FRANKFURT - A inflação da zona do euro perdeu força no mês passado, mas o aumento dos preços subjacentes permaneceu forte, reforçando o argumento de que o Banco Central Europeu deve manter as taxas de juros em níveis recordes por mais algum tempo antes de começar a afrouxar a política monetária em meados do ano.
A inflação em toda a zona do euro, composta por 20 países, caiu para 2,6% em fevereiro, de 2,8% no mês anterior, um pouco abaixo das expectativas de 2,5%, segundo dados da agência de estatísticas da UE, Eurostat.
Porém o núcleo do índice, que exclui os preços voláteis de alimentos e combustíveis, caíram apenas de 3,3% para 3,1%, contra expectativas de 2,9% e mantendo-se desconfortavelmente acima da meta de 2% do BCE.
O BCE tem mantido sua taxa de depósito em um nível recorde de 4% desde setembro, mas conversas sobre afrouxamento vêm ganhando força e as autoridades estão agora debatendo o cronograma para cortes nas taxas e não se uma reversão é apropriada.
O BCE aumentou os juros em tempo recorde a partir de meados de 2022, depois que a inflação subiu acima de 10%, mas o crescimento dos preços agora está se aproximando da meta de 2%. Autoridades já disseram que as novas projeções, que serão divulgadas na próxima quinta-feira, provavelmente mostrarão um retorno mais rápido à meta.
Ainda assim, é improvável que os dados de fevereiro aliviem as preocupações persistentes sobre as pressões dos preços subjacentes, uma vez que a inflação no setor de serviços diminuiu apenas de 4,0% para 3,9%.
A principal preocupação do BCE é que a inflação salarial está muito rápida e, a menos que os trabalhadores comecem a mostrar alguma moderação em breve, os preços poderão avançar.
Os salários devem crescer mais de 4,5% este ano e o BCE há muito tempo defende que qualquer valor acima de 3% é inconsistente com sua meta de inflação.
Reportagem de Balazs Koranyi / REUTERS
TÓQUIO - O núcleo da inflação ao consumidor do Japão desacelerou pelo terceiro mês consecutivo em janeiro, mas superou as previsões e manteve-se na meta de 2% do banco central, mantendo vivas as expectativas de que as taxas de juros negativas serão encerradas em abril.
O ganho de 2,0% no núcleo do índice de preços ao consumidor (IPC) foi mais lento do que o aumento de 2,3% em dezembro, mostraram dados do Ministério de Assuntos Internos e Comunicações nesta terça-feira, ressaltando as opiniões de que a diminuição da inflação impulsionada pelos custos das importações de commodities poderia aliviar a dor do aumento do custo de vida.
No entanto, o ganho superou a mediana das previsões do mercado de um aumento de 1,8%, reafirmando as expectativas de que grandes empresas oferecerão aumentos salariais pesados nas negociações salariais entre trabalhadores e patrões em 13 de março, o que abriria caminho para que o Banco do Japão encerrasse as taxas de juros negativas em março ou abril.
"O IPC de janeiro deixa em aberto a possibilidade de o Banco do Japão aumentar sua taxa de política monetária na reunião de março, se os resultados preliminares do Shunto, que serão divulgados alguns dias antes da reunião, forem animadores", disse Marcel Thieliant, da Capital Economics, referindo-se ao nome japonês para as negociações salariais.
"Ainda consideramos mais provável um aumento em abril", acrescentou Thieliant. "Por um lado, a inflação saltará bem acima de 2% em fevereiro, com o início dos efeitos de base do lançamento dos subsídios à energia há um ano, o que permitiria ao Banco contar uma história mais convincente de que a inflação continua forte", acrescentou.
O índice básico de preços ao consumidor do Japão inclui produtos petrolíferos, mas exclui os preços de alimentos frescos.
A desaceleração deveu-se, em parte, a uma grande queda nos custos de energia, refletindo o efeito de base do forte aumento do ano passado e os subsídios do governo para reduzir as contas de gasolina e serviços públicos, em um sinal de diminuição da pressão de custo que manteve o núcleo da inflação igual ou acima da meta de 2% do banco central japonês desde abril de 2022.
No futuro, a chave é saber se os aumentos salariais superam a inflação o suficiente para dar poder de compra às famílias, de modo que as empresas possam continuar a repassar os custos e manter a inflação de forma duradoura na meta de 2% do Banco do Japão, dizem os analistas.
O chamado índice "básico", que exclui os preços dos alimentos frescos e da energia, observado de perto pelo banco central japonês como um indicador restrito da tendência mais ampla dos preços, aumentou 3,5% em janeiro, em relação ao ano anterior, após um aumento de 3,7% em dezembro.
"No que diz respeito aos preços, não há nada nos dados de hoje que impeça o movimento do Banco do Japão no sentido de acabar com as taxas negativas, o que, em minha opinião, ocorrerá em abril", disse Izuru Kato, economista-chefe da Totan Research.
"Ao mesmo tempo, o Banco do Japão precisa encontrar um equilíbrio em vista dos dois trimestres consecutivos de contração do produto interno bruto (PIB) e do consumo privado sem brilho, enquanto o iene fraco criou uma situação semelhante à estagflação", acrescentou ele, referindo-se a uma combinação de baixo crescimento e inflação elevada.
Por Tetsushi Kajimoto e Takahiko Wada / REUTERS
EUA - A economia global “parece a caminho de um pouso suave”, avalia o Fundo Monetário Internacional (FMI), “mas a atividade e as perspectivas de crescimento permanecem fracas”. A constatação está em relatório de monitoramento produzido pelo staff do Fundo e publicado nesta segunda-feira, 26, por ocasião do encontro de ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do G20 em São Paulo, nesta semana.
