Apesar de ter sido definido em 2005 que Libras estivesse nas escolas, só em agosto de 2021, uma alteração na Lei de Diretrizes e Bases garantiu a educação bilíngue como uma modalidade de ensino, de forma transversal, desde o ensino infantil até o nível superior. "Libras deve estar no currículo e nas práticas de ensino. Isso faz com que a gente, de fato, tenha que adequar a realidade escolar ao currículo bilíngue. Na própria Lei Brasileira de Inclusão, há indicativos da necessidade de promover acessibilidade comunicacional, com urgência, nos mais variados espaços sociais e em especial na esfera educacional", diz a professora Vanessa de Oliveira Martins, docente do Departamento de Psicologia e coordenadora da especialização
Para a especialista, o maior problema na educação dos surdos é justamente a falta de profissionais qualificados para orientar as escolas quanto ao direcionamento dos estudantes. "Muitos surdos adultos lembram com tristeza da escola, pois passaram por ela sem aprender, provavelmente porque o professor não foi capacitado com os métodos necessários. Uma criança surda precisa adquirir o aprendizado em Libras e depois ser letrada em Língua Portuguesa para poder correlacionar. As escolas devem se adaptar e isso passa, principalmente, pela formação dos educadores. Os docentes têm que conhecer muito bem a estrutura de Libras. Existe a necessidade de uma formação continuada e a especialização atende essa demanda que é e urgente", ressalta a professora.
A pós-graduação da UFSCar conta com duas ênfases, em "Docência bilíngue na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental" e em "Tradução e Interpretação na Educação Básica". No primeiro ano do curso, é abordado o conteúdo básico relacionado a Libras, com disciplinas que compõem o eixo de teorias educacionais e de pesquisa. Já no segundo ano, ocorre a divisão das turmas por ênfase, com matérias específicas de acordo com a área de formação. Para optar pela ênfase 1 é preciso ser licenciado em Pedagogia ou Educação Especial. Já para a ênfase 2 é necessário licenciatura ou bacharelado em qualquer área e alguma prática comprovada como tradutor e intérprete de Libras em qualquer contexto de atuação. "A ênfase 2 forma intérpretes para produzir material didático, trazendo o conteúdo em Libras, que é a primeira língua da comunidade surda. O profissional precisa estar capacitado para a alfabetização de um surdo, o que demanda o preparo e materiais didáticos específicos. Queremos formar bons professores e bons intérpretes", destaca a docente.
O Curso de Especialização a Distância (EaD) de Educação de Surdos em Abordagem Bilíngue (Libras/Língua Portuguesa) da UFSCar aborda legislação, a história da educação dos surdos, o papel da escola, além dos desafios educacionais. A educação e o currículo bilíngue, a produção de instrumentos de avaliação e a expressão facial e corporal também são tratadas. A grade curricular ainda traz os prejuízos da aquisição tardia da linguagem, o papel da cultura nos processos de aquisição e desenvolvimento da linguagem e pensamento, assim como conteúdos relacionados a como usar equipamentos eletrônicos e mídias para a construção de materiais acessíveis. "Existem surdos, que são filhos de surdos, surdos filhos de ouvintes, ouvintes filhos de surdos e a especialização também ensina a lidar com essas diferentes situações", relata a professora Vanessa.
As aulas começam no dia 1º de junho. A formação pedagógica é voltada para todas as áreas e não oferece um conteúdo específico em Libras. Sendo assim, é preciso ter conhecimento introdutório na língua para o ingresso. O formulário de inscrição, as formas de pagamento e mais informações estão disponíveis em www.educasurdos.faiufscar.com.