MOSCOU - A Rússia disse nesta quinta-feira que as tensões crescentes em relação à Ucrânia poderiam levar a uma repetição da crise dos mísseis de Cuba, quando o mundo ficou à beira da guerra nuclear.
O vice-ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Ryabkov, fez o comentário ao ser indagado por um repórter se a situação atual poderia se tornar algo semelhante ao impasse de 1962 entre os Estados Unidos e a União Soviética em plena Guerra Fria.
"Realmente poderia chegar a esse ponto, sabe?", disse ele, segundo citação da agência de notícias Interfax. "Se as coisas continuarem como estão, é inteiramente possível, pela lógica dos acontecimentos, acordar de repente e se ver em algo semelhante."
A crise cubana foi desencadeada pela instalação de mísseis nucleares soviéticos na ilha caribenha e levou os EUA a imporem um bloqueio naval para impedir a Rússia de enviar mais.
Ela foi debelada quando o líder soviético Nikita Khrushchev concordou em desmantelar e retirar as armas em troca de uma promessa do presidente norte-americano John F. Kennedy de não voltar a invadir a ilha.
O temor russo em relação à Ucrânia, que deseja se filiar à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), é que a aliança militar liderada pelos Estados Unidos instale mísseis em solo ucraniano e os mire contra a Rússia. A Otan diz que é uma aliança defensiva e que tais preocupações não se justificam.
CUBA - Cuba desenvolveu na sexta-feira (19) a segunda jornada de seus tradicionais exercícios militares "estratégicos", dedicados este ano a avaliar a capacidade de resposta à "guerra não convencional" dos Estados Unidos, que Havana aponta como responsável pelos protestos na ilha.
Os Exercícios Estratégicos Moncada-2021, que começaram na quinta-feira e terminam no sábado, o Dia Nacional da Defesa, têm "como objetivo fundamental estudar as ações para prevenir e enfrentar situações de risco, ameaças e agressões à segurança do país, em um cenário de guerra não convencional imposto pelo governo dos Estados Unidos contra Cuba", assinalou a emissora de televisão estatal.
Os exercícios incluem práticas para treinar a população, as Forças Armadas Revolucionárias (FAR) e efetivos do Ministério do Interior, segundo a emissora.
A repentina declaração oficial de 20 de novembro como Dia Nacional da Defesa obrigou o grupo opositor Archipiélago a antecipar para 15 de novembro a marcha cívica que tinha convocado para essa data em Havana e em outras seis cidades do país, com dois meses de antecipação.
A manifestação convocada pelo grupo, que conta com 38.000 membros dentro e fora de Cuba, foi proibida pelo governo e acabou sendo frustrada depois que as forças de segurança mobilizaram um enorme dispositivo policial e detiveram diversos líderes da oposição.
Para Havana, essa marcha frustrada, as manifestações de 11 de julho, e o protesto de novembro do ano passado, quando 300 jovens artistas se plantaram em frente ao Ministério da Cultura para exigir liberdade de expressão, formam parte de um plano desenhado e financiado em Washington para promover uma mudança de regime em Cuba.
CUBA - Todas essas histórias sobre os cubanos que mantêm carros americanos antigos em uso são absolutamente verdadeiras. É por necessidade: os embargos comerciais impedem que tanto os carros quanto as peças dos EUA cheguem à ilha, e os veículos estrangeiros disponíveis – novos e usados – estão fora do alcance financeiro de todos, exceto dos cubanos mais ricos. Por isso, eles são os melhores recicladores, fabricantes e mecânicos de veículos.
Em uma viagem a Havana em janeiro de 2018, nosso guia era uma mulher afável que dirigia um Chevrolet dos anos 50, magnificamente decorado. Uma noite, a caminho do jantar, entramos no grande carro amarelo e pegamos a estrada. Um quarteirão depois, a alavanca do câmbio quebrou.
A motorista chamou um táxi, e chegamos à nossa refeição sem saber quem nos pegaria assim que tivéssemos terminado. Quase duas horas depois, fomos surpreendidos ao ver o Chevy amarelo nos esperando no estacionamento, com o câmbio totalmente consertado.
