LONDRES - A ex-premiê britânica Theresa May não se candidatará à reeleição, disse ela na sexta-feira, encerrando uma carreira de 27 anos no Parlamento, marcada por um período tumultuado na liderança do país, que se desgastou devido ao Brexit.
May, de 67 anos, tornou-se a mais recente de uma longa lista de políticos do Partido Conservador a sinalizar sua saída do Parlamento antes de uma eleição no final deste ano. Atualmente, as pesquisas mostram que o partido governista deve perder o poder para o oposicionista Partido Trabalhista.
May se tornou primeira-ministra em 2016, depois que o então líder David Cameron renunciou após a votação chocante do Reino Unido para deixar a União Europeia. Ela foi escolhida por seus colegas conservadores para implementar a decisão sem precedentes, para a qual seu antecessor não havia deixado nenhum plano.
Mas ela se demitiu três anos depois por não ter conseguido realizar o Brexit dentro do prazo ou encontrar uma maneira de fazer com que o Parlamento aprovasse seu plano de saída, passando as rédeas para Boris Johnson, que galvanizou grande parte do país em torno de sua visão para a saída do Reino Unido.
Desde que deixou o cargo, ela permaneceu como membro do Parlamento de seu distrito eleitoral no sudeste da Inglaterra, mas disse nesta sexta-feira que seu foco na tentativa de combater a escravidão moderna e o tráfico humano estava tomando cada vez mais tempo.
"Por causa disso, depois de muita reflexão e consideração, percebi que, olhando para o futuro, eu não seria mais capaz de fazer meu trabalho como parlamentar da maneira que acredito ser correta e que meus eleitores merecem", disse ela ao jornal local, o Maidenhead Advertiser.
O atual primeiro-ministro Rishi Sunak prestou homenagem a May, descrevendo-a como ferozmente leal, uma ativista implacável e dizendo que ela definiu o que significa ser um servidor público.
O mandato de May foi dominado pelo Brexit, supervisionando um dos períodos mais desordenados da história política britânica recente, enquanto ela lutava para manter unidos um partido e um país profundamente divididos sobre o que a saída da UE significava para o futuro.
Enfrentando uma série de rebeliões partidárias e um impasse parlamentar que testou a Constituição do país até seus limites, ela renunciou ao cargo de primeira-ministra em 2019, descrevendo emocionalmente a função como tendo sido a "honra da minha vida".
Por William James / REUTERS
INGLATERRA - Um ex-policial da polícia metropolitana de Londres, enfrentando 13 acusações de estupro, teria abusado de seus poderes, dizendo a uma mulher que ninguém acreditaria nela. O caso está em julgamento no Reino Unido, e relata que Cliff Mitchell, de 24 anos, ameaçou a mulher com uma faca, a amarrou com braçadeiras e colocou fita adesiva em sua boca em setembro de 2023.
Durante uma entrevista policial apresentada no Croydon Crown Court, em Londres, a vítima relatou que Mitchell ameaçou matá-la, colocando uma faca em seu pescoço e a amarrando com braçadeiras. O acusado enfrenta 13 acusações de estupro e duas de sequestro, mantendo-se inocente de todas as acusações.
A suposta vítima revelou que, enquanto chorava, Mitchell usou seus poderes contra ela, afirmando que ninguém acreditaria em sua história. Apesar das ameaças, a mulher conseguiu escapar e foi auxiliada por um motorista que passava.
A procuradora Catherine Farrelly informou ao júri que Mitchell era um policial em serviço na Polícia Metropolitana durante a "última parte" dos supostos crimes. As acusações incluem seis de estupro contra uma menor, sendo três delas quando ela tinha menos de 13 anos. O julgamento continua.
INGLATERRA - Apenas um dia após um projeto polêmico sobre deportação de imigrantes avançar na Câmara baixa do Parlamento do Reino Unido, o premiê Rishi Sunak, que tem a medida como bandeira de campanha, disse que vai ignorar qualquer entrave ao plano que possa ser colocado em prática pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
"Fui muito claro mais de uma vez: não vou permitir que um tribunal estrangeiro nos impeça de realizar voos e colocar essa medida em funcionamento", afirmou o líder conservador a jornalistas durante uma entrevista coletiva em Londres na quinta-feira (18).
