UCRÂNIA - O grupo de direitos humanos, Anistia Internacional, acusou a Ucrânia na quinta-feira, 04, de colocar a vida de civis em risco ao basear tropas em áreas residenciais durante a invasão russa, em um relatório que Kiev relacionou à propaganda e à desinformação da Rússia.
O presidente Volodymyr Zelenskiy liderou as fortes críticas ucranianas às alegações da Anistia Internacional, acusando o grupo de cumplicidade com o que chamou de ataques não provocados da Rússia à Ucrânia. O grupo de direitos humanos, segundo ele, estava tentando “transferir a responsabilidade do agressor para a vítima”.
Funcionários da Anistia testemunharam forças ucranianas “estabelecendo bases e operando sistemas de armas” em algumas áreas residenciais habitadas durante visitas a várias linhas de frente no leste e no sul da Ucrânia entre abril e julho, disse o relatório.
“Nós documentamos um padrão das forças ucranianas colocando civis em risco e violando as leis da guerra ao operarem em áreas povoadas”, disse a secretária-geral da Anistia Internacional, Agnès Callamard, segundo o relatório.
Zelenskiy, em sua mensagem por vídeo noturna, afirmou que o grupo estava tentando “anistiar um Estado terrorista” --termo que ele frequentemente usa para a Rússia.
"Não há condições, nem pode haver, mesmo hipoteticamente, sob qualquer condição, que justifique um ataque russo à Ucrânia", disse Zelenskiy, claramente agitado.
Autoridades ucranianas dizem que tomam todas as medidas possíveis para retirar civis das linhas de frente. A Rússia nega estar tentando atingir civis no que descreve como “operação militar especial”.
Reportagem de Max Hunder / REUTERS
UCRÂNIA - Nesta terça-feira (02), as autoridades ucranianas iniciaram a "retirada obrigatória" da população da região de Donetsk, no leste da Ucrânia.
A vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, que é responsável pela reintegração dos territórios ocupados, anunciou o primeiro transporte para crianças, mulheres, idosos e pessoas com mobilidade reduzida, refere o portal oficial Ukrinform.
Segundo comunicado oficial do governo, o primeiro comboio partiu da região leste da Ucrânia numa altura em que se intensificam os combates, e espera-se que chegue na quarta-feira até Kropyvnytskyi.
A vice-primeira-ministra disse ainda que Kiev garante a segurança aos deslocados e a posterior recolocação em zonas seguras como para Lviv e outras cidades do oeste do país, onde estão sendo preparados alojamentos de acolhimento a esses refugiados.
No fim de semana o governo ucraniano anunciou a decisão de proceder à "retirada obrigatória" dos civis de Donetsk.
O chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky, através de uma mensagem difundida pelo Telegram, pediu aos habitantes para se retirarem da zona assegurando assistência na deslocação assim como apoio económico.
"Confiem em mim", afirmou Zelensky, admitindo que ainda há "milhares de pessoas" que não querem abandonar o local.
Na semana passada uma nota foi divulgada pelo chefe de administração ucraniana de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, dizendo que em julho morreram na sequência de ataques russos "662 pessoas" e 1711 ficaram feridas.
RÚSSIA - A Rússia enviou esta semana uma carta diplomática aos Estados Unidos da América (EUA) a alertar que, se Washington não parar de fornecer armas à Ucrânia, haverá "consequências imprevisíveis", avançou um jornal dos EUA.
Segundo avançou o jornal The Washington Post, que indica ter tido acesso à referida carta diplomática, Moscovo adverte no documento que os envios de armas dos EUA e da NATO para a Ucrânia estão "a adicionar combustível" ao conflito e podem estar a desencadear "consequências imprevisíveis".
Horas antes do The Washington Post ter avançado com a notícia, o canal de televisão CNN também disse ter tido acesso ao documento.
Na quarta-feira (13.04), o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, comunicou ao seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, o envio de um pacote adicional de assistência militar no valor de 800 milhões de dólares (mais de 740 milhões de euros), com armas mais letais, para enfrentar a Rússia na nova fase da guerra, agora mais focada no Donbass (leste ucraniano).
