ISLÂNDIA - O governo da Islândia suspendeu a caça às baleias, na terça-feira (20), até o final de agosto, em nome do bem-estar animal, abrindo o caminho para o fim dessa polêmica tradição agora praticada em apenas três países.
Além da Islândia, Noruega e Japão são os únicos que permitem a prática.
Os grupos de defesa dos animais e do meio ambiente aplaudiram a decisão. Para a Humane Society International, trata-se de "uma guinada na conservação compassiva das baleias".
"Tomei a decisão de suspender a caça às baleias" até 31 de agosto, disse a ministra da Alimentação, Svandis Svavarsdottir, depois do relatório de uma comissão governamental estabelecer que a caça de cetáceos não cumpre as leis de bem-estar animal da Islândia.
Esse relatório elaborado pelas autoridades veterinárias destaca que a matança dos cetáceos leva tempo demais. Nos últimos vídeos divulgados por essas autoridades, vê-se a espantosa agonia de cinco horas de uma baleia caçada no ano passado.
"Se o governo e aqueles que têm permissão (de caça) não podem garantir os requisitos de bem-estar, esta atividade não tem futuro", acrescentou a ministra, dando a entender que a prática está chegando a seu fim.
"Não há nenhuma maneira 'humana' de matar uma baleia no mar e, por isso, exigimos da ministra que a proíba permanentemente", declarou o diretor da Humane Society International, Ruud Tombrock, em um comunicado.
Para Robert Read, diretor da Sea Shepherd UK, a decisão também representa um "duro golpe" para os países que ainda defendem a prática.
"Se a caça de baleias não pode ser praticada 'humanamente' aqui [...], não pode ser praticada 'humanamente' em lugar algum", afirmou.
A licença de pesca da última empresa de caça de baleias no país, a Hvalur, expira em 2023. A companhia já havia anunciado que esta temporada seria a última, porque a atividade perdeu rentabilidade.
As cotas anuais permitem a caça de 209 baleias-comuns — o segundo maior mamífero marinho depois da baleia-azul — e 217 baleias-anãs. Nos últimos anos, porém, as capturas foram muito mais baixas, devido à diminuição na demanda de carne de baleia.
A temporada de caça às baleias na Islândia vai de meados de junho a meados de setembro, mas é pouco provável que seja retomada após 31 de agosto.
A oposição a essa prática é, agora, maioria entre a população islandesa. Do total de entrevistados, 51% se opõem, contra 42% há quatro anos, conforme pesquisa feita pelo Instituto Maskina. A sondagem foi divulgada no início de junho.
JOHANESBURGO – O barulho produzido pela mineração no fundo do mar em busca de níquel, cobalto e outros metais para a transição para energia verde pode interferir na capacidade das baleias de navegar nas profundezas do oceano e se comunicar umas com as outras, de acordo com um estudo divulgado nesta terça-feira.
Rochas do tamanho de batatas repletas de metais usados em baterias cobrem vastas extensões do fundo do oceano a profundidades de 4 a 6 quilômetros. Várias empresas têm proposto aspirar esses nódulos do fundo do mar e processar seus metais para uso em baterias de veículos elétricos.
O estudo revisado por pares, financiado pela Umweltstiftung Greenpeace, um braço da organização ambiental, argumenta que são necessárias mais pesquisas para avaliar o risco que a mineração em águas profundas pode representar aos grandes mamíferos marinhos, embora os pesquisadores não tenham coletado dados de campo.
A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA), um órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) sediado na Jamaica, deve aprovar a mineração em alto mar para águas internacionais já no verão europeu. Líderes na França, Fiji, Canadá e Alemanha expressaram preocupação com a prática.
Os defensores da mineração em águas profundas dizem que isso reduziria a necessidade de grandes operações de mineração em terra, que geralmente são impopulares nas comunidades anfitriãs.
Os detratores dizem que muito mais pesquisas são necessárias para determinar como a mineração em águas profundas pode afetar os ecossistemas aquáticos.