Na prática, o plano de Londres para o assunto estabelece que todos os solicitantes de asilo que chegaram ao Reino Unido de forma ilegal a partir de 1º de janeiro de 2022 poderiam ser deportados para Ruanda, país no centro da África com baixos indicadores socioeconômicos.
A Suprema Corte britânica decretou o plano ilegal no final do último ano com base na premissa de que, uma vez em Ruanda, solicitantes de refúgio poderiam ser deportados para seus países de origem -onde, em teoria, eram perseguidos, colocando-os em perigo e contrariando o que diz o direito internacional sobre o tema do refúgio.
Para tornar o projeto mais palatável, o governo o reescreveu, mas sem alterar nenhum pilar central. Primeiro, colocou na nova versão uma declaração de que Ruanda deve ser considerada um país seguro. Segundo, ordenou que tribunais britânicos ignorem algumas leis de direitos humanos, nacionais e internacionais, ao analisar esse texto.
Para se tornar lei, o projeto precisa ser aprovado nas duas Casas do Parlamento britânico (a Câmara Comuns e a Câmara dos Lordes). A primeira Casa, a despeito de conflitos dentro do próprio Partido Conservador, de Sunak, aprovou o projeto na quarta-feira (17). Agora o material está nas mãos dos lordes britânicos.
Falando nesta quinta-feira, o primeiro-ministro instou a Câmara alta a aprovar a medida, que ele descreve como uma "prioridade de urgência nacional". Ele pede que a Câmara aprove a legislação sem emendas e o mais rápido possível, para que possa começar os voos de deportação.
A Câmara dos Lordes britânica não é composta por membros eleitos de forma democrática pela sociedade, mas sim ocupada por aqueles que possuem um título de nobreza no país europeu.
Mais do que no Parlamento, o temor do governo está na repercussão que o plano pode ter no Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Foi essa corte, afinal, que em 2022 barrou o primeiro voo que o governo (então chefiado por Boris Johnson) tentava enviar com migrantes deportados após receber aval de uma corte de Londres.
O Tribunal de Direitos Humanos foi criado no final da década de 1950, com uma larga participação britânica nas negociações, para decidir sobre acusações de indivíduos ou Estados sobre violações de direitos humanos estabelecidas na Convenção Europeia dos Direitos Humanos.
As decisões são vinculativas para os 46 Estados-membros do Conselho da Europa, uma organização não relacionada à União Europeia, bloco que o Reino Unido abandonou em 2020, e da qual Londres faz parte. O governo britânico poderia recorrer de qualquer decisão do tribunal, abrindo uma batalha legal que pode levar anos.
Também poderia, em medida mais abrupta, abandonar o tribunal baseado em Estrasburgo. Mas uma medida do tipo desencadearia desavenças entre os próprios conservadores, uma vez que alguns já manifestaram serem contrários à saída do tribunal.
A corte de Estrasburgo também é largamente conhecida por ter de repetidas vezes cobrar os Estados-membros a cumprirem as suas decisões, já que os governos normalmente postergam para colocar em prática o que foi ditado no tribunal internacional.
O principal fluxo de migração que chega ao Reino Unido é o que ocorre por meio do Canal da Mancha, que separa o país da França.
Segundo dados oficiais, mais de 29,4 mil pequenos barcos com migrantes cruzaram esse braço de mar em direção ao território britânico em 2023. Foi o ano anterior, 2022, no entanto, que registrou cifra recorde, com mais de 45,7 mil barcos.
A diminuição de um ano para outro tem sido usada pela premiê Rishi Sunak como argumento para alegar que sua campanha contra a imigração feita de forma ilegal já tem surtido efeito mesmo antes de terem início os voos de deportação para Ruanda que almeja.
Espera-se que o país vá as urnas ainda neste 2024, possivelmente entre os meses de setembro e novembro. De qualquer modo, o Partido Conservador, no poder, tem até janeiro de 2025 para realizá-las.