Depois de falar ao telefone com Volodymyr Zelensky, Biden disse em comunicado que as armas dos EUA e de outros países ocidentais foram "cruciais" para Kiev resistir à invasão russa no primeiro mês e meio de guerra, ainda assim com um "efeito devastador" para a Ucrânia.
KIEV - A Rússia bombardeou mais uma fábrica militar próxima a Kiev, neste sábado (16), cumprindo sua ameaça de intensificar os ataques contra a capital ucraniana após o naufrágio do navio Moskva, no Mar Negro, nesta semana, em um ataque reivindicado pela Ucrânia.
O complexo industrial sob ataque produz principalmente tanques e fica no distrito de Darnytsky, segundo informações da AFP. Um grande número de soldados e socorristas estava no local, de onde saía bastante fumaça, como atestaram os repórteres da agência.
"Mísseis ar-terra de longo alcance e alta precisão destruíram os edifícios de uma fábrica que produz armamentos em Kiev", afirmou o ministério em um comunicado feito pelo Telegram.
O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, afirmou nas redes sociais que não havia informações sobre possíveis vítimas ainda.
"Nesta manhã, Kiev foi bombardeada. Houve explosões em Darnytsky, na periferia da cidade. As equipes de resgate trabalham neste momento por lá", afirmou Vitali.
O prefeito pediu mais uma vez aos habitantes que não voltem a Kiev e permaneçam em "local seguro" fora da capital.
Duro golpe para a Rússia
Os ataques russos contra a capital ucraniana haviam diminuído desde o fim de março, quando Moscou retirou suas tropas de Kiev e anunciou que concentraria sua ofensiva no leste da Ucrânia.
Porém, a Rússia sofreu na quinta-feira (14) um duro golpe nesta semana com o incêndio e posterior naufrágio do cruzador Moskva, no Mar Negro, que Kiev garante ter atingido com mísseis, enquanto Moscou acusa as forças ucranianas de bombardear localidades russas próximas da fronteira.
A Rússia, porém, continua afirmando que o cruzador afundou por conta de um incêndio causado pela explosão de suas próprias munições e que a tripulação de cerca de 500 homens foi retirada.
Por outro lado, uma oficial ucraniana rebateu essa informação. "Uma tempestade impediu o resgate do navio e a retirada da tripulação russa", afirmou Natalia Gumeniuk, porta-voz do comando militar do sul da Ucrânia.
"Estamos perfectamente conscientes de que não nos perdoarão", continuou Natalia, referindo-se à Rússia e possíveis novos ataques.
KIEV - A Rússia está liderando um enorme comboio militar em direção a Kiev nesta terça-feira (1º), levando as autoridades ucranianas a temer uma estratégia para cercar e invadir a capital e outras grandes cidades do país que enfrentam seu sexto dia de invasão.
Imagens de satélite da empresa norte-americana Maxar capturaram uma coluna de mais de 60 quilômetros de veículos e artilharia a cerca de 25 quilômetros a noroeste da capital, objetivo principal dessa ofensiva que provocou uma onda de sanções contra Moscou.
O comboio "se estende dos arredores do aeroporto Antonov (cerca de 25 km do centro de Kiev) no sul, até os arredores de Prybirsk, no norte", disse a empresa de imagens de satélite norte-americana Maxar na noite de segunda-feira.
Desde o início da invasão russa da Ucrânia, este aeroporto tem sido palco de violentos combates. O exército de Vladimir Putin tenta conquistar essa infraestrutura estratégica para tomar a capital.
Kherson
Nas primeiras horas da manhã do horário ucraniano, o exército russo chegou aos portões de Kherson, segundo Igor Kolikhayev, prefeito da cidade no sul da Ucrânia.
"O exército russo está montando postos de controle nas entradas de Kherson. É difícil dizer como a situação se desenvolverá", escreveu o prefeito no Facebook. "Kherson foi e será ucraniano (...) Kherson resiste!", acrescentou o prefeito.
