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Líbano: pobreza leva famílias inteiras a deixar o país em travessias clandestinas pelo Mediterrâneo © AFP - -

Líbano: pobreza leva famílias inteiras a deixar o país em travessias clandestinas pelo Mediterrâneo

Escrito por  Fev 11, 2024

LÍBANO - O Líbano enfrenta uma grave crise econômica há quase cinco anos, o que tem levado a população mais precária a migrar para a Europa, em travessias clandestinas de barco passando pelo Mediterrâneo. O destino é a Itália ou o Chipre e os embarques ocorrem principalmente no norte do país.

Os tripulantes das embarcações clandestinas são refugiados sírios que chegaram ao Líbano no início da guerra, em 2011, palestinos que estão no país desde 1948, mas também libaneses. Esse novo êxodo no país se explica pela desaceleração econômica e as incertezas que envolvem a guerra na Faixa de Gaza entre Israel e o Hamas, aliado do grupo libanês Hezbollah.

Cerca de 80% da população no Líbano vive abaixo da linha da pobreza, após anos de medidas governamentais que incluíram restrições bancárias e a desvalorização da moeda. Esta precariedade tem levado famílias inteiras a deixar o país por falta de perspectiva a médio e longo prazo.

Só em 2023, cerca de 100 barcos partiram do norte do Líbano, transportando milhares de pessoas. O objetivo dos migrantes é chegar à ilha de Chipre, a 160 km de distância, ou à Itália. Pelo menos 250 pessoas morreram ou desapareceram nessas travessias.

Em Trípoli, a maior cidade do norte do país e uma das mais pobres do Mediterrâneo, a RFI conversou com Wissam Al Talawi, um libanês de 39 anos. Ele tentou chegar à Itália com a esposa e os quatro filhos, mas todos morreram afogados na viagem.

Único sobrevivente da família, ele apresentou uma queixa ao lado de outras vítimas contra os contrabandistas, mas a investigação está paralisada. "Quero alertar as pessoas para não tentarem fazer essa travessia com seus filhos, porque eu tentei e perdi toda a minha família. Espero que os contrabandistas recebam o castigo que merecem. Não pedimos nada além de justiça. Isso se a Justiça fizer o seu trabalho, porque no Líbano nada funciona”, diz Al Talawi.

Qual é o preço dessa viagem, uma das mais perigosas do mundo? Os contrabandistas cobram entre € 3.000 e € 7.000 por pessoa. De acordo com depoimentos de sobreviventes, eles andam armados. Os barcos usados são precários e sobrecarregados.

 

"Migrantes não são números"

A bordo, os migrantes são regularmente vítimas de pushbacks, ou seja, são obrigados a recuar quando o barco é proibido de deixar as águas territoriais. O naufrágio de um barco que deixou o Líbano em 2022 é emblemático: em 23 de abril, a Marinha libanesa interceptou um barco com 85 pessoas a bordo.

Os 45 sobreviventes acusam o Exército de afundar a embarcação deliberadamente, por tê-la atacado duas vezes. O Exército, por sua vez, alega que o barco afundou porque estava cheio demais.

O caso foi arquivado pela Justiça, mas o advogado das vítimas, Mohamed Sablouh, pede a reabertura do julgamento contra o Exército. "Os migrantes não são números, são seres humanos. Não nos calaremos diante da violência que sofreram. Fomos notificados de que o tribunal considera que nenhum crime foi cometido. Não vamos deixar isso acontecer.”

Para aqueles que chegam ao seu destino, os problemas só começaram. No Chipre, que assinou um acordo com as autoridades libanesas, os migrantes são repatriados automaticamente. Os sírios podem pedir asilo, mas o processo pode levar vários anos.

 

 

por RFI

Redação

 Jornalista/Radialista

Website.: https://www.radiosanca.com.br/equipe/ivan-lucas
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