SÃO PAULO/SP - O setor da economia mais afetado pela pandemia foram os serviços. Ainda que a maior parte das empresas do setor tenham aderido a programas governamentais para manutenção do emprego, 45% das prestadoras de serviço que adotaram tais medidas avaliam demitir após o período de vigência dessas políticas. Os dados preliminares fazem parte de pesquisa do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), que será divulgada em breve.
De acordo com o economista e pesquisador do Ibre Rodolpho Toblerdo, as circunstâncias da recessão atual impactam muito o setor de serviços. “As medidas de isolamento, a necessidade de fechamento de estabelecimentos, a própria cautela da população em ter algum tipo de contato ou de aglomeração faz com que alguns tipos de serviços sofram mais. A gente percebe nos serviços prestados à família –que englobam alimentação fora de casa e alojamento, por exemplo– 1 cenário desafiador, principalmente na questão do emprego“.
A sondagem realizada pelo Ibre mostrou que as empresas do setor foram as que mais recorreram aos programas do governo, como o que permite a redução de jornadas e salários e a suspensão de contratos. Das empresas prestadoras de serviços ouvidas, apenas 28,2% não utilizaram nenhum programa. Ou seja, mais de 70% utilizaram alguma das medidas.
A medida mais utilizada foi a redução temporária de salários e jornada de trabalho, adotada por 46% das empresas. Em seguida estão a postergação de pagamentos de impostos (43,2%), a suspensão temporária do contrato de trabalho (37,7%) e linhas de crédito para manutenção do emprego (12,2%).
Entre as empresas do setor de serviços que utilizaram medidas de manutenção de emprego, 45% disseram que não conseguirão assumir a folha de pagamentos após o período de vigência dos programas sem fazer algum tipo de corte de pessoal. É o maior percentual entre os segmentos.
Segundo Toblerdo, as medidas de manutenção do emprego foram importantes para as empresas do setor atravessarem o momento mais difícil da pandemia. No entanto, mesmo que exista uma leve recuperação acompanhada da reabertura, grande parte das empresas não conseguirá manter os empregos.
“O que a gente tem visto, em destaque, é que o setor industrial tem recuperado de maneira mais robusta, de maneira mais rápida que os demais setores. E o setor de serviços mostra que o fundo do poço para eles foi mais longo, e que a recuperação tem sido mais difícil”, afirma.
Segundo ele, à medida em que a flexibilização avança, a atividade econômica também avança, mas a recuperação não é uniforme entre os setores. “Existem alguns [segmentos] que são muito dependentes da presença física das pessoas. E eles enfrentarão 1 cenário mais desafiador na retomada da atividade”. Para ele, a manutenção dos empregos será 1 dos principais desafios.
Esta reportagem foi produzida pela estagiária em jornalismo Beatriz Roscoe sob supervisão do editor Nicolas Iory