EGITO - Em um pleito sem surpresas, o ditador do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, conquistou a reeleição para a liderança do país africano e abriu as portas para ficar mais seis anos no cargo em que está há quase uma década. A eleição, na qual recaem suspeitas de irregularidades, não contou com opositores competitivos.
O presidente da Autoridade Eleitoral egípcia, Hazem Badawy, afirmou na segunda-feira (18) que o ditador teve 89,6% dos votos em um pleito com uma participação "sem precedentes" que abarcou 66,8% dos 67 milhões de eleitores. Mais de 39 milhões teriam votado no líder, de acordo com dados oficiais que não puderam ser confirmados.
Sisi enfrentou três rivais relativamente desconhecidos: Hazem Omar (do Partido Republicano do Povo, que ficou em segundo com 4,5% dos votos), Farid Zahran (líder do Partido Social-Democrata Egípcio, uma legenda de esquerda) e Abdel Sanad Yamama (do partido centenário Wafd).
O mais notório, o ex-deputado de esquerda e jornalista Ahmed el-Tantawy, interrompeu sua candidatura em outubro após alegar que autoridades e infratores pró-regime prenderam dezenas dos seus apoiadores, inviabilizando eventos de campanha -acusações rejeitadas pela autoridade eleitoral nacional.
Por isso, o pleito é visto como uma farsa por críticos do regime.
"Não houve eleições. Sisi usou todo o aparato estatal e as agências de segurança para impedir qualquer concorrente sério de se candidatar" disse, Hossam Bahgat, chefe da Iniciativa Egípcia para os Direitos Pessoais. "Assim como da última vez, ele escolheu a dedo seus oponentes, que apenas passaram pela formalidade de concorrer contra o presidente com críticas contidas ou quase nulas às suas políticas desastrosas."
O órgão de mídia estatal do Egito, por sua vez, disse que a votação foi um passo em direção ao pluralismo político, enquanto as autoridades negaram violações das regras eleitorais. Durante o pleito, entre 10 e 12 de dezembro, repórteres da agência de notícias Reuters viram pessoas sendo levadas de ônibus para votar, e um deles presenciou a distribuição de sacos com farinha, arroz e outros produtos básicos a pessoas que mostravam manchas de tinta nos dedos -a prova de que haviam votado.
Sisi foi um dos mentores do golpe que derrubou o governo do então presidente Mohamed Mursi, primeiro chefe de Estado egípcio eleito democraticamente, em 2013, após a Primavera Árabe. No ano seguinte, ele se declarou presidente com cerca de 92% dos votos -o pleito restringiu a oposição, e a sigla de Mursi, a Irmandade Muçulmana, tornou-se ilegal posteriormente.
Em 2019, a constituição foi alterada e estendeu o mandato presidencial para seis anos, em vez de quatro, permitindo que Sisi se candidatasse pela terceira vez.
Nos últimos anos a derrocada democrática foi somada à crise econômica, que tornou a inflação parte do cotidiano do país, e, mais recentemente, à instabilidade regional decorrente da guerra na Faixa de Gaza -território vizinho do Egito.
O conflito motivou alguns dos eleitores a votar em Sisi, que há muito se apresenta como um baluarte de estabilidade em uma região volátil. O argumento, aliás, também se mostrou eficaz com aliados do Golfo e do Ocidente, que fornecem apoio financeiro ao seu regime.
"Os egípcios se alinharam para votar não apenas para escolher seu presidente para o próximo mandato, mas para expressar sua rejeição a essa guerra desumana para o mundo inteiro", discursou o ditador logo após o anúncio dos resultados. Ele afirmou ainda que o Egito faria o possível para interromper a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, que lidera Gaza.
O bombardeio de Israel na densa região devastou o território palestino e deixou a a maioria da população desabrigada. O Egito, porém, já advertiu que não permitirá qualquer êxodo.
A população de 104 milhões de habitantes do Egito, que está crescendo rapidamente, luta contra preços altos e outras pressões econômicas, embora a inflação anual tenha diminuído ligeiramente dos níveis recordes, atingindo 34,6% em novembro. Mesmo assim, os egípcios lidam com a escassez de produtos básicos como ovo, carne e leite.
Alguns alegam que apenas Sisi e o Exército podem fornecer segurança, embora lamentem a realidade econômica do país. Outros reclamam que o Estado priorizou megaprojetos enquanto assumia mais dívidas -desde 2018, por exemplo, o regime se dedica à construção de uma nova capital no deserto.
"Renovo meu pacto com vocês para juntos fazermos todo o esforço para continuar construindo a nova república, que esperamos erguer de acordo com uma visão compartilhada", disse Sisi em um discurso transmitido pela televisão estatal.