As primeiras negociações entre os dois lados, realizadas no dia anterior na Bielorrússia, não culminaram em nenhum tipo de cessar-fogo. De fato, após esses contatos, a Rússia bombardeou áreas residenciais na segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv (nordeste), e outras áreas.
A Ucrânia afirma que o conflito já custou a vida de 350 civis, incluindo 14 crianças. As Nações Unidas estimam as vítimas civis em 102 mortos e 304 feridos, além de mais de meio milhão de exilados, embora reconheça que o saldo pode ser maior.
Nas últimas 24 horas, as forças russas construíram blindados e artilharia para "cercar e controlar Kiev e outras grandes cidades", disse o Estado-Maior do Exército da Ucrânia no Facebook.
Além da enorme coluna perto do norte de Kiev, as imagens também mostram um novo desdobramento de tropas, com helicópteros de ataque e veículos terrestres, na Belarus, a menos de 30 quilômetros da Ucrânia.
Na capital ucraniana, sob toque de recolher no fim de semana, milicianos voluntários ergueram barricadas improvisadas e reprogramaram sinais eletrônicos de trânsito para alertar os russos de que serão "recebidos com balas".
Do R7, com informações da AFP
UCRÂNIA - As forças militares da Rússia teriam destruído na madrugada desta segunda-feira (28) os tanques de combustível localizados em uma instalação petroquímica perto da base da Força Aérea de Vasylkiv, a 40 quilômetros da capital da Ucrânia, Kiev.
A atividade militar na região é intensa. O exército da Rússia tenta desde sábado (26) tomar o controle da base aérea enquanto unidades de combate ucranianas reforçaram a segurança da instalação estratégica. Intensos combates ocorrem em toda a região.
Imagens divulgadas por agências de notícia internacional mostram, à distância, chamas e fumaça preta vinda do incêndio causado pelos mísseis balísticos russos, que teriam destruído as instalações petroquímica localizada nos arredores da capital da Ucrânia.
Não há informações sobre outros danos causados pelo bombardeio ou, ainda, se há mortos e feridos após o ataque realizado pelas forças russas.
Disparos feitos de Belarus
Os mísseis balísticos de curto alcance Iskander teriam sido disparados desde o território de Belarus, ao norte de Kiev, segundo informações divulgadas pelo Ministério do Interior da Ucrânia.
O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, também confirmou que dezenas de mísseis foram disparados dedes o território do país, que faz fronteira com a Ucrânia.
Lukashenko deu indicações que as próprias forças de Belarus poderiam se juntar à guerra contra a Ucrânia para combater ao lado dos soldados aliados da Rússia.
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KIEV - Mísseis atingiram a capital ucraniana nesta sexta-feira (25), enquanto forças russas avançam. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, pediu à comunidade internacional que faça mais e afirmou que sanções anunciadas até agora não são suficientes.
As sirenes de ataque aéreo soaram na cidade de 3 milhões de pessoas, algumas delas abrigadas em estações de metrô, um dia depois que o presidente russo, Vladimir Putin, iniciou a invasão que chocou o mundo.
Autoridades ucranianas disseram que uma aeronave russa havia sido abatida e se chocado com edifício em Kiev durante a noite, incendiando-o e ferindo oito pessoas
Um alto funcionário ucraniano afirmou que as forças russas devem entrar em áreas fora da capital mais tarde, nesta sexta-feira, e que as tropas ucranianas defendem posições em quatro frentes, apesar da desvantagem numérica.
Janelas foram destruídas em bloco de apartamentos de dez andares, perto do aeroporto principal de Kiev, onde uma cratera de dois metros cheia de escombros mostrou o local atingido por disparo de artilharia antes do amanhecer. Um policial disse que pessoas foram feridas, mas não mortas.
"Como podemos passar por isso no nosso tempo? O que devemos pensar? Putin deveria queimar no inferno junto com toda sua família", disse Oxana Gulenko, enquanto limpava vidros quebrados de seu quarto. Um vizinho, o veterano do Exército soviético Anatoliy Marchenko, 57 anos, não conseguiu encontrar seu gato que havia fugido durante o bombardeio.
