Médico especialista orienta trabalhadores a praticar atenção plena, já que o trabalho em casa pode durar mesmo após crise de coronavírus.
SÃO PAULO/SP - Segundo uma pesquisa desenvolvida pela Infobase, o número de empresas que pretende adotar o home office no Brasil deve crescer 30% mesmo após a crise do novo coronavírus. Isso pode acontecer porque o modelo de trabalho instituído às pressas no início da quarentena pode trazer benefícios às empresas e, se bem executados, aos profissionais.
De acordo com o médico e pesquisador especialista em mindfulness Marcelo Demarzo, a adoção do modelo de trabalho pode ser positiva para a produtividade, desde que o trabalhador consiga equilibrar os desafios da vida pessoal e da profissional no mesmo ambiente.
“Diferente do espaço corporativo, a pessoa que está trabalhando em casa pode ter mais interrupções durante o seu expediente, seja por causa de filhos, telefonemas, campainha ou outros excessos que podem atrapalhar. Com isso, a probabilidade de perdermos o foco e, consequentemente, o rendimento e a produtividade no trabalho, é muito grande”, explicou.
Segundo Demarzo, a ideia de que é possível realizar multitarefas e ser mais produtivo é ilusória. Esse método de trabalho pode fazer com que o profissional perca até 40% da sua produtividade.
“É como se quiséssemos passar vários trens ao mesmo tempo no mesmo trilho e, na verdade, o que acontece é que ficamos trocando o mesmo trem de trilho. Com isso, nós prejudicamos nosso poder de focar e perdemos a nossa produtividade”, disse.
Dicas para melhorar a atenção plena
1. Fazer uma pequena pausa antes de começar uma tarefa ou atividade: isso nos ajuda a preparar o foco de atenção para entrar na tarefa e nos serve de lembrete sobre a intenção de mantermos o foco e a atenção plena durante toda a atividade, sabendo que existe uma tendência à desatenção e se preparando também para eventuais interrupções. Essa pequena pausa pode ser usada para praticar mindfulness (veja abaixo a técnica dos três minutos).
2. Evitar o multitarefa: fazer várias tarefas ao mesmo tempo nos faz perder produtividade. Uma maneira de evitar o multitarefa é priorizar as tarefas do dia (fazendo uma lista, por exemplo), prevendo um tempo reservado para cada uma delas. Em geral, se preconiza que as atividades que requeiram mais tempo ou mais foco sejam as primeiras da lista;
3. Evitar interrupções: as interrupções também prejudicam o nosso rendimento no trabalho. Uma maneira de fazer isso é definir horários específicos para o trabalho e evitar que nesse período você desvie o seu foco para alguma distração em sua casa.
Prática de mindfulness
A prática de mindfulness pode ser feita por qualquer pessoa em qualquer lugar, em diversos níveis, várias vezes ao dia.
Uma das técnicas para iniciantes tem duração de apenas três minutos. Para conferir, acesse o perfil do Centro Mente Aberta no Spotify (https://open.spotify.com/show/1VKltZrVsy5ACpzm2w3Vux) e escute a meditação guiada por Demarzo.
O que é Mindfulness?
Mindfulness é um dos estados da mente, acessível a qualquer indivíduo, que consiste em um exercício de querer vivenciar o momento presente, intencionalmente, aceitando a experiência.
Em Mindfulness, o sentido correto de aceitação é o de se olhar a realidade como ela realmente é, sem julga-la ou reagir a ela no "piloto automático".
Com a prática regular, o processo torna-se mais natural, sendo possível permanecer nesse estado em grande parte do tempo e aumentar a qualidade de vida do indivíduo.
Embora muitos dos termos e técnicas tenham origem nas tradições orientais, o Mindfulness hoje em dia é considerado uma prática laica (secular, não-religiosa), com sólida base científica.
Quem é Marcelo Demarzo?
É médico especialista em Mindfulness para adultos e crianças, com treinamentos na Inglaterra (Mindfulness in Schools Project, em Londres; Oxford Mindfulness Centre, na Universidade de Oxford; e Instituto Breathworks, em Manchester), e nos EUA (Center for Mindfulness in Medicine, Health Care, and Society, na Universidade de Massachusetts).
Fez pós-doutorado em Mindfulness e Promoção da Saúde na Universidade de Zaragoza, na Espanha, e diversos cursos de aprofundamento nas tradições contemplativas e meditativas, incluindo a Psicologia Budista e Tibetana em Dharamsala, na Índia.
Junto com o professor Javier Garcia-Campayo, da Universidade de Zaragoza, desenvolveu a Terapia de Compaixão Baseada em Estilos de Apego (Attachment-Based Compassion Therapy).
É fundador e atual coordenador do Mente Aberta (www.mindfulnessbrasil.com), referência nacional e internacional nos programas e pesquisas sobre Mindfulness.