos Aires foi feita pelo juiz Andrés Gallardo, que tem realizado trabalhos com outros clérigos católicos em bairros pobres.
"Peço à Copaju firmeza diante dos modelos desumanizantes. Vocês são operários da paz", disse o papa Francisco em seu vídeo.
Durante a campanha pela Casa Rosada, Milei criticou e insultou o papa. Chegou a descrevê-lo como um "representante do mal na Terra".
Depois, amenizou o tom, fez acenos cordiais e, reiteradamente, convidou o pontífice para visitar a Argentina, no que seria a primeira viagem oficial de Francisco a sua terra natal desde que assumiu o papado, em 2013.
A principal questão que se coloca é a saúde do líder da Igreja Católica. Com gripes e crises de bronquite recorrentes, Francisco, que também tem feito uso de cadeira de rodas devido a fortes dores no joelho, vem se afastando de algumas aparições públicas e chegou a cancelar viagens internacionais previamente marcadas devido a sua saúde.
POR FOLHAPRESS
VATICANO - O papa Francisco e o presidente argentino, Javier Milei, se reunirão pela primeira vez no Vaticano no domingo (11), em um encontro marcado pelos ataques anteriores do líder ultraliberal ao pontífice e pelo contexto político conturbado na sua Argentina natal.
Milei acompanhará, na manhã de domingo, na Basílica de São Pedro, da canonização da beata María Antonia de Paz y Figueroa, conhecida como Mama Antula (1730-1799), defensora do legado jesuíta e pioneira dos direitos humanos, que se tornará a primeira santa argentina.
A cerimônia será a primeira ocasião para o presidente Milei cumprimentar Francisco, jesuíta, argentino e ex-arcebispo de Buenos Aires. No dia seguinte conversarão longamente, em audiência agendada na Santa Sé.
Será um encontro entre dois líderes de ideologias opostas, que nas últimas semanas protagonizaram uma reaproximação, incluindo um telefonema do pontífice ao novo presidente após a sua vitória eleitoral.
Uma das grandes questões que serão discutidas nas reuniões de domingo e segunda-feira é se Francisco viajará este ano a sua terra natal, a Argentina, que ele não visita desde que foi eleito líder da Igreja Católica, em 2013.
A outra questão é o ambiente político explosivo na Argentina, onde o grande pacote de reformas desregulamentadoras de Milei foi contido esta semana na Câmara dos Deputados devido à falta de apoio.
Em Israel, onde estava de visita, o presidente reagiu com indignação, chamando os deputados que não o apoiam de "grupo de criminosos".
Milei convidou Francisco para visitar o país no mês passado, afirmando em uma carta que sua vinda "trará frutos de pacificação e fraternidade para todos os argentinos, ávidos por superar divisões e confrontos".
A carta serviu como um pedido público de desculpas, após os insultos que Milei fez ao papa quando era comentarista de televisão - "imbecil", "representante do maligno" - e inclusive em sua campanha eleitoral, quando o acusou de "interferência política".
O próprio Francisco minimizou a questão em uma entrevista ao canal mexicano Televisa em dezembro, dizendo que "temos de distinguir muito entre o que um político diz na campanha eleitoral e o que realmente vai fazer depois".
Milei e Francisco partem de posições opostas, o primeiro do ultraliberalismo e o segundo da defesa dos mais pobres e da proteção do meio ambiente.
Mas Sergio Rubín, biógrafo do papa e jornalista argentino, vê um ponto de encontro na carta com que Milei convidou Francisco para ir à Argentina.
Nela, o presidente defende a proteção dos "nossos compatriotas vulneráveis" ao aplicar reformas que corrijam a trajetória econômica de um país com uma inflação superior a 200% e 40% da sua população na pobreza.
"Acredito que essas duas coisas estarão muito presentes", disse Rubín à AFP: "a contribuição para a unidade dos argentinos", em um país polarizado, e "como o ajuste impacta aqueles que têm menos".
por AFP
BUENOS AIRES - Um importante pacote de reformas econômicas defendido pelo ultraliberal Javier Milei conhecido como "lei ônibus" será enviado de volta a uma comissão legislativa, informou o partido do presidente da Argentina nesta terça-feira, marcando um grande retrocesso para o projeto após parlamentares derrubarem muitos de seus dispositivos.
