PERU - O Peru representa um raro exemplo de estabilidade econômica na América Latina. Muitos especialistas até falam de um "milagre econômico peruano" devido ao crescimento sustentado do país nas últimas décadas, apenas interrompido pela pandemia de covid-19.
Embora em amplos setores haja descontentamento com a manutenção das desigualdades, os números macroeconômicos da história recente do Peru são citados como exemplo de sucesso mundo afora.
Uma razão, segundo os especialistas, é a estabilidade da moeda peruana, o sol.
Waldo Mendoza, economista da Pontifícia Universidade Católica do Peru e ex-ministro da Economia do Peru, disse à BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC, que "se observarmos o comportamento do câmbio na América Latina, o do Peru é o menos volátil".
Em outras palavras, a moeda peruana é a que menos vê seu valor flutuar em relação à moeda de referência, o dólar americano, e não apresenta tendência a desvalorizações acentuadas em momentos econômicos adversos típicos de outras economias da região.
Neste ano, o comportamento dessa divisa até agora parece embasar a afirmação de Mendoza.
Segundo o ranking de moedas elaborado pela agência Bloomberg, o sol é a segunda moeda latino-americana que teve melhor desempenho em relação ao dólar em 2022, superada apenas pelo peso uruguaio.
A estabilidade no preço de sua moeda é alcançada graças a uma estratégia do Banco Central do Peru (BCRP) conhecida como "flutuação suja".
Como funciona a "flutuação suja"?
O valor do dólar medido em unidades da moeda local (taxa de câmbio) é um aspecto fundamental na economia, especialmente para países como a América Latina, em que a moeda americana desempenha um papel-chave e é utilizada amplamente.
Em economia, distinguem-se três modelos principais de regime cambial.
Com a taxa de câmbio fixa, o preço da moeda estrangeira permanece constante ao longo do tempo, mas isso requer uma intervenção permanente do banco central no mercado, comprando ou vendendo dólares conforme necessário para regular a oferta e a demanda e, assim, manter a taxa de câmbio no nível desejado.
Poucos lugares aplicam esse modelo. Um caso típico é o do território autônomo chinês de Hong Kong. Na América Latina, a Bolívia ainda o mantém e ele vigorou na Venezuela chavista por anos.
No modelo de câmbio flutuante, a taxa de câmbio flutua livremente, sem intervenção do Banco Central. É o seguido pelos países europeus que compartilham o euro, ou na América Latina, por exemplo, pelo Chile. Isso pode levar a grandes flutuações influenciadas pela situação atual ou fatores econômicos externos.
Por fim, há o modelo de taxa de câmbio flutuante suja que o Peru segue, em que a taxa de câmbio também oscila, mas de forma muito limitada.
A "flutuação suja" também é adotada pelo Banco Central do Brasil (Bacen).
Por que se chama "flutuação suja"?
Devido a uma intervenção também limitada do banco central no mercado. Nas palavras de Mendoza, "o banco central luta contra a corrente no mercado de câmbio. Ele tende a comprar dólares quando a taxa de câmbio cai e tende a vender quando a taxa de câmbio sobe". Dessa forma, é possível manter seu preço relativamente estável.
É um modelo comum em economias emergentes, onde as autoridades o utilizam para proteger suas moedas de grandes flutuações indesejadas.
Algumas das maiores economias de "flutuação suja" incluem, além do Brasil, Índia, Cingapura, Turquia e Indonésia. Nos dois últimos, os bancos centrais intervieram em 2014 e 2015 para apoiar suas respectivas moedas locais.
No Peru, esse modelo tem sido o adotado pelo Banco Central do Peru (BCRP) e os especialistas concordam que ele pode explicar a estabilidade monetária do país dos últimos anos, contrastando notavelmente com o que aconteceu em outros momentos da história, como a hiperinflação do final da década de 1980, que ainda traz lembranças amargas para muitos peruanos.
Quando a "flutuação suja" começou no Peru e como tem sido usada até agora?
O Banco Central do Peru começou a intervir no mercado de câmbio durante a política de estabilização econômica da década de 1990, quando o governo de Alberto Fujimori (1990-2000) realizou uma agressiva reforma econômica liberal.
