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Argentina estende novamente negociações com credores privados e aprofunda a moratória da dívida

Escrito por  Jun 02, 2020

MUNDO - O governo argentino anunciou que vai estender até 12 de junho o prazo que vencia nesta terça-feira (02) para concluir as negociações com os credores privados estrangeiros enquanto termina de preparar uma nova oferta para reestruturar 66,3 bilhões de dólares. Internamente, a moratória da dívida restringe ainda mais o acesso de empresas e pessoas à compra de dólares.

A 24 horas do vencimento das negociações, o Ministério da Economia emitiu uma nota que estende o prazo para a conclusão das negociações, pela terceira vez, por mais dez dias. O ministro da Economia, Martín Guzmán, confirmou que o governo define os últimos detalhes de uma nova oferta aos credores.

"O governo trabalha nas emendas finais da oferta que apresentará aos credores. Concluímos uma nova rodada de negociações. As partes continuam a aproximar-se, mas ainda falta uma distância considerável a percorrer", afirmou Guzmán, advertindo aos credores que "resta uma escassa margem" para melhoras.

Nesta terça-feira (02), vencia a segunda extensão estabelecida para um acordo, depois do calote de 22 de maio, quando o país não pagou US$ 503 milhões, relativos aos juros de três títulos públicos. Naquele mesmo dia, o governo anunciou a extensão das negociações, mediante moratória, até o dia 02 de junho.

"A extensão de hoje é simplesmente por uma razão técnica. Será por mais alguns dias para emendar a oferta. Uma vez emendada, voltaremos a estender a data de vencimento da oferta", apontou o ministro, procurando afastar a pressão por um acordo sem o qual a Argentina aprofunda o seu default.

"Depois de preparadas as emendas finais, é provável que voltemos às negociações para acertar os detalhes. Não seria boa a pressa para fechar um acordo que não sirva para a Argentina", avisou.

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Queda-de-braço com os credores

Da oferta inicial de 21 de abril na qual a Argentina reconhecia cerca de 40 centavos de cada dólar devido, o país melhorou a oferta até reconhecer, na semana passada, entre 45 e 47 centavos de cada dólar. A melhora veio depois de a sua posição inicial ser rejeitada por mais de 85% dos credores.

Por sua parte, os credores, divididos em três grandes grupos, também cederam nas suas exigências que variavam entre 55 e 60 centavos por dólar. Chegaram a um número entre 53 e 57 centavos, dependendo de cada título.

Distância considerável e pouca margem

O mercado acredita que a Argentina poderia chegar a um máximo de 50 centavos. Ou seja: reduzir a dívida pela metade. Esses números explicam a "distância considerável" e a "escassa margem" destacadas pelo ministro da Economia.

As cifras reveladas pelos credores nos últimos dias indicam que a média de juros de 2,33% que a Argentina queria passou a 4,25%. A redução de capital prevista inicialmente em 5,4% caiu para 1%.

O período de carência de três anos passaria agora a dois anos. E, se antes a Argentina não pagaria nem juros nem capital durante esse período, agora aceitaria emitir um novo título para compensar os juros e os anos de carência.

O que separaria a posição da Argentina da dos credores seria uma diferença nominal de US$ 6 bilhões.

Os credores sabem que a Argentina não quer continuar em moratória, mas sabem também que a premissa argentina de chegar a um acordo sustentável, isto é, que o país possa honrar sem comprometer o seu crescimento será o limite.

Por isso, nesta segunda-feira, o Fundo Monetário Internacional emitiu uma análise técnica da proposta argentina, a pedido do próprio governo argentino, com a sua premissa de sustentabilidade da dívida.

"Existe apenas uma margem limitada para melhorar o pagamento aos credores privados e, ao mesmo tempo, cumprir com os parâmetros de sustentabilidade", coincidiu o FMI.

Moratória já traz efeitos nocivos

Nas últimas horas, os credores dispararam os denominados seguros contra default (CDS, na sigla em inglês) por US$ 1,5 bilhão.

São contratos entre privados que não implicam custo direto para a Argentina, mas que pode atrasar as negociações até serem cobrados num processo que pode levar até um mês.

"Esse processo afeta as negociações de forma indireta porque os credores poderiam esticar os tempos de negociação até cobrarem o seguro. Paradoxalmente, o fato de cobrarem esse seguro pode ajudar também a um acordo porque os credores teriam, por essa via, uma compensação pelas perdas com a Argentina", analisa Federico Furiase, diretor da consultora argentina EcoGo.

Nos últimos dias, a partir do calote do dia 22 de maio, o governo argentino restringiu ainda mais o movimento de capitais, limitando ao máximo o acesso ao mercado cambial para evitar uma disparada do dólar que afetasse a inflação. As restrições afetam diretamente as empresas que trabalham com comércio exterior, sobretudo as importações. As pessoas também tiveram ainda mais limitada a possibilidade de comprarem moeda estrangeira.

Sem um acordo com os credores, a Argentina corre sério risco de uma inflação galopante. Em 2019, a inflação anual foi de 53,8%, uma das mais altas do mundo.

"O coronavírus gera uma recessão muito forte. Como a Argentina tem o mercado de capital fechado e tem déficit fiscal crescente, a única saída é a emissão monetária para financiar o rombo. Se a negociação da dívida continuar em moratória, é muito mais provável que toda a emissão monetária, devido ao aumento do gasto público e à queda da arrecadação, termine numa espiral inflacionária", adverte Federico Furiase. "O governo entende esse risco e os credores também", conclui.

 

 

*Por: Márcio Resende / RFI

Redação

 Jornalista/Radialista

Website.: https://www.radiosanca.com.br/equipe/ivan-lucas
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