POR FOLHAPRESS
INGLATERRA - Nos últimos meses da sua vida, Ashley Dale gravou mensagens de voz onde relatava os seus medos e receios - áudios que foi enviando aos seus amigos.
A mulher, de 28 anos, foi assassinada na sua casa, em Liverpool. Um homem armado arrombou a porta da residência e começou a disparar indiscriminadamente, na madrugada de 21 de agosto de 2022.
Ashley não seria o alvo, mas acabou morrendo, segundo relata a BBC.
"A Ashley estava narrando a sua própria história, que levou àquele incidente", acreditam os procuradores, indicando que as suas gravações foram "cruciais" para o caso.
Em tribunal, ouviu-se que o companheiro de Ashley, Lee Harrison, que não estava em casa no momento do tiroteio, era o alvo do mesmo. O homem estaria há muitos anos envolvido num conflito que foi se intensificando.
Tudo isto é relatado nas gravações da mulher, que conseguiu reportar eventos acontecidos em junho (dois meses antes de morrer) e onde compartilhava os seus receios do que poderia vir a acontecer.
"É a primeira vez que vejo que relatos do crime deixadas pela vítima assumem um papel tão preponderante no tribunal", afirmou o inspetor Cath Cummings.
O celular da mulher, encontrado muito perto do seu corpo, assumiu um papel "significativo" em ajudar os detetives a juntar as peças e tentar entender o que se passou naquele dia e porquê.
"Nunca na vida assisti a um caso em que é a própria voz da vítima a dizer-nos o que aconteceu e através dos quais estamos tentando obter evidências. Na realidade temos a vitima a contar-nos [o que se passou]", acrescenta a mesma fonte.
Em algumas das mensagens a mulher afirmava que "não queria que o funeral do Lee" fosse um dos seus próximos eventos e dizia que "tinha um mau pressentimento em relação a tudo" e que sempre saía do carro "sentia que tinha de estar sempre olhando para trás".
No total, foram apreendidos 3.360 objetos relacionados com o caso, dos quais 139 foram dispositivos digitais. Contudo, afirma a BBC, as gravações de voz de Ashley foram as provas mais significantes e reveladoras para o caso.
No final, quatro homens foram presos e acusados de homicídio, no Supremo Tribunal de Liverpool, no Reino Unido.
INGLATERRA - O ex-primeiro-ministro britânico David Cameron, que estava afastado da política havia sete anos, foi nomeado nesta segunda-feira (13) o novo chanceler do Reino Unido numa decisão surpreendente do atual premiê, Rishi Sunak. A escolha faz parte de uma reestruturação no governo motivada por crises internas.
Cameron assume a cadeira que era ocupada por James Cleverly. Este, por sua vez, substitui Suella Braverman no Ministério do Interior -ela foi demitida por Sunak nesta segunda após criticar a polícia de Londres, segundo o jornal britânico The Guardian.
Braverman, representante da ala mais à direita do Partido Conservador, sucumbiu à pressão tanto da oposição quanto de membros mais moderados da sua legenda após ter assinado artigo no qual acusa a polícia londrina de ser conivente com manifestantes de esquerda.
No texto, ela diz que os agentes agiram com "dois pesos e duas medidas" em protestos sobre o conflito de Israel e o grupo terrorista Hamas, sugerindo que os agentes foram duros com os manifestantes de direita e tolerantes com ativistas críticos às ações das forças israelenses na Faixa de Gaza.
O Partido Trabalhista, de oposição, disse em nota que o artigo aumentou a tensão em manifestações pró-Palestina e a favor de Israel no sábado (11), quando cerca de 150 pessoas foram presas.
O retorno de Cameron sugere que Sunak opta por políticos centristas e experientes em vez de apaziguar a direita de seu partido. Trata-se da reestruturação mais recente feita pelo primeiro-ministro, cujo partido aparece atrás do Partido Trabalhista em pesquisas antes das eleições previstas para o ano que vem.
