Jornalista/Radialista
ESPANHA - A Netflix anunciou na terça-feira (13) que está trabalhando em um documentário sobre Vini Jr.
O jogador de 22 anos - que iniciou sua carreira no Flamengo e atua como atacante do Real Madrid desde 2017 - terá sua vida e carreira no futebol contada por meio da produção dirigida por Andrucha Waddington e o roteiro escrito por Emílio Domingos. O documentário está em desenvolvimento desde setembro de 2022, e com estreia prevista para 2025.
‘’Vou fazer bonito…tá gravando? Muito feliz em anunciar um documentário sobre minha vida em parceria com a Netflix. A estreia está prevista pra 2025, até lá fiquem com essa caneta. BAILA!’’, dizia a legenda de uma postagem no Instagram com um vídeo do anúncio.
Em um comunicado, o atleta celebrou a oportunidade de compartilhar a sua trajetória e desejou que o projeto possa se tornar inspiração para outros jovens que desejam seguir a carreira no esporte.
‘’Poder contar minha história e inspirar garotas e garotos de todo o mundo a seguir uma trajetória de sucesso no esporte é o que mais me inspira neste projeto. O futebol tem um papel transformador para jovens, especialmente no Brasil, e este filme pode levar esse poder de transformação para o mundo inteiro", disse Vini Jr.
por BANG Showbiz
INGLATERRA - A maioria das pessoas conhece distúrbios psiquiátricos como a esquizofrenia e o transtorno bipolar. Mas existem algumas condições tão incomuns que muitos psiquiatras não encontrarão um único caso em toda a sua vida profissional.
Aqui, apresento cinco das síndromes mais raras — e estranhas — conhecidas pela psiquiatria.
1. Síndrome de Fregoli
A síndrome de Fregoli acontece quando alguém acredita que pessoas diferentes, na verdade, são a mesma pessoa que simplesmente muda de aparência. Pessoas com esta síndrome costumam sentir-se perseguidas por quem elas acreditam estar disfarçada.
O nome do distúrbio vem do ator de teatro italiano Leopoldo Fregoli (1867-1936), que ficou conhecido pela sua notável capacidade de mudar de aparência rapidamente no palco.
A síndrome de Fregoli ocorre tipicamente em conjunto com outros distúrbios mentais, como o transtorno bipolar, a esquizofrenia e o transtorno obsessivo-compulsivo. Ela pode também ser causada por lesões cerebrais e pelo uso da droga levodopa, durante o tratamento de mal de Parkinson.
Um estudo de 2018 concluiu que menos de 50 casos foram relatados em todo o mundo desde a descoberta desta condição. Mas um estudo mais recente, de 2020, relatou incidência de 1,1% entre pacientes que sofreram AVC. Por isso, certamente são mais de 50 casos, mas ainda é algo muito raro.
Não existe cura conhecida para a síndrome de Fregoli, mas o tratamento com drogas antipsicóticas pode reduzir os sintomas.
2. Síndrome de Cotard
A síndrome de Cotard, também conhecida como “síndrome do cadáver ambulante”, ocorre quando as pessoas têm a crença ilusória de que estão mortas e não existem. Outras acreditam que partes do seu corpo estão faltando.
O nome da síndrome vem do neurologista francês Jules Cotard (1840-1889), que descreveu a condição pela primeira vez em 1882.
A esquizofrenia, a depressão e o transtorno bipolar são fatores de risco para a síndrome de Cotard. Mas ela também foi relatada como um raro efeito colateral do medicamento antiviral aciclovir.
Acredita-se que a síndrome seja originada da desconexão entre as regiões do cérebro que reconhecem os rostos e as regiões que associam o conteúdo emocional a esse reconhecimento facial.
Esta condição rara normalmente é tratada com antidepressivos, antipsicóticos e estabilizadores do humor, além de terapia eletroconvulsiva.
3. Síndrome da mão alienígena
A síndrome da mão alienígena é um dos distúrbios neurológicos mais estranhos que existem.
Ela ocorre quando a mão de uma pessoa parece ter mente própria e age de forma autônoma. A sensação da pessoa é que sua mão não lhe pertence.
Esta síndrome foi identificada pela primeira vez em 1908, mas só foi definida claramente no início dos anos 1970.
