EUA - Juros altos e a valorização das principais matérias-primas produzidas no Brasil voltaram a desvalorizar a cotação do dólar frente ao real nesta sexta-feira (18). No caso específico das commodities, os ganhos nesse segmento também impulsionaram uma nova alta na Bolsa de Valores.
O dólar fechou em queda de 0,39%, a R$ 5,0170. No decorrer do dia, chegou a recuar aos R$ 4,99. A moeda americana cedeu 0,71% no acumulado da semana. No ano, a desvalorização atingiu 10,02%.
No terceiro dia de ganhos consecutivos, o Ibovespa subiu 1,98%, a 115.310 pontos. Isso levou o índice de referência do mercado de ações do país a um crescimento semanal de 3,22%. No ano, a alta da Bolsa é de 10,01%.
Mesmo com as oscilações provocadas pela aversão de investidores a mercados de risco desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro, algumas condições favoráveis à atração de recursos do exterior para o Brasil foram mantidas.
A principal delas é uma relação vantajosa dos juros brasileiros comparados aos oferecidos por outros países, segundo Zeller Bernardino, sócio da Valor Investimentos.
Nesta semana, o Banco Central do Brasil elevou a taxa Selic em um ponto percentual, para 11,75% ao ano, e sinalizou novos aumentos. "Isso faz com que o prêmio para aplicações em títulos públicos brasileiros compensem os riscos", diz Bernardino.
Atrativos para a renda fixa, os juros altos tradicionalmente desestimulam investimentos nas empresas e, consequentemente, tendem a desvalorizar ações na Bolsa de Valores. Mas não é isso o que está acontecendo neste ano.
Além de ter sido excessivamente desvalorizada no ano passado, a Bolsa brasileira tem nas suas grandes empresas do setor de commodities um dos principais atrativos a investidores estrangeiros, responsáveis por 53% das aplicações no mercado doméstico de ações.
Até a última quarta-feira (16), o saldo de investimentos de estrangeiros em ações brasileiras era de R$ 73,5 bilhões. É o equivalente a 72% do total de R$ 102,3 bilhões do saldo de todo o ano de 2021, cujo resultado foi o maior da série histórica registrada pela B3, a Bolsa de Valores do Brasil.
Petróleo e minério de ferro, duas das principais matérias-primas produzidas no Brasil, estão em alta. Isso é resultado de uma combinação de aquecimento econômico devido à retirada das restrições de circulação provocadas pela pandemia de Covid-19 e, também, à possibilidade de redução da oferta devido à guerra na Ucrânia.
Nos últimos dias, a expectativa de aceleração econômica na China voltou a crescer devido a promessas de estímulos econômicos feitas por Pequim.
O barril petróleo Brent subiu 1,50%, a US$ 108,24 (R$ 545,58). Na véspera, a valorização da matéria-prima foi de 8,79%.
O crescimento da expectativa da demanda chinesa também impulsionou os contratos futuros de minério de ferro, que subiram 2,42% nesta sexta. O setor de produção de aço na China é o maior consumidor mundial da commodity.
Possibilidades de ganhos rápidos com grandes exportadores de commodities impulsionam as principais empresas do setor na Bolsa. As ações da Petrobras avançaram 2,13% e, as da Vale, 1,53%.
"O crescimento das exportações de commodities também é responsável por reduzir a nossa taxa de câmbio, pois essas empresas recebem em dólares, o que aumenta a oferta da moeda estrangeira no país", comenta Bernardino.
Nos Estados Unidos, os índices Dow Jones e Nasdaq subiram 0,80% e 2,05% nesta sexta, respectivamente.
O índice S&P 500, referência para o mercado americano, subiu 1,17%, encerrando a semana com ganho de 6,16%.
Na última quarta, o Fed (Federal Reserve, o banco central do país) anunciou a primeira elevação da sua taxa de juros desde 2018. O aumento de 0,25 ponto percentual era esperado por analistas. Também houve a indicação de mais seis altas até o fim do ano.
Apesar de confirmar o fim de uma era de política expansionista, o comunicado do Fed deu certa previsibilidade sobre os próximos passos da autoridade monetária na sua estratégia para tentar frear a maior inflação no país em 40 anos.
No acumulado do ano, o S&P 500 ainda acumula queda de 6,36%. A queda é basicamente resultado da correção realizada por investidores desde o início do ano diante da expectativa de elevação dos juros no país.
A guerra entre Rússia e Ucrânia, porém, também tem provocado oscilações no mercado.
CLAYTON CASTELANI / FOLHA