MUNDO - O governo alemão classificou como "inaceitáveis" e “uma vergonha” os tumultos promovidos neste último sábado (29) por manifestantes contrários ao uso de máscaras de proteção da Covid-19. Depois de um protesto, que foi dispersado pela polícia, militantes de extrema direita tentaram invadir o Parlamento alemão, em Berlim. Cerca de 300 pessoas foram detidas.
Mais cedo, a manifestação contou com mais de 38 mil participantes, segundo a polícia, o dobro do esperado. Os manifestantes fazem parte de um grupo heterogêneo que inclui ainda liberais, conspiracionistas e militantes antivacinas. Eles denunciaram que as medidas contra a pandemia são um atentado às liberdades individuais. Foi o segundo protesto deste tipo em menos de um mês, mas o movimento mostra sinais de radicalização que preocupam o governo do país.
“Bandeiras do Reich e grosserias da extrema direita em frente ao Parlamento são um ataque insuportável contra o coração da nossa democracia”, reagiu o presidente do país, Frank-Walter Steinmeier, em um comunicado neste domingo (30). “Jamais aceitaremos isso.”
A confusão se iniciou no fim da tarde, após a dispersão da manifestação por não respeitar distanciamento de pelo menos 1,5 metro entre os participantes, contra a propagação do coronavírus. Centenas de militantes de extrema direita forçaram as barreiras de proteção e o cordão policial na entrada do Parlamento e, por pouco, não conseguiram entrar no prédio.
Símbolos do antigo império alemão
A polícia usou gás lacrimogêneo para afastar os manifestantes. Muitos deles traziam símbolos do Reich alemão, encerrado em 1919, nas cores preto, branco e vermelho.
Vários ministros do país se pronunciaram contra as violências.O chefe da diplomacia Heiko Maas declarou que "ver a bandeira do antigo império alemão em frente ao Parlamento é uma vergonha". Ele defendeu o direito de manifestar, mas disse que “ninguém deveria ir até desfilar atrás de extremistas de direita”.
“Símbolos nazistas e outras bandeiras do império não têm lugar em frente à Câmara dos Deputados”, reforçou o vice-chanceler e ministro das Finanças, Olaf Scholz.
Em um artigo no jornal Bild deste domingo, o ministro do Interior, Horst Seehofer, afirmou que a confusão foi promovida por "extremistas e baderneiros", contra "centro simbólico da nossa democracia". O conservador declarou que a pluralidade de opiniões é “uma característica do bom funcionamento de uma sociedade”, mas “a liberdade de manifestação atinge seus limites quando as regras públicas são pisoteadas”, avaliou.
Um porta-voz da polícia de Berlim tentou explicar o incidente. “Não podemos estar presentes em todo o lugar e as fraquezas do esquema de segurança são utilizadas”, justificou Thilo Cablitz.
Ataque a símbolo da democracia
O Reichstag (Parlamento), famoso pela imponente cúpula envidraçada, tem uma carga simbolica forte na Alemanha. O prédio foi incendiado pelos nazistas em 1933, em um ato encarado como um golpe derradeiro nas instituições democráticas alemãs no período entre-guerras.
Os manifestantes radicais também atacaram a embaixada da Rússia, não distante do Parlamento, com garrafas e pedras. Os protestos ocorrem dois dias antes de o governo comandado pela chanceler Angela Merkel anunciar novas medidas contra o aumento dos casos de Covid-19 no país.
Protestos antimáscaras também ocorreram em outras cidades europeias, como Paris, Londres, Zurique e Lisboa. Na França, entre 200 e 300 manifestantes participaram, enquanto na capital londrina e na Suíça, eles chegaram a 1.000.
*Por: RFI
Com informações da AFP