Quando Fujimori chegou ao poder em 1990, os peruanos viviam sob a hiperinflação herdada do primeiro governo de Alan García (1985-1990), que devorou o poder de compra e a credibilidade da moeda peruana da época, o inti. Em 1991, foi criada uma nova moeda nacional, o novo sol, e estabilizar seu valor tornou-se uma prioridade para o novo governo.
No início, foi implementado um modelo de câmbio fixo, que acabou relaxado. Adotou-se, então, o modelo de taxa de câmbio de flutuação suja, que se mantém até hoje e tem ajudado o sol a enfrentar algumas das turbulências financeiras dos últimos anos.
Nos primeiros anos, foram utilizadas intervenções limitadas e esporádicas, mas a partir de 2002, quando o BCRP adotou sua política de metas de inflação, com o objetivo oficial declarado de manter os níveis de aumento de preços entre 1% e 3%, a flutuação suja acabou implementada.
Os sucessivos presidentes do Banco Central peruano permaneceram fiéis a esse sistema, a ponto de, segundo Mendoza, "não haver nenhum banco central que intervenha mais no mercado de câmbio do que o peruano".
Segundo seu relatório anual, o BCRP interveio em 82% dos dias de 2021 e até agora, em 2022, vendeu US$ 1,8 bilhão em moeda estrangeira para manter o câmbio estável.
Mas o peruano tem algumas particularidades em relação à "flutuação suja" de outros países.
Diego Macera, especialista do Instituto Peruano de Economia e membro do conselho do BCRP, diz à BBC News Mundo que "a diferença mais importante com outros sistemas é que o Peru não tem regras fixas antes da intervenção".
"Nos outros países, foi possível conhecer com mais clareza o momento e a magnitude da intervenção do banco central, o que possibilita a manipulação do sistema. O BCRP tem mais discricionariedade, o que lhe permite ser mais eficaz na redução da volatilidade."
Como o Banco Central do Peru não anuncia com antecedência quando vai intervir no mercado, nem com que intensidade, a incerteza desencoraja os especuladores interessados em "apostar contra" a moeda nacional com manobras de curto prazo.
Foi o que aconteceu com a libra esterlina quando em 1992 um ataque especulativo do financista George Soros acabou forçando sua exclusão do Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio (MTC), sistema acordado pelos países que acabaram adotando o euro antes de sua entrada em vigor.
Macera aponta outras vantagens do modelo aplicado no Peru: "Ele é menos vinculante que o sistema de câmbio fixo, o que pode acarretar um risco maior de esgotamento rápido de reservas e especulação em relação à nossa moeda".
O BCRP também é muito ativo na compra de dólares em momentos favoráveis para manter seus níveis de reservas e sua capacidade de intervir em momentos adversos, considerando o peso das exportações minerais na economia peruana.
"Quando o preço dos minerais sobe, o valor do dólar tende a cair e é aí que o BCRP compra dólares", explica Mendoza. "Nos bons tempos, acaba acumulando muito e isso permitiu-lhe ser um dos bancos centrais com mais reservas internacionais."
O BCRP tem US$ 76,1 bilhões em reservas internacionais, o que significa 30,5% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços) do Peru.
O Chile, por exemplo, apesar de ter um PIB maior, tem aproximadamente US$ 30 bilhões a menos em reservas internacionais.
Já as reservas internacionais do Brasil totalizavam, em dezembro de 2021, US$ 362,20 bilhões.
Macera explica que a elevada disponibilidade de reservas é fundamental para o sucesso da "flutuação suja".
"A credibilidade da intervenção do BCRP no mercado é particularmente importante, e é alcançada com um bom histórico da instituição e com um nível de internacionalização de reservas significativo", explica.
Foi isso que permitiu ao banco agir com vigor, como em 2009, quando o Peru foi abalado pelas consequências da crise financeira global, ou, mais recentemente, pela fuga de capitais após a chegada à presidência de Pedro Castillo, em julho de 2021.
Ameaça da inflação
Mas a taxa de câmbio não é a única variável, nem mantê-la estável basta para solucionar todos os problemas da economia. A peruana tem alguns atualmente.
O Banco Central recentemente baixou suas expectativas de crescimento para o Peru para este ano de 3,4% para 3,1%. Especialistas concordam que se trata de uma taxa muito baixa para uma economia emergente e que, a esse ritmo, o país terá dificuldade em criar empregos em volumes significativos.