POR FOLHAPRESS
INGLATERRA - A enfermeira condenada por matar bebês na Inglaterra será investigada por assassinato em mais três casos. Lucy Letby pode estar envolvida na morte de mais três bebês na Inglaterra. Em agosto, ela foi condenada à prisão perpétua pelo assassinato de sete recém-nascidos e tentativa de homicídio de outros seis.
A suspeita foi levantada pelo médico Dewi Evans, que depôs no julgamento de Letby. Ele foi entrevistado por um podcast do jornal Daily Mail.
"Inicialmente, analisei 32 casos e há sete deles [que não fizeram parte do julgamento] que precisam de mais escrutínio. Estes bebês tinham doenças que ameaçavam a vida e três deles morreram", Médico Dewi Evans.
Evans também diz que Lucy Letby pode ter retirado o tubo endotraqueal de 10 bebês que precisavam de suporte respiratório. "Esses tubos podem sair acidentalmente, mas sair tantos é muito, muito incomum. Suspeito que esses tubos foram deslocados intencionalmente".
Autoridades constataram que alguns bebês sobreviventes tiveram dano cerebral e outras sequelas. Entre 2015 e 2016, ela atacou 13 bebês no Countess of Chester Hospital, principal unidade de saúde da cidade de Chester.
Na semana passada, Letby apresentou um pedido para anular sua condenação. As investigações apontam que a enfermeira usava seus conhecimentos técnicos para matar os bebês, envenenando-os com insulina ou dando doses altas de leite.
LONDRES - O Banco da Inglaterra elevou sua taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual nesta quinta-feira, para um pico de 15 anos de 5,25%, e fez novo alerta de que os custos de empréstimos deverão permanecer altos por algum tempo.
Ao contrário do Federal Reserve ou do Banco Central Europeu - que também aumentaram os em 0,25 ponto na semana passada - o Comitê de Política Monetária do banco central britânico deu poucas indicações de que aperto está prestes a terminar enquanto luta contra a inflação elevada.
"O Comitê de Política Monetária garantirá que a taxa bancária seja suficientemente restritiva por tempo suficiente para retornar a inflação à meta de 2%", disse o Banco da Inglaterra em uma nova orientação sobre as perspectivas para os juros.
"Alguns dos riscos de pressões inflacionárias mais persistentes podem ter começado a se cristalizar", acrescentou.
A inflação britânica atingiu um pico de 41 anos de 11,1% no ano passado e tem caído mais lentamente do que em outros lugares, chegando a 7,9% em junho, a mais alta de qualquer grande economia.
Economistas consultados pela Reuters na semana passada previam que os juros atingiriam um pico de 5,75% ainda este ano. As próprias previsões do banco central foram baseadas em previsões recentes do mercado - que agora diminuíram um pouco - de que as taxas atingiriam um pico acima de 6% e uma média de quase 5,5% nos próximos três anos.
"A inflação atinge mais duramente os menos favorecidos e precisamos ter certeza absoluta de que ela caia para a meta de 2%", disse o governador Andrew Bailey.
As autoridades de política monetária votaram por 6 a 3 para o aumento. Dois membros do comitê - Catherine Mann e Jonathan Haskel - votaram por um aumento de 0,5 ponto este mês, enquanto Swati Dhingra votou por manutenção, como ela fez durante todo este ano, alertando para o aperto excessivo.
Os mercados viam uma chance em três de um aumento maior para 5,5%, o que teria repetido a alta de junho.
O Banco da Inglaterra prevê que a inflação cairá para 4,9% até o final deste ano - um declínio mais rápido do que havia previsto em maio.
Isso aliviará o primeiro-ministro Rishi Sunak, que prometeu em janeiro reduzir a inflação pela metade neste ano, uma meta que parecia desafiadora.
No entanto, o banco central estima que a inflação cairá de forma ligeiramente mais lenta a partir do final do próximo ano. A inflação não deve voltar à meta de 2% até o segundo trimestre de 2025, três meses depois da previsão de maio.
Reportagem adicional de Suban Abdulla / REUTERS
INGLATERRA - Cerca de um quarto das pessoas enfrentam, em algum momento de suas vidas, um quadro de transtorno de ansiedade, que pode ser acompanhado de ataques de pânico e transtorno de estresse pós-traumático.
