AFEGANISTÃO - As conversas com diplomatas ocidentais na próxima semana ajudarão a mudar "a atmosfera bélica" que prevalece no Afeganistão desde que a coalizão americana interveio há 20 anos, disse um porta-voz do governo islâmico no sábado (22).
"O Emirado Islâmico [nome dado pelo Talibã ao seu regime] tomou medidas para atender às demandas do mundo ocidental e esperamos fortalecer nossas relações diplomáticas com todos os países, incluindo países europeus e o Ocidente em geral", disse Zabihullah Mujahid à AFP.
Os talibãs, no poder desde agosto após a rápida conquista do país, querem "mudar o clima de guerra (...) por uma situação pacífica", acrescentou.
Embora até agora nenhum país tenha reconhecido o governo talibã, as negociações entre os novos líderes do Afeganistão e diplomatas ocidentais começarão em Oslo, na Noruega, no domingo.
Uma delegação do Talibã deve se reunir com autoridades norueguesas e com representantes de outros países aliados, como Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Itália e União Europeia.
As conversas vão centrar-se no respeito pelos direitos humanos, especialmente os das mulheres, condição imposta para um possível restabelecimento da ajuda internacional que financiou 80% do orçamento do Afeganistão, mergulhado numa profunda crise humanitária.
As negociações, que durarão até terça-feira, "não constituem uma legitimação ou reconhecimento do Talibã", insistiu na sexta-feira o ministro das Relações Exteriores da Noruega, Anniken Huitfeldt.
"Mas temos que falar com as autoridades que de fato governam o país. Não podemos deixar que a situação política leve a um desastre humanitário ainda maior", declarou.
Desde agosto, a ajuda internacional parou repentinamente e os Estados Unidos também congelaram US$ 9,5 bilhões em ativos do banco central afegão.
O desemprego disparou e os salários dos funcionários públicos não são pagos há meses em um país já devastado por uma seca severa.
Segundo a ONU, a fome já ameaça 23 milhões de afegãos, 55% da população.
A delegação talibã, composta por 15 representantes, composta apenas por homens e liderada pelo ministro das Relações Exteriores Amir Khan Mutaqqi, deixou Cabul hoje a bordo de um avião fretado pelo governo norueguês, disse um porta-voz do Talibã no Twitter.
Essas negociações foram condenadas pela Frente de Resistência Nacional (FNR), um grupo de oposição que continua a resistir aos fundamentalistas islâmicos no Afeganistão.
As negociações podem "normalizar um grupo terrorista e torná-lo um representante do Afeganistão", tuitou Ali Maisam Nazary, delegado de relações exteriores da FNR, na sexta-feira.