"Conheço pessoas lá, são meus amigos", disse ele sobre a Rússia. "O que precisam de mim? Uma guerra chegou à minha casa e pronto."
Testemunhas disseram que explosões estrondosas puderam ser ouvidas em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, perto da fronteira com a Rússia, e sirenes de ataque aéreo soaram sobre Lviv, no Oeste. As autoridades relataram fortes combates na cidade de Sumy, no Leste.
Dezenas de milhares de pessoas fugiram, enquanto explosões e tiros abalaram as grandes cidades. Dezenas de pessoas foram consideradas mortas. Tropas russas capturaram a antiga usina nuclear de Chernobyl, ao norte de Kiev, enquanto avançavam sobre a cidade procedentes da Bielorrúsia.
A agência nuclear da Ucrânia disse que registrou aumento dos níveis de radiação na extinta usina.
O presidente Volodymyr Zelensky afirmou que as tropas russas estavam atrás dele, mas prometeu permanecer em Kiev.
"O inimigo me marcou como alvo número um", disse Zelenskiy em mensagem de vídeo. "Minha família é alvo número dois. Eles querem destruir a Ucrânia politicamente, destruindo o chefe de Estado."
A Rússia lançou invasão por terra, ar e mar nessa quinta-feira, após declaração de guerra de Putin, no maior ataque a um Estado europeu desde a Segunda Guerra Mundial.
Putin considera a Ucrânia um Estado ilegítimo esculpido fora da Rússia, visão que os ucranianos veem como tentativa de apagar sua história de mais de mil anos.
Os objetivos completos do líder russo continuam obscuros. Ele diz que não planeja ocupação militar, apenas quer desarmar a Ucrânia e remover seus líderes. Mas não está claro como um líder pró-russo poderia ser instalado sem obter controle sobre grande parte do país. A Rússia não divulgou nomes e ninguém se apresentou.
Depois que Moscou negou, durante meses, estar planejando uma invasão, a notícia de que Putin havia ordenado o ataque veio como um choque para os russos, acostumados a ver seu governante, no poder há 22 anos, como um estrategista cuidadoso. Muitos russos têm amigos e familiares na Ucrânia.
A Rússia reprimiu a dissidência interna no último ano, e os principais inimigos políticos de Putin foram presos ou fugiram. A mídia estatal tem caracterizado incessantemente a Ucrânia como ameaça. Mas mesmo assim, milhares de russos saíram às ruas para protestar contra a guerra, e centenas foram rapidamente presos.
Uma estrela pop postou vídeo no Instagram se opondo à guerra, e o chefe de um teatro estatal de Moscou renunciou, dizendo que não aceitaria seu salário de um assassino.
Nação democrática de 44 milhões de pessoas, a Ucrânia votou pela independência na queda da União Soviética e, recentemente, intensificou os esforços para aderir à aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e à União Europeia, aspirações que enfurecem Moscou.
Os países ocidentais anunciaram sanções financeiras a Moscou, vistas como muito mais fortes do que as anteriores, incluindo a colocação de seus bancos em listas negras e a proibição de importação de tecnologia. Entretanto, eles não anunciaram a saída da Rússia do sistema SWIFT para pagamentos bancários internacionais, o que gerou forte reação de Kiev, que diz que medidas mais sérias devem ser tomadas.
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) deve votar ainda hoje proposta de resolução que condena a invasão e exige a retirada imediata de Moscou, embora a Rússia tenha poder de veto sobre a medida. A China, que assinou tratado de amizade com a Rússia há três semanas, recusou-se a descrever as ações de Moscou como invasão.
A Rússia é um dos maiores produtores de energia do mundo, e tanto ela quanto a Ucrânia estão entre os maiores exportadores de grãos. A guerra e as sanções vão afetar as economias de todo o mundo.
Os preços do petróleo e dos grãos subiram. Os mercados de ações em todo o mundo estavam, em sua maioria, se recuperando nesta sexta-feira.