A expressão “síndrome da mão alienígena” foi cunhada pelo neurofisiologista norte-americano Joseph Bogen (1926-2005), para descrever um comportamento voluntarioso incomum, observado ocasionalmente durante a recuperação de certos tipos de cirurgia cerebral.
As pessoas que sofrem da síndrome da mão alienígena tipicamente possuem transtornos do processamento sensorial e se dissociam das ações da sua mão.
Pesquisas indicam que as pessoas com a síndrome frequentemente personificam a mão alienígena e podem acreditar que ela está possuída por algum outro espírito ou forma de vida extraterrestre.
As causas da síndrome incluem demência, AVC, doença de príon (uma doença cerebral fatal), tumores e convulsões. Casos de síndrome da mão alienígena também foram relatados entre pacientes que passaram por cirurgia para separar os hemisférios direito e esquerdo do cérebro, no tratamento de epilepsia grave.
A síndrome é muito rara. Uma análise de 2013 encontrou apenas 150 casos nas publicações médicas.
Embora não haja cura conhecida para a síndrome da mão alienígena, os sintomas podem ser gerenciados e minimizados, até certo ponto, mantendo a mão afetada ocupada e envolvida em uma tarefa — dando um objeto para que ela segure, por exemplo.
Outros tratamentos incluem injeções de toxina botulínica e terapia de caixa de espelhos. Pacientes com caso de AVC costumam apresentar melhor sucesso no tratamento.
4. Síndrome de Ekbom
A síndrome de Ekbom é uma alucinação tátil que faz com que as pessoas acreditem que estão infestadas por parasitas. Muitas vezes, elas sentem insetos rastejando sob a sua pele.
A síndrome recebeu o nome do neurologista sueco Karl Ekbom (1907-1977), que descreveu a condição pela primeira vez no final dos anos 1930.
O número exato de pessoas que sofrem desta síndrome é desconhecido, mas um estudo relatou que existem cerca de 20 novos casos por ano em uma grande clínica de referência nos Estados Unidos.
Segundo uma meta-análise de 1.223 casos de Ekbom, a síndrome é mais comum entre as mulheres (que representam dois terços dos pacientes) e em pessoas com mais de 40 anos. Os sintomas duram tipicamente de três a quatro anos.
A síndrome de Ekbom é associada a diversas condições, incluindo esquizofrenia paranoide, doença cerebral orgânica, neurose e transtorno de personalidade paranoide. Ela também foi relatada em pessoas com abstinência de álcool, abuso de cocaína, AVC, demência e lesões em uma parte do cérebro chamada tálamo.
Os pacientes que sofrem da síndrome de Ekbom, muitas vezes, não querem receber tratamento psicológico porque estão convencidos de que o problema exige tratamento médico.
5. Síndrome de Alice no País das Maravilhas
Na síndrome de Alice no País das Maravilhas, também conhecida como síndrome de Todd, a sensação de imagem do corpo, visão, audição, tato e espaço/tempo da pessoa estão distorcidos.
Pessoas com a condição tipicamente observam objetos como se fossem menores do que a realidade e as pessoas parecem maiores do que são. Ou o contrário: os objetos são percebidos como maiores do que são e as pessoas parecem menores.
Estas experiências podem ser acompanhadas por sensações de paranoia.
Pouco se sabe sobre a incidência deste distúrbio, que afeta principalmente crianças e pessoas que sofrem de enxaqueca.
As pessoas com a condição podem ficar assustadas e entrar em pânico. Por isso, o tratamento bem sucedido, muitas vezes, inclui repouso e relaxamento.
Na maioria dos casos, é uma condição que dura relativamente pouco tempo. O estudo mais recente sobre a síndrome de Alice no País das Maravilhas relatou que cerca da metade dos pacientes são tratados com sucesso.
*Mark Griffiths é diretor da Unidade Internacional de Pesquisa em Jogos e professor de Dependência Comportamental da Universidade Trent de Nottingham, no Reino Unido.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.
UCRÂNIA - Seis pessoas morreram e 19 ficaram feridas em ataques russos com mísseis na Ucrânia, um deles contra o porto de Odessa, no momento em que as forças ucranianas reivindicam pequenos avanços na frente de batalha.
