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Crise limita transferência à capital de pacientes de municípios sem estrutura para casos graves

 

MANAUS/AM - O sistema de saúde de Manaus entrou em colapso pela segunda vez. Apesar de os hospitais da capital do Amazonas estarem tentando ampliar a disponibilidade de leitos para pacientes da COVID-19, o número de doentes cresce a uma velocidade mais rápida, levando à sobrecarga e saturação de todo o sistema de saúde. Mais grave é o fato de que a capacidade de Manaus produzir oxigênio cobre apenas um terço da demanda atual, deixando hospitais sem meios de fornecer o insumo a seus pacientes, com um grande número de relatos de pessoas morrendo por asfixia. O efeito cascata em algumas cidades do interior do estado está começando a aparecer, e as consequências podem ser igualmente devastadoras.

Equipes da organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) estão presentes nas cidades de São Gabriel da Cachoeira e Tefé, ambas a alguns dias de barco da capital. Com os hospitais de Manaus lotados, não há atualmente nenhum lugar para onde transferir os pacientes em estado mais grave. MSF está tentando correr contra o tempo, ampliando suas equipes e avaliando maneiras de contribuir com a resposta em Manaus, enquanto o número de mortos cresce.

Na primeira semana de janeiro, um terço dos pacientes de COVID-19 em Tefé, onde MSF dá suporte ao hospital regional, necessitavam de tratamento com oxigênio, mas na semana passada essa proporção elevou-se para dois terços.

Não apenas o número de pacientes admitidos está crescendo, mas seu estado de saúde quando são admitidos está mais grave, indicando que a situação pode estar prestes a se tornar desastrosa.

Como sabemos um pouco mais sobre a doença, deveríamos estar em uma posição que permitisse salvar mais vidas, mas isso só é possível se dispomos de oxigênio e de possibilidades de transferir pacientes em estado grave ou crítico para hospitais mais bem aparelhados”, disse Pierre Van Heddegem, coordenador-geral dos projetos de MSF no Brasil. “Na semana passada, não foi possível transportar de avião nenhum paciente de Tefé a Manaus. Perdemos três pacientes que teriam tido chance de sobreviver se tivessem recebido atendimento em um hospital de uma cidade grande, mas a transferência foi inviável”, lamentou Van Heddegem.

Como não existem unidades geradoras de oxigênio próximas a Tefé, os cilindros têm de ser enviados a Manaus para recarga. MSF doou 50 novos cilindros ao hospital regional de Tefé no final de 2020, mas, sem a possibilidade de recarregá-los em Manaus, a região do interior também corre o risco de que seu estoque termine. “Temos apenas uns poucos dias de estoque de oxigênio em Tefé caso o ingresso de novos pacientes continue no ritmo atual”, acrescenta Van Heddegem.

MSF está buscando desesperadamente soluções alternativas para que os pacientes de Tefé que estão em estado grave possam receber assistência, apesar da saturação total dos hospitais de Manaus. Ao mesmo tempo, a organização está trabalhando para dar sua contribuição também em Manaus. Os primeiros integrantes de uma equipe de MSF chegaram ontem à capital do estado do Amazonas.

Em São Gabriel da Cachoeira, o outro município do Amazonas onde MSF atua, o ano de 2021 chegou com um forte aumento de casos. Na primeira semana de janeiro, o número de novos infectados pela COVID-19 aumentou em cinco vezes na comparação com os dados da última semana de 2020.

Uma enfermaria com seis leitos para pacientes da COVID-19 foi montada pelo Ministério da Saúde e está sendo apoiada por uma equipe de MSF. No município há um pequeno hospital com capacidade própria de geração de oxigênio, mas se o número de casos se elevar de maneira descontrolada as perspectivas podem se tornar tão difíceis quanto as vividas em Tefé.

MSF tem trabalhado na melhoria da capacidade de testagem local, utilizando especificamente o teste de antígeno, que detecta se o paciente está com o vírus ativo. Este tipo de teste é melhor para ter uma avaliação em tempo real da situação epidemiológica, em contraste com os testes de anticorpos, bastante usados no Brasil. Os testes de anticorpos mostram se a pessoa teve ou não a doença, mas não se ela se encontra doente no momento da coleta. No teste de anticorpos, um resultado positivo pode indicar que a pessoa teve a doença há semanas ou meses, mas pode não existir mais o risco de transmitir a doença. Detectar se o vírus encontra-se ativo ou não, como é possível fazer com o teste de antígeno, evita internações desnecessárias e sobrecarga adicional ao sistema de saúde.

MSF também doou cartuchos de exames a um laboratório já existente em São Gabriel da Cachoeira, permitindo a entrada em operação de uma máquina de exames GenExpert que pode ser utilizada para a realização de testes PCR em pacientes com suspeita de COVID-19. “Os resultados ficam prontos em cerca de uma hora e são realizados na própria cidade, sem a necessidade de levar as amostras até Manaus, como era feito até então”, explica Irene Huertas Martín, coordenadora do projeto de MSF na cidade. Antes, os resultados demoravam pelo menos uma semana.

Equipes de promoção de saúde de MSF também estão fornecendo informações sobre a doença nas duas cidades e o trabalho pode ser expandido a Manaus. Garantir que as pessoas saibam como se proteger e àqueles com quem convivem continua sendo uma das maneiras mais importantes de evitar a expansão da doença em uma região onde o acesso a cuidados de saúde adequados pode estar distante muitas horas ou mesmo dias em viagens de barco pelos rios da região.

MSF voltou a trabalhar no estado do Amazonas no final do ano passado, após um primeiro período de atuação na região entre abril a agosto, quando trabalhou em Manaus, Tefé e São Gabriel da Cachoeira. MSF continuou monitorando a situação da pandemia na região e, com o aumento de casos identificado em outubro, viu a necessidade de voltar às cidades do interior para oferecer novamente apoio aos profissionais de saúde locais na resposta à COVID-19.

No Brasil, além dos projetos em Tefé e em São Gabriel da Cachoeira, MSF trabalha em São Paulo, onde oferece cuidados paliativos para pacientes que não respondem a tratamentos, no hospital Tide Setúbal. MSF encerrou recentemente as atividades que mantinha no estado do Mato Grosso do Sul, na região das cidades de Amambaí, Corumbá e Aquidauana. A resposta de MSF à COVID-19 no Brasil começou em abril e, além dos estados já mencionados, foram realizadas atividades em Rio de Janeiro, Roraima, Mato Grosso e Goiás.

 

Sobre Médicos Sem Fronteiras

Médicos Sem Fronteiras é uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por conflitos armados, desastres naturais, epidemias, desnutrição ou sem nenhum acesso à assistência médica. Oferece ajuda exclusivamente com base na necessidade das populações atendidas, sem discriminação de raça, religião ou convicção política e de forma independente de poderes políticos e econômicos. Também é missão da MSF chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelas pessoas atendidas em seus projetos. Para saber mais acesse o site de MSF-Brasil.

Veículo transportava feridos de bombardeios ocorridos no último domingo (3) na região central do país. MSF pede que os grupos envolvidos no conflito respeitem a ação médico humanitária e civis.

 

MUNDO - Uma ambulância de Médicos Sem Fronteiras (MSF) que transportava pacientes entre Douentza e Sévaré, na região central de Mali, foi violentamente parada por homens armados durante horas na última terça-feira (05/01), resultando na morte de um dos pacientes a bordo. MSF condena veementemente essa grave obstrução à assistência médica e conclama todas as partes no conflito a respeitarem a ação humanitária e médica e a população civil.

A ambulância, identificada pelo logotipo de MSF de forma bastante visível, estava a caminho do hospital geral em Sévaré com três pacientes gravemente feridos no atentado de domingo (03/01) na região de Douentza. Uma enfermeira do Ministério da Saúde, um zelador e um motorista também estavam no veículo. Os homens armados os amarraram, os agrediram e os deixaram sob o sol forte por várias horas antes de finalmente libertá-los. Um dos pacientes, um homem de aproximadamente 60 anos, não resistiu e morreu durante a ação.

"Condenamos nos termos mais fortes possíveis todas as formas de violência contra nossos pacientes, nossa equipe e profissionais de saúde em geral", disse Juan Carlos Cano, chefe da missão de MSF em Mali. “Estamos muito chocados e pedimos às partes no conflito que respeitem as ambulâncias, a equipe médica, os pacientes e seus cuidadores. Os veículos médicos devem ter permissão para transportar os pacientes com segurança.”

Na quarta-feira (06/01), a ambulância de MSF conseguiu finalizar o transporte dos pacientes ao hospital em Sévaré. Os outros dois pacientes do veículo estão atualmente sob cuidados médicos na instalação.

No início desta semana, equipes de MSF trataram de vários pacientes gravemente feridos no centro de saúde de referência de Douentza, após o ataque a bomba nas aldeias Douentza e Sévaré. Os pacientes, a maioria homens idosos, tiveram ferimentos por explosões, estilhaços de metal e ferimentos a bala. MSF não estava presente na área no momento dos eventos e por isso não tem mais informações sobre os ataques na região.

Após a detenção violenta da ambulância da organização e a deterioração da situação de segurança em Mali, MSF reitera o pedido para que todas as partes no conflito respeitem a ajuda médica e humanitária, as instalações médicas e a população civil.

Médicos Sem Fronteiras trabalha no Mali desde 1985. Atualmente, a organização administra projetos médicos e humanitários nas regiões de Kidal, Gao (Ansongo), Mopti (Ténenkou, Douentza, Bandiagara, Bankass e Koro), Ségou (Niono) e Sikasso (Koutiala ), e também na capital, Bamako.

 

Sobre Médicos Sem Fronteiras

Médicos Sem Fronteiras é uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por conflitos armados, desastres naturais, epidemias, desnutrição ou sem nenhum acesso à assistência médica. Oferece ajuda exclusivamente com base na necessidade das populações atendidas, sem discriminação de raça, religião ou convicção política e de forma independente de poderes políticos e econômicos. Também é missão da MSF chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelas pessoas atendidas em seus projetos. Para saber mais acesse o site de MSF-Brasil.

Desde o final de novembro, a grande maioria dos pacientes gravemente feridos atendidos são mulheres e crianças

 

MUNDO - O recrudescimiento dos combates ao sul do porto de Hodeida, na costa do mar Vermelho, transformou esta frente de batalha em uma das mais intensas da guerra no IêmenMédicos Sem Fronteiras (MSF) alerta que a cifra de civis que necessitam de cirurgias de grande porte por causa de ferimentos de guerra está aumentando. Desde outubro, o hospital de trauma de MSF localizado na cidade próxima de Mocha atendeu a 122 pacientes com ferimentos de guerra. Além disso, desde a última semana de novembro houve uma mudança importante no perfil das vítimas atendidas: a grande maioria dos pacientes gravemente feridos são atualmente mulheres e crianças.

“Tratamos todas as pessoas que precisam de cirurgias de emergência em nosso centro de trauma em Mocha: feridos de guerra, vítimas de acidentes de trânsito e mulheres grávidas que necessitam de cesarianas de emergência”, explica Raphael Veicht, coordenador geral de MSF no Iêmen. “Mas quando, de repente, quase todos os civis chegam com ferimentos terriveis de armas de fogo, aparecem perguntas importantes. O que estamos vendo no nosso pequeno hospital é preocupante e indignante. Matar e ferir civis nos conflitos não constitui apenas uma grave violação do direito internacional humanitário, vai além disso. Entre nossos pacientes há crianças, mulheres grávidas, mães que estão amamentando e homens que trabalhavam em uma engarrafadora de leite que foi atingida nos bombardeios. Não há nada que possa justificar isto".

Em 29 de novembro, uma mulher foi transferida ao hospital com uma amputação da parte inferior de ambas as pernas que salvou sua vida, mas que requereu uma cirurgia corretiva. A mulher contou que havia se reunido com outras mulheres e crianças, muitos deles familiares, para ir a uma casa onde havia roupas à venda, em sua aldeia, Al Qazah. Ela não sabe exatamente o que aconteceu, apenas que houve uma explosão e que depois acordou em um hospital de MSF. Mais tarde, seu pai lhe disse que uma bomba havia caído sobre eles. A casa era feita de junco e coberta de folhas de palmeira, por isso não oferecia nenhuma proteção.

A mulher recorda os familiares que perdeu no ataque: “Quatro mulheres: minha tia, a mulher do meu irmão, duas primas. E cinco crianças: o filho do meu irmão, dois primos e dois filhos de outros primos".

O hospital de MSF em Mocha também atendeu a mais vítimas deste bombardeio: atendeu outro paciente e estabilizou um bebê de 11 meses que necessitava ser transferido imediatamente de ambulância para o hospital de MSF em Áden e que dispõe de serviços mais avançados. Infelizmente, o bebê morreu antes de chegar a Áden.

Antes, em 24 de novembro, o hospital de MSF em Mocha recebeu sete civis feridos na explosão de uma bomba em uma estrada quando regressavam de um casamento. Cinco pessoas, entre elas uma criança, morreram em consequência da explosão. Apenas um dia depois, em 25 de novembro, duas crianças com ferimentos graves (traumatismos abdominais e toráxicos) foram trasferidas ao hospital. Ficaram feridas ao atirar no chão e detonar munição que encontraram às margens da estrada.

Em 3 de dezembro, seis pessoas foram atendidas por equipes de MSF após um bombardeio a uma planta de engarrafamento de leite em Hodeida. Os pacientes relataram que pelo menos dez de seus colegas de trabalho morreram por causa do impacto.

O ingresso de pacientes feridos por armas de fogo ao hospital de MSF confirma que a frente de combate na provincia meridional de Hodeida se encontra neste momento entre as mais ativas de todo o conflito. A intensificação dos combates também está obrigando centenas de famílias a fugir mais uma vez de suas casas. O aumento das zonas de risco de bombardeios significa que o atendimento médico e a assistência alimentar essenciais são cada vez mais limitadas justamente no momento em que são mais necessárias.

“Quer sejam direcionados ou indiscriminados, estes ataques violam todas as regras da guerra”, afirma Veicht. "As vítimas são pessoas que tentam apenas sobreviver, que tentam ser boas mães, pais, irmãos e irmãs. São pessoas que estão sendo assassinadas e mutiladas e isso tem que terminar"

Sobre Médicos Sem Fronteiras

Médicos Sem Fronteiras é uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por conflitos armados, desastres naturais, epidemias, desnutrição ou sem nenhum acesso à assistência médica. Oferece ajuda exclusivamente com base na necessidade das populações atendidas, sem discriminação de raça, religião ou convicção política e de forma independente de poderes políticos e econômicos. Também é missão da MSF chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelas pessoas atendidas em seus projetos. Para saber mais acesse o site de MSF-Brasil.

Cerca de 3,5 mil pessoas foram atendidas com COVID-19 no local desde março

 

MUNDO - A organização médica humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) foi forçada a tomar a decisão de se retirar do Hospital Ana Francisca Pérez de León II, localizado em Petare, em Caracas, na Venezuela, onde colaborava desde março no combate à pandemia de COVID-19.

Esta decisão foi adotada por causa da impossibilidade de continuar com as atividades essenciais para o cuidado de pacientes com o novo coronavírus seguindo os padrões de qualidade estabelecidos pela unidade de saúde, devido às restrições de entrada de pessoal humanitário especializado no país.

“Não foi possível continuar com a nossa colaboração com o Hospital Pérez de León II. Passamos meses procurando todas as alternativas possíveis que teriam evitado este resultado irreversível”, explica Isaac Alcalde, coordenador geral de MSF na Venezuela.

MSF solicitou autorizações de trabalho para sua equipe essencial no início do ano, para poder ocupar cargos-chave em suas operações e ainda não obteve resposta. Desde então, a organização tem mantido contato repetidamente com as autoridades responsáveis para tentar obter uma solução para o problema. "Ainda que a equipe internacional tenha sido totalmente substituída por pessoal qualificado venezuelano, precisamos de pessoal especializado in loco que seja familiarizado com os processos internos da organização e que nos permita garantir os padrões de qualidade exigidos para este tipo de intervenção. Portanto, tivemos para tomar essa difícil decisão", acrescenta.

A colaboração com o Hospital Pérez de León II começou em março com a reabilitação de parte da infraestrutura, o projeto de um circuito para atendimentos médicos e psicológicos, especificamente relacionados ao novo coronavírus, e melhorias na área de internação, incluindo uma Unidade de Terapia Intensiva. Cerca de 3,5 mil pessoas foram atendidas neste projeto. O suporte também incluiu a gestão de uma equipe de quase 150 pessoas, formada por médicos, epidemiologistas, intensivistas, enfermeiros, psicólogos, técnicos, higienistas, entre tantos outros, que lidam com COVID- 19 na área de biossegurança, e o extraordinário apoio financeiro a quase 100 outros colaboradores diretos do hospital.

Além disso, o trabalho de MSF teve impacto em outras áreas da unidade, uma vez que os treinamentos e o fornecimento de suprimentos clínicos tiveram um impacto sobre pacientes que ingressam no hospital para tratar outras patologias e na salvaguarda da biossegurança do restante do pessoal de saúde, conforme afirma a própria direção do hospital.

"Dada a possibilidade de uma segunda onda na pandemia de COVID-19, MSF optou por deixar parte do material sanitário, fazer abastecimento de medicamentos e fortalecer a aplicação dos protocolos, por meio da capacitação da equipe hospitalar”, diz. MSF gradualmente se retirará do hospital e tornará especial a ênfase na formação de quadros próprios da instituição no combate à COVID-19. “Por enquanto, vamos concentrar nossos esforços para servir aos pacientes graves e críticos com COVID-19 no Hospital Vargas e temos conseguido manter outros programas médicos fora de Caracas, mas estamos preocupados que a situação vivida no Hospital Pérez de León II, devido às limitações de entrada de pessoal

humanitário, possa acabar afetando os demais projetos de MSF nos próximos meses”, alerta Alcalde.

MSF reitera seu compromisso de continuar ajudando a população venezuelana e pede que autoridades nacionais facilitem a entrada de pessoal humanitário, a fim de continuar a fornecer cuidados de saúde de qualidade para aqueles que mais precisam.

Na Venezuela, MSF adaptou suas operações em resposta à emergência sanitária causada pela COVID-19, buscando dar prioridade à população mais vulnerável que atende em diferentes programas em Anzoátegui, Amazonas, Bolívar, Sucre, Táchira, Miranda e o Distrito da Capital, onde até hoje apoiamos 39 estruturas de saúde. Nos primeiros seis meses, fizemos quase 80 mil consultas médicas; 42,5 mil ações de conscientização por meio de promoção de saúde; mais de 5 mil treinamentos para pessoal médico e não médico; perto de 110 mil testes de malária, com 25 mil diagnósticos e tratamento de casos positivos. Só no município de Sifontes, no estado de Bolívar, entre 2017 e 2020, contribuímos com a redução de casos de malária em 60%.

Índia e África do Sul pedem isenção global de custos de propriedade intelectual para vacinas, remédios e outras ferramentas usadas no combate à pandemia

 

SÃO CARLOS/SP - Em uma atitude histórica, Índia e África do Sul solicitaram à Organização Mundial do Comércio (OMC) que permita que todos os países optem por não conceder nem fazer cumprir patentes ou outros instrumentos de propriedade intelectual relacionados aos medicamentos, vacinas, diagnósticos e outras tecnologias relacionadas à COVID-19 durante a pandemia da doença, até que todas as pessoas estejam imunizadas.

Na visão de Médicos Sem Fronteiras (MSF), esse passo ousado é semelhante aos esforços dos governos que lideraram, há quase 20 anos, o uso de medicamentos genéricos para HIV/AIDS a preços acessíveis. A organização considera que, se aprovada, a medida pode significar uma mudança importante e positiva na resposta dos países à pandemia.

No contexto da emergência global vivida atualmente, MSF pede a todos os governos que apoiem esse pedido de isenção. A proposta foi feita no último dia 2 de outubro pelos dois países. A partir de 15 de outubro, o Conselho TRIPS (Acordo de Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio), da OMC, se reunirá para começar a construir um consenso sobre o assunto.

Uma pandemia global não é o momento para simplesmente deixar os negócios correrem como de costume, e não deve haver lugar para patentes ou especulação corporativa enquanto o mundo enfrenta a ameaça da COVID-19”, disse Leena Menghaney, coordenadora da Campanha de Acesso de MSF no sul da Ásia. “Durante a pandemia, provedores de tratamento e governos tiveram que lidar com barreiras de propriedade intelectual para produtos essenciais, como máscaras, válvulas de ventilação e reagentes para kits de testes. Com essa ação ousada, a Índia e a África do Sul mostraram que os governos querem voltar à ter o protagonismo quando se trata de garantir que todas as pessoas possam ter acesso aos produtos médicos, medicamentos e vacinas necessários contra a COVID-19, para que mais vidas possam ser salvas.

Os países-membros da OMC podem propor uma isenção de certas obrigações nos tratados da entidade em circunstâncias excepcionais, o que no jargão é conhecido como “waiver”. Se os membros concordarem com esta isenção, os países podem optar por não conceder ou deixar de impor instrumentos de propriedade intelectual (patentes, desenhos industriais, direitos autorais e segredos comerciais) relacionados a todos os produtos e tecnologias médicas relativas à COVID-19.

Até agora, as empresas farmacêuticas e outros fabricantes de produtos necessários para lidar com a COVID-19 não mostraram qualquer disposição de adotar uma abordagem diferente durante a pandemia para garantir amplo acesso aos produtos necessários. A empresa farmacêutica Gilead, detentora da patente do remdesivir, o único medicamento até agora aprovado especificamente para tratar COVID-19, licenciou-o de uma maneira que exclui quase metade da população mundial de se beneficiar da concorrência vinda de medicamentos genéricos, com preços reduzidos. Em junho de 2020, a Gilead anunciou que o remdesivir custaria na maioria dos países US$ 2.340 dólares (cerca de 13.090 reais) para um curso de tratamento de cinco dias. Isso apesar de a empresa ter recebido mais de US$ 70 milhões (cerca de 390 milhões de reais) em financiamento público para desenvolvê-lo. Além disso, pesquisas sobre o custo de produção do medicamento concluíram que ele pode ser fabricado por menos de US$ 9 (aproximadamente 50 reais) por curso de tratamento. Enquanto isso, há escassez de remdesivir em várias partes do mundo.

Além disso, medicamentos biológicos recentemente desenvolvidos, incluindo anticorpos monoclonais antivirais reaproveitados e novos, estão atualmente sendo submetidos a ensaios clínicos de COVID-19. Estes fármacos estão sob proteção de patente em muitos países em desenvolvimento, como Brasil, África do Sul, Índia, Indonésia, China e Malásia. Isso significa que, se demostrarem uma eficácia clara, sua produção e fornecimento por vários fabricantes em diferentes países serão bloqueados, a menos que os governos tomem medidas precoces para remover essas barreiras.

Adicionalmente, tem havido um número surpreendente de patentes registradas para vacinas em desenvolvimento contra COVID-19, incluindo mais de cem para a tecnologia de plataforma de mRNA que está sendo usada pela Moderna para desenvolver uma vacina. Grupos que fazem lobby para a indústria farmacêutica comumente propagam desinformação ao afirmar que patentes são menos problemáticas no caso de acesso a vacinas, mas MSF documentou o efeito inibidor das patentes em impedir a introdução de vacinas acessíveis em países em desenvolvimento, considerando as vacinas contra pneumonia e papilomavírus humano como exemplos.

Pedimos a todos os governos que apoiem esse movimento para garantir que vidas humanas sejam priorizadas e os países possam enfrentar a pandemia ampliando cada ferramenta médica para COVID-19 que exista”, disse Candice Sehoma, responsável pela Campanha de Acesso e Advocacy de MSF na África do Sul. “Ninguém pode se dar ao luxo de permitir que corporações que foram apoiadas por bilhões em dinheiro de pesquisa com financiamento público simplesmente busquem seus interesses financeiros sem levar em conta as necessidades da população mundial frente à COVID-19. A pandemia não vai acabar até que acabe para todos”.

 

Sobre Médicos Sem Fronteiras

Médicos Sem Fronteiras é uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por conflitos armados, desastres naturais, epidemias, desnutrição ou sem nenhum acesso à assistência médica. Oferece ajuda exclusivamente com base na necessidade das populações atendidas, sem discriminação de raça, religião ou convicção política e de forma independente de poderes políticos e econômicos. Também é missão da MSF chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelas pessoas atendidas em seus projetos. Para saber mais acesse o site de MSF-Brasil.

Pesquisa de Médicos Sem Fronteiras mostra que valor poderia ser de US$ 5 em vez dos quase US$ 20 cobrados pela empresa Cepheid

 

MUNDO - Pela alta demanda global e urgente de testes de diagnósticos rápidos, necessários para lidar com a pandemia de COVID-19, a organização internacional de ajuda humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) fez um apelo nesta terça-feira (28) à empresa americana de diagnósticos Cepheid para ofertar testes de detecção da COVID-19 (Xpert Xpress SARS-COV2) de forma equitativa e acessível em todos os países.