MOSCOU - O segundo dia da campanha militar russa contra a Ucrânia começou com uma intensificação do cerco à capital do país, Kiev. Forças de Vladimir Putin voltaram a bombardear a cidade, desta vez com efeitos mais claros sobre civis, e se aproximam por dois flancos.
O movimento parece confirmar a hipótese de que a Rússia de fato mira Kiev como seu principal alvo nesta guerra, ainda que haja combates e ataques ocorrendo em quase todas as partes do país --inclusive o oeste, área considerada mais imune devido à sua proximidade da fronteira com a membro da Otan (aliança militar ocidental) Polônia.
Os moradores da capital acordaram com sons de explosões de mísseis balísticos, provavelmente modelos Iskander lançados de Belarus, e de cruzeiro, disparados de aviões. Um caça Su-27 ucraniano, modelo soviético usado por Moscou e Kiev, foi abatido sobre a cidade e caiu sobre um bloco residencial, deixando um número incerto de vítimas.
A imagem correu a internet, com o avião em chamas iluminando o céu da madrugada. A Ucrânia fala em 137 mortos de seu lado e talvez 800 baixas russas, o que não é aferível. Enquanto isso, a batalha pelo aeroporto Antonov, em Hostomel (25 km a noroeste do centro de Kiev) seguiu noite adentro, após forças aerotransportadas russas o terem tomado na véspera.
As informações são confusas, como sempre são em guerras. Os ucranianos dizem ter retomado a pista, enquanto em Moscou analistas militares dizem que a 76ª Divisão Aerotransportada de Pskov já está pronta para ser levada em aviões de transporte Il-76 para estabelecer uma cabeça de ponte no aeródromo.
Seja como for, de lá já saíram forças especiais russas infiltradas nas periferias da capital, segundo disse em pronunciamento o presidente Volodimir Zelenski, que significativamente se disse abandonado pelo Ocidente na crise e apelou aos manifestantes pró-paz na Rússia, que estão sendo reprimidos pela polícia.
A outra frente de ataque se forma a leste da capital. Os russos tomaram a central nuclear de Tchernóbil, infame pelo desastre de 1986, estabelecendo assim um corredor entre suas forças estacionadas na vizinha Belarus e a capital.
Segundo informações de Washington, os russos chegaram a 32 km da capital por essa via. Diplomatas ocidentais em Moscou falaram à reportagem em menos de 8 km. Já os ucranianos dizem ter parado o avanço a 50 km, tendo nesta versão estabelecido uma linha de defesa contra tanques usando mísseis americanos Javelin.
Com isso, se tornam alvo provável de mais bombardeios, já que a destruição de 11 aeroportos e 14 baterias defesas antiaéreas na quinta (24) parece ter dado vantagem decisiva a Moscou nos céus do país. Nesta manhã, Moscou disse ter destruído 118 alvos militares e derrubado cinco caças.
Enquanto isso, o terror recomeçou para os civis, e o governo decretou medidas para tentar proteger civis, estabelecendo toque de recolher noturno, orientando a estocagem de alimentos e o uso de abrigos antiaéreos. Por volta das 10h (5h em Brasília), o Ministério da Defesa disse haver registrado a infiltração de russos no bairro de Obolon e pediu para que moradores avisem a polícia e joguem coquetéis molotov se avistarem suspeitos.
"Tudo começou de novo por volta das 4h (23h em Brasília). Minha mãe lembrou de 1941", disse por celular o engenheiro Piotr Timotchenko, morador da periferia da capital. Ela não foi a única. "A última vez que a capital experimentou algo assim foi em 1941, quando foi atacada pela Alemanha nazista", escreveu no Twitter o chanceler Dmitro Kuleba.
Como conta Timotchenko, "todo ucraniano e todo russo lembra da frase: '4h. Kiev é bombardeada'". Essa foi a mensagem de rádio anunciando o início da Operação Barbarossa, a invasão nazista da União Soviética, no dia 22 de julho daquele ano.
