O estudo foi desenvolvido por Maicon Luís Bicigo Delinocente, durante sua pesquisa de mestrado, realizada na UFSCar sob orientação de Tiago da Silva Alexandre, docente do DGero e coordenador do International Collaboration of Longitudinal Studies of Aging (InterCoLAging) - consórcio de estudos longitudinais que inclui dados epidemiológicos do Brasil e da Inglaterra. A pesquisa teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq).
Tanto a deficiência quanto a insuficiência de vitamina D têm sido consideradas um problema de saúde pública em virtude dos inúmeros papéis que essa vitamina desempenha no organismo, incluindo atividades importantes para o controle de funções vitais. Para o Institute of Medicine, a vitamina D, medida pelas concentrações séricas de 25(OH)D, é considerada suficiente quando > 50 nmol/L. Contudo, de acordo com os pesquisadores, "independentemente da idade, etnia e localização geográfica, menos da metade da população mundial atinge essas concentrações".
Dentre os papéis atribuídos à vitamina D, o metabolismo de cálcio e a manutenção da saúde musculoesquelética são os mais conhecidos. Estudos apontam que os tecidos ósseo e muscular são interconectados não só mecânica e fisicamente, mas também bioquimicamente. Por esse motivo, distúrbios endócrinos, como é caso da deficiência e da insuficiência de vitamina D, favorecem a perda de densidade mineral óssea bem como a diminuição de massa, força e função muscular.
Para o Foundation for the National Institutes of Health Sarcopenia Project (FNIH), a baixa força neuromuscular, também denominada dinapenia, está entre os mais graves desfechos musculoesqueléticos, fortemente associado à incapacidade física, quedas, hospitalizações, institucionalização precoce e óbito prematuro. Diante disso, os pesquisadores apontam que a recomendação é que os pontos de corte de força de preensão manual para identificar fraqueza muscular sejam < 26 kg para homens e < 16 kg para as mulheres.
Para avaliar a associação entre insuficiência e deficiência de vitamina D e a fraqueza muscular, o estudo selecionou uma amostra de 3.205 pessoas com 50 anos ou mais participantes do English Longitudinal Study of Ageing (ELSA), na Inglaterra, que não tinham fraqueza muscular no começo do estudo, ou seja, tinham força neuromuscular ≥ 26 kg entre os homens e ≥ 16 kg entre as mulheres. Esses indivíduos foram acompanhados por quatro anos para que se verificasse quem desenvolveria fraqueza muscular nesse período.
Como conclusão, o estudo revelou que aqueles que tinham deficiência de vitamina D no início do estudo (vitamina D no sangue < 30 nmol/L) apresentaram 70% mais risco de desenvolver fraqueza muscular ao final dos quatro anos de acompanhamento do que aqueles que tinham níveis normais de vitamina D (vitamina D no sangue > 50 nmol/L) no início da pesquisa.
Os pesquisadores acrescentam que, quando os indivíduos com osteoporose e que realizavam suplementação de vitamina D foram retirados das análises, verificou-se que aqueles que tinham deficiência de vitamina D no início do estudo (vitamina D no sangue < 30 nmol/L) apresentaram 78% mais risco de desenvolver fraqueza muscular e os que apresentavam insuficiência de vitamina D no início do estudo (vitamina D no sangue entre 30 e 50 nmol/L) apresentaram 77% mais risco de desenvolver fraqueza ao final dos quatro anos de acompanhamento, quando comparados àqueles que tinham níveis normais de vitamina D (vitamina D no sangue > 50 nmol/L).
Tiago Alexandre explica que a vitamina D participa de processos bioquímicos de manutenção de massa e da cinética de contração muscular. "Assim, em concentrações mais baixas, favorece a perda de fibras musculares, prejudica o mecanismo da contração e dificulta a reparação e o metabolismo de fibras musculares, gerando a fraqueza", reforça.
O docente completa que "medidas simples, como uma dieta adequada, a prática regular de exercícios físicos - preferencialmente os treinos de força - e ou atividades de lazer e momentos de exposição solar, podem contribuir tanto para manutenção dos níveis de vitamina D circulante no sangue, como da força neuromuscular, prevenindo a ocorrência de desfechos mais graves e incapacitantes".
A realização do estudo foi aprovada pelo London Multicentre Research Ethics Committee (MREC/01/2/91). A pesquisa completa foi publicada no Calcified Tissue International and Musculoskeletal Research e está disponível em https://bit.ly/3BFxQTI.