RÚSSIA - Em reunião na terça-feira (22) com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, a presidenta do Banco do Brics, Dilma Rousseff, defendeu a ampliação do bloco e o aumento dos financiamentos em moedas nacionais, em substituição ao dólar.
Ex-presidenta brasileira, Dilma destacou que os países do Sul Global têm necessidades financeiras muito grandes e que há dificuldades para conseguir esses empréstimos.
“Tivemos investimentos bastante elevados, mas ainda não o suficiente para as necessidades dos países do Brics. Por isso é muito importante disponibilizar financiamento em moeda local através de plataformas específicas. O Novo Banco de Desenvolvimento [NBD] tem o compromisso de viabilizar não só financiamento em projetos soberanos, mas também em projetos da iniciativa privada”, afirmou Dilma Rousseff.
O Sul Global é o termo usado para se referir aos países pobres ou emergentes que, em sua maioria, estão localizados no Hemisfério Sul do planeta.
O presidente russo agradeceu a presença da presidente do NBD – o Banco do Brics – em Kazan, na Rússia, que recebe a 16ª cúpula do bloco entre esta terça (22) e quinta-feira (24). Além disso, Putin elogiou o trabalho da ex-presidenta do Brasil à frente da principal instituição financeira do grupo e defendeu o aumento do uso de moedas nacionais.
“Agradecemos muito o que você fez nos últimos anos. O aumento dos pagamentos em moedas locais permite reduzir as taxas de serviço da dívida, aumentar a independência financeira dos países-membros do Brics, minimizar os riscos geopolíticos e, tanto quanto possível no mundo de hoje, libertar o desenvolvimento econômico da política”, enfatizou Putin.
O mandatário russo destacou ainda que, desde 2018, o Banco do Brics financiou mais de 100 projetos totalizando mais de US$ 33 bilhões. Um dos objetivos do bloco tem sido o de aumentar o uso de moedas próprias no comércio entre os países membros, reduzindo a dependência do dólar.
Está prevista ainda na Cúpula do Brics a apresentação, por Dilma Rousseff, de um relatório com um balanço do NBD na quinta-feira (24), durante a sessão do Brics +, que deve reunir em torno de 32 representantes de países da Ásia, África e América Latina. Dilma preside o banco até julho de 2025.
Durante a reunião com Putin nesta terça-feira, a ex-presidenta brasileira ainda defendeu a expansão do bloco, que é um dos principais temas da cúpula atual na Rússia. “O Brics está agora em um processo de grande amadurecimento. Espero que possamos ter uma expansão maior dos países do Brics para os países do Sul Global e que possamos definir os novos rumos que devemos trilhar nos próximos anos”, completou Dilma Rousseff.
A cúpula deste ano deve definir os critérios para os países interessados ingressarem no bloco em uma nova modalidade, de membros associado. Existem cerca de 30 países que mostraram interesse em participar do Brics.
Lula
Putin também conversou por telefone nesta terça-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não pôde comparecer à cúpula devido a um acidente doméstico no último final de semana. Ambos lamentaram a ausência do chefe de Estado do Brasil, mas Lula prometeu participar da reunião dos países-membros por videoconferência.
O primeiro dia da Cúpula do Brics também contou com reuniões do presidente russo, Vladmir Putin, com os presidentes da China, Xi Jinping, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.
LUCAS PORDEUS LEÓN - REPÓRTER DA AGÊNCIA BRASIL
UCRÂNIA - O Parlamento da Ucrânia aprovou na terça (20) uma lei que mira banir a Igreja Ortodoxa Russa, maior denominação deste ramos do cristianismo no mundo, do país.
Com apoio de 265 dos 450 deputados, o texto proíbe que entidades religiosas associadas a países agressores continuem a operar na Ucrânia. É mais um passo de um cisma iniciado em 2019 e agravado pela invasão de Vladimir Putin do vizinho, três anos depois.
Ao longo da guerra, o governo de Volodimir Zelenski já havia denunciado a Igreja Ortodoxa da Ucrânia-Patriarcado de Moscou de ser uma base avançada para espiões russos e de divulgação de propaganda contra Kiev.
A reação de Moscou, tanto na igreja quanto no governo, foi a de chamar Zelenski, um judeu, de satanista e inimigo da fé. Agora, o presidente disse que a nova lei irá "fortalecer a independência espiritual" da Ucrânia.
Segundo pesquisa do Instituto de Economia de Kiev, em 2022 75% dos ucranianos se denominavam cristãos ortodoxos. Um minoria expressiva, de 8%, são católicos do rito grego e os restantes, divididos entre católicos romanos, judeus e outras religiões.
De 1686 a 2019, a Igreja Ortodoxa da Ucrânia era subordinada ao patriarca de Moscou. O atual ocupante da posição, Cirilo, é um importante aliado de Putin, a quem já chamou de "milagre de Deus". As relações entre Kremlin e a denominação são as mais intensas desde que os czares eram coroados pela mão dos líderes religiosos.