Em Odessa, sul do país, três pessoas morreram em um ataque com mísseis de cruzeiro Kalibr contra um depósito comercial, anunciou Sergiy Bratchuk, porta-voz da administração militar desta grande cidade portuária no Mar Negro.
Sete pessoas ficaram feridas no depósito e "outras pessoas podem estar sob os escombros", informou em um comunicado o prefeito de Odessa, Guennadii Trukhanov.
Além disso, outras seis pessoas ficaram feridas em outras áreas da cidade: um centro empresarial, estabelecimentos comerciais e um complexo residencial também foram atingidos.
Odessa era um destino de férias muito apreciado por ucranianos e russos antes de o presidente Vladimir Putin determinar a invasão do país vizinho, em fevereiro do ano passado. Desde o início da guerra, a cidade foi bombardeada diversas vezes pelas tropas russas.
Em janeiro, a Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) incluiu o centro histórico de Odessa na lista de Patrimônio da Humanidade em perigo.
A Força Aérea ucraniana afirmou que três dos quatro mísseis russos disparados contra a cidade foram derrubados. A Rússia também lançou 10 drones de fabricação iraniana Shahed-136/131 durante a noite - a partir do Mar de Azov - contra o sudeste da Ucrânia.
Além disso, seis mísseis de cruzeiro do tipo X-22 lançados da região russa de Rostov-on-Don atingiram a região de Donetsk, leste da Ucrânia.
O ataque provocou três mortes e deixou seis feridos, afirmou o governador Pavlo Kirilenko.
- Contraofensiva –
Na terça-feira (13), seis pessoas, incluindo quatro guardas florestais, morreram quando o veículo em que viajavam foi atingido por um bombardeio russo no nordeste da Ucrânia, perto da fronteira entre os dois países, anunciou a Procuradoria Geral ucraniana.
No mesmo dia, um ataque russo com mísseis matou 12 pessoas em Kryvyi Rih, a cidade natal do presidente ucraniano Volodimir Zelensky, na região central do país, de acordo com um balanço atualizado.
Moscou intensificou nas últimas semanas os ataques noturnos contra as principais cidades ucranianas, no momento em que Kiev executa uma vasta contraofensiva com armas fornecidas pelos países ocidentais com o objetivo de recuperar territórios ocupados pelas forças russas.
A Ucrânia afirma que a contraofensiva está avançando, mas Putin afirmou na terça-feira que o exército russo provoca perdas "catastróficas" para as forças inimigas.
De acordo com analistas militares, a Ucrânia ainda não acionou a maior parte de suas forças para a contraofensiva. No momento, o país testa a linha de frente, em busca de pontos frágeis dos russos.
As operações parecem concentradas em três pontos: Bakhmut (leste), cidade destruída após meses de combates, Vuhledar (sudeste) e Orikhiv (sul).
Durante os últimos três dias, os ucranianos recuperaram quase três quilômetros quadrados de território e avançaram 1,4 km em determinados pontos da frente de batalha, anunciou um dos comandantes do Estado-Maior de Kiev, Andrii Kovaliov.
A Rússia reivindicou na terça-feira a captura de tanques alemães Leopard e blindados americanos Bradley, fornecidos pelos aliados ocidentais à Ucrânia.
- Diretor da AIEA em Zaporizhzhia -
O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, pretende visitar a central nuclear de Zaporizhzhia, controlada pela Rússia, para verificar se há riscos após a destruição da represa de Kakhovka, no rio Dnieper.
Inicialmente prevista para esta quarta-feira, a visita pode ser adiada para quinta-feira, de acordo com uma fonte do setor nuclear russo que não revelou os motivos. A Ucrânia e a AIEA não confirmaram a informação.
Grossi afirmou que "não há perigo imediato", mas o nível de água do reservatório de refrigeração da central é motivo de preocupação.
"Quero fazer minha própria avaliação, visitar o local, conversar com a direção sobre as medidas que foram adotadas e, depois, estabelecer uma avaliação mais definitiva do perigo", explicou na terça-feira.
A destruição da represa provocou inundações no sul da Ucrânia: 17 pessoas morreram na parte ocupada pela Rússia e 10 na área sob controle ucraniano.
A Ucrânia acusa a Rússia de destruir a represa para frear a contraofensiva do país. Moscou nega e acusa Kiev de "sabotagem".
