WASHINGTON - O deputado filho de brasileiros George Santos se tornou, na última sexta (1º), o primeiro republicano a ser expulso da Câmara em toda a história e o primeiro político a perder o mandato sem ter sido condenado antes na Justiça.
Outros cinco congressistas já foram expulsos: três no século 19 por terem apoiado os confederados durante a Guerra da Secessão, e dois desde os anos 1980 por corrupção.
O placar foi de 311 a 114. Entre os republicanos, 105 votaram a favor da cassação. Para expulsar um membro, dois terços dos presentes (290, considerando um quórum completo) devem apoiar a medida.
Pouco antes do resultado ser declarado, mas com o placar já apontando sua expulsão, Santos saiu do Congresso sem falar com jornalistas.
Aprovada a cassação, a governadora de Nova York, Kathy Hochul, tem agora dez dias para convocar uma eleição especial para substituí-lo. A partir de então, o pleito deve ocorrer em 70 a 80 dias.
Para democratas, a nova eleição é a chance de ganhar de volta a vaga e diminuir a vantagem apertada que republicanos têm na Casa. O antigo representante do distrito, Tom Suozzi, já anunciou que deve concorrer. Do lado republicano, os nomes que sinalizaram interesse são Kellan Curry, Greg Hach e Mike Sapraicone.
Temendo o enfraquecimento de sua maioria, o presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson, chegou a sinalizar que votaria contra a expulsão, em uma tentativa de influenciar sua bancada a salvar Santos. O movimento, no entanto, não deu certo.
"Pessoalmente, eu tenho muitas reservas sobre fazer isso. Estou preocupado com o precedente que pode ser criado", afirmou Johnson nesta semana. Em reunião de bancada na terça, ele havia liberado os republicanos a votarem como preferirem -não houve uma orientação seja para condenar ou salvar o colega de partido.
O presidente da Câmara disse ainda que conversou com Santos sobre a possibilidade de renunciar ao mandato, em vez de enfrentar a votação, mas a ideia foi rejeitada.
Desde que reportagens apontaram uma série de inconsistências na biografia de Santos, desde afirmações de que seus avós eram sobreviventes do Holocausto a uma suposta carreira em Wall Street iniciada após a conclusão de uma faculdade que afirma não ter registro dele como aluno, o político se tornou motivo de piada nos EUA.
Uma investigação pelo Departamento de Justiça encontrou evidências mais graves contra o político, que resultaram em 23 acusações criminais, de lavagem de dinheiro a roubo de identidade. O julgamento está marcado para setembro de 2024.
Há duas semanas, o Comitê de Ética da Câmara divulgou um levantamento próprio, que encontrou evidências de que Santos desviou recursos de campanha para comprar itens de luxo, pagar viagens e até bancar gastos na plataforma de conteúdo erótico OnlyFans.
O deputado nega irregularidades e afirma ser vítima de perseguição. Falando a jornalistas na manhã desta quinta em frente ao Capitólio, ele disse ser alvo de "bullying".
"Agora, se a Câmara deseja estabelecer um precedente diferente e me expulsar, isso será a ruína de muitos membros deste órgão, porque isso os perseguirá no futuro, onde meras alegações serão suficientes para remover membros do cargo quando devidamente eleitos pelo seu povo em seus estados e distritos respectivos", afirmou.
A votação desta sexta foi a terceira tentativa de cassar o mandato do político. A primeira, em maio, foi protocolada por democratas e não teve apoio dos republicanos. A segunda, em 1º de novembro, foi uma iniciativa de colegas de partido de Nova York e fracassou por falta de votos do restante da bancada, cujos membros afirmaram preferir esperar a conclusão da investigação do Comitê de Ética.
A divulgação do relatório, um dia após Santos se reunir com uma comitiva de congressistas bolsonaristas do Brasil, gerou enorme repercussão e levou membros dos dois partidos a protocolarem dois novos pedidos de cassação, um de cada lado.
Como republicanos, que são maioria na Câmara, rejeitam expulsar um membro do seu próprio partido por meio de uma iniciativa dos democratas, a única resolução com chance de ser aprovada era a apresentada por Michael Guest, presidente do Comitê de Ética, aprovada nesta sexta.
No Brasil, Santos fez um acordo com o Ministério Público do Rio de Janeiro em um processo de estelionato. Ele confessou o uso de cheques sem fundos que haviam sido furtados de um idoso e fez um acordo para extinguir o processo, concordando com o pagamento de R$ 10 mil a uma instituição de caridade e R$ 14 mil à vítima, o dono de uma loja de sapatos.
POR FOLHAPRESS