Conteúdo elaborado pela Redação Urban Systems.
Os mercados imobiliário, turístico e da construção civil buscam soluções de adaptação a esse novo momento econômico e social mundial.
SÃO PAULO/SP - O ano de 2020 começou em meio a um grande otimismo no mercado e sinais claros de crescimento em diversas áreas. Juros e inflação em baixa, retomada do emprego, e a provável aceleração da economia levaram os investidores a buscar novas e mais ousadas opções de investimento. Entre os destaques estavam os mercados de construção civil – grande gerador de empregos-, o imobiliário e o turístico. No entanto, em pouquíssimo tempo esse cenário mudou completamente com o surgimento dos primeiros casos de contaminação pelo novo Coronavírus (COVID-19) no Brasil.
Após o registro dos primeiros casos do novo Coronavírus em Wuhan, China, no final de 2019, o número de pessoas contaminadas aumentou exponencialmente e hoje são cerca de 152 países afetados. No dia 25 de fevereiro o Brasil registrou seu primeiro caso e no dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) caracterizou oficialmente a COVID-19 como uma pandemia, elevando a emergência de saúde ao seu nível mais alto e acarretando consequências em diversos setores da economia mundial.
O Brasil vive agora um momento de incerteza e lida com uma situação inédita. O aumento exponencial de casos no País levou os governos – principalmente estaduais e municipais – a tomarem medidas de isolamento para conter o vírus que impactam diretamente na economia, na rotina e na realidade do mercado. Com isso as empresas, associações e representantes de diversas áreas da economia buscam soluções para minimizar o impacto desse momento sem precedentes na história moderna do Brasil e do mundo.
Aprender com as experiências internacionais
Para Thomaz Assumpção, CEO da Urban Systems, o Brasil tem a possibilidade de aprender e adaptar soluções utilizadas em outros países do mundo que iniciaram o enfrentamento da pandemia antes. “A situação é extremamente inusitada, pois estamos diante de uma crise de amplitude planetária e sistêmica, onde temos uma serie de atores agindo simultaneamente nesse processo que no final das contas vai gerar uma desaceleração da economia mundial. Temos o problema da saúde, da logística, alimentação, do confinamento das pessoas que modifica totalmente o ciclo de consumo. É preciso lidar de forma equilibrada com esses fatores, considerando a experiência dos outros países para tomar atitudes corretivas e enfrentar o momento crítico dos próximos meses” comenta.
Assumpção destaca também a expectativa da população por medidas que irão impactar na economia e, consequentemente, no mercado imobiliário. “Tudo o que a economia movimenta acaba resultando em um produto imobiliário no tecido urbano. Daí a importância do setor da construção civil em ajudar na reposição econômica desse período recessivo”.
Construção Civil
Em São Paulo, maior mercado imobiliário nacional, o setor de construção civil está se preparando para esse novo cenário. As preocupações estão focadas, principalmente, com os rumos do segmento de média renda – muito afetado pelos indicadores macroeconômicos – e com o ritmo de liberação de licenças para os projetos imobiliários. Já as incorporadoras estão mais cautelosas na aquisição de terrenos e, conforme o desenrolar dos acontecimentos, poderão postergar lançamentos. Por enquanto, o ritmo de vendas está mantido.
A paralisação de obras era uma das maiores preocupações do setor. Porém, no Estado de São Paulo e na capital paulista, as obras poderão seguir normalmente, por enquanto. Dessa forma, os canteiros de obras poderão continuar funcionando, observadas as disposições sobre prevenção ao Coronavírus recomendados pelos sindicatos e entidades de classe e pelo Ministério da Saúde*.
Em entrevista coletiva à imprensa em 23 de março, o governador João Doria reforçou a necessidade de funcionamento das fábricas e da construção civil no Estado. “Sigam os critérios sanitários que estamos determinando. Mas não podemos ter paralisação do setor nem mesmo em obras. As obras do metrô, de prontos-socorros e de hospitais, de rodovias e de ferrovias, obras que estão em curso e que atendem a necessidade da população, assim como obras de recuperação necessárias ao perfeito funcionamento de municípios e obras de manutenção, não podem ser interrompidas”. O governador defendeu que borracharias e oficinas mecânicas estejam abertas durante esse período para atender, principalmente, os carros das áreas de segurança e ambulâncias.
O SindusCon-SP (Sindicato da Construção Civil)*, por meio de seu presidente, Odair Senra, elaborou uma série de sugestões que as empresas podem adotar de imediato em relação à empresa e seus canteiros de obra. Para os canteiros, sugere-se limitar o número de pessoas trafegando nos elevadores fechados (até 2 colaboradores) e nas cremalheiras (até 4); aumentar o número de turnos no café da manhã, no almoço e nos banhos, para evitar aglomerações; orientar os funcionários a higienizarem com frequência as mãos e os EPIs, entre outras.