MSF solicitou à companhia que se abstenha de buscar grandes lucros com a pandemia, reduzindo o preço de cada teste para US$ 5, em vez dos quase US$ 20 cobrados nos países mais pobres do mundo, a fim de garantir acesso mais amplo ao diagnóstico. Um levantamento de MSF aponta que os testes podem ser vendidos com lucro ao preço de US$ 5 cada.

"Como os países estão lutando para lidar com casos suspeitos de COVID-19, é essencial ter um teste rápido e preciso para o gerenciamento em tempo real das pessoas afetadas pelo vírus, a fim de combater essa pandemia", disse Greg Elder, coordenador médico da Campanha de Acesso de MSF. "Tantas vidas poderiam ser salvas se empresas como a Cepheid disponibilizassem seu teste com urgência e baixo custo em todos os países".

No Brasil, o Ministério da Saúde
 anunciou, em março, um processo de negociação com a Cepheid para a compra de 600 mil cartuchos. Até o momento, os testes ainda não foram disponibilizados no sistema público de saúde. Com número de novos casos ainda elevado no país, MSF reforça a necessidade de que as pessoas tenham acesso a um diagnóstico confiável, rápido e disponível no local de atendimento médico.

"É crucial, inclusive, para atender às necessidades de populações difíceis de alcançar. Portanto, mais transparência sobre a capacidade de produção e entrega da Cepheid e os preços mais baixos são etapas importantes para garantir o acesso sustentável a essa ferramenta para a população brasileira", salienta Felipe Carvalho, coordenador da Campanha de Acesso a medicamentos de MSF no Brasil.

A Cepheid estabeleceu o preço de cada teste em US$ 19,80 em 145 países em desenvolvimento, incluindo até as nações mais pobres do mundo, onde a renda por pessoa é de apenas US$ 2 por dia. A Cepheid desenvolveu o cartucho "Xpert Xpress SARS-CoV-2com um investimento de US$ 3,7 milhões, recurso oriundo de financiamento público da Autoridade Biomédica Avançada de Pesquisa e Desenvolvimento (BARDA) do governo dos EUA. No passado, MSF foi uma das organizações que analisou que a fabricação do teste de tuberculose (TB) da companhia, semelhante ao cartucho para testagem da COVID-19, mostra que o custo dos produtos, incluindo materiais, fabricação, despesas gerais e outras despesas indiretas para cada unidade é baixo, equivalente a US$ 3 considerando quantidades compras volumosas. Isso daria margem para lucro se o produto fosse oferecido ao mercado ao preço de US$ 5 a unidade, incluindo royalties relevantes expirados.

A análise também demonstra que não houve diferença significativa entre cartuchos virais e bacterianos que justificariam variações substanciais de preços entre cartuchos para diferentes doenças. MSF pediu à Cepheid uma redução significativa de preço de seus cartuchos para não mais que US$ 5, incluindo o teste de COVID-19.

"É indefensável para a Cepheid lucrar com esta pandemia", disse Sharonann Lynch, consultora sênior de HIV e TB da campanha de acesso de MSF. “Não é hora de definir o preço com base no que o mercado pode suportar. Este teste crítico deve ser acessível a todas as pessoas e custar US$ 5 para enfrentarmos esta emergência de saúde global.

Em março de 2020, a Cepheid recebeu uma autorização de emergência da Administração de Medicamentos e Alimentos dos EUA para comerciaizar o teste de COVID-19 para detectar coronavírus, fornecendo resultados em menos de uma hora. O teste foi desenvolvido para uso nas plataformas de testes GeneXpert, que já estão sendo usadas em todo o mundo para o diagnóstico de tuberculose e outras doenças infecciosas. Existem cerca de 11 mil instrumentos GeneXpert em países de baixa e média renda.

Organização Mundial da Saúde (OMS), juntamente com vários de seus parceiros, criou o 'Consórcio de Diagnóstico' em março deste ano para apoiar o acesso rápido e equitativo aos produtos de saúde de COVID-19 e diagnósticos para países de baixa e média renda. O Consórcio garantiu compromissos de volume dos principais fabricantes de testes de diagnóstico (Abbott, Cepheid, Roche e Thermo Fisher) por um período de quatro meses. Segundo o Consórcio, os valores comprometidos pela Cepheid representavam apenas um terço de sua capacidade de fabricação de cartuchos COVID-19. Como resultado, menos da metade dos pedidos dos países para o Consórcio foram cumpridos. O consórcio e as empresas, incluindo a Cepheid, devem se reunir novamente para negociar volumes e preços de suprimentos para o próximo período de quatro meses (setembro-dezembro).

"Nesta pandemia violenta, os países mais ricos têm uma enorme vantagem sobre os outros na compra de ferramentas médicas de COVID-19 para usar primeiro", disse Lynch. “Estamos profundamente preocupados que as pessoas em muitos países com recursos limitados sejam privadas desse teste de diagnóstico crítico. Precisamos ver a Cepheid tomar as medidas certas e garantir uma alocação justa e um suprimento acessível de seu teste COVID-19 ao Consórcio de Diagnóstico para ajudar países que, de outra forma, seriam deixados para trás ou deixados de fora de acordos bilaterais. Ninguém deve ter acesso negado com base em sua origem ou no que ganham.

MSF enfrenta a pandemia do novo coronavírus

As equipes de MSF estão correndo no combate à pandemia de COVID-19 em mais de 70 países, adaptando as atividades existentes ou abrindo projetos em novos países à medida que se tornam focos da doença. O trabalho de MSF frente à COVID-19 concentra-se em três pilares principais: apoiar as autoridades de saúde na prestação de cuidados aos pacientes com COVID-19; proteger pessoas vulneráveis e em risco; e manter os serviços médicos essenciais funcionando. No Brasil, MSF vem oferecendo serviços de saúde para populaçlões em situação de maior vulnerabilidade à infecção pelo novo coronavírus no Sudeste e no Norte do país.