Quando era parte da União Soviética, a Ucrânia tinha também uma outra denominação, a Igreja Autocéfala Ortodoxa da Ucrânia, que sofria diversas perseguições. A liberdade do ocaso comunista de 1991 abriu caminho para um período de disputa.
A anexação da Crimeia em 2014, após um aliado de Putin ser expulso do poder em Kiev, e a guerra civil no leste do país levaram o governo em Kiev a patrocinar o ramo como o único legítimo do país.
Em janeiro de 2019, o Patriarcado de Constantinopla, considerado o centro do poder ortodoxo do mundo, reconheceu a nova igreja, gerando o maior cisma do mundo cristão desde a Reforma protestante do século 16.
Na prática, ficaram operando na Ucrânia a igreja ligada a Moscou e a nova denominação. Não há uma estimativa precisa de quantos fiéis cada uma tem, mas houve um processo de migração de comunidades: ao menos 1.100 paróquias mudaram para o novo Patriarcado de Kiev.
A guerra piorou as tensões, com a suspeita de que religiosos ligados a Moscou operavam como uma quinta-coluna dentro do país. "Esta é uma votação histórica. O Parlamento aprovou uma legislação que bane uma sucursal do país agressor na Ucrânia", escreveu no Telegram a deputada Irina Heraschenko, ligada a Zelenski.
O líder da igreja ligada a Moscou, metropolitano Klimenti, criticou a lei, dizendo que ela só visa o confisco de propriedade. Ele nega qualquer influência política do governo Putin na atuação de seus padres.
"A igreja vai continuar a viver como a igreja verdadeira, reconhecida pela vasta maioria dos fiéis", disse à TV Hromadske. A Igreja Ortodoxa Russa comanda cerca de 40% dos 300 milhões de aderentes a este ramo cristão no mundo, entre outras 14 denominações.
A guerra impactou a comunidade fora da Ucrânia. Cirilo rompeu com Bartolomeu, o patriarca de Constantinopla (nome antigo de Istambul, Turquia), que criticou a invasão russa. Apenas as igrejas da Sérvia, Bulgária e Síria mantiveram o apoio a Moscou.
Agora, os deputados ucranianos irão listar as paróquias que serão atingidas. Cada uma terá nove meses para decidir se quer fechar as portas ou migrar para a fé oficial de Kiev, uma medida que será denunciada como repressão religiosa na Rússia.
É mais uma dimensão da guerra. Putin já criticou Zelenski por perseguir religiosos ligados ao patriarcado moscovita, além de ter banido o ensino de língua russa em favor do ucraniano. Pouco menos de 20% da população do país é russa étnica, mas a proporção é majoritária na Crimeia e nas áreas ocupadas no leste e sul.
ZELENSKI DIZ QUE SITUAÇÃO É DIFÍCIL NO LESTE
No campo de batalha, a invasão ucraniana da região meridional russa de Kursk seguiu em banho-maria nesta terça, sem avanços significativos por parte das forças de Zelenski. Ao longo do fim de semana, elas destruíram três pontes para reter o apoio logístico dos militares russos na região, mas é incerto o fôlego que a surpreendente ofensiva ainda tem.
Ele é desafiado pelo avanço russo rumo a Pokrovsk, importante centro ferroviário em Donetsk (leste ucraniano). Nesta terça, Zelenski chamou a situação militar na cidade, que está sendo evacuada, de "difícil".
Do lado de Moscou, o ministro Andrei Belousov (Defesa) disse que está "cuidando pessoalmente" da invasão a Kursk, e que determinou a criação imediata de três grupos de Exército na região e em suas duas vizinhas, Belgorodo e Briansk.
As Forças Armadas de Kiev também divulgaram um balanço dos ataques aéreos russos desde a invasão de 24 de fevereiro de 2022. Foram, segundo os militares, 14 mil drones e 9.600 mísseis disparados contra o território ucraniano, ou uma média de 26 armamentos caindo sobre o país por dia.
POR FOLHAPRESS
KIEV - O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse nesta quarta-feira que o país está “pronto” para negociar com a Rússia.
A declaração foi dada durante uma visita do chanceler a Guangzhou, na China, e representa o segundo sinal de abertura de Kiev a Moscou em menos de 10 dias, em 15 de julho, o presidente Volodymyr Zelensky havia dito que a Rússia deveria participar de uma segunda conferência de paz.
– Estamos prontos para conversar com a Rússia em uma determinada fase, se Moscou estiver pronta a negociar em boa fé – afirmou Kuleba em um encontro com o ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi.
No entanto, o chanceler ponderou que ainda não enxerga “tal preparação” por parte do regime de Vladimir Putin. “A parte ucraniana está pronta a conduzir o diálogo com a Rússia, mas as negociações precisam ser racionais e substanciais para alcançar uma paz justa e duradoura”, salientou.
Questionado sobre o assunto, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, respondeu que a abertura de Kuleba ao diálogo está “em sintonia” com a posição russa, porém cobrou “mais esclarecimentos” por parte de Kiev.
Guerra
A guerra entre Rússia e Ucrânia já dura quase dois anos e meio e vive um momento de impasse, sem avanços significativos em nenhum dos lados. Zelensky disse em diversas ocasiões que só aceitaria negociar mediante a retirada total das tropas invasoras das áreas ocupadas, enquanto Putin exige que Kiev abra mão das regiões tomadas por Moscou.
