SÃO CARLOS/SP - Foi realizado o I Encontro sobre Fauna Silvestre e Desenvolvimento Urbano em São Carlos, um evento coordenado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.
Com o crescimento populacional e expansão da urbanização, as áreas naturais estão sendo substituídas, removidas, provocando desequilíbrio na dinâmica ecossistêmica existente e induzindo a fauna silvestre a buscar novos territórios e o conflito já vem acontecendo. Pensando nisso a pasta do Meio Ambiente reuniu diversos atores, tanto no âmbito estadual, como municipal e o Ministério Público para buscar caminhos que possam solucionar esses problemas.
Foram apresentados os dados da plataforma BioRota, criada pela Secretaria do Meio Ambiente e várias palestras foram ministradas por especialista e pelos Promotores Ambientais Sérgio Domingos de Oliveira e Flávio Okamoto. No encerramento do evento foi formada uma grande mesa redonda para discussão das pautas.
O evento teve início com a apresentação dos dados de incidentes com fauna silvestre em nossa cidade. A bióloga Isabela Pelatti trouxe números preocupantes coletados pela plataforma BioRota, de 2016 a 2024, onde foram registradas 298 ocorrências de animais feridos na área urbana de São Carlos, logo em seguida tivemos as palestras dos promotores do meio ambiente e da Dra. Jussara Tebet da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo, da bióloga Ana Luísa Mengardo da CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo e do Dr. Dyego Bracht da Via Arteris.
O Promotor do Meio Ambiente, Sérgio Domingos, afirma que Estado e município precisam melhorar suas estruturas principalmente na prevenção e defende a criação de um CETRAS. “Existe uma regulamentação de proteção aos animais silvestres, porém é necessário que tantos os municípios como o Estado se movimentem para o cumprimento dessas normas. O que vemos é um atraso no cumprimento dessa Legislação, principalmente no aspecto preventivo, já que a maioria se movimenta quando ocorre apreensão de animais silvestres ou quando ocorrem acidentes. Cada município precisa estudar a sua fauna, estudar quais medidas mitigadoras devem ser tomadas para evitar acidentes com esses animais e o Estado tem que contribuir mais efetivamente, estruturalmente para que ocorra a proteção da fauna. Nos vemos poucas ações, mas graças a Deus agora está ocorrendo esse movimento proposto pela Prefeitura de São Carlos. Precisamos da criação de um CETRAS (Centro de Triagem e Recuperação de Animais Silvestres), seja por meio de parcerias ou convênios para dar conta dessa situação. O Parque Ecológico ajuda, porém não pode fazer esse papel, essa não é a função dele”, avalia o promotor.
Segundo o Promotor Flávio Okamoto já existe uma ação civil pública em andamento, acompanhado pelo Ministério Público, cobrando o município e o Estado, para que São Carlos tenha um CETRAS. “Esse encontro promovido pela Prefeitura sobre fauna silvestre é muito importante para trazer esse assunto à tona, não temos um equipamento adequado para receber esses animais que sofrem algum tipo de lesão, seja por atropelamento ou agora pelas queimadas. O Parque Ecológico faz esse serviço de maneira espontânea, voluntária, mas não é um centro de triagem para receber os animais silvestres, já existe uma ação civil pública em que a gente cobra tanto o município, quanto o Estado, que São Carlos tenha o próprio CETRAS, ou faça um convênio com um município próximo para que esses animais tenham um acolhimento correto”.
Fernando Magnani, diretor de Gestão do Parque Ecológico, acredita que esse encontro dá visibilidade a fauna silvestre no município, no ponto de vista da conservação, na conscientização de convivência de forma pacífica e para novas ações. “É primordial que saibamos conviver tranquilamente com a fauna silvestre, como a cidade pode avançar, oferecer novas áreas para as pessoas, sem prejudicar a fauna que aqui vive, é isso que estamos fazendo hoje, discutindo, criando ações futuras para que tenhamos uma boa convivência. O Parque Ecológico é o local que faz a educação ambiental voltada para a conservação da fauna, que muitas vezes executa o resgate de animais atropelados ou feridos, juntamente com os órgãos oficiais, estabiliza esses animais e muitas vezes até devolve à natureza. O Parque se esforça, a equipe é extremamente profissional e dedicada, só que somos uma entidade única, a fauna silvestre pertence a todos e precisamos de mais ações para a proteção desses animais”, finaliza o diretor.
Júnior Zanquim, secretário do Meio Ambiente de São Carlos, ressalta que tudo esse trabalho só foi possível pela autonomia conquistada em 2023 quando a pasta foi criada e o objetivo desse primeiro encontro foi buscar soluções e achar caminhos para uma convivência harmônica com a fauna silvestre do município. “É um marco no município, algo que a gente pretende continuar. O crescimento da população é grande e precisamos ter clareza das ações dos órgãos estaduais, municipais, concessionárias, do próprio Ministério Público, de ações possíveis de serem implementadas. Vários encaminhamentos surgiram desse evento, como a necessidade de uma melhor organização da legislação municipal, estadual e federal, um suporte maior do estado, mesmo porque a fauna pertence ao estado por atribuição. Estamos tomando a iniciativa de trazer uma adequação para esse conflito, mas precisamos que o estado seja parceiro, bem como as secretarias do município, o MP e a sociedade civil, para que juntos possamos encontrar soluções adequadas, rápidas e eficientes para esse conflito e principalmente para o acolhimento, estabilização e soltura desses animais”.
A Polícia Militar Ambiental pode fazer o primeiro socorro de animais silvestres feridos, basta ligar para o telefone 190, mas os Bombeiros (193), Guarda Municipal (153), Defesa Civil (199), Parque Ecológico (3361-4456) e a própria Secretaria de Meio Ambiente (3362-1068), além das concessionárias das rodovias, também podem ser acionadas nesses casos.
O evento teve a participação da sociedade civil, da ONG Coração, de representantes do CONDEMA (Conselho Municipal do Meio Ambiente), da UFSCar, Guarda Municipal, CDCC e de várias secretarias municipais.