Tampouco uma taxa de câmbio estável é suficiente para corrigir os efeitos da queda na produção mineral, item fundamental para o Peru, devido aos conflitos que paralisaram algumas das principais minas do país.
Depois, há o grande problema dos dias atuais, a inflação, em alta desde a invasão da Ucrânia pela Rússia. O Peru tampouco está imune a isso. A previsão é de que a inflação peruana feche o ano em 6,4% — a previsão anterior era de 3,5%.
E o BCRP não espera que a inflação volte aos níveis normais até pelo menos o final de 2023.
"Grande parte disso se deve ao preço do trigo, petróleo e outros produtos importados que representam entre 30% e 50% da cesta básica local e que seguirão dinâmicas próprias associadas à guerra", diz Mendoza.
O BCRP está tentando conter essa escalada de preços, como outros bancos centrais, principalmente com o aumento nas taxas de juros, o que indiretamente também ajuda a limitar uma possível desvalorização do câmbio.
Mas, como alerta Mendoza, "isso está esfriando a economia e terá custos, porque é a inflação mais alta em muito tempo".
'Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-61945230'
EUA - Para os líderes das empresas americanas, a alta inflação não é bem-vinda. Além de também não ser comum. Warren Buffett, 91 anos, o chefe mais velho das grandes empresas no índice S&P 500, recentemente alertou quanto aos perigos do aumento dos preços em sua carta anual aos acionistas em 2021. Em média, os CEOs das empresas no índice são homens jovens na casa dos 58 anos, que ainda não tinham entrado na universidade em 1979, quando Paul Volcker, o inimigo-mor da inflação, tornou-se presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Quando a maioria deles começou a trabalhar, o surgimento do capitalismo globalizado estava dando início a uma era de baixa inflação e altos lucros. Os preços das ações de suas empresas subiram entre a crise financeira global de 2007 a 2009 e a pandemia de covid-19, uma década de inflação baixíssima.
A inflação permanecerá alta por algum tempo ainda. Em 7 de junho, o Banco Mundial alertou que “vários anos de inflação acima da média e crescimento abaixo da média agora parecem prováveis”. Um novo estudo de Marijn Bolhuis, Judd Cramer e Lawrence Summers descobriu que, se você medir a inflação de forma constante, a taxa de hoje não está tão distante do pico de 1980. À medida que o passado se aproxima sorrateiramente do futuro, a “estagflação” está preocupando aqueles que ocupam cargos de liderança nas empresas. Os executivos de hoje talvez se considerem calejados por terem passado por uma crise financeira e uma pandemia. No entanto, o desafio estagflacionário requer um conjunto de ferramentas diferente que envolve tanto elementos do passado como novos artifícios.
A principal tarefa de qualquer equipe de gestão é proteger as margens e o fluxo de caixa, que têm a preferência dos investidores ao crescimento da receita quando as coisas ficam arriscadas. Isso exigirá uma luta mais árdua nas trincheiras da demonstração de resultados. Embora um aumento nas margens conforme a inflação aumentava no ano passado tenha levado os políticos a denunciar a "inflação provocada pela ganância" corporativa, os lucros após descontar os impostos tendem a cair como uma parte do PIB quando os aumentos de preços persistem, com base na experiência de todas as empresas americanas desde 1950. Para criar valor para os acionistas nesse contexto, as empresas devem aumentar seus fluxos de caixa em termos reais. Isso significa uma combinação de corte de despesas e repasse da inflação de custos aos clientes sem diminuir o volume de vendas.
A contenção de gastos não será fácil. Os preços de commodities, transporte e mão-de-obra continuam altos e a maioria das empresas não pode ditar os preços nesses mercados. As limitações da cadeia de suprimentos começaram a diminuir um pouco e talvez continuem diminuindo nos próximos meses. Mas é quase certeza que os transtornos continuarão. Em abril, a Apple lamentou-se dizendo que a escassez de chips de computadores em todo o setor deve criar um “entrave” de US$ 4 bilhões a US$ 8 bilhões para a fabricante de iPhones no trimestre atual.
Freio em contratações
O insumo que os chefes podem controlar com maior facilidade é o trabalho. Depois de meses de contratação frenética, as empresas estão tentando proteger as margens conseguindo mais resultados de seus trabalhadores – ou alcançando o mesmo resultado de antes com menos deles. O mercado de trabalho continua bastante aquecido: nos Estados Unidos, os salários subiram mais de 5% ao ano e, em abril, as demissões atingiram uma mínima histórica. Mas, em alguns casos, a contratação frenética pós-pandemia para atender à demanda reprimida está sendo revogada.
