SÃO PAULO/SP - Um gerente de farmácia foi o responsável pelo vazamento da receita médica na qual era prescrito o uso de cloroquina no tratamento do médico infectologista David Uip, que contraiu coronavirus enquanto liderava o comitê de emergência criado pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), para combater a pandemia no estado. A conclusão está em inquérito policial aberto para apurar o caso.
De acordo com as investigações, o gerente do estabelecimento onde Uip comprou o medicamento, em São Paulo, fotografou a receita médica e a divulgou em um grupo de WhatsApp. A receita é protegida por sigilo médico e não poderia ter se tornado pública sem o consentimento do paciente. A conclusão do inquérito foi confirmada pelo advogado Luiz Flávio D’Urso, responsável pela defesa do médico nesse caso.
De acordo com D’Urso, o vazamento da receita criou “enormes dissabores e imensos prejuízos, tanto pessoal como profissional” a Uip. Na ocasião, a confirmação de que o auxiliar de Doria tinha sido medicado com cloroquina o tornou alvo de seguidores de Jair Bolsonaro nas redes sociais. O medicamento é defendido pelo presidente como cura para a doença, apesar da inexistência de constatações científicas que garantam a sua efetividade. Os ataques ganharam conotação política pelo fato de Uip integrar o governo de Doria, adversário político do presidente.
A insistência de Bolsonaro em criar um novo protocolo do Ministério da Saúde que recomenda o uso da cloroquina em pacientes em estágios iniciais da doença, e não apenas em casos graves, como vinha sendo estabelecido pello órgão, culminou no pedido de demissão do ex-ministro Nelson Teich após menos de um mês no cargo.
A defesa de Uip afirmou que irá pedir ao Ministério Público a instauração de uma denúncia criminal contra o responsável pelo vazamento da receita.
*Por: Mariana Zylberkan / VEJA.com