RÚSSIA - Os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia na economia global exigirão que os governos forneçam subsídios para os consumidores mais pobres, impactados com a alta das contas de energia e alimentos.
A avalição é da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em sua primeira análise abrangente sobre a crise econômica desencadeada pelo conflito no leste europeu.
"É importante abrigar as pessoas. Isso ajudaria a evitar uma espiral de preços nos salários", afirmou a economista-chefe do thinktank, Laurence Boone.
A projeção é lançada num momento em que, no Brasil, o mercado avalia elevar os preços dos derivados de trigo nas próximas semanas e depois de Petrobras anunciar reajustes nos preços dos combustíveis.
No caso da gasolina, o reajuste para as distribuidoras foi de de 18,8%. O preço médio nas refinarias da estatal passou de R$ 3,25 para R$ 3,86 por litro.
O órgão de pesquisa com sede em Paris calcula que o crescimento econômico global será 1,1 ponto percentual menor e a inflação um pouco menos de 2,5 pontos maior do que se a invasão não tivesse ocorrido.
No fim de 2021, a OCDE previu que a economia global cresceria 4,5% este ano e os preços ao consumidor aumentariam 4,2%.
O thinktank observou que, embora a Rússia e a Ucrânia contribuíssem com quantidades pequenas para a produção global, ambos eram grandes produtores e exportadores de alimentos, minerais e energia.
O impacto no crescimento econômico será maior para países com laços comerciais e financeiros estreitos com os dois países, diz a OCDE.
Na avaliação de Boone, pessoas de baixa renda em todo o mundo sofrerão, já que alimentos e energia representam uma parcela maior de seus gastos do que nas famílias mais ricas. "Se você observar os preços das commodities, isso afetará todos os consumidores do planeta", disse Boone.
A OCDE calcula que a Rússia e a Ucrânia respondem por 30% das exportações globais de trigo, mais de um quarto das exportações mundiais de fertilizantes e quase 15% das exportações de milho.
Os preços do trigo quase dobraram desde o início da invasão em 24 de fevereiro, enquanto os preços dos fertilizantes subiram mais de três quartos e os preços do milho mais de 40%.
As preocupações da OCDE sobre o impacto da guerra nas pessoas e países mais pobres do mundo foram ecoadas pelas Nações Unidas, que em um relatório separado estimou que mais de 5% das importações dos países mais pobres é composta por bens que tiveram aumentos de preço desde a invasão, em comparação com apenas 1% das importações dos países ricos.
A ONU calcula que nos anos de 2018 a 2020, 32% das importações de trigo da África vieram da Rússia e outros 12% da Ucrânia.
Na Somália e no Benin, todo o trigo importado durante esses anos veio dos países em guerra.
A OCDE projeta que a economia da zona do euro terá um crescimento 1,4 ponto percentual mais fraco do que se a invasão não tivesse ocorrido, com os EUA vendo uma perda de cerca de 0,9 ponto percentual.
Em suas previsões anteriores, a OCDE esperava que a economia da zona do euro crescesse 4,3% em 2022 e a economia dos EUA crescesse 3,7%. Mas Boone disse que as perspectivas são altamente incertas, uma das razões pelas quais a OCDE decidiu abandonar sua tentativa habitual e trimestral de fornecer uma gama mais ampla de previsões precisas para os próximos anos.
O corpo de pesquisa espera que a inflação na zona do euro seja 2 pontos percentuais maior que se a guerra não tivesse começado, e a inflação nos EUA seja 1,4 ponto percentual maior.
O maior dano econômico provavelmente será sentido pela Rússia e pela Ucrânia, embora Boone tenha dito que é "super difícil" estimar a escala dos danos sofridos pelo país invadido.
A OCDE assume que a demanda doméstica russa será 15% menor este ano do que no ano passado, com a demanda na Ucrânia caindo 40%.
FOLHA