Por Redação, com ANSA
RÚSSIA - A Rússia acusou diretamente os Estados Unidos pelo que chamou de "ataque bárbaro" promovido por Kiev contra uma praia ao norte de Sebastopol, a principal cidade da Crimeia, península ucraniana anexada por Vladimir Putin em 2014.
Para completar o ambiente de escalada nas tensões entre Moscou e Washington no contexto da Guerra da Ucrânia, o Kremlin confirmou também na segunda (24) que Putin ordenou a revisão da doutrina nuclear russa, o que provavelmente irá facilitar o emprego de armas deste tipo.
Desde os momentos mais críticos da Guerra Fria, não havia um clima tão degradado entre os países que somam 90% das ogivas nucleares do mundo. Os recentes avanços russos e autorização ocidental para que os ucranianos ataquem o solo do vizinho com suas armas elevaram o patamar da tensão.
A ação ocorrida no domingo (23) é ilustrativa. Ao menos 4 pessoas morreram, 2 delas crianças, e 151 ficaram feridas no ataque, que pegou veranistas de surpresa por volta do meio-dia (6h em Brasília), como vídeos em redes sociais russas mostraram.
Foram disparados, segundo o governo local, ao menos oito mísseis de precisão ATACMS americanos. O governador de Sebastopol disse que a maior parte deles foi abatida, mas os destroços atingiram a praia lotada de veranistas.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, chamou a ação de "ataque bárbaro" e a chancelaria convocou o embaixador americano. Mais tarde, o ministério disse que a ação dos ucranianos não apenas empregou armas americanas, mas também foi coordenada por informações de satélites dos EUA e de um drone de reconhecimento de Washington que estava perto da costa da Crimeia.
"O envolvimento dos EUA nos combates, resultando na morte de russos pacíficos, não pode ficar sem consequências", disse Peskov.
Até aqui, era sabido que a área de inteligência americana fornecia coordenadas para Kiev, e a Crimeia já foi atacada por mísseis americanos e europeus em outras ocasiões. Com efeito, Washington proíbe os ucranianos de atacarem solo reconhecido internacionalmente da Rússia com os poderosos ATACMS (sigla inglesa para Sistema de Mísseis Táticos do Exército), as armas usadas no domingo.
Mas o Kremlin nunca havia acusado de forma direta Washington por um ataque. O emprego dos ATACMS ocorreu durante uma ação maior com drones ucranianos, cujas ondas têm sido lançadas desde a sexta (21).
Só nesta madrugada, foram 70 os aparelhos derrubados sobre a Crimeia e no mar Negro, segundo o Ministério da Defesa da Rússia. Do seu lado, Moscou realizou um ataque intenso no fim de semana contra o sistema energético ucraniano, que hoje está com menos do que a metade de sua capacidade de geração.
Em solo, os russos seguem na ofensiva, com lentos avanços no leste, sul e norte do país, mantendo uma iniciativa que não demonstravam desde o primeiro ano da guerra. Tudo isso ajuda a explicar o aumento das tensões de lado a lado. Na segunda, ao menos quatro pessoas morreram em um ataque com mísseis em Pokrovsk (leste).
Na questão nuclear, Peskov apenas confirmou que a doutrina russa está sendo revisada. Na quinta (20), durante visita ao Vietnã após firmar um pacto de defesa mútua com a ditadura atômica da Coreia do Norte, Putin afirmou que tal medida seria necessária porque seus adversários estão introduzindo novas armas táticas.
Elas são ogivas com um poder destrutivo bastante baixo, supostamente para uso em campo de batalha. As chamadas bombas estratégicas, por sua vez, são mais potentes e visam destruir grandes áreas civis e industriais, buscando encerrar guerras.
Tais armas de menor poder foram desenvolvidas pelos EUA no governo de Donald Trump (2017-21) para equipar mísseis lançados por submarinos. Desde aquela época há protestos da Rússia sobre o risco que elas trazem, mas o fato é que Moscou tem 1.558 armas táticas, enquanto os EUA operam cerca de 200.
Metade do arsenal americano é operacional, mas fica em cofres em seis bases na Europa. Aí entra uma isca mordida na crise pela Otan, a aliança militar ocidental: seu chefe, o norueguês Jens Stoltenberg, disse em duas entrevistas recentes que é possível ampliar o número de armas prontas para uso.
Era uma resposta aos exercícios nucleares russos para o emprego de bombas táticas, realizados em três etapas ao longo de toda fronteira ocidental do país. Essas manobras, por sua vez, respondiam às autorizações de uso de armas ocidentais contra alvos na Rússia e sugestões de envio de tropas para apoiar Kiev, como fez a França.
A atual doutrina nuclear russa é de 2020, e prevê o emprego de ogivas do tipo apenas se a Rússia for atacada por armamentos análogos ou se o Estado estiver sob risco existencial, mesmo que por meios convencionais.
