CAMPINAS/SP - A pandemia de Covid-19 mexeu com as relações de trabalho, a vida em sociedade e a economia como um todo, e ainda com um dos principais elementos de lazer e entretenimento das pessoas: o esporte. A grande maioria das competições em todo o mundo foi suspensa ou encerrada pela metade, impedindo que milhões de torcedores vibrem por suas equipes e atletas favoritos como anteriormente. A questão é que essa mudança momentânea vai trazer grandes impactos no futuro, redefinindo questões financeiras e até o modo de consumir as modalidades.
É muito difícil dimensionar o impacto no esporte pelo simples fato de não ter uma previsão de retorno das atividades. Entretanto, a perda de receitas e patrocínios é o que mais preocupa. Há uma quebra de ciclo tanto das atividades esportivas quanto econômicas, atingindo uma cadeia produtiva que envolve marcas, produtos, venda de ingressos, cotas de TV e folha de pagamento com altos salários. No futebol brasileiro, estudo da consultoria EY estima um prejuízo superior a R$ 1 bilhão. Em outras modalidades, o cenário pode ser ainda pior se pensarmos no ciclo olímpico que projeta investimentos a cada quatro anos. Os Jogos de Tóquio, por exemplo, foram adiados para 2021, afetando diretamente clubes, federações e, principalmente, atletas e equipes.
Dessa forma, o atual momento é marcado por alterações e rompimentos de contratos que, invariavelmente, não têm como serem mantidos. O patrocínio é um dos pilares fundamentais do esporte e estabelece relação com o marketing de grandes marcas. Na medida em que a economia sofre uma parada como essa, as receitas destinadas ao patrocínio também são reduzidas de forma drástica e, em alguns casos, encerradas completamente. Hoje, esta é a grande preocupação dos atletas: sem eventos, não há público, exposição na mídia e, consequentemente, divulgação das marcas.
Seguramente, os valores serão revistos nas próximas temporadas, pois o que determina o valor de um atleta ou de uma equipe é sua capacidade de gerar resultados e sua raridade. Agora, tudo isso está em discussão como em qualquer empresa que precisa honrar seus compromissos. Contudo, com a redução da quarentena e a retomada gradativa da economia, os patrocinadores também precisarão do esporte para alavancar suas marcas e produtos, uma vez que essa é uma relação de interdependência. A estimativa é de que os impactos negativos perdurem por um ou dois anos, mas, à medida que a normalidade se restabeleça, os valores devem voltar a crescer.
Nesse sentido, as tecnologias de comunicação, como streaming e dispositivos móveis, ganham força. Essas ferramentas deverão suprir algumas demandas que estão reprimidas e, ao mesmo tempo, contribuir para a retomada das atividades esportivas. Como citado, é preciso existir a exposição nos canais que estiverem disponíveis para que toda a cadeia esportiva possa existir. Nos Estados Unidos, por exemplo, as torcidas querem a volta dos esportes, mas 70% não pretende frequentar as arenas tão cedo. Para isso, devem usar os meios tecnológicos para torcer por suas equipes e atletas favoritos. Plataformas para levar conteúdo não vão faltar.
Entretanto, isso não representa um afastamento definitivo. É natural que, neste momento, as pessoas tenham receio de aglomerações, o que deve perdurar por algum tempo. O esporte é um fenômeno de massa capaz de atrair multidões e protagonizar os maiores espetáculos existentes na Terra. Quando houver segurança novamente, as pessoas voltarão a frequentar as arenas esportivas, talvez com novos cuidados e regras, mas a paixão pelo esporte vai prevalecer. É só uma questão de tempo.
* Artur José Squarisi de Carvalho é mestre em Educação Física – Adaptação e Saúde e atua como coordenador e professor do Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL, unidade Campinas – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
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