Nos EUA, um conserto tão rápido só seria possível se houvesse uma transmissão totalmente compatível em determinada oficina, pronta para ser rapidamente instalada, mas tal cenário seria bem incomum. Em Cuba, a história é diferente. "Conheço pessoas que têm todas as peças de substituição disponíveis em sua garagem no caso de o carro quebrar", afirmou Paolo Spadoni, professor associado da Universidade Augusta, na Geórgia, com experiência em assuntos cubanos.
À medida que os carros do mundo se tornam elétricos, pode ser lógico presumir que a magia mecânica necessária para reparar um clássico de combustão interna em duas horas se tornará uma habilidade profundamente desvalorizada. Afinal, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou que gostaria de ver os veículos elétricos chegando a 50 por cento de todas as vendas de carros novos nos Estados Unidos até 2030. Atualmente, os veículos totalmente elétricos representam cerca de dois por cento das vendas de carros novos no país.
Embora a causa não sejam os embargos comerciais, mas sim essa próxima mudança para carros elétricos, especialistas dizem que é possível que as estradas dos EUA possam se assemelhar a Cuba por algum tempo, com carros mais antigos rodando com motores a gasolina e mantidos em circulação muito depois de terem sido trocados por outro modelo de combustível. "Achamos que será como Cuba, especialmente nas áreas rurais dos EUA", comentou Michelle Krebs, analista executiva da Cox Automotive, acrescentando que os avanços das baterias serão cruciais para aumentar o número de carros elétricos na estrada: "O alcance é muito importante para as pessoas em lugares distantes; você tem de dirigir longas distâncias só para chegar ao supermercado."
CUBA - Cuba publicou na quarta-feira (15) projeto há muito aguardado de um novo código de família que abrirá as portas para o casamento gay se aprovado. Ativistas dos direitos LGBT celebraram de forma comedida, pois permanecem cautelosos sobre a real implementação.
O novo código define o casamento como "união voluntária de duas pessoas" sem especificar o gênero, em oposição à definição atual de "união de um homem e uma mulher".
O projeto ainda precisa ir a um debate, e então receberá emendas para levar em consideração as opiniões dos cidadãos antes de seguir para um referendo. Ativistas temem que a comissão encarregada da medida possa ceder à pressão de grupos religiosos e daqueles que preferem a cultura do machismo tradicional.
CUBA - Pressão internacional para encurralar o Governo de Havana, ou solidariedade e ajuda humanitária para aliviar um pouco a grave escassez que é uma das causas da grande insatisfação popular, fator-chave nos protestos inéditos que sacudiram Cuba em 11 e 12 de julho. Esse é o dilema da comunidade internacional hoje —pressão, ajuda ou uma combinação das duas—, visto que o ocorrido em Cuba ultrapassou claramente suas fronteiras. A enxurrada de condenações à repressão contra os manifestantes —acompanhadas, no caso de Washington, por sanções contra o alto comando militar e policial— colocou Havana em modo de praça sitiada e levou à multiplicação dos argumentos oficiais de que o país é alvo de uma grande campanha de mídia contra ele e que os EUA estão por trás de tudo que aconteceu.
Ao mesmo tempo, o Governo cubano, que relutava em aceitar ajuda humanitária por considerar isso uma fraqueza —ou até mesmo uma ingerência, se considerasse haver motivação política nos doadores—, agora abriu completamente as portas para a solidariedade internacional e começou a distribuir imediatamente os víveres recebidos.
Há uma semana, quase todos os dias chega a Cuba um navio ou avião carregado de ajuda humanitária. O Governo mexicano já fez vários envios de material sanitário, alimentos, remédios e diversos insumos, incluindo 100.000 barris de combustível para geradores de hospitais cubanos. Na sexta-feira, um avião da Força Aérea boliviana aterrissou com 20 toneladas de ajuda humanitária, sendo 2,5 toneladas de seringas descartáveis, 16,5 toneladas de alimentos e uma tonelada de insumos de biossegurança. A imprensa oficial informa que Rússia, Vietnã, Venezuela e outros países “amigos” enviaram suprimentos de emergência, e são esperados mais para os próximos dias.