Nesse sentido, Putin insinuou ares apocalípticos na sua fala no Vietnã. Disse que ser derrotado na Ucrânia significaria "o fim de mil anos de história do Estado russo". "Não é melhor então ir até o fim?", disse.
Ao mesmo tempo, assoprou ao afirmar que não iria promover o fim da regra de não atacar primeiro com armas nucleares. "No ataque retaliatório, o inimigo tem a garantia de que vai ser destruído", afirmou.
Segundo um analista militar russo próximo do Kremlin, o mais provável é que a revisão das regras deixe mais claro situações de uso das armas táticas e também permita um tempo de reação maior, talvez mantendo esquadrões de aeronaves armadas com elas em prontidão o tempo todo, como na Guerra Fria.
POR FOLHAPRESS
COREIA DO NORTE - O presidente russo, Vladimir Putin chegou nesta terça-feira (18) a Pyongyang, para sua primeira viagem à Coreia do Norte, país isolado há 24 anos. Antes de embarcar, Putin elogiou a Coreia do Norte por “apoiar firmemente” a guerra de Moscou na Ucrânia. A viagem pretende reforçar os laços de defesa entre os dois países.
Enormes faixas com uma fotografia sorridente do líder russo com os dizeres "damos calorosas boas-vindas ao presidente Putin!" foram colocadas em postes de iluminação em Pyongyang ao lado de bandeiras russas, mostraram imagens da mídia estatal russa.
Moscou e Pyongyang são aliados desde a fundação da Coreia do Norte, após a Segunda Guerra Mundial, e aproximaram-se ainda mais desde que a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 levou o Ocidente a isolar Putin internacionalmente.
Os Estados Unidos e aliados acusaram a Coreia do Norte de fornecer à Rússia armamentos, incluindo mísseis balísticos para uso na Ucrânia.
Pyongyang negou ter fornecido equipamento militar à Rússia, mas, antes da sua viagem, Putin agradeceu ao governo de Kim Jong-Un por ajudar no esforço de guerra.
“Apreciamos muito que a RPDC (Coreia do Norte) apoie firmemente as operações militares especiais da Rússia que estão sendo conduzidas na Ucrânia”, escreveu Putin num artigo publicado pela mídia estatal norte-coreana na terça-feira.
A Rússia e a Coreia do Norte estão “agora desenvolvendo ativamente a parceria multifacetada”, escreveu Putin.
Ambos os países estão sob uma série de sanções da ONU – Pyongyang desde 2006 por causa de programas proibidos de mísseis nucleares e balísticos e Moscou devido à invasão da Ucrânia.
Putin elogiou a Coreia do Norte por "defender seus interesses de forma muito eficaz, apesar da pressão econômica, provocação, chantagem e ameaças militares dos EUA que duram décadas".
A Coreia do Norte disse que a visita bilateral mostrou que os laços “estão se fortalecendo a cada dia”, informou a agência notícias oficiais de Pyongyang, e “daria nova vitalidade ao desenvolvimento das relações cooperativas de boa vizinhança entre os dois países”.
Pyongyang nega acusações de ajuda na Ucrânia
A Coreia do Norte descreveu as alegações de fornecimento de armas à Rússia como “absurdas”. No entanto, agradeceu à Rússia por utilizar o seu veto na ONU em março para pôr fim à monitorização das violações das sanções, numa altura em que os peritos da ONU começavam a investigar alegadas transferências de armas.
Os Estados Unidos expressaram “preocupação” na segunda-feira com a viagem por causa das implicações de segurança para a Coreia do Sul e também para a Ucrânia.
As duas Coreias permanecem tecnicamente em guerra desde o conflito de 1950-53 e a fronteira que as divide é uma das mais fortemente fortificadas do mundo.
“Sabemos que os mísseis balísticos norte-coreanos ainda estão sendo usados para atingir alvos ucranianos e pode haver alguma reciprocidade que pode afetar a segurança na península coreana”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, aos jornalistas.
Destacando essas preocupações de segurança, a Coreia do Sul disse que as suas tropas dispararam contra soldados do norte que cruzaram brevemente a fronteira na terça-feira e depois recuaram.
Os militares do sul disseram acreditar que os soldados norte-coreanos cruzaram acidentalmente enquanto fortificavam a fronteira, mas disseram que alguns deles ficaram feridos após detonarem minas terrestres.
Dependente de ditadores
O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, disse que a viagem de Putin mostra como ele é “dependente” de líderes autoritários. “Os seus amigos mais próximos e os maiores apoiadores do esforço de guerra russo, de agressão, são a Coreia do Norte, o Irã e a China”, disse Stoltenberg.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, fez um apelo à comunidade internacional para combater "o romance solitário" entre Putin e Kim, visando aumentar o fornecimento de armas para Kiev.
“A melhor maneira de responder a isso é continuar a fortalecer a coligação diplomática para uma paz justa e duradoura na Ucrânia e entregar mais mísseis Patriot e munições à Ucrânia”, disse Kuleba à AFP.
A Coreia do Norte quer tecnologia militar de ponta para avançar nos seus programas nucleares, de mísseis, de satélites e de submarinos com propulsão nuclear, segundo especialistas.
