- "Responsáveis" -
Mas as melhorias demoram, de acordo com testemunhos de uma dezena de entregadores contactados pela AFP.
"Antes, o aplicativo dava de 40 a 50 minutos para um pedido (...) Agora não dá mais do que 30 minutos para uma entrega em um raio de 2 quilômetros", protesta Zhuang, que trabalha para o Meituan, outro gigante do setor.
Para isso, o homem diz que não tem escolha a não ser "ir rápido demais, furar o sinal vermelho ou dirigir na contramão".
E é que se ultrapassarem o prazo estabelecido, os entregadores têm de pagar multa.
Muitos acham que estão colocando suas vidas em perigo por causa dos algoritmos - programas que funcionam como o cérebro de um bom número de aplicativos e serviços digitais.
Os algoritmos determinam quais pedidos aceitam com base em sua posição geográfica e definem o tempo de entrega. Também permitem fazer recomendações aos clientes com base em seus costumes e preferências.
Liu, outro entregador que não quis revelar seu nome completo, garante que o prazo inclui o tempo de preparo do prato, fator que não está em suas mãos, mas que pode penalizá-lo.
Se houver atraso na cozinha, "os entregadores são os responsáveis", lamenta o homem de 40 anos.
Questionado pela AFP, Meituan garante que os prazos de entrega são calculados "levando em consideração a segurança dos entregadores como prioridade e atendendo às necessidades do consumidor".
A plataforma, com mais de 600 milhões de usuários na China, acrescenta que seus funcionários podem recorrer de qualquer multa que considerem injusta.
Essa indústria depende essencialmente do trabalho de migrantes, muitas vezes pouco qualificados e de áreas rurais, que vão para as cidades na esperança de melhorar suas condições de vida.
Mas, assim que chegam às megacidades chinesas, tornam-se mão de obra barata para essas empresas e facilmente substituíveis.
"Todo mundo quer que os entregadores sejam tratados melhor, mas ninguém quer pagar por isso", diz a especialista digital Kendra Schaefer, da consultoria Trivium, em Pequim.
Poucos clientes atendem, por exemplo, a opção de alguns aplicativos de estender o prazo de entrega.
"É feito um algoritmo para maximizar a eficiência. Infelizmente, com a modernização da sociedade, isso prejudica o ser humano", aponta Schaefer.
*Por: AFP