ALEMANHA - A maioria dos deputados do partido alemão de extrema direita AfD e uma formação de esquerda radical boicotaram, nesta terça-feira (11), o discurso no Parlamento do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, que alertou sobre a retórica pró-russa na Europa.
O mandatário fez um discurso para os legisladores do Bundestag, a Câmara Baixa do Parlamento alemão. A bancada dos 77 deputados da AfD estava praticamente vazia e apenas quatro deles estiveram presentes.
"Nos negamos a escutar um orador com roupa de camuflagem", explicou em um comunicado a direção da legenda, afirmando que a "Ucrânia não necessita de um presidente de guerra, mas sim um presidente de paz".
Também abandonaram o hemiciclo os 10 deputados do partido de esquerda radical BSW, criado recentemente e de linha soberanista, com um discurso crítico à migração e à entrega de armas a Kiev.
Esse grupo disse querer enviar "um sinal de solidariedade a todos os ucranianos que querem um cessar-fogo imediato e uma solução negociada".
Para esses dois partidos, as eleições europeias de domingo foram um sucesso.
A AfD ficou em segundo lugar com cerca de 16% dos votos, atrás dos conservadores. O BSW superou os 6% e eclipsou o movimento histórico de extrema esquerda Die Linke (2,7%).
- "Perigoso para seus países" -
Em visita a Berlim para uma conferência internacional sobre a reconstrução da Ucrânia, Zelensky expressou sua preocupação com os bons resultados eleitorais das formações "com slogans radicais pró-russos".
É "perigoso para seus países", disse em uma coletiva de imprensa ao lado do chefe de Governo alemão, Olaf Scholz.
O presidente ucraniano pediu mais uma vez aos seus aliados que aumentem a ajuda em matéria de defesa aérea.
"É o terror inspirado pelos mísseis e as bombas o que ajuda as tropas russas a avançar no terreno", assegurou ante um grupo de altos responsáveis europeus.
"Enquanto não privarmos a Rússia da possibilidade de aterrorizar a Ucrânia, [o presidente russo Vladimir] Putin não terá nenhum interesse real em buscar uma paz justa", disse.
"A defesa aérea é a resposta", acrescentou.
Depois de Berlim, Zelensky participará da cúpula dos dirigentes do G7 na Itália e depois irá à Suíça para discursar na Conferência sobre a paz na Ucrânia, que ocorrerá no sábado e no domingo e contará com mais de 90 países e organizações. Rússia e China não estão entre elas.
Por sua vez, Scholz também instou os aliados ocidentais a fazerem mais para permitir que Kiev proteja suas infraestruturas vitais e civis.
"O que o Exército ucraniano mais necessita agora são munições e armas, sobretudo para a defesa antiaérea", insistiu o dirigente alemão, recordando que Berlim decidiu entregar recentemente um terceiro sistema de defesa antiaérea Patriot.
Scholz reafimou que não haverá "vitória militar nem uma paz ditada" por Putin.
"Promover essa conscientização é o que está em jogo na cúpula de paz que será realizada neste fim de semana na Suíça", comentou.
A segurança energética e a renovação da rede elétrica ucraniana também serão algumas das questões abordadas no encontro no país helvético.
Zelensky indicou na terça-feira que os bombardeios russos contra as infraestruturas energéticas do país reduziram à metade sua produção elétrica desde o inverno.