Choque de cultura
Os chefes americanos estão mais uma vez demonstrando que são menos reticentes às demissões do que seus colegas europeus. Em um memorando enviado aos funcionários neste mês, Elon Musk revelou planos para reduzir em 10% o número de funcionários da Tesla, sua empresa de carros elétricos. Muitas das empresas queridinhas no mundo digital, que cresceram durante a pandemia, demitiram em conjunto aproximadamente 17 mil trabalhadores apenas em maio. Depois de atrair profissionais com aumento de salários e benefícios, nas últimas divulgações de resultados trimestrais, mais CEOS americanos têm falado de automação e eficiência da mão de obra.
Na atual conjuntura, porém, o controle de gastos pragmático (e insensível) não será suficiente para manter a rentabilidade. A inflação de custos remanescente deve ser imposta aos consumidores. Muitas empresas estão prestes a aprender a complexidade de aumentar os preços sem prejudicar a demanda. Aquelas empresas que põem em prática esse superpoder costumam compartilhar algumas características: concorrência fraca, incapacidade dos clientes de atrasar ou evitar a compra, ou fontes de receita vinculadas à inflação. Uma marca forte também ajuda. A Starbucks vangloriou-se em uma divulgação de resultados em maio que, apesar do aumento dos preços de suas bebidas com café, a empresa tem tido dificuldades para dar conta da “demanda implacável”.
Entretanto, dados recentes sugerem um sentimento do consumidor mais suave. Isso torna mais arriscado para as empresas implementar aumentos de preços frequentes. Sinais de cautela estão surgindo, do Mcdonald's, que especulou sobre o “aumento da sensibilidade ao preço” entre os fãs de hambúrgueres; a Verizon, que detectou “morosidade” de cliente no trimestre mais recente. A capacidade de forçar a aceitar os aumentos de preços enquanto os consumidores apertam os cintos exige uma gestão criteriosa. Ao contrário da última era de alta inflação, os gestores podem usar a precificação algorítmica em tempo real, experimentando e ajustando de forma constante conforme a reação dos consumidores. Contudo, todas as empresas ainda precisam ter uma visão de longo prazo com relação a quanto tempo os preços altos durarão e aos limites do que seus clientes tolerarão. Não se trata de uma ciência exata.
Estragos no balanço
Mesmo se mantiverem as receitas e as despesas sob controle, os CEOs estão descobrindo o que seus antecessores conheciam muito bem: a inflação provoca estragos no balanço. Isso requer um controle ainda mais rígido do capital de giro (o valor dos recursos disponíveis em caixa mais o que os clientes devem menos o que se deve pagar aos fornecedores). Muitas empresas calcularam mal a demanda por seus produtos. O Walmart perdeu quase 20% de seu valor de mercado, ou cerca de US$ 80 bilhões, em meados de maio, depois de relatar uma contração de fluxo de caixa causada por um acúmulo excessivo de estoques, que aumentou pelo terceiro ano. Em 7 de junho, sua rival de varejo de menor tamanho, a Target, divulgou um aviso de que sua margem operacional cairá de 5,3%; no último trimestre, para 2%, no atual; pois ela está aplicando descontos nas mercadorias para queimar os estoques em excesso. Os ciclos de pagamento – ou seja, quando uma empresa paga os fornecedores e é paga pelos clientes – também se tornaram mais importantes, já que o poder de compra do dinheiro entregue amanhã enfraquece no calor da inflação.
Distorções contábeis
Tudo isso torna o desempenho de uma empresa mais difícil de se avaliar. Por exemplo, os cálculos de retorno sobre o capital parecem mais impressionantes com um numerador inflado (retornos atuais) e o denominador (capital investido no passado) em dólares antigos. Entre 1979 e 1986, durante o último período de alta inflação, as empresas americanas foram obrigadas por lei a apresentar demonstrações de resultados que fossem ajustados ao aumento dos preços. É improvável que um decreto como esse seja ressuscitado. Mas mesmo que os chefes se gabem de um maior crescimento nominal da receita, as decisões de investimento e remuneração devem ser responsáveis por esses ventos favoráveis artificiais.