As lembranças da Segunda Guerra pairam sobre o conflito. Putin, no seu discurso anunciando o que seria uma operação para "proteger o Donbass", disse que precisava "desnazificar" e desarmar a Ucrânia. A associação entre elementos militares ucranianos e inspiração neonazista é conhecida, e explorada pelo russo na sua propaganda, ainda que Zelenski seja judeu.
Donbass é o nome genérico do leste ucraniano, onde há duas áreas rebeldes pró-Rússia que foram reconhecidas como países por Putin, após oito anos de guerra civil apoiada pelo Kremlin, iniciada após a anexação promovida pelo russo da Crimeia para evitar que o então novo governo de Kiev aderisse ao Ocidente.
Essa questão, a adesão à Otan e, por tabela, à União Europeia, estava no centro do ultimato de Putin feito em 17 de dezembro ao Ocidente, em meio a seus quatro meses de preparação para a ação --que sempre negou, até justificá-la com uma ameaça militar ucraniana aos 4 milhões de moradores do Donbass, 800 mil com passaporte russo, considerada inexistente por analistas.
À medida que a campanha avança, o objetivo inicial russo parece mais claro. Resta saber se Putin pretende atacar de forma destrutiva a capital, provando a fala de Zelenski de que ele é o "alvo número 1", ou se manterá a pressão.
Segundo a reportagem ouviu de uma pessoa com acesso ao Kremlin nesta sexta, há um rumor palaciano de que Putin fez um ultimato a Zelenski numa comunicação intermediada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, que falou com ambos na noite passada. Nesta versão, Putin teria dito para ele se render ou enfrentar um ataque direto.
Como seria previsível, é impossível comprovar isso a esta altura, embora haja lógica no relato. Mas coisas ilógicas já se apresentaram até aqui: esta mesma pessoa dizia na semana passada que Putin nunca arriscaria matar civis ucranianos, dada a interligação e origem comum dos dois países.
E, ainda que suas forças de fato estejam privilegiando ações militares, depois do início de uma guerra ataques mais precisos costumam ceder lugar a combates mais sujos, nos quais surge o eufemismo dano colateral --cadáveres de não combatentes. Zelenski já usou isso em seu discurso, enfatizando as vítimas civis.
De todo modo, no meio diplomático em Moscou, é consenso que o que Putin quer agora é uma mudança rápida de regime, fazendo valer sua versão 2022 da "blitzkrieg" nazista. Nesse cenário, Zelenski cederia o poder em troca de algum tipo de anistia ou exílio, e algum político de partidos mais alinhados à Rússia na Rada (Parlamento) assumiria um governo interino.
Enquanto tais hipóteses se desenham, a ação continua no resto da Ucrânia. Há relatos de grandes bombardeios na costa do mar Negro, em Odessa a Mariupol, e em Karkhiv, no nordeste do país. Esses movimentos parecem confirmar a hipótese de que Putin irá, além de buscar derrubar Zelenski, desmembrar parte do país.
Assim, as repúblicas do Donbass poderiam acabar ligadas à Crimeia, estabelecendo uma ponte física entre a Rússia e sua Frota do Mar Negro baseada em Sebastopol, principal cidade da península anexada. O status político de tal território, até por ser uma excisão militar de uma área estrangeira, não é sabido.
Há o custo. Putin gastou cerca de US$ 5 bilhões para ajeitar a infraestrutura crimeia, e o valor cinco vezes maior estimado para fazer o mesmo só com o Donbass sempre foi visto como um incentivo a deixar a região como área independente. Ele fez o mesmo com duas áreas autônomas russas na Geórgia, em uma curta guerra em 2008 com o mesmo objetivo antiocidental da atual.
Enquanto isso, o Ocidente faz o que pode: sanções. Depois do anúncio do americano Joe Biden na noite anterior, nesta madrugada União Europeia fechou seu pacote de sanções contra Moscou, incluindo agora medidas para impedir a venda de equipamentos para o setor de refino de petróleo e manutenção de aviões.