 

Sobre Médicos Sem Fronteiras

Médicos Sem Fronteiras é uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por conflitos armados, desastres naturais, epidemias, desnutrição ou sem nenhum acesso à assistência médica. Oferece ajuda exclusivamente com base na necessidade das populações atendidas, sem discriminação de raça, religião ou convicção política e de forma independente de poderes políticos e econômicos. Também é missão da MSF chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelas pessoas atendidas em seus projetos. Para saber mais acesse o site de MSF-Brasil.

A farmacêutica J&J anunciou que baixou o preço da bedaquilina, usada no tratamento de pessoas com tuberculose, mas a organização humanitária argumenta que o valor ainda é alto para muitas pessoas

MUNDO - A empresa farmacêutica Johnson & Johnson (J&J) anunciou na última segunda-feira (06) o preço reduzido de US$ 1,50 (cerca de R$ 8) por dia para a bedaquilina, medicamento usado para o tratamento da tuberculose, para um rol de 135 países com renda média e baixa. O valor representa uma redução de 32% sobre o preço anterior de US$ 400 (cerca de R$ 2,1 mil) para o tratamento de seis meses. A organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) afirmou que esse foi um passo importante que deve permitir que mais pessoas com formas resistentes da tuberculose (TB-DR) possam ter acesso ao medicamento. No entanto, MSF defendeu que o preço ainda poderia cair mais e ser estendido a mais países.

A organização vem pressionando a J&J para a redução do preço do medicamento desde que o produto chegou ao mercado em 2012 e lançou uma campanha global, ao lado de pessoas com tuberculose e a sociedade civil, no ano passado, pedindo à companhia que reduzisse, em mais da metade, o preço cobrado pelo medicamento em países de baixa e média renda, para ao menos US $ 1 por dia (ou R$ 5,35 por dia). Ao todo, 120.707 pessoas assinaram petições pedindo à J&J que reduzisse o preço.

Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o uso oral da bedaquilina como a base do tratamento contra TB-DR, para substituir medicamentos mais antigos, mais tóxicos e que requerem doses injetáveis diariamente que podem causar efeitos colaterais graves, tais como a surdez. Diante

da pandemia de COVID-19, a OMS também aconselhou os países a tratar pessoas com TB-DR na segurança de suas casas, usando tratamentos orais, incluindo bedaquilina, no lugar de injeções, que obrigam as pessoas a se deslocarem até as clínicas. O tratamento mais antigo e mais longo com DR-TB, usado por muitos países até agora, exige que as pessoas tomem até 14 mil comprimidos ao longo de quase dois anos, junto com injeções dolorosas diárias por até oito meses.

“À medida que o mundo se recupera da pandemia de COVID-19, o acesso ao tratamento com bedaquilina é uma necessidade nesse momento para pessoas com TB-DR", disse a médica Pilar Ustero, conselheira para tratamento de tuberculose da Campanha de Acesso de MSF. “Não apenas os medicamentos mais antigos que precisam ser injetados são dolorosos e podem causar efeitos colaterais graves, como também exigem que as pessoas se desloquem para instalações de saúde todos os dias, colocando-as em maior risco de infecção por COVID-19. Com um preço reduzido, os governos devem aumentar urgentemente o uso da bedaquilina como parte essencial dos tratamentos orais de TB-DR. Não vamos perder um minuto para por fim ao sofrimento das pessoas com TB-DR.”

O preço da bedaquilina cobrado pela J&J permaneceu como uma grande barreira para os países que vem ampliando esse tratamento capaz de salvar vidas, especialmente ao considerar que a bedaquilina é apenas um dos muitos medicamentos necessários para o tratamento de pessoas com TB-DR. MSF argumenta que a farmacêutica recebeu financiamentos substanciais por parte de contribuintes dos Estados Unidos (EUA) e de outros países, além de organizações não-governamentais, para realizar a pesquisa e o desenvolvimento do medicamento. MSF e outras instituições pediram que a companhia reduzisse o preço e aumentasse o acesso das pessoas ao tratamento. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Liverpool mostrou que a bedaquilina poderia ser produzida e vendida com lucro por apenas US$ 0,25 por dia (cerca de R$ 1,35).

“A J&J não desenvolveu esse medicamento sozinha"disse Sharonann Lynch, consultora sênior para o tratamento de HIV e TB da Campanha de Acesso de MSF. “A bedaquilina foi desenvolvida com apoio considerável de contribuintes, com apoio de instituições sem fins lucrativos e filantrópicas. A J&J recebeu investimentos públicos da ordem de centenas de milhões de dólares, incluindo doações do governo dos EUA e vários outros incentivos financeiros, além de prestadores de serviços de saúde como MSF que contribuíram para a pesquisa e desenvolvimento do medicamento. A J&J não deveria cobrar preços altos por ele em lugar algum.”

O preço anunciado hoje é 32% menor que o preço que já era oferecido a um valor mais baixo para uma lista de países indicada pela J&J e vinculado a compromissos de compra feito por meio do Global Drug Facility (GDF), uma organização administrada pela Stop TB Partnership que fornece medicamentos para tratamento de pessoas com tuberculose nos países de baixa e média renda. Os que não compram da GDF não são elegíveis ao preço mais baixo e continuam pagando valores mais altos cobrados pela J&J ou pelo seu parceiro comercial russo Pharmstandard, que destina o produto para um número de países da Comunidade de Estados Independentes. Um exemplo é o caso da Federação Russa, que paga mais de US$ 8 (ou cerca de R$ 43) por dia pela bedaquilina, preço que é significativamente mais alto do que está disponível agora para os países elegíveis ao preço reduzido de US$ 1,50 por dia (o equivalente a R$ 8).

MSF pediu à J&J que reduzisse ainda mais o preço e oferecesse o medicamento a um valor mais baixo a todos os países que possuem número elevado de pessoas com TB-DR, para que mais vidas possam ser salvas.

Atualmente, a J&J é o único fabricante de bedaquilina e patenteou o medicamento na maioria dos países, controlando o preço pelo qual é vendido. O monopólio da J&J impede que outros fabricantes na Índia e em outros lugares produzam e forneçam versões genéricas mais acessíveis. Embora a

patente da empresa sobre o composto bedaquilina expire em 2023, a substância está registrada como uma patente evergreening, o que possibilita registrar patentes adicionais estendendo, assim, o monopólio do medicamento para 2027 em muitos países afetados pela tuberculose. Os fabricantes de genéricos dizem que são capazes de produzir versões mais acessíveis a partir de 2021, mas estão impedidos de entrar no mercado pelos direitos de propriedade industrial da J&J. MSF pede à farmacêutica que não imponha patentes à bedaquilina e que interrompa as estratégias para prolongar o monopólio sobre o medicamento por meio de extensões desses direitos de exclusividade, que atrasariam ainda mais a disponibilidade de versões genéricas do medicamento com garantia de qualidade.