Basta perguntar a Buffett. Em sua carta aos acionistas em referência ao ano de 1980, ele os lembrou de que os lucros devem aumentar proporcionalmente ao nível da alta dos preços sem um acréscimo no capital empregado, para evitar que a empresa comece a “comer” o capital dos investidores. A missiva dele aos investidores em 2023 talvez precise transmitir a mesma mensagem. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA
ARGENTINA - O banco central da Argentina elevou sua taxa básica de juros na quinta-feira (16). Foi a maior alta em três anos, na esteira do amplo aumento de juros pelo banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, e enquanto o país sul-americano combate uma inflação altíssima, em cerca de mais de 60%.
O BC elevou a taxa de referência Leliq em 300 pontos-base, para 52%, o aumento mais acentuado desde 2019, citando a crescente percepção de risco financeiro, a disparada dos preços globais e a necessidade de estimular a economia com o fortemente atingido peso local.
O movimento pela Argentina, que tem um dos mais altos níveis de inflação do mundo, ocorre à medida em que os bancos centrais do Brasil e da Europa também elevaram os juros para combater a alta dos preços.
“A alta nos juros age principalmente incentivando a economia em pesos", disse o banco central argentino, acrescentando que continuará calibrando a política monetária conforme a inflação.
Por Jorge Otaola / REUTERS
SÃO PAULO/SP - Estas são as cidades mais caras do mundo para se viver se você for rico e fizer questão de determinados luxos. Pois, roupas de grife para jantares chiques, por exemplo, tornaram-se 7,5% mais caras no mundo todo, com as cidades asiáticas liderando a lista.
Para os ultra ricos que vivem em algumas das cidades mais caras do mundo, como Xangai e São Paulo, os preços crescentes de itens de luxo no ano passado afetaram seu vasto poder de compra.
Para os indivíduos ricos que residem em Londres e Nova York, por outro lado, o custo mais alto de bolsas, sapatos, ternos e relógios de grife nem sequer acompanha as taxas gerais de inflação de seus países.
A divergência global no crescimento dos preços e na política monetária é a base do relatório global de riqueza e estilo de vida de 2022 feita pelo Grupo Julius Baer Ltd., que classifica as cidades mais caras do mundo analisando o custo de imóveis residenciais, carros, passagens aéreas, escolas de negócios e outros luxos.
Xangai mais uma vez liderou a lista, enquanto Londres ficou em segundo lugar. Tóquio caiu mais do que qualquer outra cidade para o oitavo. Nova York ficou em 11º lugar, uma posição abaixo da pesquisa do ano passado. E São Paulo logo em seguida, em 12° lugar, sendo a segunda das Américas.
As cidades asiáticas lideram a lista dos lugares mais caros do mundo:
Fonte: Relatório Global de Riqueza e Estilo de Vida de Julius Baer 2022 | Bloomberg
Renata Jordão / DESEJO LUXO
LUXEMBURGO - Há duas maneiras de interpretar o resultado da reunião do Banco Central Europeu (BCE) que ocorreu na manhã de quinta-feira (9). A primeira é encarar o evento como uma não notícia. Em uma entrevista coletiva após o encontro, a presidente do BCE, a francesa Christine Lagarde, confirmou as expectativas dos analistas de que o Banco manteve inalterados os juros, que atualmente são negativos. A taxa referencial dos países da Zona do Euro segue em -0,5% ao ano. A segunda maneira é perceber que a reunião representa o abandono de uma política que valeu por quase 11 anos. Em julho de 2013, o BCE reduziu as taxas de juros de 0,75% para 0,5% ao ano. Desde então, esse percentual jamais voltou a subir. Até agora: Lagarde confirmou que haverá um aumento de 0,25 ponto percentual na próxima reunião do BCE, agendada para julho, e “muito provavelmente” outra elevação semelhante na reunião de setembro.
A decisão representa uma rendição do BCE à realidade dos fatos. Por qualquer métrica, a inflação na Zona do Euro está muito mais elevada do que o esperado. “As metas de inflação para a Europa são de 2% ao ano, mas os índices ao consumidor estão muito acima disso, em cerca de 8%”, disse a economista-chefe da gestora Reag, Simone Pasianotto. Ela fala com conhecimento de causa: moradora em Luxemburgo, Simone disse que a percepção de preços mais salgados é nítida em cada visita ao supermercado. “A inflação já é uma realidade na Europa, e as famílias estão sentindo diretamente a alta dos preços dos alimentos e da energia”, disse ela.