Em alguns casos, traumas psicológicos intensos e prolongados podem provocar alterações genéticas, bioquímicas e morfológicas nos neurônios na amígdala, uma região do cérebro que atua no controle de reações emocionais, como a ansiedade.
A eficácia dos remédios atualmente disponíveis para controlar a ansiedade, no entanto, é baixa, e mais da metade dos pacientes não consegue se livrar dos sintomas com o tratamento. Um dos motivos dessa baixa eficácia é a compreensão escassa de como os neurônios e eventos moleculares agem para disparar a ansiedade.
Um estudo conduzido por pesquisadores das universidades britânicas de Bristol e Exeter e publicado na revista científica Nature Communications trouxe pistas que podem contribuir para o desenvolvimento de remédios mais eficazes.
A pesquisa conseguiu identificar um gene que, quando suprimido, leva à redução da ansiedade.
Os pesquisadores submeteram ratos de laboratório a seis horas de estresse e, depois, extraíram as suas amígdalas cerebrais e as analisaram.
Foi constatado que cinco microRNAs, moléculas envolvidas na ativação de genes e sua conversão em proteínas, estavam em concentrações mais altas do que o normal nesses animais submetidos a estresse. O mesmo grupo de moléculas é encontrado no cérebro humano.
Desses microRNAs, o que estava em maior quantidade nas amígdalas era o miR-483-5p. Depois de uma série de testes, os pesquisadores descobriram que o miR-483-5p estava relacionado a um gene específico que atua em episódios de ansiedade, o Pgap2.
A pesquisa concluiu que, quando os níveis de miR-483-5p estavam mais altos, a expressão do gene Pgap2 era inibida, o que, por sua vez, reduzia os níveis de ansiedade. Segundo o estudo, o miR-483-5p funciona como um "freio molecular" que reduz a atividade da amígdala que promove a ansiedade.
Valentina Mosiensko, professora da Universidade de Bristol e uma das autoras do estudo, afirma que o estresse pode desencadear o surgimento de várias condições neuropsiquiátricas, provocadas por uma combinação adversa de fatores genéticos e ambientais.
"Embora baixos níveis de estresse sejam contrabalançados pela capacidade natural do cérebro de se ajustar, experiências traumáticas graves ou prolongadas podem superar os mecanismos de proteção da resiliência ao estresse, levando ao desenvolvimento de condições patológicas, como depressão ou ansiedade", disse.
Ela aponta que os microRNAs estão posicionados para controlar condições neuropsiquiátricas complexas, como a ansiedade, mas seus mecanismos de ação ainda são pouco conhecidos.
"A via miR483-5p/Pgap2 que identificamos neste estudo, cuja ativação exerce efeitos redutores de ansiedade, oferece um enorme potencial para o desenvolvimento de terapias contra a ansiedade para condições psiquiátricas complexas em humanos", disse.
bl/ek (ots)
INGLATERRA - Os eleitores na Inglaterra terão que mostrar um documento de identidade com foto para votar nas eleições locais na quinta-feira (4) pela primeira vez, uma mudança sem precedentes que provocou forte oposição.
A mudança, prometida pelos conservadores desde 2019 e introduzida com uma lei aprovada no ano passado, busca combater fraudes seguindo o modelo de muitos países europeus.
Em um país onde não existe carteira de identidade oficial, será aceita uma vasta gama de documentos, como passaportes, carteiras de motorista e passagens de ônibus para idosos.
As eleições municipais de quinta-feira, realizadas apenas na Inglaterra - uma das quatro nações que compõem o Reino Unido - serão as primeiras no país desde que Rishi Sunak se tornou primeiro-ministro em outubro.
Seu Partido Conservador, no poder há 13 anos, deve sofrer "perdas significativas" para a oposição trabalhista e os liberais democratas, de acordo com uma pesquisa YouGov.
Neste contexto, os deputados trabalhistas, que estão em vantagem nas pesquisas para as próximas eleições gerais marcadas para daqui a um ano e meio, denunciaram a mudança como uma estratégia dos conservadores para subtrair votos da oposição.
