De acordo com o médico e pesquisador especialista em mindfulness, Marcelo Demarzo, a profissão é uma das mais propícias ao desenvolvimento da síndrome de burnout.
SÃO PAULO/SP - A mudança causada pela pandemia do novo coronavírus trouxe impactos significativos para a educação e, especialmente, para os professores que precisaram se adaptar para aplicar os conteúdos virtualmente de suas casas.
Em junho, o portal sem fins lucrativos Nova Escola divulgou a pesquisa ‘A situação dos professores no Brasil durante a pandemia’, que contou com mais de 8,1 mil respondentes da Educação Básica. Destes, apenas 8% declararam se sentir ótimos ao comparar sua saúde emocional com o período pré-pandemia. Outros 28% a consideraram péssima ou ruim neste momento e 30% classificam como razoável.
De acordo com a pesquisa, entre os termos mais utilizados pelos professores para descrever a situação aparecem: ansiedade, cansaço, estresse, preocupação, insegurança, medo, cobrança e angústia.
Segundo o médico e pesquisador especialista em mindfulness, Marcelo Demarzo, esses sentimentos associados à exaustão emocional, despersonalização (sensação de estranhamento ou “separação” de si mesmo) e sensação de falta de eficácia ou realização pessoal são característicos da síndrome de burnout (esgotamento profissional).
“A exposição ao estresse tem impacto negativo não só nos professores, mas também indiretamente nos estudantes, pois piora as relações interpessoais e prejudica o aprendizado. Esse impacto advém da diminuição da atenção e concentração, aumento das taxas de erros, dificuldade de se tomar decisões e redução da capacidade de estabelecer relações sólidas e funcionais com os estudantes”, explicou.
Mindfulness para professores
Um estudo de 2019 mostrou que o maior nível de atenção plena (mindfulness) dos professores é um fator de proteção contra o estresse proveniente da carga de trabalho, influenciando positivamente também o senso de propósito em relação à profissão e prevenindo o esgotamento.
“A prática proporciona a diminuição de sintomas de ansiedade, depressão e burnout, além da melhora da empatia e da comunicação com outros professores e estudantes, da qualidade de vida e bem-estar em geral”, disse.
Já em relação aos efeitos da prática para a atividade laboral, a atenção plena também proporciona aumento da criatividade e melhora da performance e aspectos de liderança.
Como praticar
Para os professores que ainda estão começando a ter interesse no tema, um exercício simples é o chamado de ‘3 passos ou 3 minutos de mindfulness’.
“Essa prática pode ser usada ao longo do dia para se treinar a habilidade de pequenas pausas de consciência, como também em momentos mais desafiadores como reuniões ou conversas difíceis com colegas de trabalho ou estudantes”, disse o especialista.
Para os que querem entender e se aprofundar no assunto, o Centro Mente Aberta – pioneiro em pesquisas e aplicações de mindfulness – oferece cursos baseados em diversos protocolos eficazes para o desenvolvimento do mindfulness. Acesse mindfulnessbrasil.com e saiba mais.
O que é Mindfulness?
Mindfulness é um dos estados da mente, acessível a qualquer indivíduo, que consiste em um exercício de querer vivenciar o momento presente, intencionalmente, aceitando a experiência.
Em mindfulness, o sentido correto de aceitação é o de se olhar a realidade como ela realmente é, sem julga-la ou reagir a ela no "piloto automático".
Com a prática regular, o processo torna-se mais natural, sendo possível permanecer nesse estado em grande parte do tempo e aumentar a qualidade de vida do indivíduo.
Embora muitos dos termos e técnicas tenham origem nas tradições orientais, o mindfulness hoje em dia é considerado uma prática laica (secular, não-religiosa), com sólida base científica.
Quem é Marcelo Demarzo?
É médico especialista em Mindfulness para adultos e crianças, com treinamentos na Inglaterra (Mindfulness in Schools Project, em Londres; Oxford Mindfulness Centre, na Universidade de Oxford; e Instituto Breathworks, em Manchester), e nos EUA (Center for Mindfulness in Medicine, Health Care, and Society, na Universidade de Massachusetts).
Fez pós-doutorado em Mindfulness e Promoção da Saúde na Universidade de Zaragoza, na Espanha, e diversos cursos de aprofundamento nas tradições contemplativas e meditativas, incluindo a Psicologia Budista e Tibetana em Dharamsala, na Índia.
Junto com o professor Javier Garcia-Campayo, da Universidade de Zaragoza, desenvolveu a Terapia de Compaixão Baseada em Estilos de Apego (Attachment-Based Compassion Therapy).
É fundador e atual coordenador do Mente Aberta (www.mindfulnessbrasil.com), referência nacional e internacional nos programas e pesquisas sobre Mindfulness.
Referências:
- Pesquisa ‘A situação dos professores no Brasil durante a pandemia’ (Disponível em https://lp.novaescola.org.br/l/vLWEcbABF1149)
Can mindfulness mitigate the energy-depleting process and increase job resources to prevent burnout? A study on the mindfulness trait in the school context (Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30947256/)