“Os sons produzidos pelas operações de mineração, inclusive de veículos operados remotamente no fundo do mar, se sobrepõem às frequências nas quais os cetáceos se comunicam”, disse o estudo, publicado na revista Frontiers in Marine Science.
Reportagem de Helen Reid; reportagem adicional de Ernest Scheyder / REUTERS
ÁFRICA DO SUL - Sons feitos por baleias jubarte – incluindo um anteriormente desconhecido – deram a pesquisadores um vislumbre das vidas desses cetáceos em alto-mar. O estudo a esse respeito foi publicado na revista JASA Express Letters.
Os cientistas gravaram sons em 2019 no Monte Submarino Vema, no Oceano Atlântico, centenas de quilômetros a oeste da África do Sul. Os sons capturados, semelhantes a um grunhido e um “tiro”, sugerem que esse local pode ser uma parada importante na migração das baleias para as áreas de alimentação polar.
Os sons das baleias são categorizados em chamadas contínuas de “canção” e chamadas “não-canção” mais curtas – e o estudo registrou 600 chamadas sem canção ao longo de 11 dias. Estas incluíam um “som impulsivo” – apelidado de “tiro” pelos pesquisadores – que nunca havia sido gravado antes.
Segundo a equipe de pesquisa – das universidades de Stellenbosch (África do Sul) e Exeter (Reino Unido) e do Greenpeace Research Laboratories –, seu estudo destaca a importância das negociações atuais sobre um tratado da ONU para governar o alto-mar.
Ecossistemas vulneráveis
“Há 50 anos, os governos se uniram para mudar o destino das baleias jubarte”, disse Kirsten Thompson, da Universidade de Exeter. “Agora eles têm a chance de garantir o progresso já feito e proteger os habitats em alto-mar dos quais as baleias dependem. (…) Embora áreas tão grandes de nossos oceanos permaneçam desprotegidas, esses ecossistemas são altamente vulneráveis. Uma rede coerente e conectada de Áreas Marinhas Protegidas (AMPs, ou MPAs, na sigla em inglês) em nossos oceanos é urgentemente necessária para garantir que montes submarinos como Vema sejam protegidos.”
O estudo usou hidrofones ancorados implantados durante a primavera do hemisfério sul de 2019.
A maioria dos chamados de baleias foi detectada durante três noites consecutivas, sendo os grunhidos baixos o som mais comum. Esses grunhidos são usados entre os pares mãe-filhote como uma chamada de contato que os ajuda a localizar um ao outro. As jubartes também “chiam” enquanto se alimentam.
A área ao redor do Monte Submarino Vema sofreu fortemente com a sobrepesca após sua descoberta em 1959. Agora ela está fechada para pesca e é reconhecida como um ecossistema marinho vulnerável devido à sua biodiversidade única.
Alto-mar repleto de vida
No entanto, não existem acordos internacionais juridicamente vinculativos para proteger a rede de montes submarinos em alto-mar, apesar de muitos serem hotspots de biodiversidade e importantes para espécies migratórias.
Na década de 1960, a população global de baleias jubarte era de cerca de 5 mil. O número agora se recuperou para mais de 135 mil indivíduos.
Will McCallum, chefe de oceanos do Greenpeace, disse que o tratado da ONU atualmente em negociação (chamado Biodiversidade Marinha de Áreas Além da Jurisdição Nacional, ou BBNJ na sigla em inglês) poderia fornecer uma estrutura para a criação de uma rede de AMPs em alto-mar.
“Era uma vez, o alto-mar era considerado estéril”, disse ele. “Pesquisas inovadoras como essa mostram que ele está repleto de vida – e, além disso, que a biodiversidade se move pelo oceano. É por isso que precisamos criar uma rede de AMPs cobrindo pelo menos 30% dos ecossistemas representativos.”