EUA - Meteorologistas preveem um El Niño forte este ano, o que, combinado com a aceleração do aquecimento global, deve levar a um recorde de temperaturas máximas já registradas no planeta Terra. O fenômeno, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, impacta o clima mundial, podendo causar furacões no Atlântico e ciclones no Pacífico. Ele teve início no último dia 8 e deve ir até agosto.
Um alerta da Organização Meteorológica Mundial, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), chama atenção para uma pesquisa publicada na revista Science que mostra danos econômicos de US$ 84 trilhões neste século, o equivalente a R$ 413 trilhões, mesmo que as promessas de corte de emissões de gases do efeito estufa sejam cumpridas.
Esses prejuízos seriam oriundos da perda de safras motivada por secas extraordinárias e pela escalada de doenças tropicais, logo, a perspectiva ainda é pior pra países tropicais, como o Brasil.
Em entrevista à Rádio Eldorado nesta segunda-feira, 12, o professor do Instituto de Economia da UFRJ Cadu Yang comentou os impactos esperados para o El Niño de 2023. Confira:
Como você avalia o estudo publicado na Science sobre os impactos econômicos do El Niño? Eles podem chegar a essa proporção, de fato?
Infelizmente, nós já estamos prevendo situações extremas para os próximos anos, em função da perspectiva de que, depois de anos de La Niña, que no caso brasileiro representaram chuva em abundância, nós vamos viver o fenômeno do El Niño, que esse caracteriza por um aquecimento de águas extraordinário no Pacífico. Isso traz consequências sobre o clima em toda América do Sul – aliás, em todo o planeta -, o que significa, no nosso caso, uma probabilidade maior de eventos extremos de seca nas partes mais continentais.
Nós teremos um agravamento dos períodos de estiagem, mas também uma maior instabilidade, ou seja, uma maior possibilidade de eventos como inundações e alagamentos e, associado a isso, deslizamentos de terra, entre outros problemas dessa natureza. Além disso, teremos uma alteração na propagação de vetores de doenças tropicais, o que também está associado essa alteração no que podemos chamar de “normalidade climática”.
O que esse valor, de mais de R$ 400 trilhões, representa para um País ou continente?
Eu trabalho bastante produzindo estatísticas como essa e quando a gente fala em um número dessa magnitude, estamos falando de uma ordem de grandeza. A leitura que se deve fazer é: preparem-se para grandes desastres, grandes eventos extremos que terão grandes consequências econômicas.
Nós temos hoje uma ocupação agrícola, em grande parte do território nacional, que depende muito de um regime adequado de chuvas. Por isso, uma alteração desse regime de chuvas trará consequências sobre essa produção. Mas é claro que, quando o evento ocorrer, a capacidade de adaptação ao evento é diferenciada e por isso eu acho que, mais importante do que o tamanho dessa magnitude, é a distribuição desse efeito, que tende a ser bastante assimétrica e concentrada nos indivíduos de maior fragilidade social.
Nós fizemos, há um tempo atrás, um estudo sobre o semiárido do nordestino em que pegamos os grandes eventos de seca na região e verificamos qual foi o impacto disso na produção agrícola, medindo pela perda de área que foi plantada e não foi colhida. O que identificamos é que, além dessa perda ser grande nos anos de escassez hídrica, ela se concentrou muito em culturas como milho e feijão, que são típicas do agricultor familiar de subsistência, enquanto a produção comercial irrigada sofreu muito menos. Ou seja, além do problema do tamanho, que vai ser grande, temos o problema da distribuição desigual.
Olhando para outra área, como a área dos desastres, os nossos estudos – apenas com eventos de chuva, sem considerar seca – feitos há dez anos atrás estimavam que as perdas no Brasil já estavam chegando a 2% do PIB. Só que essas perdas estão muito mais concentradas em comunidades que moram próximas a rios ou em áreas de encosta, que sofrem o risco de deslizamento. São pessoas que sabem do risco, mas não têm capacidade financeira de se deslocar e isso vai criando um efeito “bola de neve”, trazendo consequências, por exemplo, para a prefeitura, já que ela vai ter que dar uma solução para esse desabrigado, vai ter que arcar com a reconstrução e com o próprio trabalho de resgate das vítimas.