Lançamentos
O jornal Valor Econômico*, de São Paulo (SP), destacou em sua edição do dia 20 de março, que a retomada de lançamentos, no mercado paulistano, iniciada no quarto trimestre de 2018, está suspensa por enquanto. Até o dia 5 de abril, o acesso ao público nos estabelecimentos comerciais de São Paulo, incluindo estandes de vendas de imóveis, está interrompido, conforme decreto do prefeito da capital paulista, Bruno Covas (e se estende até o dia 7 de abril, considerando o Estado de Quarentena do Governo do Estado). Dessa forma, sem plantões de vendas abertos ao público, não faz sentido para as incorporadoras manterem seu calendário de lançamentos.
Muitas incorporadoras apostam no atendimento virtual e focam no adiamento dos lançamentos, não o cancelamento. Para o presidente do Secovi-SP (Sindicato da Habitação), Basílio Jafet, como o setor é de longo prazo, mesmo que possa haver adiamento da compra do imóvel, devido à disseminação do Coronavírus, “é provável” que a aquisição seja feita.
Segundo o Secovi-SP, ainda não houve alterações no ritmo de comercialização de unidades novas nem na taxa de conversão de vendas no mercado paulistano. “É prematuro rever projeções para o ano. Não sabemos se estamos no início ou no auge da questão do Coronavírus. O grau de incerteza é muito grande”, comenta Jafet.
Em nota ao Jornal Valor Econômico, a MRV – maior incorporadora do País – informou que os lançamentos seguem os cronogramas e que as vendas têm sido realizadas “de maneira individual, com agendamentos, para evitar aglomeração”. “As obras estão funcionando, os colaboradores do grupo de risco foram afastados, e há monitoramento diário dos demais profissionais, mitigando eventuais riscos, mesmo que o trabalho seja realizado ao ar livre e com baixíssimo adensamento”. O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP)*, Odair Senra, também garantiu que o ritmo de obras prossegue normalmente.
Os presidentes da Abrainc* (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), Luiz França, da CBIC* (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), José Carlos Martins, e do Sintracon* (Sindicato dos Trabalhadores nas Industrias da Construção Civil de São Paulo), Antonio de Sousa Ramalho, também debateram na CNN Brasil* sobre os impactos da crise do Covid-19 na construção civil e reafirmaram a importância da não paralisação das obras, sobretudo reforçando os cuidados com a saúde dos trabalhadores.
Perspectivas
A Adit – Brasil* (Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil) divulgou, no último dia 25 de março, estudo sobre os impactos do novo coronavírus nos mercados imobiliário e turístico. O estudo apontou que 26% das empresas possui saldo de caixa para cobrir custos fixos por mais de 6 meses a partir de abril. Exatos 54% do mercado possui caixa até 3 meses. Entre os resultados obtidos, 53% dos entrevistados afirmaram acreditar que a recuperação econômica do mercado imobiliário deve levar de 6 a 12 meses.
Em relação à estratégia de investimentos, cerca de 60% dos entrevistados pretende mudar totalmente de estratégia, enquanto outros 29% pretendem manter ou mudar minimamente os investimentos previstos antes da pandemia.
Thomaz Assumpção, CEO da Urban Systems, destaca que os investidores e as empresas estão em compasso de espera. “O momento exige calma e atenção para minimizar as consequências. Ainda é muito cedo para entender quais serão os reflexos reais de toda essa situação. É importante aguardar os próximos passos dos governos em relação às medidas restritivas e de recuperação econômica e que essas ações possam orientar a tomada de uma solução integrada entre os diversos setores da sociedade de maneira que o dinheiro possa fluir para onde é necessário no atual momento. Ou seja, agora o foco é saúde, em seguida a logística e infraestrutura, depois para a economia da construção como um todo”.
Assumpção acredita que as próximas semanas serão bastante significativas para o entendimento do que nos espera no futuro. “Nas próximas semanas poderemos entender o resultado do confinamento – que parece estar se mostrando uma solução para achatar a curva de transmissão do vírus – e se teremos condições de oferecer atendimento a todos que precisam. Assim que atravessarmos esse pico de contaminação e entendermos qual será a dimensão do grau de contaminação que o Brasil irá enfrentar, teremos um vislumbre de interrupção da quarentena ou de uma quarentena segmentada, para que depois possamos entrar em uma nova movimentação da economia e de toda a sua cadeia produtiva”, conclui.
*Fontes: