CANADÁ - Para combater o crescente problema de acesso à moradia no Canadá, o primeiro-ministro Justin Trudeau anunciou que estrangeiros não poderão adquirir imóveis no país pelos próximos dois anos. A medida busca auxiliar na estabilização do mercado de imóveis, em um país que viu os preços de casas e apartamentos saltarem recentemente em até 20%: segundo anúncio do primeiro-ministro, a proibição não se aplica, porém, a estrangeiros que possuem residência permanente no Canadá, nem a trabalhadores ou estudantes que vieram de outros países.
O problema do custo de moradia por lá pode ser medido pela diferença entre a média de preço de venda dos imóveis e a renda média anual das famílias: no último ano, o valor médio de um imóvel chegou a 817 mil dólares canadenses – equivalente a 650 mil dólares estadunidenses, ou 3 cerca de 3 milhões de reais –, cifra que supera em mais de nove vezes o ganho médio familiar no país. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), esse é um quadro que atualmente assola diversos países, mas a imensa diferença entre o preço da moradia e a renda média torna a situação do Canadá especialmente complicada.
Especialistas foram praticamente unânimes, porém, ao afirmarem que a medida anunciada por Trudeau representará pouco ou nenhum impacto realmente significativo na crise, já que a compra por estrangeiros representa atualmente cerca de 1% do mercado imobiliário no país. Para consultores ouvidos em matéria da BBC, a situação se estabelece pelo crescimento populacional somado à escassez de oferta de casas e apartamentos no país, em parte como reflexo das rígidas restrições para a expansão imobiliária do país. A crise se agravou consideravelmente com o início da pandemia, quando o governo reduziu as taxas de juros para conter a crise econômica e diminuir o custo das dívidas, mas, com isso, ampliou a demanda.
A proibição temporária, porém, é somente uma das medidas anunciadas pelo primeiro-ministro como forma de combater a crise de moradia no Canadá, esforço que fazia parte de suas promessas de reeleição, durante a campanha no ano passado. Entre as iniciativas estão investimentos bilionários na construção de novos imóveis e em programas de estímulo para a compra do primeiro apartamento: há ainda a hipótese, segundo o governo, de proibir licitações que favoreçam os investidores em detrimento de compradores que buscam de fato morar nos imóveis adquiridos – estudos revelam que um em cada cinco apartamentos no país é comprado para investimento.
Vitor Paiva / Hypeness