O grupo da UFSCar olha para as copas como redes. O objetivo central é explicar a forma de conexão dos ramos (denominados no modelo como "eixos lenhosos") e a altura máxima atingida em indivíduos crescendo sob diferentes estresses ambientais. O modelo explica a tendência de uma árvore diminuir o seu tamanho sob estresse, por exemplo, sob reduzida disponibilidade de água, de nutrientes, ou sob excessiva temperatura.
O novo modelo pode ser aplicado em qualquer espécie lenhosa, independentemente da idade ou localização, incluindo indivíduos que passaram por processos de melhoria para maior resistência a diferentes condições ambientais. "É um modelo que pode capturar modificações arquiteturais introduzidas em cultivares lançadas por melhoristas vegetais. Pode medir a capacidade potencial de resistir a diferentes estresses sob condições naturais", detalha o líder do grupo.
Para chegar ao "Modelo de Redes Lenhosas" foram utilizadas 26 espécies arbóreas de duas vegetações naturais brasileiras, a Caatinga e o Cerrado. Nessas vegetações foram observadas diferentes estratégias de conquista do espaço aéreo pela copa lenhosa. Na Caatinga, o grupo identificou espécies com redes lenhosas mais ramificadas. Essas ramificações são denominadas de "nós" da rede. A maioria desses nós estavam próximos à ramificação inicial (nó inicial) da copa nas árvores da Caatinga. A inserção dos eixos lenhosos próximos ao nó inicial facilita o atendimento da demanda hídrica e nutricional até mesmo nas porções distantes do início da copa, mas o resultado é a altura menor do indivíduo. Essa estratégia de conquista do espaço aéreo, capturada pelo grupo da UFSCar em parceria com a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é consistente com modelos de arquitetura hidráulica já existentes e explica a altura relativamente menor da maioria das fisionomias da Caatinga comparadas às do Cerrado.
O "Modelo de Redes Lenhosas" revelou oito propriedades da copa em uma trilogia de artigos iniciada em 2011. Essas propriedades da copa são estruturalmente interdependentes: simetria, complexidade, navegabilidade, vulnerabilidade, lateralidade, basitonia, plasticidade topológica potencial e compartilhamento de nós entre eixos. "As oito propriedades do modelo podem ser referências também para capturar a arquitetura das lenhosas melhoradas artificialmente", reitera o pesquisador da UFSCar.
Prado ressalta que o modelo inédito renova as ferramentas anteriores para a análise de arquitetura de plantas por criar um léxico e uma gramática a partir das áreas de conhecimento da "Teoria de Redes" e da "Arquitetura Botânica Clássica". O autor destaca também que para registrar a arquitetura da copa e realizar a análise pelo novo modelo não é necessário nenhum equipamento, apenas lápis, papel e fita de marcação em campo. Assim, o modelo é útil e de baixo custo para o manejo de qualquer formação de árvores e arbustos.
Além dos integrantes da UFSCar, o grupo de pesquisa tem como coautora dos dois últimos trabalhos sobre redes lenhosas a pesquisadora Dilma Maria de Brito Melo Trovão, docente da UEPB. O artigo mais recente do grupo - intitulado "O modelo de rede lenhosa incorpora a altura máxima" - foi publicado na sessão especial Jorgensen Review da revista Ecological Modelling e pode ser acessado neste link (https://bit.ly/3o8BUrt).