CHINA - As expectativas de que a economia chinesa se recuperaria após o fim da rígida política de "covid zero" eram altas. Mas essa recuperação não está ocorrendo como o esperado: as exportações estão em seu nível mais baixo desde a primavera de 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) está bem abaixo das previsões recentes, e o Índice de Gerentes de Compras (PMI), um dos principais indicadores da atividade econômica, vem caindo há quatro meses. Além disso, o desemprego entre a população jovem atingiu um recorde de mais de 20%.
Mas Pequim tem um plano para reverter esse cenário. Na semana passada, o governo chinês anunciou medidas para estimular o consumo. Os chineses receberão subsídios para comprar carros elétricos e o acesso à habitação social será ampliado. O objetivo é colocar mais dinheiro no bolso da população.
Especialistas estão céticos quanto ao impacto da medida. "Muito seletiva, muito pequena. Só ataca os sintomas, não a origem dos problemas", critica Rolf Langhammer, economista do Instituto Kiel para a Economia Mundial. "É um fogo de palha. Queima rápido, mas apaga muito rápido também."
Confiança em queda
Para Langhammer, o principal problema é que a população perdeu a confiança na economia do país. O alto desemprego entre os jovens e o medo de estagnação dos salários são dois fatores que levaram a essa perda de confiança.
Em entrevista coletiva sobre as medidas para promover o consumo, Li Chunlin, vice-presidente da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China, admitiu que muitos chineses "têm muito pouca confiança e estão muito preocupados com a economia".
"Se você não sabe como a economia vai se desenvolver, você é mais cauteloso com o consumo, porque há muita incerteza e muitas vezes a poupança serve como aposentadoria", destaca Vera Eichenauer, economista do Instituto Federal Suíço de Tecnologia em Zurique (ETH). "O alto desemprego entre jovens afeta a capacidade de compra. Isso significa que os filhos geralmente precisam de mais apoio dos pais, o que, por sua vez, significa que estes também terão menos para gastar'', acrescenta.
Eichenauer aponta ainda que a China também corre o risco de deflação, o que significa que os preços podem cair. "À primeira vista, isso seria bom para os consumidores. Mas eles consumiriam menos hoje porque esperam preços ainda mais baixos no futuro", explica a economista.
Eichenauer também enfatiza que medidas como descontos em veículos elétricos e eletrônicos não chegam ao cerne da questão. "É preciso trabalhar no sistema de pensões e no desemprego para dar aos consumidores mais esperança e confiança no futuro", disse ela. A economista sugere a suspenção de algumas restrições às empresas digitais, lembrando que tais empresas – como a Alibaba, por exemplo – empregaram muitos jovens recentemente.
Consumo como novo motor da economia
Durante décadas, exportações, projetos imobiliários e de infraestrutura foram os pilares mais importantes da economia chinesa. Há vários anos, Pequim tenta estabelecer um outro eixo sustentado pelo grande consumo interno. Mais do que nunca, essa nova força se faz necessária, já que as outras três começam a ruir: o setor imobiliário está em profunda crise, os investimentos em infraestrutura demoram a trazer retorno e as exportações estão enfraquecidas.
A economia global vive, de forma geral, um momento vacilante. "Há temores de recessão, mas os países ocidentais estão usando altas taxas de juros para combater a inflação, isso prejudica a demanda por produtos chineses", afirma Eichenauer. "Há ainda a situação geopolítica. Não se têm certeza de como as tensões entre a China e os EUA, ou com o Ocidente como um todo, continuarão. Há uma série de desafios vindo de uma só vez", resume.
Para Langhammer, se a China quer se tornar uma superpotência econômica baseada em mais consumo doméstico, está mais do que na hora de fortalecer esse pilar. "Isso só é possível se o Estado gastar muito em investimentos sociais que deem confiança e coragem aos chineses para consumir mais novamente. Esse é um caminho de longo prazo, mas é o único caminho".
Recursos limitados
Justamente quando mais precisa, a China está ficando sem dinheiro. Os governos locais, em particular, estão fortemente endividados e, diante dos enormes desafios e problemas estruturais, as medidas de Pequim são, na visão de Eichenauer, muito pequenas e não atacam a raiz dos problemas.
Para a pesquisadora, medidas que realmente ajudem a economia custariam muito dinheiro, o que o país não tem no momento. "Uma possibilidade é estimular os empréstimos reduzindo as taxas de juros, mas isso pode ser arriscado devido aos atuais problemas de dívida", destaca. "Outra possibilidade é a desregulamentação ou liberalização, onde você desmonta regras, por exemplo para empresas digitais. Isso vai abrir novas oportunidades de negócios e gerar uma nova dinâmica".
Autor: Mu Cui / DW BRASIL