O assessor do Kremlin Yuri Ushakov disse que os dois líderes possivelmente assinariam um “tratado de parceria estratégica abrangente” para definir a cooperação em “questões de segurança”, informaram agências de notícias estatais russas.
A Coreia do Norte poderia prometer “suprir a Rússia com fornecimentos contínuos de artilharia, foguetes guiados para vários lançadores de foguetes e mísseis de curto alcance para apoiar as operações da Rússia na Ucrânia”, disse Bruce Bennett, analista sênior de defesa da RAND Corporation, à agência de notícias sul-coreana Yonhap.
Em troca, Pyongyang poderá pedir que "a Rússia forneça uma variedade de tecnologias avançadas", disse ele, além de "um fluxo substancial de petróleo e produtos alimentares russos, juntamente com pagamentos em moeda forte".
ALEMANHA - A maioria dos deputados do partido alemão de extrema direita AfD e uma formação de esquerda radical boicotaram, nesta terça-feira (11), o discurso no Parlamento do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, que alertou sobre a retórica pró-russa na Europa.
O mandatário fez um discurso para os legisladores do Bundestag, a Câmara Baixa do Parlamento alemão. A bancada dos 77 deputados da AfD estava praticamente vazia e apenas quatro deles estiveram presentes.
"Nos negamos a escutar um orador com roupa de camuflagem", explicou em um comunicado a direção da legenda, afirmando que a "Ucrânia não necessita de um presidente de guerra, mas sim um presidente de paz".
Também abandonaram o hemiciclo os 10 deputados do partido de esquerda radical BSW, criado recentemente e de linha soberanista, com um discurso crítico à migração e à entrega de armas a Kiev.
Esse grupo disse querer enviar "um sinal de solidariedade a todos os ucranianos que querem um cessar-fogo imediato e uma solução negociada".
Para esses dois partidos, as eleições europeias de domingo foram um sucesso.
A AfD ficou em segundo lugar com cerca de 16% dos votos, atrás dos conservadores. O BSW superou os 6% e eclipsou o movimento histórico de extrema esquerda Die Linke (2,7%).
- "Perigoso para seus países" -
Em visita a Berlim para uma conferência internacional sobre a reconstrução da Ucrânia, Zelensky expressou sua preocupação com os bons resultados eleitorais das formações "com slogans radicais pró-russos".
É "perigoso para seus países", disse em uma coletiva de imprensa ao lado do chefe de Governo alemão, Olaf Scholz.
O presidente ucraniano pediu mais uma vez aos seus aliados que aumentem a ajuda em matéria de defesa aérea.
"É o terror inspirado pelos mísseis e as bombas o que ajuda as tropas russas a avançar no terreno", assegurou ante um grupo de altos responsáveis europeus.
"Enquanto não privarmos a Rússia da possibilidade de aterrorizar a Ucrânia, [o presidente russo Vladimir] Putin não terá nenhum interesse real em buscar uma paz justa", disse.
"A defesa aérea é a resposta", acrescentou.
Depois de Berlim, Zelensky participará da cúpula dos dirigentes do G7 na Itália e depois irá à Suíça para discursar na Conferência sobre a paz na Ucrânia, que ocorrerá no sábado e no domingo e contará com mais de 90 países e organizações. Rússia e China não estão entre elas.
Por sua vez, Scholz também instou os aliados ocidentais a fazerem mais para permitir que Kiev proteja suas infraestruturas vitais e civis.
"O que o Exército ucraniano mais necessita agora são munições e armas, sobretudo para a defesa antiaérea", insistiu o dirigente alemão, recordando que Berlim decidiu entregar recentemente um terceiro sistema de defesa antiaérea Patriot.
Scholz reafimou que não haverá "vitória militar nem uma paz ditada" por Putin.
"Promover essa conscientização é o que está em jogo na cúpula de paz que será realizada neste fim de semana na Suíça", comentou.
A segurança energética e a renovação da rede elétrica ucraniana também serão algumas das questões abordadas no encontro no país helvético.
Zelensky indicou na terça-feira que os bombardeios russos contra as infraestruturas energéticas do país reduziram à metade sua produção elétrica desde o inverno.
RÚSSIA - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta terça (28) que o Parlamento da Ucrânia deveria retirar do poder seu rival Volodimir Zelenski, cujo mandato de cinco anos expirou há uma semana sem a perspectiva da realização de nova eleição devido à guerra iniciada por Moscou em 2022.
Segundo Putin, após "uma análise cuidadosa", o Kremlin chegou à conclusão de que Zelenski não tem mais legitimidade para ficar no cargo, devendo passar o bastão para o presidente do Legislativo local, Ruslan Stefantchuk, o número dois na linha sucessória.
Na sequência, disse o Putin após encontro com o colega Chavkat Mirzioiev no Uzbequistão, deveria ser realizada uma eleição presidencial.
O russo busca estimular as rivalidades já existentes na política ucraniana, que de todo modo não incluem mais grupos pró-Moscou muito influentes. Stefantchuk, até aqui, é visto como um aliado próximo de Zelenski.