Tudo isso tem um custo fiscal. Então, quando você imagina sistemicamente esses eventos extremos acontecendo com uma frequência maior e com mais intensidade, há impacto em diversas frentes. A princípio, o El Niño e as mudanças climáticas são tratados como elementos separados, mas um reforça o outro. Num contexto de aquecimento global, os efeitos de um El Niño serão amplificados e é por isso que a gente espera impactos sobre toda a sociedade brasileira.
Ainda que diretamente os afetados estejam numa determinada condição, a necessidade de lidar com o desastre vai trazer consequências, para a questão fiscal, para os preços – porque uma quebra de safra vai resultar na elevação do nível de preço – e por aí vai.
O que podemos fazer para nos prevenir, do ponto de vista econômico e social?
A gente precisa tratar com muito mais seriedade e urgência as questões ambientais e climáticas. A gente não pode se dar o luxo de o Congresso Nacional decretar que não existe mudança climática e que não existe é El Niño. As áreas protegidas, naturais, são áreas que garantem resiliência ao sistema. Se eu vou ter uma alteração no regime hídrico, eu preciso proteger a calha do rio. Como faço isso? Aumentando a área de floresta. Eu preciso proteger as encostas. Como? Aumentando a vegetação nativa e impedindo que as vegetações nativas existentes sejam removidas.
É preciso aumentar a nossa capacidade de lidar com eventos extremos por meio de soluções baseadas na natureza. É fundamental entender que a política ambiental é uma política de defesa para a nossa sociedade e para a nossa economia. E o que nós estamos vendo de ataque, de desmonte ambiental, que ocorreu com intensidade no governo anterior, mas que persiste em grupos hoje, em particular ligados ao Congresso Nacional, de pressionar ainda mais para remover essa proteção natural, é claramente uma política que vai trazer resultados ruins.
Por exemplo, a questão de água: como você impede novas grandes secas, lembrando, por exemplo, que São Paulo sofreu muito recentemente e teve que captar no volume morto? Você protege a água através do sistema de corpos hídricos que vão até o ponto de captação por meio da proteção da floresta. O imperador Dom Pedro II, por exemplo, sabia que no Rio de Janeiro – à época, capital – faltava água e o que ele fez? Ele mandou reflorestar a floresta da Tijuca para proteger o manancial que abastecia a cidade. Esse é um conhecimento antigo, não precisamos de grande ciência para saber que a proteção ambiental é a melhor maneira para prevenir desse tipo de desastre.
Acho que a principal mensagem é dar maior prioridade às questões ambientais, porque elas se referem essencialmente à defesa do ser humano, das nossas comunidades e das nossas atividades produtivas.
O que o governo tem feito de errado neste sentido?
Além do afrouxamento na Lei que trata do desmatamento da Mata Atlântica, que veio do Congresso e teve apenas um trecho vetado pelo presidente Lula, um outro mau exemplo de política que tá acontecendo é com relação às terras indígenas. As terras indígenas não pertencem aos indígenas, elas pertencem ao governo, são terras públicas, de todos nós e que têm uma característica muito importante: são terras com elevada taxa de conservação.
O porcentual de remanescente florestal em terras indígenas é mais alto até do que das unidades de conservação. Então, esse ataque que está sendo feito às terras indígenas é também um ataque aos serviços ecossistêmico que essas florestas estão protegendo. As populações indígenas, pela relação tradicional que têm com esses espaços, garantem essas áreas protegidas.
Se mantivermos essa visão de crescimento a qualquer custo, de que qualquer área que possamos transformar em pasto, transformar em área de cultivo, fazer uma hidrelétrica, será convertida, não sobrará resiliência para lidar com os eventos pelos quais a natureza já está cobrando a conta. E nós viveremos situações que cada vez mais dramáticas por causa das mudanças climáticas.
Uma elevação do nível da temperatura global acentua ainda mais os fenômenos de natureza cíclica, como El Niño e a La Niña, com consequências para as sociedades humanas que, como mostra o número, são de imensa magnitude. Isso vai afetar a todos nós e principalmente aqueles que são mais frágeis.
Você vê uma ação coordenada globalmente com possível protagonismo do Brasil?