Os diretores do BCE têm um problema grave nas mãos. A projeção para a inflação ao consumidor nos 12 meses até maio é de 8,1%, acima dos 7,4% registrados nos 12 meses até abril. Aparentemente, apenas um reflexo da alta dos preços das commodities e do petróleo no mercado internacional. Porém, o núcleo da inflação, que desconsidera esses itens, está em 3,3% ao ano. O estrategista-chefe da Levante Ideias de Investimento, Rafael Bevilacqua, afirma que “no caso da inflação ao produtor, há países europeus que enfrentam taxas de até 30% ao ano, devido a problemas já conhecidos, como o descasamento entre oferta e demanda de commodities”.
“A inflação já é uma realidade na Europa. As famílias estão sentindo diretamente a alta dos preços dos alimentos e da energia” Simone Pasianotto, economista-chefe da gestora brasileira Reag, que mora em Luxemburgo.
CRESCIMENTO
A economia europeia não apresenta desempenhos pujantes há pelo menos duas décadas. O principal motivo é o envelhecimento da população. Mesmo assim, a economia tem crescido nos últimos dois anos devido à expansão monetária decorrente das medidas contra a desaceleração causada pelo coronavírus. O que ocorreu na Zona do Euro não foi diferente do registrado nos Estados Unidos: com muito dinheiro em circulação, a economia segue girando e os preços sobem. Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital, diz que mesmo com a guerra e o aperto de juros, a economia tem entregado um crescimento resiliente. “E a visão é que o crescimento permaneça acima da média dos últimos anos em 2023 e em 2024”, afirmou. O impacto no mercado monetário já se fez sentir. No fim da tarde na Europa (fim da manhã no Brasil), o euro era negociado a 1,08 dólar, alta de 0,9% ante a véspera. No mercado de moedas, extremamente líquido, oscilações como essa são relevantes. A estimativa dos operadores de câmbio é que a moeda europeia se aprecie e retorne ao nível “psicológico” de 1,1 euro por dólar antes do fim do ano, algo que não ocorre desde meados de março.
A incógnita de vários bilhões de euros é até quando isso vai durar. A dúvida é o que ocorre a leste. Para a economista chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, o BCE vinha protelando essa elevação de juros, pois ainda não se sabe o impacto da guerra na Ucrânia. “Qualquer conflito tem um efeito recessivo sobre a economia, e o impacto direto sobre a Zona do Euro é muito maior”, disse ela. Segundo Camila, Lagarde e sua equipe devem ser muito cautelosos, para evitar que o ajuste para conter a inflação não signifique mergulhar a economia europeia em recessão. Por enquanto, as projeções dos analistas são de que o processo de elevação das taxas siga gradualmente por pelo menos mais dois anos. Simone, da Reag, diz que “a projeção do BCE é que a inflação só volte para a meta de 2% em 2024”. Até lá, será período de política monetária mais austera na Europa. Demorou, mas o ajuste começou na margem direita do Oceano Atlântico.
Cláudio Gradilone / ISTOÉ DINHEIRO
INGLATERRA - O índice de inflação disparou a 9% em ritmo anual em abril no Reino Unido, um recorde em 40 anos essencialmente devido aos preços da energia, o que aumenta a crise do custo de vida.
No fim de março, a inflação nos 12 meses anteriores era de 7%, informou o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS) em seu relatório mensal.
O ONS destaca que o número de abril é o mais elevado desde que existem estatísticas sobre a inflação no país, a partir de 1989, mas de acordo com estimativas este índice "deve ser o mais elevado (...) desde 1982".
"A inflação subiu com força em abril, impulsionada por um aumento brusco nos preços da energia elétrica e do gás devido a um aumento no limite do governo para as tarifas, disse Grant Fitzner, economista-chefe do ONS.
"Também continuaram os aumentos acentuados em ritmo anual nos preços dos metais, nos produtos químicos e no petróleo bruto, assim como os preços mais elevados dos produtos que saem das fábricas", acrescentou.
O ministro das Finanças, Rishi Sunak, afirmou em um comunicado que "países ao redor do mundo enfrentam uma inflação crescente" e que o índice de abril no Reino Unido procede do custo da energia, impulsionado pelos preços nos mercados mundiais.