MUNDO - Com todo seu tamanho e exuberância, as baleias são seres que despertam a nossa atenção e curiosidade. Agora, ver uma baleia encalhada na praia é ainda mais chocante.
Se por um lado já é suficientemente impressionante ver um ser tão maravilhoso sem vida fora da água, as baleias podem fazer coisas curiosas, como explodir.
Agora, uma rara observação é sobre a oportunidade perdida de sequestro de carbono.
Baleias são importantes reservas de carbono
As baleias, principalmente as de barbatanas e cachalotes, estão entre as maiores criaturas da Terra. Seus imensos corpos guardam importantes reservas de carbono e sua presença no oceano é capaz de moldar os ecossistemas ao seu redor.
Algo que passamos a entender – e apreciar devidamente – é que esses mamíferos marinhos também estão ajudando a determinar a temperatura do planeta.
“Em terra, os humanos influenciam diretamente o carbono armazenado nos ecossistemas terrestres por meio da extração de madeira e da queima de florestas e pastagens”, de acordo com um artigo científico de 2010. “No oceano aberto, o ciclo do carbono é considerado livre de influências humanas diretas.”
O carbono armazenado em seus corpos é transferido para o fundo do mar
Por outro lado, essa suposição não leva em consideração o impacto surpreendente da caça às baleias.
Os humanos caçaram baleias durante séculos para usar da carne ao óleo desses animais. O registro mais antigo de caça comercial à baleia foi em 1000 dC. Desde então, dezenas de milhões de baleias foram mortas e os especialistas acreditam que as populações podem ter tido uma redução de 66% e 90%.
Quando as baleias morrem, elas afundam no fundo do oceano – e todo o carbono armazenado em seus enormes corpos é transferido das águas superficiais para o fundo do mar, onde permanece por séculos ou mais.
Neste mesmo estudo de 2010, os cientistas descobriram que antes da caça industrial, as populações de baleias (exceto as cachalotes) teriam afundado entre 190 mil a 1,9 milhões de toneladas de carbono por ano no fundo do oceano – o que é o equivalente a tirar entre 40 mil e 410 mil carros fora de circulação a cada ano.
Mas quando a carcaça não vai parar no fundo do mar e sim é retirada da água e processada, esse carbono é liberado na atmosfera.
Andrew Pershing, um cientista marinho da Universidade do Maine e autor desse estudo, estima que, ao longo do século 20, a caça às baleias adicionou cerca de 70 milhões de toneladas de dióxido de carbono à atmosfera.
“É muito, mas 15 milhões de carros fazem isso em um único ano. Os EUA têm atualmente 236 milhões de carros”, afirma.
Mas as baleias não são valiosas apenas na morte. As marés de excrementos que esses mamíferos produzem também são surpreendentemente relevantes para o clima.
Elas se alimentam nas profundezas do oceano e depois voltam à superfície para respirar e fazer cocô. Suas fezes ricas em ferro criam as condições de crescimento perfeitas para o fitoplâncton.
Essas criaturas podem ser microscópicas, mas, em conjunto, o fitoplâncton tem enorme influência na atmosfera do planeta, capturando cerca de 40% de todo o CO2 produzido – quatro vezes a quantidade capturada pela floresta amazônica.
“Precisamos pensar na caça às baleias como uma tragédia que removeu uma enorme bomba de carbono orgânico do oceano que teria um efeito multiplicador muito maior na produtividade do fitoplâncton e na capacidade do oceano de absorver carbono”, disse Vicki James, gerente de políticas na Whale and Dolphin Conservation (WDC).
As baleias desaparecidas no oceano também tiveram alguns impactos inesperados.
Com o declínio das populações de baleias, as orcas passaram a se alimentar de mamíferos marinhos menores, como lontras marinhas. As lontras posteriormente diminuíram, levando à disseminação dos ouriços-do-mar, que devastam as florestas de algas ao redor do Atlântico Norte – com um efeito cascata no sequestro de carbono marinho.