Eu acho que, globalmente, nós temos sim que recuperar esse protagonismo. Teremos uma grande oportunidade com a COP, o principal evento do clima, que vai ocorrer em Belém do Pará. Isso vai trazer uma visibilidade importante, mas é importante lembrar que o nosso meio ambiente não é apenas na Amazônia. É importante a gente perceber que Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa, todos os biomas estão sofrendo. O Pantanal já teve uma redução de cerca de um terço na área alagada, ou seja, secou em um terço e a gente perdeu uma riqueza extraordinária com isso.
As ações precisam vir de todos, inclusive do setor privado. A gente tem uma série de possibilidades através do pagamento do serviço ambiental, com a possibilidade de criação de mercados regulados de crédito de carbono, que criam possibilidades de negócios a partir da conservação. Mas para isso é fundamental que a gente interrompa o ciclo da destruição e pare com essa ideia de que se tem petróleo, ele tem que ser extraído, não importa onde ele está, de que se tem um potencial hidrelétrico, tem que ser alterado a cara do rio, não importa o que eu vou fazer com essa energia. Essa visão de que não há uma finitude da nossa capacidade de ação tem trazido consequências muito ruins e a gente está percebendo isso já no dia a dia.
O estudo diz que o prejuízo calculado virá mesmo com o cumprimento das promessas de cortes de emissão de gases do efeito estufa. Isso significa que o problema pode ser ainda maior se elas não forem cumpridas?
Uma grande tragédia das questões climáticas é que o tempo em que o planeta responde é muito diferente do tempo das nossas ações. É mais ou menos como o processo de degelar uma geladeira: você abre a porta e ela não vai ter degelar imediatamente, ela vai perdendo temperatura aos poucos e isso vai ganhando um elemento gradativo.
Com o aumento da concentração de gás de efeito estufa que nós já colocamos na atmosfera, a temperatura vai aumentar de qualquer jeito. O que a gente está tentando fazer é reduzir o tamanho desse crescimento, que será percebido muito mais pela geração que ainda nem nasceu. A gente não está pensando aqui nem nos nossos filhos, mas sim nos netos que virão.
Tudo isso trará consequências para essas sociedades do futuro, em uma dimensão muito maior. Então, o que a gente tem que ter é o princípio da precaução. O problema é que a gente é muito focado no curto prazo e quando o efeito demora a ser percebido, nós o entendemos como inexistente e continuamos nesse frenesi de mudança climática.
No caso brasileiro, a principal fonte de mudança climática é o desmatamento, mas a segunda é a emissão de metano pela pecuária e a gente continua expandindo o setor como se isso não trouxesse consequências para o planeta. O mesmo vale para o consumo de combustível fóssil, em que a gente ainda acha que a exploração de petróleo vai ser a solução, mesmo na Amazônia.
A gente precisa deixar de ser contraditório e pensar no que será melhor no cenário de 50, 100, 150 anos. Nesse sentido, é fundamental que a gente tenha a participação de uma sociedade mais engajada, mais interessada e mais a par do que tá dizendo a ciência. A gente viveu um período no qual a ciência foi questionada, mas ela respondeu – se a gente não tivesse a ciência, a pandemia de covid-19 teria sido muito pior do que ela foi.
Estamos alertando que essas questões climáticas vão continuar no futuro se a gente não tomar uma presidência. E isso requer uma ação coordenada que envolve todos nós: os governos estaduais, federais, internacionais etc. As prefeituras, por exemplo, vão ser cada vez mais castigadas por esses fenômenos de natureza climática, porque o problema é essencialmente local, onde tem um deslizamento, uma inundação etc. Também como sociedade, tanto como sociedade civil, como sociedade empresarial, a gente tem que pensar que tipo de comprometimento a gente pode ter para que os problemas não sejam tão graves, pensando, principalmente, no futuro.
Voltando à questão das soluções baseadas na natureza, existem soluções que são simultaneamente de redução da concentração de gás de efeito estufa e de adaptação ao que a gente vai ver daqui para frente. A gente precisa introduzir essa palavra, adaptação, às mudanças climáticas. Como já está dito, a temperatura vai subir e os eventos climáticos acontecerão com mais frequência e o que a gente precisa fazer é se adaptar, se preparar para isso com um espaço adequado e soluções baseadas na natureza.
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