Entre as críticas está o risco de os jovens serem afetados de forma desproporcional: segundo a Comissão Eleitoral, apenas dois terços dos eleitores entre 18 e 24 anos estão cientes das novas regras.
Além disso, segundo este órgão, não há indícios de fraude eleitoral em grande escala no país. Mas o governo se baseia em um estudo que afirma que 98% dos eleitores têm pelo menos um dos documentos aceitos.
"É razoável", disse Sunak, observando que esse método é "muito comum em muitos lugares".
Seus detratores argumentam que cerca de dois milhões de pessoas não possuíam os documentos exigidos quando a lei foi aprovada e, delas, menos de 90 mil solicitaram o certificado para compensar sua ausência.
"Nunca tantas pessoas correram o risco de ter o voto negado, seja porque não têm a carteira de identidade ou simplesmente porque se esqueceram de levá-la", diz Tom Brake, do grupo UnlockDemocracy, que entregou uma petição ao governo britânico instando-o a revogar a medida.
INGLATERRA - Com o crescimento da economia atualmente próximo de zero e inflação superior a 10%, o país assistiu recentemente à maior onda de greves dos últimos anos — trabalhadores de setores como transporte e saúde reivindicam aumentos salariais diante da perda do poder de compra dos salários.
Organizações como o Escritório de Responsabilidade Orçamentária britânico (Office for Budget Responsibility) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) preveem queda do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2023.
Se as previsões se concretizarem, o Reino Unido poderá ser a única grande economia a entrar em recessão neste ano. Mesmo a Rússia, apesar de todos os problemas financeiros relacionados à guerra na Ucrânia, pode escapar da retração econômica.
Há pelo menos quatro fatores que refletem a situação atual no país e o impacto da crise no bolso dos britânicos:
1. Falta de alimentos frescos nas prateleiras dos supermercados
Primeiro foi o racionamento de ovos. Agora, tomate, alface e uma série de outros vegetais têm sido cada vez mais difíceis de encontrar.
O jornal britânico Financial Times destaca que o país é a sexta maior economia do mundo e, no entanto, não consegue fornecer os ingredientes de uma salada à população.
A dificuldade de obtenção de alguns produtos tem levado os consumidores a fazerem uma peregrinação nos supermercados para encher as sacolas de compras.
Diante da falta de itens como alface, tomate, pimentão, pepino, brócolis, couve-flor e framboesa, os supermercados do Reino Unido racionam a venda de vegetais e frutas.
Uma mistura de fatores causou essa "tempestade perfeita".
O aumento do custo dos fertilizantes, a menor produção de frutas e legumes na Espanha e no Marrocos, juntamente com problemas de transporte e escassez de trabalhadores agrícolas temporários colocaram a cadeia de abastecimento sob pressão.
O programa de visto para trabalhadores temporários permite que eles permaneçam no país por seis meses.
Antes da saída do Reino Unido da União Europeia, conhecida como Brexit, os trabalhadores de outros países da região podiam ir e vir sem restrições, por conta das regras de livre circulação de pessoas do bloco.
Agora, eles vêm de países tão distantes quanto o Nepal.
Sarah Schiffling, especialista em cadeia de suprimentos da Hanken School em Helsinque, na Finlândia, disse à equipe da BBC Reality Check que o período de cultivo de tomates nas estufas do Reino Unido dura cerca de nove meses.
Assim, um visto de trabalho temporário de seis meses significa recrutar e treinar dois grupos de trabalhadores, o que aumenta a burocracia e os custos.
Outro fator que tem pesado nos custos do setor é o preço da energia, que disparou desde o início da guerra na Ucrânia, um ano atrás.
Muitos produtores britânicos decidiram parar de produzir em estufas para reduzir as despesas com gás e eletricidade.
2. Comprar a casa própria é cada vez mais difícil e alugar, cada vez mais caro
"Os imóveis no Reino Unido hoje são menos acessíveis do que em qualquer momento dos últimos 147 anos", ressaltou em relatório a gestora de investimentos Schroders, referindo-se à situação dos preços atualmente, os mais altos desde 1876.
