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ISRAEL - A chancelaria de Israel determinou, na segunda-feira (27), que o consulado da Espanha em Jerusalém interrompa o atendimento a palestinos, em mais uma escalada na tensão entre Tel Aviv e Madri desde que o país europeu anunciou o reconhecimento da Palestina como um Estado, na semana passada.

A partir do próximo sábado (1º), o posto diplomático poderá oferecer serviços apenas aos residentes do distrito de Jerusalém e estará proibido de exercer qualquer atividade consular para residentes da Cisjordânia, outro território palestino ocupado por Tel Aviv além da Faixa de Gaza.

Exceções à ordem, que não se aplica a cidadãos espanhóis, precisarão de autorização por escrito do Ministério das Relações Exteriores de Israel, diz o comunicado. "Se essa política não for respeitada, o ministério não hesitará em tomar outras medidas", afirma a pasta.

Ao publicar o documento na rede social X, o chanceler israelense, Israel Katz, alfinetou a Espanha ao afirmar que "os dias da Inquisição acabaram". "Hoje em dia, o povo judeu tem um Estado soberano e independente, e ninguém nos obrigará a converter nossa religião nem ameaçará nossa existência", afirmou o político. "Aqueles que premiam o Hamas e tentam estabelecer um Estado terrorista palestino não terão contato com os palestinos."

O episódio é o mais recente da crise entre os dois países. Na quarta-feira passada (22), Espanha, Irlanda e Noruega anunciaram que reconheceriam a Palestina como um Estado nesta terça-feira (28), em uma anúncio articulado pelo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez. O socialista é uma das vozes mais críticas na União Europeia à operação militar lançada por Tel Aviv em Gaza após os ataques do Hamas, no dia 7 de outubro.

Ao falar sobre a medida na última sexta-feira (24), a ministra do Trabalho da Espanha e segunda vice de Sánchez, Yolanda Díaz, afirmou que era necessário pressionar a União Europeia para romper acordos com Israel e trabalhar por um cessar-fogo que "interrompa o genocídio" -palavra usada também pela ministra da Defesa espanhola, Margarita Robles, para qualificar o conflito.

Para fechar o vídeo em que abordou a medida, a política disse uma frase que foi o estopim para a reprimenda: "a Palestina será livre do rio ao mar". O rio a que se refere é o Jordão, e o mar é o Mediterrâneo. Entre eles há Israel e os territórios palestinos ocupados por Tel Aviv: Gaza e Cisjordânia.

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A expressão, cuja origem remonta à década de 1960, foi adotada por apoiadores da causa palestina de várias partes do mundo nos últimos anos, inclusive nas manifestações que tomaram capitais europeias e universidades americanas desde o início do atual conflito.

Muitos, porém, interpretam a frase como um apelo à destruição de Israel. Na última sexta, Katz afirmou que a declaração de Díaz foi um "chamado ao antissemitismo" e, nesta segunda, citou novamente a frase. "Não ficaremos calados ante um governo que premia o terror e cujos líderes, Pedro Sánchez e Yolanda Díaz, entoam o lema antissemita 'do rio ao mar, a Palestina será livre'".

Com o sinal trocado, a ideia de dominar todo o território entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo já foi evocada pelo primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu –cujo governo, o mais à direita da história de Israel, é conhecido por se opor à criação de um Estado palestino.

"Em qualquer acordo futuro, Israel precisa ter controle da segurança sobre todo o território a oeste do Jordão", disse Netanyahu, em janeiro, diante da pressão de aliados históricos para incluir a criação de um Estado da Palestina nos planos do pós-guerra. "[A criação de um Estado palestino] se choca com nossa ideia de soberania, e um premiê precisa ser capaz de dizer não [mesmo] a amigos."

Além da retaliação formal desta segunda, o chanceler israelense publicou ainda um vídeo que mescla imagens de um casal dançando flamenco com frames do ataque terrorista no sul de Israel em outubro. "O Hamas agradece pelo seu serviço, Pedro Sánchez", afirmou Katz, marcando o perfil do premiê. Vídeos parecidos em referência a Irlanda e Noruega já haviam sido publicados na sua conta na última quinta-feira (23).

"Não vamos cair em provocações. O vídeo é escandaloso e execrável", disse o ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, em uma entrevista coletiva em Bruxelas, neste domingo (26). "É escandaloso porque todo mundo sabe, inclusive meu colega de Israel, que a Espanha condenou as ações do Hamas desde o primeiro momento. E é execrável pelo uso de um símbolo da cultura espanhola."

 

 

POR FOLHAPRESS

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