JERUSALÉM - O Parlamento de Israel avançou com uma lei controversa sobre o recrutamento de estudantes religiosos ultraortodoxos para as Forças Armadas, em meio a cenas de fúria na segunda-feira, 10, no Knesset, conforme famílias de alguns dos reféns de Gaza exigiram mais ações para trazê-los de volta para casa.
Um dia depois que o ex-general de centro Benny Gantz deixou o governo em uma disputa sobre os objetivos estratégicos da guerra de Gaza, a votação e os confrontos ressaltaram a mistura volátil de forças que envolvem o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, agora cada vez mais dependente de seus aliados da extrema-direita.
O projeto de lei de alistamento, que ainda precisa passar por outras votações e audiências em comitês após a votação da noite de segunda-feira, prevê a entrada gradual no Exército de alguns judeus ultraortodoxos, que tradicionalmente resistem a servir nas Forças Armadas.
Embora tenha sido originalmente apresentada por Gantz em 2022, durante o governo anterior, ele agora se opõe à medida, que, segundo ele, é inadequada para as novas demandas de pessoal enfrentadas pelas Forças Armadas.
O ministro da Defesa, Yoav Gallant, o último de um grupo de ex-generais que restou após a saída de Gantz e de seu aliado, o ex-chefe do Exército Gadi Eisenkot, rompeu as fileiras e votou contra o projeto de lei.
Por outro lado, os partidos religiosos da coalizão, que se opuseram fortemente a uma expansão geral do alistamento, deram seu apoio, com o objetivo de inserir mudanças na fase de revisão.
Embora a proposta seja de mais ultraortodoxos nas Forças Armadas, seu número seria restrito e o projeto de lei permitiria algumas alternativas ao serviço militar.
"Temos uma grande oportunidade que não deve ser perdida. O público ultraortodoxo não pode ser encurralado", disse em um comunicado o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, líder de um dos partidos pró-assentamentos da coalizão.
A questão de suspender algumas das restrições ao recrutamento de homens ultraortodoxos para as Forças Armadas tem sido uma questão polêmica há décadas em um país onde o serviço militar amplo é visto como um dos pilares de sua segurança.
Ressentida por muitos israelenses seculares, a questão ficou mais sensível do que nunca desde o início da guerra em Gaza, na qual mais de 600 soldados israelenses foram mortos.
"Há aqueles que o apoiaram na época e se opõem agora porque o consideram errado para Israel, e há aqueles que se opuseram na época e o apoiarão agora porque veem uma oportunidade de mudá-lo", disse Assaf Shapira, chefe do programa de reforma política do Instituto de Democracia de Israel, à Reuters.
Enquanto o Parlamento se preparava para votar o projeto de lei, houve uma troca de acusações em uma reunião do Comitê de Finanças, onde membros de algumas das famílias de reféns abordaram Smotrich e exigiram que o governo fizesse mais para trazer os cativos de volta para casa.
Inbal Tzach, cujo primo Tal Shoham foi um dos 253 reféns israelenses e estrangeiros sequestrados por homens armados do Hamas enquanto eles atacavam as comunidades próximas a Gaza em 7 de outubro, disse que ministros como Smotrich precisavam fazer de tudo para trazer os 120 reféns restantes de volta.
Smotrich, que descartou qualquer acordo com o Hamas e se opôs às propostas de um acordo de cessar-fogo que traria os reféns de volta em uma troca por prisioneiros palestinos, considerou a campanha das famílias como cínica.
"Não colocarei em risco o Estado de Israel e seu povo", disse ele. "Não vou parar a guerra logo antes da destruição do Hamas, porque isso é um perigo existencial para Israel."
Por Steven Scheer / REUTERS