A ministra de Comércio Interno, Betsy Díaz, apareceu rapidamente na televisão para explicar que a ajuda será distribuída gratuitamente pelas províncias em todos os núcleos familiares (3,8 milhões no país), assinalando que serão basicamente “módulos” contendo arroz, outros grãos, massas e açúcar. Depois dos protestos em Cuba, é visível o interesse oficial de fazer gestos e tomar medidas no sentido de aliviar, ainda que minimamente, a penúria que transforma o cotidiano dos cubanos em um calvário.
A aceitação da ajuda humanitária e sua distribuição urgente, embora insuficiente, segue essa linha, assim como outras medidas: a recente decisão de suspender até no próximo ano a cobrança de tarifas sobre os alimentos e remédios que os viajantes tragam em suas malas, a autorização (isenta de impostos) para as chamadas “vendas de garagem”, que qualquer um pode fazer em sua casa para comercializar mercadorias próprias usadas ou novas, e também a autorização para a importação de painéis solares sem fins comerciais, que até agora era proibida. As autoridades também anunciaram que a esperada legislação para viabilizar o estabelecimento de pequenas e médias empresas privadas pode ser divulgada nesta semana.
Os protestos de julho foram uma sacudida e provocaram sem dúvida uma movimentação, mas alguns economistas assinalam que o Governo cometeria um erro caso se acomodasse com a adoção de medidas menores, que podem servir para respirar momentaneamente ou acalmar as águas, mas não para enfrentar os graves problemas econômicos que o país atravessa e que estão na base do descontentamento. Por enquanto, a pressão internacional dos últimos dias, com declarações de condenação a Cuba pela repressão policial contra os manifestantes e a exigência de que o Governo escute a voz daqueles que saíram para protestar, está servindo apenas para uma reacomodação defensiva.
A recente declaração de condenação do alto representante da União Europeia (UE) para a Política Externa, Josep Borrell, sobre a atuação governamental durante os protestos na ilha e seu pedido de que os manifestantes pacíficos sejam libertados provocou uma resposta imediata do chanceler cubano, Bruno Rodríguez. “Rejeito energicamente a declaração do alto representante da UE, na qual não se atreve a mencionar pelo nome o bloqueio genocida dos Estados Unidos, que viola a soberania europeia e lhe impõe suas leis. Sobre Cuba, menta e manipula”, declarou Rodríguez, que na sexta-feira se referiu às novas sanções de Washington contra o alto comando da polícia cubana: “Essas medidas arbitrárias se somam à desinformação e à agressão do bloqueio desumano contra Cuba”.
A reunião de sexta-feira entre o presidente americano, Joe Biden, e representantes da comunidade cubano-americana nos Estados Unidos, incluindo o rapper cubano Yotuel Romero, autor da canção Patria y Vida, que virou um dos lemas dos manifestantes, explica até que ponto os acontecimentos de julho contribuíram para polarizar a situação e tornar cada vez mais difícil uma solução que passe pela flexibilização das sanções de Washington, algo que até os mais críticos dentro da ilha consideram desejável.
“A reunião do presidente Biden com anexionistas cubanos é uma farsa para justificar a operação de mudança de regime em Cuba. O Governo dos EUA só está interessado na maquinaria eleitoral da Flórida”, comentou o chanceler cubano em sua conta no Twitter. Enquanto esses trovões soam por cima e a população continua com suas angústias, o debate internacional sobre o que é melhor, a pressão ou o oxigênio, segue em frente.
*Por: Mauricio Vicent / EL PAÍS
CUBA - "Pátria e Vida", uma canção de hip hop antigovernamental de vários dos músicos mais populares de Cuba no exílio e que se tornou viral, se transformou em um hino para os protestos sem precedentes que abalaram o país caribenho neste mês.
Agora, o artista visual que filmou parte do videoclipe em Cuba, Anyelo Troya, foi condenado a 1 ano de prisão sob acusação de instigar tumultos, segundo familiares, após participação em um ato em Havana.
Os ativistas argumentam que é apenas o começo de uma onda de julgamentos sumários das centenas de manifestantes que as autoridades detiveram durante e após os protestos incomuns de 11 e 12 de julho. O governo culpou contrarrevolucionários apoiados pelos Estados Unidos pela agitação.
"Eles o levaram a julgamento sem defesa, nem advogado, nem nada", disse sua mãe, Raisa González, à Reuters, após assistir à sentença que descreveu como um julgamento coletivo de cerca de 12 pessoas.
Autoridades cubanas que atendem a jornalistas estrangeiros não responderam imediatamente a um pedido de comentário sobre os casos dos detidos na ilha.
O presidente Miguel Díaz-Canel disse na televisão estatal na semana passada que há pessoas que receberão a resposta que a lei cubana considera e "que será enérgica", mas afirmou que haveria o devido processo legal.
Mas Raisa González disse que não foi informada a tempo do julgamento de seu filho e que quando chegou ao tribunal com seu advogado, ele já havia sido condenado. O julgamento foi criticado pela Anistia Internacional e pela Human Rights Watch (HRW) por ter sido realizado sem a devida defesa ou o devido processo.
Troya, de 25 anos, já estava na lista do governo por sua participação na canção, cujo nome subverte o slogan revolucionário "Pátria ou Morte", contou sua mãe.
"Teremos centenas de presos políticos em apenas duas semanas", disse Javier Larrondo, representante da organização de direitos humanos Cuban Prisoners Defenders.
Autoridades confirmaram na terça-feira que iniciaram os julgamentos dos detidos sob acusação de instigar distúrbios, vandalismo, disseminação de epidemia ou agressão, acusações que podem acarretar penas de até 20 anos de prisão.
Os protestos, que começaram em uma pequena cidade há 10 dias e depois se espalharam, ocorrem durante a pior crise econômica de Cuba em décadas, o que se soma às restrições de liberdades civis.
Paradeiro desconhecido
A maioria dos detidos foi mantida incomunicável, enquanto a localização de alguns ainda é desconhecida, segundo o grupo de direitos humanos no exílio Cubalex e a Human Rights Watch (HRW), de acordo com entrevistas com parentes.
Os cubanos têm postado fotos de pessoas que dizem não conseguir localizar ou compartilhando histórias de prisões em um grupo do Facebook chamado "Desaparecidos #SOSCuba", com mais de 10.000 membros.
"Fomos de delegacia em delegacia procurando por ela", disse Alberto Betancourt sobre sua irmã, mãe de dois filhos, detida em um protesto em Havana.
"Eles não me deixam falar com ela", afirmou à Reuters, contendo as lágrimas. “Mas ela não é uma criminosa. Ela simplesmente se deixou levar pela multidão”, observou ele.
Autoridades do Ministério do Interior cubano negaram na terça-feira que alguém estaria "desaparecido" e disseram que uma lista de detidos que circula - eles não disseram qual - é manipulada e inclui pessoas que nunca foram detidas.
*Por Sarah Marsh - Repórter da Reuters
VATICANO - O papa Francisco fez um apelo por paz e diálogo em Cuba neste domingo, após enormes protestos terem abalado o país governado pelo Partido Comunista em escala nunca antes vista.
"Estou ao lado do querido povo de Cuba nestes tempos difíceis", disse Francisco em seu pronunciamento semanal aos fieis na Praça São Pedro, a primeira aparição pública desde que retornou ao Vaticano após ficar 11 dias internado num hospital.
O papa também pediu o fim da violência na África do Sul e classificou como uma "catástrofe" as enchentes mortais na Alemanha, Bélgica e Holanda.
*Por Philip Pullella - Repórter da Reuters
EUA - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse na quinta-feira (15/07) que estuda maneiras de restaurar o acesso à internet em Cuba, país que ele classificou como um "estado falido".
"O comunismo é um sistema fracassado, um sistema universalmente fracassado. E não vejo o socialismo como um substituto muito útil, mas isso é outra história", declarou Biden, em coletiva de imprensa durante a visita da chanceler alemã Angela Merkel a Washington.
No último domingo (11/7), Cuba teve os maiores protestos contra o governo dos últimos 60 anos.
O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, disse que o país sofre um "terrorismo midiático". Para ele, existe uma campanha nas redes sociais contra o seu governo.
O acesso à internet
Biden explicou que os Estados Unidos estão avaliando como ajudar os cubanos a contornar as restrições à internet impostas pelo governo de Miguel Díaz-Canel.
"Cuba é, infelizmente, um estado falido e está reprimindo seus cidadãos", declarou o presidente dos Estados Unidos.
"Eles cortaram o acesso à internet. Estamos avaliando se temos capacidade tecnológica para restaurar esse acesso", acrescentou
Há muito tempo, os Estados Unidos criticam as restrições à internet em todo o mundo, em especial na China. Mas suas operações cibernéticas geralmente têm mais a ver com ameaças à segurança do que com a garantia de acesso.
Uma ideia levantada por especialistas é enviar balões com wi-fi móvel, semelhante ao que é feito em desastres naturais.
Segundo jornalistas da agência AFP em Havana, Cuba aliviou as restrições à internet na quarta-feira (14/7). Porém, redes sociais como Facebook e Twitter e serviços de mensagens, como o WhatsApp, permaneciam bloqueados, ao menos até quinta-feira.
O acesso à rede tem sido possível somente em parques públicos que oferecem conexão wi-fi ou nas residências por meio dos serviços Nauta-Hogar e ADSL, que muitos cubanos não podem pagar por ter um alto custo.
"Terrorismo midiático"
O governo cubano atacou duramente a campanha #SOSCuba que tomou conta das redes sociais. Segundo o presidente Días-Canel, é um "terrorismo midiático".
"As redes sociais são totalmente agressivas, convocando assassinatos, linchamentos, ataques a pessoas, principalmente aquelas que se identificam como revolucionárias", criticou.
A maioria dos relatos que chegaram da ilha descreve os protestos como pacíficos e espontâneos. Até quinta-feira, as autoridades cubanas confirmaram a morte de uma pessoa, um homem de 36 anos, nos arredores de Havana, após um confronto com agentes em frente a um posto policial.
Oferta de vacinas
Os protestos de domingo, que seguiram na segunda-feira em menor proporção e com uma forte presença policial nas ruas, ocorreram em um contexto de grave crise econômica que se soma à crise sanitária da pandemia do coronavírus.
Cuba está desenvolvendo sua própria vacina contra a covid-19, a Soberana 2, em meio a um aumento de infecções, com cortes de energia e escassez de alimentos e remédios.
"Há um problema com a covid em Cuba", disse Biden.
"Eu estaria pronto para doar quantidades significativas de vacinas se, de fato, garantissem que uma organização internacional iria administrá-las, para que o cidadão médio tivesse acesso a essas vacinas", acrescentou.
Relação entre EUA e Cuba
Biden foi o vice-presidente de Barack Obama, que liderou uma abertura histórica em direção a Cuba e visitou Havana.
O sucessor de Obama, Donald Trump, reverteu algumas medidas importantes, como a autorização para envio de remessas de dinheiro e viagens turísticas de cidadãos norte-americanos.
Em sua campanha pela Casa Branca, Biden disse que queria diminuir as restrições em relação a Cuba.
Mas, na quinta-feira, o presidente norte-americano sinalizou que não permitirá o envio de remessas neste momento. "É muito provável que o regime confisque essas remessas ou grande parte delas", disse.
Mesmo que Biden queira mudar de rumo, ele encontraria obstáculos políticos, inclusive dentro do próprio partido. Os democratas controlam o Congresso por margens estreitas e o senador democrata Bob Menendez, que lidera o Comitê de Relações Exteriores do Senado, é um cubano-americano que defende uma ação firme contra Havana.
Apoio ao governo cubano
Enquanto apelam ao governo cubano para liberar os detidos nos protestos e para que o acesso à internet seja totalmente restaurado, vários ex-líderes da esquerda latino-americana manifestaram apoio a Havana em uma reunião virtual na quinta-feira.
O chanceler cubano Bruno Rodríguez realizou uma teleconferência na qual participaram, entre outros, os ex-presidentes Dilma Rousseff (Brasil), Evo Morales (Bolívia) e Ernesto Samper (Colômbia). Também estiveram presentes o subsecretário de Relações Exteriores do México, Maximiliano Reyes, e a secretária-executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), Alicia Bárcenas.
Antes de conversar com eles, Rodríguez reiterou a tese de seu governo de que os protestos de domingo foram gerados a partir de uma operação "político-midática" dos Estados Unidos.
O governo Biden nega categoricamente essas acusações.
*Por: BBC NEWS
CUBA - O governo de Cuba derrubou a internet no país, a fim de evitar novas mobilizações para protestos contra o regime socialista vigente no país desde 1959. Plataformas como WhatsApp, Facebook, Instagram e Telegram enfrentaram uma série de instabilidades durante todo o dia nesta segunda-feira (12), passando a maior parte do dia sem funcionar.
As instabilidades acontecem um dia depois de manifestações organizadas pelas redes sociais contra o governo da ilha caribenha. Em pronunciamento, o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, declarou que a população não deveria ouvir alguns youtubers contrários ao governo, alegando que eles seriam favoráveis a um sistema que não se preocupa com o bem-estar da população.
De acordo com o sistema de monitoramento de internet NetBlocks, a internet foi suspensa em cerca de 50 pontos ao redor da ilha. Segundo eles, a motivação seria evitar que houvesse comunicação entre as lideranças dos protestos, troca de informações ou a convocação de novos atos. Além das quedas de internet, também foram relatados cortes de energia em Havana e outras cidades.
Maiores atos em décadas
As manifestações deste domingo (11) foram as maiores em Cuba em quase 30 anos, com milhares de pessoas indo às ruas aos gritos de “liberdade” e “abaixo a ditadura”. A principal motivação dos atos foi a grave crise econômica vivida no país por conta da pandemia da Covid-19, que, segundo os opositores, é fruto de negligência do governo.
Os atos foram reprimidos pelo governo cubano, com relatos de jipes das forças especiais, com agentes armados com metralhadoras, circulando pelo centro de Havana. Também foram relatados episódios de tumultos, brigas e prisões de dissidentes. Em seu pronunciamento, o presidente cubano classificou os organizadores dos atos como “delinquentes”.
Segundo Díaz-Canel, a verdadeira razão da crise vivida no país e da escassez de alimentos e medicamentos na ilha é o embargo comercial imposto há décadas no país pelos Estados Unidos. Segundo o mandatário, se os cubanos querem protestar por falta de comida, devem protestar contra o bloqueio, não contra o regime cubano.
Grave crise
O produto interno bruto de Cuba encolheu 11% em 2020, já que a ilha está com suas fronteiras fechadas por conta da pandemia da Covid-19. Esse fechamento afetou o abastecimento de insumos básicos no país, que importa mais de 70% dos produtos que consome, e também o turismo, uma das principais fontes de renda para quase todos os setores da economia do país.
Além disso, a produção de açúcar, que é uma importante atividade econômica do país, foi afetada por uma forte seca, que tem se agravado há alguns anos, e é fruto das mudanças climáticas. Durante a gestão de Barack Obama, os EUA e Cuba iniciaram um processo de aproximação, mas as negociações foram interrompidas por Donald Trump e ainda não foram retomadas por Joe Biden.
*Com informações da Folha de S. Paulo
CUBA - Gritando "liberdade" e "abaixo a ditadura", centenas de cubanos saíram às ruas neste domingo (11/07) em vários locais de Cuba, em um dos maiores protestos na ilha nos últimos 60 anos.
À medida que os protestos se espalhavam, o presidente Miguel Díaz-Canel pediu aos apoiadores do governo que saíssem às ruas para "enfrentá-los".
"Estamos convocando todos os revolucionários do país, todos os comunistas, a tomarem as ruas e irem aos lugares onde essas provocações acontecerão", disse o presidente em uma mensagem transmitida em todas as redes de rádio e televisão da ilha na sequência dos protestos.
Por meio das redes sociais, dezenas de cubanos transmitiram ao vivo as manifestações que começaram na cidade de San Antonio de los Baños, a sudoeste de Havana, e se espalharam para outras cidades, de Santiago de Cuba, no leste, até Pinar del Río, no oeste.
Nas transmissões, um grande grupo de pessoas era visto gritando palavras de ordem contra o governo, contra o presidente Miguel Díaz-Canel e pedindo mudanças.
Segundo Selvia, uma das participantes em San Antonio de los Baños, o protesto foi organizado no sábado por meio das redes sociais para este domingo às 11h30 (horário local).
"Nos encontramos em frente à praça da igreja e seguimos em marcha pela Rua Real", disse ela por telefone à BBC News Mundo, serviço da BBC em espanhol.