Em diversos países, os bancos centrais têm elevado as taxas básicas de juros para tentar conter a inflação, que cresceu no ritmo do aumento global dos custos de energia. No Reino Unido, contudo, a autoridade monetária foi mais agressiva do que a média e elevou as taxas dez vezes seguidas.
A última foi em fevereiro, quando o percentual foi elevado em 0,5 ponto percentual, chegando a 4% ao ano.
Esse movimento não apenas encarece os preços de imóveis, mas também tem impacto sobre o mercado de aluguéis.
Como cada vez menos gente consegue comprar, muitos recorrem a alugar. Com a demanda aquecida, os preços sobem.
"A propriedade constitui uma parte significativa do patrimônio de muitas pessoas", afirma Gillian Hepburn, diretora de UK Intermediary Solutions da Schroders, à BBC News Mundo, serviço da BBC em espanhol.
"A geração mais jovem que tem hipotecas tem o desafio de entender como arcar com custos fixos mensais mais altos com a mesma renda e o que isso significará para outras despesas."
O problema é agravado por uma expectativa de redução na oferta de imóveis.
A Federation of Home Builders, associação que representa empresas do setor de construção na Inglaterra e no País de Gales, estima que o volume de lançamentos pode cair em breve para um nível não visto desde a Segunda Guerra Mundial.
3. Desempenho da economia será pior que da Rússia, segundo o FMI
Embora o país tenha até agora conseguido evitar a recessão técnica, "as perspectivas de crescimento permanecem um pouco mais sombrias que para o restante das principais economias", diz Stephanie Kennedy, economista do banco Julius Baer.
Essa visão é compartilhada por Steven Bell, economista-chefe da Columbia Threadneedle Investments: "A economia do Reino Unido parece vulnerável".
"Os preços de energia podem começar a diminuir em breve no Reino Unido, mas as taxas de juros mais altas reduziram os gastos dos consumidores à medida que aumentaram as parcelas das hipotecas."
De acordo com o relatório World Economic Outlook Update, publicado pelo FMI em 31 de janeiro, a economia britânica deve contrair 0,6% em 2023. O único caso de retração do PIB entre as grandes economias.
Até a Rússia, com todas as sanções internacionais impostas em decorrência da guerra na Ucrânia, tem melhores perspectivas, com PIB estimado em alta de 0,3%.
A recessão no Reino Unido prevista pelo FMI está em linha com o consenso entre os economistas de consultorias e instituições financeiras, embora os órgãos oficiais do país tenham divergências sobre a duração e profundidade do ciclo de contração.
4. A espiral inflacionária parece não ter fim
A inflação britânica permanece acima de 10%, um dos níveis mais altos do mundo.
Além disso, conforme noticiado pela agência Reuters, a inflação de alimentos atingiu 17,1% nas quatro semanas encerradas em 19 de fevereiro, outro recorde histórico.
A empresa de pesquisas Kantar calcula que, com a alta de preços, as famílias britânicas devem gastar, em média, cerca de mil dólares a mais do que antes por ano em suas visitas ao supermercado, caso não cortem custos.
Luke Bartholomew, economista sênior da Abrdn, avalia, entretanto, que "olhar para o crescimento dos preços de alimentos isoladamente dá uma imagem ligeiramente enganosa do quadro geral da inflação, que deve cair rapidamente neste ano".
"Provavelmente será necessária uma recessão antes que a inflação retorne à meta de forma sustentável", acrescenta o especialista.
"Os salários estão ficando atrás da inflação. Isso explica em parte porque o crescimento provavelmente será tão fraco neste ano", afirma.
A economia do Reino Unido parece ter entrado numa espiral difícil de ser freada.
Quando os preços sobem, os trabalhadores demandam aumento salarial, o que leva as empresas a reajustarem seus preços, levando a novos aumentos.
"Episódios recentes no mercado de trabalho sugerem que a luta do Banco da Inglaterra contra a alta inflação está longe de terminar e os riscos de transbordamento são significativos", pontua Silvia Dall'Angelo, economista sênior da Federated Hermes Limited.
-Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4nenl5gjdzo
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