MUNDO - Dois ativistas tailandeses foram detidos nesta sexta-feira e podem ser condenados à prisão perpétua por "violência contra a rainha" durante a passagem de seu comboio em uma manifestação pró-democracia, uma acusação inédita desde o início dos protestos no país.
O movimento pró-democracia, no entanto, mantém o desafio ao governo e programou uma nova manifestação para esta sexta-feira, apesar da proibição de concentrações.
Ekachai Hongkangwan e Bunkueanun Paothong estavam entre os ativistas próximos ao carro em que a rainha Suthida era transportada na quarta-feira, durante uma grande manifestação em Bangcoc. Dezenas de militantes fizeram o gesto de três dedos na passagem do veículo, um sinal de resistência copiado do filme "Jogos Vorazes" e que representa um desafio à autoridade real.
As manifestações pró-democracia, que pedem a renúncia do primeiro-ministro e uma reforma da monarquia - um tema tabu no país - prosseguem, apesar da entrada em vigor de medidas de urgência para tentar frear o movimento.
Mais de 100.000 pessoas se reuniram na quinta-feira no centro da capital, apesar da proibição de reuniões políticas de mais de quatro pessoas.
"Fui acusado de tentar prejudicar a rainha, mas sou inocente. Não era minha intenção", declarou Bunkueanun Paothong, que se apresentou à polícia depois de receber uma ordem de detenção.
Ekachai Hongkangwan e Bunkueanun Paothong foram acusados com base no artigo 110 do código penal tailandês, que afirma que qualquer "ato de violência contra a rainha ou sua liberdade" pode ser condenado com entre 16 anos de detenção e prisão perpétua.
"A utilização deste texto é muito incomum", afirmou à AFP Thitinan Pongsudhirak, cientista político na Universidade Chulalongkorn de Bangcoc.
Estas são as acusações mais graves anunciadas desde o início dos protestos e implicam sanções mais severas que as do artigo 112 de lesa-majestade, que prevê de três a 15 anos de prisão por crítica ou difamação ao rei e sua família.
As detenções acontecem no momento em que os manifestantes pró-democracia continuam desafiando o governo, apesar da entrada em vigor de um decreto de urgência para tentar frear o movimento que protesta nas ruas há vários meses.
As reuniões políticas com mais de quatro pessoas e as mensagens na internet consideradas "contra a segurança nacional" estão proibidas, segundo o decreto.
Apesar da medida, quase 10.000 pessoas se reuniram na quinta-feira em Ratchaprason, um grande cruzamento no centro da capital.
Nesta sexta-feira está prevista outra manifestação na mesma área, um local simbólico onde em 2010 as forças de segurança abriram fogo contra os "Camisas Vermelhas", movimento próximo ao ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, o que provocou várias vítimas.
O movimento pró-democracia pede a renúncia do primeiro-ministro Prayut Chan-O-Cha e uma reforma da poderosa e rica monarquia, um tema tabu no reino.
Maha Vajiralongkorn, que chegou ao trono em 2016 após a morte de seu pai, o venerado rei Bhumibol, é uma figura controversa.
Ele reforçou os poderes da monarquia, em particular com o controle direto da fortuna real. As frequentes viagens para a Europa, inclusive em plena pandemia do novo coronavírus, também provocaram questionamentos.
*Por: AFP