"Não podemos proteger a população por completo dos desafios globais, mas estamos proporcionando um apoio significativo onde podemos, e estamos dispostos a fazer mais", completou.
As críticas são cada vez mais intensas no país e várias ONGs denunciam a ação insuficiente do governo na crise do custo de vida, no momento em que milhões de britânicos são obrigados a limitar os gastos com refeições ou calefação.
Na segunda-feira, o presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, classificou a situação como "apocalíptica" para os preços dos alimentos e advertiu que a inflação, que deve superar 10% até o fim do ano no Reino Unido, pode ser ainda maior se a Ucrânia não conseguir exportar suas colheitas.
SÃO PAULO/SP - Apesar de voltarem a abrir as portas em 2022, depois do fim das medidas restritivas contra Covid-19, bares e restaurantes não têm visto a melhora expressiva e consistente que esperavam. A disparada dos preços tem atrapalhando a recuperação do setor. Para 83% dos estabelecimentos, a inflação é o maior desafio para este ano, segundo dados da ANR (Associação Nacional de Restaurantes).
A pesquisa foi feita em parceria com a consultoria Galunion e pelo Instituto Foodservice Brasil. Foram ouvidas 817 empresas de todo o país, que representam cerca de 14 mil empresas do setor.
Segundo o direto executivo da ANR, Fernando Blower, a inflação tem um "impacto duplo, seja nos custos diretos como aluguel, CVM (Custo de Mercadorias Vendidas) ou no passivo”, afirma.
Rodrigo Alves, um dos prioritários do tradicional Ponto Chic, restaurante com quatro unidades em São Paulo, está no grupo de empresários que considera o aumento de preços o maior vilão do setor em 2022.
"A gente já vem de quase três anos de pandemia que foram catastróficos. Aqueles que não fecharam as portas estão agora sem caixa e capacidade de investimento, ainda tentando recuperar a saúde financeira do bar ou restaurante. E aí encontramos um trator no sentido contrário, que é a inflação", conta Alves.
O brasileiro viu os preços disparar nos últimos meses. A prévia da inflação para abril foi a maior em 27 anos (1,73%), segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A alta foi impulsionada principalmente pelo combustível, que tem provocado um crescimento dos preços em cascata, por conta da elevação dos custos, já que o transporte rodoviário é o principal meio de transporte de mercadorias. De acordo com a prévia da inflação para abril, a gasolina subiu (7,51%) e o diesel (13,11%).
O último IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15) mostrou ainda que os preços de alimentos e bebidas aumentaram 2,25% em abril, depois de um alta de 2,42% em março. A alimentação fora do domicílio também subiu (0,28%), mas em um percentual inferior ao do mês anterior (0,52%).
"Essa é nossa matéria-prima, é o que mais temos sentido até agora de imediato, acaba com a nossa margem de lucro, quando não provoca prejuízo. Repassar esse preço para consumidor não é simples, leva tempo e nós temos receio, se passarmos esses valores de imediato corre o risco de perder o cliente. Numa fase que estamos tentando recuperá-lo de volta", pontua o dono do Ponto Chic.
Aumento dos juros
Com a inflação ocorre também o aumento da taxa de juros, necessário para frear o consumo e a escalada de preços. O aumento de um ponto percentual da Selic pelo Banco Central, que chegou a 12,75%, encarece as linhas de crédito, o que prejudica empreendedores que tiveram que fazer empréstimos para não fechar durante a crise da Covid-19.
“Isso afeta o passivo das empresas, pois os recentes financiamentos feitos pelo setor na pandemia, como o Pronampe, certamente serão corrigidos com a pressão também sobre os juros”, afirma Blower.
O diretor executivo da associação acrescenta ainda que os patamares dos juros e da inflação devem prejudicar a recuperação de bares e restaurantes que tiveram uma melhora no fim de 2021 e início de 2022. Seis a cada dez empresários do setor disseram que o faturamento em fevereiro deste ano está igual ou abaixo ao de 2019, um ano antes da pandemia.
Para Rodrigo Alves, o crédito fica mais caro em um momento muito delicado. "Com movimento aumentando, você tem que investir em estoque, injetar dinheiro na empresa, em um momento de juros altos", destaca.