Na semana passada Putin gerou suspeitas ao encontrar-se durante uma visita a Belarus o aliado Viktor Ianukovitch, que foi defenestrado da Presidência ucraniana em 2014. Aquele evento, revolução para os pró-Ocidente e golpe para a Rússia, disparou a anexação da Crimeia e a guerra civil no leste ucraniano, estágios anteriores da invasão de fevereiro de 2022.
Ianukovitch, um russo étnico do leste da Ucrânia, vive exilado na Rússia. Seu partido foi desmantelado, assim como quase todas as forças de oposição associadas a Moscou na política institucional de Kiev, aliás, uma das queixas usuais do Kremlin.
Ainda assim, Zelenski está sob uma crescente pressão interna e de aliados ocidentais. Uma lei ordinária ucraniana afirma que não é possível realizar pleitos se o país estiver sob lei marcial, o que ocorre desde o primeiro dia da guerra.
Mas aqui e ali surgem comentários acerca do que seria a falta de empenho de Zelenski de ao menos prover um plano de voo, dado que realizar uma consulta popular com 20% do país ocupado e bombardeios diários é uma impossibilidade.
Como disse seu biógrafo Simon Shuster à Folha de S.Paulo, será difícil para o presidente largar o poder amplo que detém. A revista liberal britânica The Economist, insuspeita de simpatias russófilas, já fez cobrança semelhante recentemente.
É essa tecla que Putin está acionando agora, embora o impacto de qualquer fala do russo sobre processos eleitorais será confrontada em Kiev com o fato de que ele invadiu o vizinho e de que o quinto pleito que venceu neste ano é contestado como ilegítimo.
Putin voltou a acusar os países da Otan, a aliança militar liderada pelos EUA, de arriscarem um conflito ampliado com o envio de armas que possam ser empregadas contra solo russo. Disse que a nova frente que abriu em Kharkiv (norte da Ucrânia) porque Kiev passou a atacar Belgorodo (sul russo).
Seu objetivo, disse, é criar uma zona tampão para evitar o alcance de armas ucranianas. Ele sugeriu que elas eram ocidentais, mas até aqui só há registro de ataques com drones e munição de origem doméstica de Kiev contra a cidade russa.
IGOR GIELOW / FOLHAPRESS
PEQUIM - Em comunicado conjunto divulgado no início da noite em Pequim, os líderes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, se comprometeram a garantir a segurança econômica e energética mútua. O anúncio veio após reunião fechada de duas horas e meia. Putin chegou à capital chinesa na quinta (16) para uma visita de dois dias, a primeira após ser reeleito, em março.
No documento, segundo a rede CCTV, eles também se comprometeram a cooperar em "projetos energéticos de grande escala", uma provável referência ao gasoduto Power of Siberia 2, ainda não firmado. E apontaram a necessidade de parar com ações, sem especificar quais, que prolonguem a Guerra de Ucrânia.
O relato chinês do encontro sublinhou como "central para a parceria estratégica ampla" sino-russa o "apoio mútuo e firme em questões ligadas às grandes preocupações e aos interesses fundamentais de cada um".
Em declarações públicas, Xi afirmou que buscará "consolidar a amizade entre os dois povos por gerações", como "bons vizinhos, amigos e parceiros". Segundo ele, a relação bilateral foi "duramente conquistada", resistindo às "mudanças nas circunstâncias internacionais". O dirigente chinês disse que Moscou e Pequim devem atuar em conjunto para "defender a equidade e a justiça no mundo".
Putin afirmou que a própria conversa mostra a importância da relação bilateral, que descreveu como um dos principais fatores de "estabilização" no mundo, hoje, não se voltando "contra ninguém". Declarou que as prioridades no diálogo com Xi, além de energia, foram comércio e investimento e energia.
Sobre segurança regional, o presidente russo questionou a criação de "blocos militares fechados" na Ásia, em referência àqueles que vêm sendo montados pelos Estados Unidos. Também em menção indireta a Washington, Xi falou contra a "mentalidade de Guerra Fria" baseada na busca de "hegemonia unilateral e confronto de blocos".
Os líderes e outras autoridades chinesas e russas assinaram documentos diante da imprensa no Grande Salão do Povo, em Pequim. A cerimônia foi encerrada com um aperto de mãos de Xi e Putin. Os dois já se reuniram mais de 40 vezes desde o primeiro encontro, em 2010, quando Xi ainda era vice-presidente (ele chegou ao poder em 2013).
Comentando o encontro em mídia social chinesa, o jornalista e influenciador Hu Xijin, marcadamente pró-governo, escreveu que a China é hoje "a única potência mundial que pode receber os líderes ocidentais e da Rússia", referência aos encontros de Xi com dirigentes europeus nas últimas semanas. E que "a guerra [da Ucrânia] trouxe problemas para a China" nas relações com o Ocidente, "mas é algo que o país pode controlar".
POR FOLHAPRESS
EUA - Em meio ao agravamento da situação militar da Ucrânia ante as forças invasoras de Vladimir Putin, os Estados Unidos disseram pela primeira vez, na quarta (15), que o emprego de suas armas contra o território russo por Kiev é uma decisão do governo de Volodimir Zelenski.