“Protestamos do lado de fora da sede global da J&J e de seus escritórios em todo o mundo, ao lado de pessoas que sobreviveram à tuberculose e ao tratamento doloroso e árduo, instando a corporação a reduzir o preço desse medicamento que salva vidas", disse Lara Dovifat, especialista da Campanha de Acesso e Advocacy de MSF. “Enquanto esperamos ansiosamente que versões genéricas mais acessíveis da bedaquilina sejam disponibilizadas, queremos instar os governos a garantir que as pessoas com TB-DR obtenham o melhor tratamento possível hoje, e a redução de preços atual é uma etapa útil.”

 

Bedaquilina não é oferecida pelo SUS

No Brasil, a bedaquilina ainda não é oferecida no sistema público de saúde (SUS), apesar de o país ser o campeão de casos de tuberculose entre os países americanos e o segundo mais afetado pela forma resistente doença em todo continente. A bedaquilina ainda está em processo para ser incorporada ao sistema de saúde brasileiro pelo governo, após atrasos no cronograma.

De acordo com o documento apresentado pelo órgão responsável pela incorporação do medicamento no SUS, o preço proposto para a compra da bedaquilina pelo governo brasileiro é de US$ 400 (equivalente a R$ 2,1 mil), relativo ao tratamento por seis meses por pessoa, o que dá US$ 2,10 (R$ 11,25) por comprimido. Em outubro de 2019, MSF e outros 100 manifestantes se reuniram em frente à sede da J&J no Brasil pedindo o preço de US$ 1 por comprimido, para que a oferta do medicamento seja viável no país por meio do SUS.

A quantidade de pessoas afetadas pela forma resistente da tuberculose no Brasil ainda é incerta e há informações de subnotificação dos casos. Além disso, a pandemia de COVID-19 tem afetado estratégias importantes de combate à tuberculose como o tratamento supervisionado e diagnóstico precoce, o que aumenta a probabilidade de crescimento do número de casos da forma resistente da doença e que pode gerar uma maior demanda pela bedaquilina no país.

Em maio deste ano, organizações da sociedade civil ligadas ao Grupo de Trabalho em Propriedade Intelectual (GTPI), organizado no Brasil, apresentaram um documento de oposição a um pedido de patente para a bedaquilina. O objetivo da ação é impedir o aumento do prazo de monopólio da empresa J&J, que, mesmo já possuindo uma patente aprovada no país, fez sete pedidos adicionais para estender a exclusividade de mercado até 2036.

 

Há 30 anos tratando tuberculose

MSF é a organização não-governamental que mais trata pessoas com tuberculose no mundo e oferece o tratamento para a doença há 30 anos, trabalhando frequentemente com autoridades nacionais de saúde para tratar pessoas em ampla variedade de contextos, incluindo zonas de conflito permanente, favelas, prisões, campos de refugiados e áreas remotas. Em setembro de 2019, em projetos de MSF em 14 países, mais de 2 mil pessoas tiveram acesso ao tratamento com os medicamentos mais novos: 429 delas fizeram uso de delamanid (o único outro novo medicamento para tuberculose desenvolvido há mais de 40 anos) e 1.517 utilizaram bedaquilina. No total, 429 fizeram uso de ambos. Globalmente, estima-se que 484 mil pessoas tenham desenvolvido a forma resistente da tuberculose (DR-TB) em 2018, mas apenas 32% foram tratadas.

 

Sobre Médicos Sem Fronteiras

Médicos Sem Fronteiras é uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por conflitos armados, desastres naturais, epidemias, desnutrição ou sem nenhum acesso à assistência médica. Oferece ajuda exclusivamente com base na necessidade das populações atendidas, sem discriminação de raça, religião ou convicção política e de forma independente de poderes políticos e econômicos. Também é missão da MSF chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelas pessoas atendidas em seus projetos. Para saber mais acesse o site de MSF-Brasil.

Relatório do Unaids indica que meta de redução de mortes não será cumprida em 2020. Preocupação é que a pandemia dificulte acesso a medicamentos cause interrupção de tratamentos.

RIO DE JANEIRO/RJ - O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e AIDS (UNAIDS) divulgou hoje o Relatório Global de Atualização de AIDS para 2020. O documento mostra que o mundo não vai conseguir cumprir metas críticas para 2020, incluindo a redução de 50% das mortes relacionadas ao HIV entre 2015 e o final de 2020. Este objetivo, entre outros, foi acordado por todos os Estados Membros da ONU na Declaração Política de 2016 sobre HIV e AIDS.

De acordo com o UNAIDS, 690 mil pessoas morreram de causas relacionadas ao HIV em 2019. Ainda que o número seja o mais baixo desde 1993, ainda é alto demais e significa que o mundo não está no caminho certo para cumprir a meta de 2020. A cobertura do tratamento também é muito baixa. Até o final de 2019, 67% das pessoas (25,4 milhões) que precisam de tratamento com antirretrovirais (ARVs) tinham acesso aos medicamentos. Isso deixa uma lacuna de 12,6 milhões de pessoas vivendo com HIV que ainda precisam de tratamento e não têm acesso a ele.

A organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) ressalta a importância de programas e políticas públicas para reduzir o número de infecções por HIV e comorbidades relacionadas ao retrovírus, especialmente em meio à pandemia de COVID-19. Assim, MSF se juntou ao UNAIDS para instar os países a implementarem práticas para reduzir o impacto da COVID-19 nos serviços de tratamento do HIV, incluindo maneiras de fornecer às pessoas com o retrovírus condições de continuar o tratamento por vários meses, reduzindo assim o número de deslocamentos necessários às unidades de saúde.