As rejeições ocorreram durante o processo de aprovação artigo por artigo. No final da semana passada, parlamentares haviam votado pela aprovação geral da "lei ônibus", deixando a análise dos dispositivos para esta terça.
O projeto de lei, que já havia sido significativamente reformulado pelos parlamentares, ainda incluía disposições para permitir a privatização de entidades estatais, mudanças em centenas de regulamentações, e medidas para permitir reduções nos subsídios estatais.
O partido governista Libertad Avanza, de Milei, que controla apenas um pequeno número de assentos no Congresso, atacou o que chamou de comportamento traiçoeiro dos parlamentares que se opõem ao projeto de lei em uma postagem no X, reconhecendo que ele deve agora retornar à comissão.
Alguns integrantes da oposição pediram concessões aos que apóiam o pacote de reformas.
"Pedimos ao partido governista que tenha alguma flexibilidade. Eles adoram continuar perdendo", disse o parlamentar da oposição Miguel Pichetto durante a sessão legislativa.
Reportagem de Nicolas Misculin / REUTERS
ARGENTINA - O segundo dia de protestos contra as reformas liberais de Javier Milei na Argentina teve novos confrontos entre policiais e manifestantes. Os agentes usaram balas de borracha, cassetetes, spray de pimenta e motocicletas para evitar que o grupo bloqueasse as ruas ao redor do Congresso Nacional.
É ali dentro que deputados discutem a chamada "lei ônibus" desde quarta-feira (31), em longas sessões que devem se estender pelo menos até esta sexta (2). Isso porque o plenário precisa votar o projeto em geral e depois discutir artigo por artigo para chegar ao texto final, que originalmente tinha 664 pontos e agora já tem menos de 400.
O clima voltou a esquentar na tarde desta quinta (1º), quando organizações sociais e de esquerda, assim como pessoas sem ligação com nenhum grupo, ocuparam novamente a praça em frente ao Legislativo.
O tumulto começou com um pequeno confronto por volta das 18h. Uma fileira de policiais usou escudos contra pessoas que estavam em cima da calçada, mas a situação logo se estabilizou. Momentos depois, porém, um grande efetivo de agentes federais desembarcou em caminhões em frente ao edifício, o que elevou a tensão.
Nos primeiros dias de seu mandato, em dezembro, Milei instituiu um novo protocolo com tolerância zero contra o fechamento de vias por manifestantes, os chamados piquetes, criticados por parte da população. O protocolo inclui o uso de forças federais para romper o método de protesto utilizado por organizações sociais.
Os policiais então formaram fileiras na intenção de retirar manifestantes que bloqueavam uma das ruas na lateral da praça. Houve vários focos de confronto nas duas horas que se seguiram, com os policiais usando escudos, cassetetes e spray de pimenta e os manifestantes reagindo com cabos de bandeiras e garrafas de água.
No primeiro dia de protestos, parte dos manifestantes que ocupavam a mesma praça em frente ao Congresso já haviam fechado pistas de avenidas próximas.
A Folha de S.Paulo presenciou na quarta a detenção de pelo menos um homem, que ficou imobilizado de costas no chão por agentes federais por alguns minutos. Também avistou um policial deixar a multidão mancando, apoiando-se em colegas.
Um apoiador de Milei e um jornalista do canal LN+, do mesmo grupo do jornal La Nacion, foram agredidos por dois manifestantes. O primeiro levou um soco, e o segundo, uma cuspida, registradas em vídeos.
Outras quatro mulheres foram detidas e liberadas na manhã desta quinta (1º). Em vídeos nas redes sociais, elas contaram que não se conheciam: "Passamos 12 horas presas por cantar o hino nacional pacificamente sentadas em frente ao Congresso", disse a militante Ivanna Bunge.
POR FOLHAPRESS
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