Estudo avaliou as repercussões da Covid-19 no desenvolvimento infantil para famílias em contexto de pobreza
SÃO CARLOS/SP - Uma pesquisa de mestrado, realizada no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), foi a única selecionada do estado de São Paulo como finalista do Prêmio Ciência pela Primeira Infância, promovido pelo Núcleo Ciência pela Infância. O estudo "Repercussões da Covid-19 na primeiríssima infância: percepções de famílias em contextos de pobreza sobre o crescimento e desenvolvimento infantil" foi realizado por Ingrid Pacheco, sob orientação de Diene Carlos, docente da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP e do PPGEnf da UFSCar.
A pesquisa foi realizada entre maio e julho de 2023 com o objetivo de compreender as percepções de famílias em contextos de pobreza sobre as repercussões da pandemia de Covid-19 na primeiríssima infância faixa etária de 0 a 3 anos). "A importância de levantar a temática da pesquisa se deu pela necessidade de construir evidências mais robustas, em especial com olhar qualitativo, a possíveis repercussões da pandemia no crescimento e desenvolvimento infantil, que demandam ações específicas em períodos pós-pandêmicos. Esta lacuna de estudos é ainda maior em contextos de pobreza, que foram os mais afetados pela pandemia devido às dificuldades de acesso e equidade", expõe Diene Carlos. Além disso, o tema do estudo também está relacionado com a proposta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que inclui a criança principalmente nas metas de erradicação da pobreza, de saúde, de educação de qualidade e de igualdade de gênero.
Para realizar o estudo, foram feitas entrevistas e análises de prontuários com 25 avós e mães de crianças de 1 a 3 anos, em dois municípios do interior do estado de São Paulo, de aproximadamente 250 mil habitantes. As entrevistas foram realizadas presencialmente nas unidades de Atenção Básica à Saúde e em visitas domiciliares. Os resultados da pesquisa apresentaram apontamentos importantes. Dentre eles, ficou evidenciado que a pandemia teve impacto nas dinâmicas familiares, nas relações destas famílias com os serviços e advindas do contexto político e social maior. As repercussões pandêmicas ocorreram no planejamento reprodutivo, no ciclo gravídico-puerperal, na configuração familiar e sua rede de apoio, no brincar e no uso de telas. "Estes resultados trazem conhecimentos importantes que podem ser incorporados a curto, médio e longo prazos na organização dos serviços e das práticas, em especial na educação, assistência social e saúde, para mitigar os efeitos do período pandêmico junto às crianças e suas famílias", relata a docente.
O estudo também apontou para dificuldades maiores na socialização e possíveis alterações do desenvolvimento, além da exclusividade do cuidado à criança para o gênero feminino. "As relações com a creche e a unidade de Atenção Primária à Saúde emergiram como essenciais, mas desafiadoras para o crescer e se desenvolver saudável na primeiríssima infância, em especial pela difícil inserção e por relações 'pessoa-dependentes - ou seja, a depender do profissional que está no serviço e não formalizadas institucionalmente'", aponta. Também foram evidenciadas as vivências permeadas pelo luto, piora da renda e alteração das rotinas de trabalho, além de influências das crenças, valores, religiões, políticas públicas negacionistas e o contexto político durante o período pandêmico e pós-pandêmico.
Premiação
O Prêmio Ciência pela Primeira Infância tem como objetivo identificar e reconhecer pesquisadores da primeira infância, promovendo a disseminação de conhecimento científico para sensibilizar agentes da gestão pública e apoiar, com base em evidências, a qualificação de políticas, programas e ações voltados a crianças de até seis anos e suas famílias realizado a cada dois anos. O evento de premiação será realizado no dia 23 de outubro em São Paulo.
"Fomos avisados das etapas por e-mail! Ao saber da revelação dos finalistas, fiquei muito agradecida e honrada! É uma grande oportunidade essa experiência, parte do prêmio é trocar informações com outros quinze pesquisadores do Brasil sobre como implementar a ciência nas políticas públicas voltadas à primeira infância", relata Ingrid Pacheco, que atualmente participa de oficina de formação sobre disseminação do conhecimento científico em Primeira Infância aplicado às Políticas Públicas. Todas as informações sobre o Prêmio estão neste site (https://premio.ncpi.org.br/