Segundo postou no Twitter a chefe executiva do bloco, a alemã Ursula von der Leyen, isso irá prejudicar a indústria petrolífera russa --algo a ver, dado que 1/3 do óleo consumido na Europa vem do país de Putin. Nenhuma palavra sobre gás natural, cuja fatia russa do mercado continental é de 40%, com projetos enormes envolvendo a Alemanha.
No caso dos aviões, a fama de lugar perigoso para voar pode piorar para a Rússia. Sua principal empresa, a Aeroflot, tem 120 de suas 187 aeronaves de modelos da europeia Airbus. Assim, manutenção e peças, caso as sanções se mantenham, terão de ser buscadas em mercado secundários.
IGOR GIELOW / FOLHA
UCRÂNIA - O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, alertou na terça-feira (1°) que existe um "perigo claro" e "iminente" de uma intervenção militar russa na Ucrânia. Segundo ele, se o ataque ocorrer, o Reino Unido vai impor sanções "imediatas" contra Moscou.
Johnson se reuniu com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, para discutir sobre os riscos de uma invasão russa. Logo depois, os dois líderes realizaram uma coletiva de imprensa conjunta.
"Vemos uma grande quantidade de tropas concentradas e preparativos para todo tipo de operações que são coerentes com uma campanha militar iminente", declarou Johnson. O premiê britânico considerou que é "vital" que a Rússia dê "um passo atrás" e opte pelo caminho da diplomacia, uma solução que, segundo ele "ainda é possível".
Johnson garantiu que suas afirmações não são exageradas e que "a arquitetura inteira da segurança da Europa" está ameaçada. "Não há nenhuma dúvida do que o presidente Putin tenta realizar", reiterou. Segundo ele, o líder russo quer intimidar a Ucrânia e induzir os países europeus a repensar suas estratégias.
Já Zelenski declarou que a retirada das tropas russas na fronteira com a Ucrânia seria "um sinal muito importante". "A Rússia deve nos escutar, deve entender que ninguém quer guerra", disse.
Para ele, a mensagem é clara a quem quiser invadir o território ucraniano. "Se uma escalada começar, não será apenas uma guerra entre a Ucrânia e a Rússia, será uma guerra de grande escala na Europa", reiterou.
Putin diz que preocupações russas foram ignoradas
Mais cedo, o presidente russo, Vladimir Putin, acusou os Estados Unidos de ignorar seus pedidos e de usar a Ucrânia. Falando publicamente sobre o assunto depois de várias semanas de silêncio, o líder russo disse esperar uma solução, "mesmo que não seja fácil".
Putin recebeu o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, aliado da Rússia, mas membro da União Europeia e da Otan: uma forma de mostrar certa divisão no campo ocidental. Mas, segundo Orban, as divergências entre Moscou e os países ocidentais podem ser resolvidas.
O presidente russo não fez nenhuma alusão às dezenas de milhares de soldados posicionados na fronteira da Rússia com a Ucrânia há semanas. A Rússia nega qualquer intenção bélica, mas condiciona a desescalada a garantias para sua segurança. A principal exigência é que Kiev nunca se torne membro da Otan e que a Aliança Atlântica continue sua expansão à Europa do Leste.
Blinken e Lavrov expressam desejo por diálogo
Os Estados Unidos rejeitaram esses pedidos em uma carta, na semana passada, e abriram a porta para negociações sobre outros assuntos, como o lançamento de mísseis ou os limites recíprocos aos exercícios militares. No entanto, após a conversa por telefone nesta terça-feira entre o secretário de Estado americano, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, as duas potências rivais expressaram o desejo de continuar dialogando.
O chefe da diplomacia americana "pediu a desescalada russa imediata e a retirada de tropas e equipamentos das fronteiras da Ucrânia", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado. Também "pediu para seguir um caminho diplomático".
Embora Lavrov não tenha dado "nenhum indício" de "uma mudança nos próximos dias" na fronteira ucraniana, ele expressou certo otimismo após a conversa. "Blinken concordou que há razões para continuar o diálogo. Veremos como será", disse Lavrov à televisão russa nesta terça-feira.
(Com informações da AFP)
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