O que isso significa é que recuperar as populações de baleias pode ser uma ferramenta importante no combate à mudança climática, ajudando a reduzir o enorme volume de CO2 emitido por combustíveis fósseis a cada ano.
Existem várias outras propostas de como conseguir essa redução, incluindo o plantio de árvores e o estímulo à floração do fitoplâncton por meio da adição de ferro ao oceano.
Mas o plantio de árvores requer um recurso escasso: terras terrestres, que como vemos muito popularmente aqui no Brasil, tem mais valor para o governo quando são devastadas e convertidas em pasto.
A beleza de restaurar as populações de baleias é que há muito espaço no oceano.
As plumas resultantes de cocô de baleia também aumentariam consideravelmente o potencial de fertilização do oceano com ferro. Seriam necessárias 200 florações bem-sucedidas por ano para corresponder ao potencial de uma população de baleias totalmente restaurada, de acordo com o estudo de Pershing.
E, ao contrário de técnicas de geoengenharia arriscadas, os benefícios não seriam apenas para o clima, mas para todo o ecossistema.
“As carcaças de baleias fornecem um habitat único para espécies de águas profundas. A pesquisa mostrou que um único esqueleto pode fornecer alimento e habitat para até 200 espécies durante os estágios finais de decomposição”, diz James do WDC.
Em 2019, o Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou um relatório analisando os benefícios de colocar as baleias de volta no oceano. E eles fizeram isso de uma forma que os políticos entenderiam: colocando um valor em dólares nisso.
Este estudo descobriu que, quando você soma o valor do carbono sequestrado por uma baleia durante sua vida, ao lado de outros benefícios como melhores pescarias e ecoturismo, a baleia grande vale em média mais de 2 milhões de dólares.
Os economistas responsáveis pelo estudo agora estão trabalhando em um projeto para transformar essa etiqueta de preço da teoria em realidade, por meio da compensação de carbono.
A ideia é persuadir os emissores de carbono a pagar uma certa quantia para proteger as populações de baleias, em vez de investir na redução de suas próprias emissões, ajudando-as a obter uma pegada de carbono neutra.
“O que você está fazendo é valorizar o serviço prestado pelas baleias, porque elas estão sequestrando dióxido de carbono”, diz Thomas Cosimano, um dos economistas que é coautor do artigo do FMI.
“Isso não significa que as baleias não estejam fazendo outras coisas. Este é apenas um ponto de referência que podemos usar para estabelecer um limite mínimo de qual seria o valor de uma baleia.”
É um esquema complicado, mas não está além das possibilidades: a equipe tem trabalhado em uma abordagem semelhante baseada no mercado de carbono para proteger elefantes de caçadores ilegais nas florestas tropicais centrais da África, que deve ser implementada pelo final do ano.
Uma instituição de caridade chilena chamada Fundación MERI já está descobrindo as bases para um mercado de carbono baseado em baleias, instalando bóias acústicas de alerta precoce que irão monitorar a localização das baleias e gerar rotas alternativas para os navios.
Acredita-se que seja o primeiro projeto do mundo para proteger as baleias em troca do armazenamento de carbono que elas fornecem.
O estudo do FMI conclui que a proteção das baleias deve agora se tornar uma prioridade no esforço global para enfrentar a mudança climática.
“Uma vez que o papel das baleias é insubstituível na mitigação e construção de resiliência às mudanças climáticas, sua sobrevivência deve ser integrada aos objetivos dos 190 países que em 2015 assinaram o Acordo de Paris para o combate ao risco climático”, escrevem os autores.
Ainda neste ano, a conferência climática da ONU acontecerá na Escócia, um país cujas costas costumam hospedar espécies como baleias-minke (ou baleia-anã) e jubarte. Com um mercado de carbono para baleias agora uma possibilidade real, talvez seja hora de colocar essas criaturas na agenda.
*Por: Gabriela Rassy / Hypeness
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