Apesar do percentual de endividamento no setor ter melhorado em relação à última pesquisa feita em novembro, quando 55% disseram ter divídas, esse número continua elevado (41%). Dentre eles, 15% devem demorar mais de três anos para quitação e 34% vão levar de um a três anos.
TÓQUIO - O Japão preparou um pacote de ajuda emergencial no valor de 103 bilhões de dólares para amortecer o golpe econômico do aumento dos custos das matérias-primas, e planeja novas medidas ainda este ano para promover reformas de longo prazo, disse o primeiro-ministro, Fumio Kishida, nesta terça-feira.
O pacote de alívio de 13,2 trilhões de ienes (103 bilhões de dólares), a ser financiado principalmente por reservas separadas do orçamento do atual ano fiscal, consistirá em medidas para lidar com o impacto imediato do aumento dos preços, como subsídios a atacadistas de gasolina e pagamentos em dinheiro para famílias de baixa renda com crianças.
Do total, os gastos diretos do governo serão de 6,2 trilhões de ienes. O restante consiste em medidas de gastos não diretos, como empréstimos ao setor privado.
O governo compilará um orçamento extra e o aprovará na atual sessão do Parlamento para reabastecer as reservas e garantir fundos para lidar com qualquer ressurgimento de infecções por Covid-19 ou aumentos prolongados nos custos dos combustíveis, disse Kishida.
Por Leika Kihara e Tetsushi Kajimoto / REUTERS
SÃO PAULO/SP - Os ovos de Páscoa estão até 40% mais caros em relação a 2021, segundo pesquisa realizado pela Associação Paulista de Supermercados (Apas), divulgado ontem (25).
De acordo com a entidade, parte dos supermercados está mudando a configuração das ofertas para a data, reservando espaços menores para as parreiras de ovos de chocolate.
Ganharam mais espaço os produtos menores, como os ovos de 250 gramas, além de maior disponibilização de chocolates e bombons.
“Em um setor competitivo como o supermercadista, sai na frente aquele que consegue negociar os melhores preços com os produtores, fornecedores e a indústria de modo geral. Essa capacidade de negociar, aliada ao mix de marcas e produtos disponíveis ao consumidor, reduz o impacto da inflação no bolso do consumidor”, destacou o presidente da Apas, Ronaldo dos Santos.
EUA - Estudo conduzido pela Associação Nacional de Economia para Empresas (Nabe, na sigla em inglês) dos Estados Unidos mostrou que a maior parte dos especialistas entrevistados acredita que há risco da inflação ficar acima do esperado nos próximos anos, sendo impulsionada pelos salários, e que os riscos para e economia americana em 2022 são sobretudo de baixa.
Na pesquisa, 30% identificam os erros da política monetária como o maior risco de queda para a economia, enquanto 77% dos entrevistados sugerem que uma espiral de preços salariais já está ocorrendo ou será um grande risco em 2022.
Os participantes do painel antecipam um crescimento mais suave no primeiro trimestre de 2022 e veem o crescimento se recuperando no segundo e terceiro trimestres. A projeção mediana para o crescimento do PIB no primeiro trimestre de 2022 é de 1,8%, abaixo dos 7,0% no quarto trimestre de 2021, antes de subir para 4,0% no segundo trimestre de 2022 e depois diminuir novamente para 3,0% no terceiro trimestre de 2022, aponta a pesquisa.
A projeção para inflação foi elevada, e os entrevistados esperam que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) deva subir 3,6% na comparação anual no quarto trimestre de 2022, em comparação com 2,8% projetado na pesquisa de dezembro. O CPI deverá moderar até o final de 2023 para 2,4% na comparação anual.
Em consonância com o aumento das expectativas de inflação, as projeções de alta de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) também aumentaram ante a pesquisa de dezembro. A previsão mediana para o final do ano de 2022 é de 1,125%, acima da mediana de 0,375% da pesquisa de dezembro, segundo o estudo.
A taxa mediana para o final do ano de 2023 é de 1,875%, mas com grande variação entre projeções dos participantes.
A mediana das cinco maiores previsões para o final de 2023 é de 2,50%, enquanto a mediana das cinco previsões mais baixas é de 0,75%, segundo a publicação.
A pesquisa consultou 57 especialistas e foi realizada entre os dias 7 e 15 de fevereiro.
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