Em uma entrevista coletiva na capital ucraniana, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que não "encoraja ataques fora da Ucrânia", mas que, em última instância, Kiev "tem de tomar decisões por conta própria sobre como vai conduzir esta guerra".
A frase poderá gerar uma escalada por parte de Putin, que sempre colocou a situação como uma linha vermelha na guerra que iniciou em 2022. Ela foi bastante ambígua a ponto de permitir uma negativa de intenção, mas isso não será lido assim em Moscou.
Há três semanas, o chanceler britânico, David Cameron, afirmou que Kiev estava livre para usar seus mísseis de longa distância contra a Rússia. Em resposta, Putin anunciou que atacaria alvos militares britânicos em todo o mundo como retaliação legítima à hipótese.
Além disso, o presidente retomou a ameaça de um conflito nuclear com as forças da Otan (aliança militar liderada pelos EUA) quando o presidente francês, Emmanuel Macron, sugeriu enviar tropas para ajudar Kiev.
Até aqui, o presidente Joe Biden proibia expressamente tal emprego, temendo que ele pudesse disparar uma Terceira Guerra Mundial. Os crescentes ataques ucranianos contra o sul russo, por ora, são feitos com armamento doméstico. O tom de Blinken sugere que ele esteja testando a reação do Kremlin.
O secretário foi a Kiev devido à piora da posição militar da Ucrânia e anunciou que os EUA estão apressando o envio de munição e armamentos para seus aliados em Kiev. Disse também que um novo pacote de ajuda de R$ 10,2 bilhões para a indústria bélica de Kiev será liberado em breve.
Ele não especificou se o valor faz parte do auxílio de R$ 300 bilhões aprovado pelo Congresso americano em abril, após meses de protelação que são vistos hoje como centrais para a situação dramática de Kiev ante os novos avanços russos.
"Nós estamos apressando o envio de munição, veículos blindados, mísseis e defesas aéreas para as linhas de frente", afirmou Blinken. A seu lado, o chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba, manteve o tom usual de cobrança. "Cada atraso de fornecimento resulta em revés no campo de batalha", disse.
Na noite de terça (14), Blinken, que no passado já foi guitarrista de algumas bandas, tocou em um bar de Kiev com um grupo local. Disse que as tropas estão lutando "não só por uma Ucrânia livre, mas por um mundo livre". Em seguida, acompanhou a banda em "Rockin' in the Free World", de Neil Young.
Desde o fracasso da contraofensiva ucraniana de 2023, Moscou retomou a iniciativa e teve diversos ganhos em Donetsk, província do leste do país anexada ilegalmente por Putin e da qual Kiev tinha mais controle territorial.
Na sexta passada (10), contudo, a Rússia lançou grande ofensiva em uma frente, invadindo o norte da região de Kharkiv, expondo a um cerco a capital homônima do local, segunda maior cidade ucraniana.
Nesta quarta, o Ministério da Defesa russo afirmou ter tomado mais duas cidadezinhas na região, consolidando um avanço não tão rápido quanto nos primeiros dias, mas notável em uma guerra que cristalizou uma frente de combate de 1.000 km após Putin ter recuado da tentativa frustrada de tomar Kiev em seu começo.
Já as Forças Armadas da Ucrânia afirmam que a linha na região foi estabilizada, mas é impossível ter uma visão clara neste momento da realidade.
Mais importante ainda, se confirmada, é a conquista anunciada de Robotine, na região de Zaporíjia, outra área anexada em que Moscou não tem controle total, com uma porção do norte da província ainda sob administração de Kiev.
A frente de batalha ali viu alguns dos combates mais ferozes da guerra. Em 2023, Kiev reconquistou Robotine, vilarejo transformado numa ruína, mas parou ali em sua contraofensiva. Os militares ucranianos negam ter perdido controle do lugar.
O agravamento da situação em campo fez Zelenski cancelar uma viagem que faria a Espanha e Portugal a partir desta quarta. Ele havia ordenado o recuo de suas forças em vários pontos de Kharkiv, para facilitar a defesa das linhas que levam à capital regional, a menos de 20 km da área dos combates.
Ainda há dúvidas sobre o objetivo tático russo com a nova ofensiva, se a intenção é tentar tomar a capital de Kharkiv e a região ou criar uma zona tampão para afastar os lançadores de mísseis e drones ucranianos contra o sul do país, principalmente Belgorodo, a cidade que mais vive a guerra na Rússia.
Estrategicamente, contudo, Putin está sendo bem-sucedido em erodir as capacidades de Kiev, que enfrenta um sério problema de mão de obra para sua guerra. Moscou alterou as leis de mobilização para poder chamar pessoas mais jovens e recorrido à oferta de liberdade em troca de serviço militar para prisioneiros -a Ucrânia criticou essa medida, mas depois o Parlamento local aprovou lei que também permitirá a alguns detentos servir ao Exército com perdão de suas penas.