Apesar das promessas, o mundo falhará no compromisso de reduzir as mortes por HIV até o final de 2020. O custo de não cumprir esses compromissos está evidenciado nestas 820 mil mortes adicionais desnecessárias, de acordo com o UNAIDS”, lamentou o médico Eric Goemaere, Coordenador da Unidade de HIV/TB e líder do projeto de COVID-19 de MSF na África do Sul. “O que esses números nos dizem é que as mortes relacionadas ao HIV não estão diminuindo rápido o suficiente, mesmo antes da COVID-19. ”

Segundo o médico, a COVID-19 ameaça causar interrupções nos tratamentos de pacientes com HIV. “Agora, tememos que, com qualquer interrupção nos atendimentos de pacientes de HIV devido à pandemia, mais vidas sejam perdidas. Não podemos nos dar ao luxo de voltar atrás na epidemia de HIV/AIDS à luz da pandemia de COVID-19”, ressaltou.

O relatório também mostra evidências crescentes vindas da África Subsaariana de que pessoas vivendo com HIV e pessoas com tuberculose correm maior risco de serem infectadas e de morrer pelo novo coronavírus. O UNAIDS também alertou para as implicações das interrupções nos serviços de assistência a pessoas com HIV como consequência da COVID-19.

“Estamos muito atrasados em enfrentar adequadamente o número inaceitável de mortes de pessoas vivendo com HIV”, explicou Goemaere. “Devemos fazer todo o possível para redobrar nossos esforços, continuar a ampliar o tratamento contra o HIV e manter os ganhos e as vidas salvas com tanto esforço. Não podemos nos arriscar a retroceder, pois o progresso até o momento é precioso demais para não ser preservado.”

Sobre Médicos Sem Fronteiras

Médicos Sem Fronteiras é uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por conflitos armados, desastres naturais, epidemias, desnutrição ou sem nenhum acesso à assistência médica. Oferece ajuda exclusivamente com base na necessidade das populações atendidas, sem discriminação de raça, religião ou convicção política e de forma independente de poderes políticos e econômicos. Também é missão da MSF chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelas pessoas atendidas em seus projetos. Para saber mais visite o site de MSF-Brasil.

Apoio ao hospital regional e atividades para comunidades ribeirinhas estão entre as ações da organização

TEFÉ/AM - A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) começou atividades no combate à pandemia de COVID-19 em Tefé, cidade no estado do Amazonas. A cidade fica a 1 dia e meio de barco da capital, Manaus, e é um importante ponto de referência para a região do Médio Rio Solimões. O hospital regional de Tefé recebe pacientes de pelo menos cinco municípios ao seu redor e está sendo apoiado por MSF com treinamentos para seus profissionais e na adaptação da estrutura para implementar medidas de prevenção e controle de infecções. Esses cuidados são fundamentais para evitar que profissionais de saúde e pacientes com outras doenças contraiam o novo coronavírus. MSF trabalha em Tefé em parceria com a prefeitura e a secretaria municipal de saúde, das quais recebeu apoio desde o primeiro momento em se ofereceu para ajudar no combate à pandemia no município.

No Amazonas, os primeiros casos de pessoas com COVID-19 foram identificados em Manaus, mas a pandemia logo se espalhou para o interior, seguindo a calha dos rios, que servem de principal meio de ligação entre a capital e o interior do estado. Agora, a maior preocupação é que a doença chegue até comunidades ribeirinhas mais remotas e mesmo comunidades indígenas isoladas dentro da floresta amazônica.

A COVID-19 parece estar se espalhando de forma silenciosa para o interior do país. Sem uma metodologia apropriada para a testagem, que nos permita identificar e isolar os casos positivos, é muito difícil impedir a propagação da doença. Além disso, a falta de acesso a cuidados de saúde nessas áreas mais remotas faz com que não seja possível ter uma imagem completa para avaliar de forma adequada a situação, o que é fundamental para oferecer tratamento a quem precisa em tempo oportuno”, diz Dounia Dekhili, coordenadora-geral dos projetos de MSF no Brasil. Sem um panorama claro da evolução da doença, é muito difícil prever as atividades com alguma antecedência.

O descumprimento de medidas de isolamento é outro grande problema. Mesmo durante o período de lockdown que foi instituído em Tefé, era possível ver grande movimento durante o dia no centro da cidade. Além de contribuir para a propagação do novo coronavírus, a retomada precoce das atividades sobrecarrega os hospitais por diferentes motivos. Por um lado, pessoas que tinham medo de buscar atendimento para outros problemas que não a COVID-19 – para doenças crônicas como hipertensão e diabetes, por exemplo – finalmente saem de casa para procurar ajuda. Por outro lado, o número de acidentes de trabalho e de trânsito sobem novamente, voltando às taxas anteriores à pandemia. A médica de MSF Monica Dhand estava trabalhando nos Estados Unidos antes de se juntar ao projeto na Amazônia e traça um paralelo com o que viu em seu país. “Quando os casos de COVID-19 começaram a diminuir e as pessoas passaram a retomar suas atividades habituais, vimos um aumento no número de acidentes, por exemplo. Lidar com esses quadros, ao mesmo tempo em que ainda temos pacientes internados com o novo coronavírus, gerou uma dificuldade a mais. Estamos vendo agora o mesmo cenário em Tefé”, conta a médica, que coordena a equipe de MSF que irá apoiar o hospital regional da cidade.

Para alcançar as comunidades mais afastadas, profissionais de MSF estão também trabalhando com a unidade básica de saúde fluvial, uma embarcação que viaja por semanas pelo rio Solimões levando atendimento médico à população ribeirinha. A equipe da organização se uniu aos profissionais da secretaria municipal de saúde (SEMSA). Reconhecendo a importância de proteger essas comunidades de doenças como a COVID-19, o objetivo é apoiar esses profissionais com as melhores práticas de controle e prevenção de infecções, assim como promoção de saúde, enquanto dão assistência médica à população que vive em áreas onde não há postos de saúde em terra. “As atividades da UBS fluvial estão sendo retomadas agora, depois de três semanas paradas por conta da pandemia. Nossa equipe irá trabalhar justamente para que o atendimento médico tão necessário seja feito seguindo todos os protocolos de prevenção para proteger tanto as pessoas atendidas como os profissionais de saúde”, explicou José Lobo, coordenador do projeto de MSF em Tefé.

No Amazonas, MSF também tem atividades de prevenção e combate à COVID-19 em São Gabriel da Cachoeira e em Manaus. Com a diminuição de casos da doença na capital do estado, MSF vem reduzindo suas atividades na cidade e focando seus esforços no interior do Amazonas. A organização também está atuando em resposta a pandemia nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Roraima.

 

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