"Isso é pela liberdade do povo, não podemos aguentar mais. Não temos medo. Queremos mudança, não queremos mais ditadura", disse.
A BBC News Mundo entrou em contato com o Centro Internacional de Imprensa, única instituição governamental autorizada a prestar declarações à imprensa estrangeira, para saber sua posição, mas não obteve resposta imediata.
Na transmissão pela televisão, Díaz-Canel disse que seu governo "está pronto para tudo e que estará nas ruas combatendo".
"Sabemos que neste momento há uma massa revolucionária nas ruas fazendo frente a isso", disse ele.
"Não vamos admitir que nenhum contra-revolucionário, nenhum mercenário, nenhum vendido ao governo dos Estados Unidos, vendido ao império, recebendo dinheiro das agências, se deixando levar por todas as estratégias de subversão ideológica, desestabilize nosso país", adicionou.
"Haverá uma resposta revolucionária", disse ele, conclamando os "comunistas" a enfrentar os protestos com "determinação, firmeza e coragem".
O apelo do presidente cubano provocou questionamentos entre opositores e nas redes sociais da ilha, que apontaram que ele estava "convocando uma guerra civil".
https://twitter.com/yoanisanchez/status/1414321313322258443?s=20
Os protestos
Depois de mais de uma hora e meia, algumas das transmissões foram interrompidas em San Antonio, mas começaram a aparecer de outros lugares da ilha, incluindo Havana.
"Tem muita gente no Galeano e no Malecón. Eles pararam o trânsito e tudo o mais", disse Mairelis à BBC News Mundo, de Centro Habana.
Três pessoas que participaram do protesto em Pinar del Río, Havana e San Antonio afirmaram à BBC News Mundo que as manifestações foram reprimidas pela polícia.
Vários vídeos postados nas redes sociais também mostram o que parecem ser agentes de tropas especializados detendo vários manifestantes.
Em outras gravações, um grupo grande de cubanos é visto quebrando vidraças e saqueando algumas das chamadas lojas de moeda conversível (moeda estrangeira), que se tornaram a única forma de muitos cubanos terem acesso às suas necessidades básicas.
"Eles estão cortando nossa conexão. Não podemos nem fazer ligações nacionais", disse Selvia.
A BBC News Mundo contatou cubanos das províncias de Havana, Pinar del Río e Artemisa, que afirmam ter perdido a conexão com a Internet.
Alejandro, um dos participantes do protesto em Pinar del Río, disse que dezenas de pessoas pararam em frente a um dos principais parques da cidade e depois marcharam por uma rua principal.
"Vimos o protesto em San Antonio e as pessoas começaram a sair às ruas. Este é o dia, não aguentamos mais", disse o jovem por telefone.
"Não há comida, não há remédio, não há liberdade. Eles não nos deixam viver. Já estamos cansados", acrescentou.
Durante o fim de semana, as redes sociais da ilha foram tomadas por mensagens sob as hashtags #SOSCuba e #SOSMatanzas para denunciar a situação crítica do coronavírus na ilha, onde, segundo relatos, inúmeros hospitais colapsaram devido ao crescente número de casos.
A BBC News Mundo conversou com vários cubanos que afirmam que seus parentes morreram em casa sem receber atendimento médico ou em hospitais por falta de remédios.
Com o turismo praticamente paralisado, o coronavírus teve um profundo impacto na vida econômica e social da ilha, aliado a uma crescente inflação, apagões elétricos e escassez de alimentos, medicamentos e produtos básicos.
O governo cubano atribui a situação ao embargo dos Estados Unidos e questiona as campanhas #SOSCuba e #SOSMatanzas como uma "campanha midiática" para "lucrar" em uma situação de crise de saúde.
As redes sociais da ilha têm servido nos últimos tempos para que os cubanos expressem seu mal-estar com relação ao governo e à situação no país.
Os protestos em Cuba são muito incomuns e, quando ocorrem, são reprimidos.
Antes deste domingo, o maior protesto ocorrido em Cuba desde 1959 aconteceu em 1994 em frente ao Malecón em Havana, mas se limitou à capital e apenas algumas centenas de pessoas participaram.
*Por: BBC NEWS
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