Zelenski colocou, nos últimos dias, a questão da falta de munição e armas como central também. O atraso devido à disputa política entre republicanos e democratas para a aprovação do pacote tomou mais de quatro meses -dinheiro novo para a Ucrânia deixou de ser entregue neste ano.
Mesmo o pacote plurianual de R$ 270 bilhões da União Europeia não se materializou em armas, sendo que ele foi desenhado como uma ajuda para manter a economia de pé. E os R$ 300 bilhões americanos não estarão disponíveis imediatamente, sendo que boa parte deles é para repor os estoques de munição doada pelos EUA.
Enquanto isso, a Rússia colocou sua economia em ritmo de guerra. A troca no Ministério da Defesa reflete isso. Ainda não se sabe se o ex-titular Serguei Choigu reterá poder executivo ocupando a cadeira do linha dura Nikolai Patruchev no Conselho de Segurança do país, mas a indicação do economista Andrei Belousov para a Defesa mostra a aposta numa organização de longo prazo para conflitos.
RÚSSIA - O governo de Vladimir Putin determinou um exercício de ataque com armas nucleares táticas em resposta à sugestão de governos ocidentais, principalmente o da França, de enviar soldados para a ajudar a Ucrânia a resistir à invasão da Rússia.
Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, a simulação anunciada nesta segunda (6) pelo Ministério da Defesa russo é uma resposta direta ao presidente francês, Emmanuel Macron, e a políticos britânicos e americanos que têm defendido a medida. A agência de espionagem militar de Kiev chamou os exercícios de "chantagem nuclear".
Ele também afirmou que os serviços de inteligência de Moscou estão apurando relatos de que a França já enviou soldados de sua Legião Estrangeira à Ucrânia. Combatem pelo país vizinho mercenários de diversas nações, inclusive o Brasil, mas não há até aqui nenhum envio oficial de tropas em apoio a Kiev.
A Defesa russa havia citado especificamente o emprego de sistemas de armas nucleares não estratégicas, evocando um dos maiores temores do Ocidente: de que Putin use esse tipo de bomba contra forças da Ucrânia ou, agora, de países aliados que eventualmente enviem militares para a guerra iniciada em 2022.
Armas táticas são aquelas que disparadas contra alvos militares específicos, como bases, usualmente com menor potência do que as chamadas estratégicas -as ogivas que têm como finalidade obliterar cidades inteiras na tentativa de encerrar conflitos.
A carta nuclear tornou-se uma trivialidade na retórica russa da guerra. Pouco antes da invasão, em fevereiro de 2022, Putin determinou um complexo exercício com diversos sistemas nucleares, envolvendo mísseis disparados de solo, bombardeiros e submarinos.
Ao atacar, disse que qualquer país que interviesse em favor da Ucrânia sofreria consequências nunca antes vistas na história, uma pouco sutil referência às suas bombas atômicas. A Rússia e os EUA concentram 90% das mais de 12 mil ogivas existentes no planeta.
Ao longo da guerra, a sombra da escalada nuclear modulou a velocidade e a qualidade da ajuda enviada pelo Ocidente para o governo de Volodimir Zelenski. Até a semana passada, todos os países que forneceram armas a Kiev condicionavam seu emprego a não atacar o território russo.
Isso mudou com uma fala do chanceler britânico, David Cameron, sugerindo que os ucranianos tinham direito de fazer o que quisessem com os mísseis que Londres dá a eles. Pressionado no campo de batalha pelos avanços russos no leste neste ano, Zelenski tem feito ataques pontuais a refinarias e cidades na terra de Putin, mas por ora com armas próprias.
Nesta segunda, os russos anunciaram terem conquistado mais duas cidadezinhas no leste ucraniano, ameaçando cada vez Chasiv Iar, trampolim para a tomada final da província de Donetsk. Especula-se que essa vitória é o troféu que Putin quer mostrar no desfile do Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial, na próxima quinta (9).
Analistas ocidentais sempre especularam que, no caso de sofrer uma ameaça de derrota decisiva, Putin pudesse recorrer a armas táticas contra a Ucrânia. Como isso está afastado agora, a hipótese de envio de tropas reiterada por Macron faz ressurgir o fantasma.
O próprio presidente russo disse, em diversas ocasiões, que a ideia do francês levaria a uma guerra nuclear. Agora, o Kremlin resolveu subir um degrau na disputa retórica com os exercícios, que envolverão forças do seu Comando Militar Sul e da Marinha em data não revelada.
Para uso tático, a Rússia tem à disposição mísseis como o balístico Iskander-M ou o hipersônico Tsirkon, lançado de navios e que teoricamente pode carregar uma ogiva nuclear pequena, além de bombas de queda livre. A Otan, aliança militar ocidental, acredita que Moscou tenha cerca de 2.000 dessas armas, ante 100 que os EUA mantêm em bombas lançadas por aviões na Europa.
Na Rússia, comentaristas e políticos radicais têm defendido o emprego de armas táticas para riscar uma linha no chão para o Ocidente, mas qualquer especialista do campo nuclear aponta para o risco evidente de uma escalada que leve a uma troca de fogo com mísseis estratégicos, levando a cenários apocalípticos.
POR FOLHAPRESS
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