Na avaliação do staff do FMI, o processo de desinflação no G20 até agora ocorre sem detonar uma recessão, enquanto as economias emergentes têm demonstrado “melhorada resiliência”. Neste ano, a política monetária deve “relaxar um pouco”, enquanto as perspectivas de crescimento no médio prazo seguem contidas, o que reflete tendências seculares e desafios, entre eles o crescimento fraco da produtividade, o envelhecimento, fragmentação geoeconômica e vulnerabilidades globais.
O FMI considera que a sustentabilidade fiscal “tem sido testada”, com as condições de financiamento dos governos se mantendo em quadro “desafiador” no médio prazo, em meio a “elevados e crescentes” níveis de dívida pública.
Por outro lado, com a recuperação econômica mostrando maior vigor, os riscos à perspectiva “estão mais equilibrados”.
Entre os riscos de alta, o crescimento global poderia superar a previsão caso o ritmo da desinflação seja mais rápido que o antecipado, permitindo relaxamento monetário mais rápido, ou se a consolidação fiscal fosse mais gradual que o em princípio apontado.
Como riscos de baixa, o Fundo menciona saltos adicionais nos preços de commodities, a persistência da força do mercado de trabalho e tensões renovadas em cadeias globais, que puxariam para cima pressões inflacionárias.
Caso induzido por estresse na dívida, o aperto fiscal seria mais rápido que o almejado por acontecimentos cíclicos e minaria o crescimento. Já mudanças à perspectivas na China, “positivas ou negativas”, seriam uma fonte de risco global, destaca o FMI.
No médio prazo, as perspectivas de crescimento fraco, bem como o risco de maior recorrência de protecionismo, teriam uma ameaça maior representada pela fragmentação geoeconômica, o que já inibe a integração comercial e financeira, diz o staff do Fundo.
O documento também menciona que vulnerabilidades climáticas pesam nas perspectivas de médio prazo do crescimento global, com impacto desproporcional na África. “Mesmo que o ritmo da globalização tenha desacelerado, permanecem as oportunidades de crescimento, entre elas do comércio e dos serviços digitais e da inteligência artificial (IA) – caso aproveitadas de modo adequado”, acredita.
Uma combinação apropriada de política fiscal e monetária seria crucial para se chegar a um quadro de estabilidade de dívida, nos preços e financeira, afirma o Fundo. A política monetária precisa garantir a estabilidade de preços e estar pronta a mudar para uma postura mais neutra, onde a inflação retorna à meta e o crescimento possa diminuir. Ao mesmo tempo, os esforços de consolidação fiscal, usando um mix apropriado de medidas de receita e de gasto, não deveriam ser retardados, mas sim mantidos em ritmo que buscasse um equilíbrio correto entre estabilização da dívida e apoio ao crescimento inclusivo.
No médio prazo, reformas orientadas e cuidadosas podem ajudar a impulsionar a produtividade, menciona o staff do Fundo. O documento diz que as autoridades do G20 devem reforçar esforços para mitigar a ameaça da mudança climática e apoiar a transição climática, a fim de ajudar a liberar o crescimento potencial da África.
Também pede cooperação para lidar com a fragmentação, notadamente para evitar políticas comerciais que distorcem o quadro, além de fortalecer o sistema monetário internacional. “O G20 tem um papel central para garantir que os benefícios da IA sejam totalmente explorados, enquanto os riscos são minimizados”, acrescenta.
Cidade registra quinta alta consecutiva puxada pelo custo dos alimentos in natura, mostra levantamento do IEMB-Acirp
RIBEIRÃO PRETO/SP - O impacto do clima sobre os itens in natura da cesta básica segue afetando o preço final do kit básico de alimentos em Ribeirão Preto. De acordo com levantamento do Instituto de Economia Maurílio Biagi da Associação Comercial e Industrial (IEMB–Acirp), a inflação sobre os alimentos em fevereiro foi, em média, de 3,95% em relação ao mês anterior.
Foi a quinta alta consecutiva registrada, com valor médio de R$ 702,46. O levantamento em 11 supermercados/hipermercados e quatro panificadoras distribuídos entre as regiões Norte, Leste, Oeste, Sul e Central foi realizado no último dia 16.
Pelo segundo mês seguido, o Centro registrou o conjunto mais caro do município (de R$ 771,58), com aumento de 8,34% em relação a janeiro. A inflação desta região foi impulsionada pela banana nanica (+40,07%) e pelo açúcar cristal (+23,35%).
A cotação na região Norte foi novamente a mais barata, com uma cesta a R$ 643,67 (+0,87%). O leve aumento foi motivado pelos preços da farinha de trigo (+21,74%), tomate italiano (+17,24%) e leite longa vida (+9,00%).
A cesta na região Sul teve custo médio de R$ 713,69, alta de 3,95% em relação a janeiro. As regiões Leste e Oeste também tiveram alta de preços, ficando em R$ 741,02 (+4,71%) e R$ 663,59 (+2,01%), respectivamente.
A banana nanica também prejudicou a conta final, disparando 10,27% este mês devido a um reajuste da Associação Central dos Fruticultores do Norte de Minas (Abanorte) frente às chuvas de granizo e ventanias registrados nos dias 13 e 14 de fevereiro, que impactaram na produção da fruta. Por outro lado, o feijão carioca teve queda de 4,73% e o óleo de soja, de 7,11%, devido às safras recordes em 2023 e menor demanda externa pela China.
“O Comitê de Política Monetária (Copom) vem apontando as temperaturas mais altas e da mudança no ritmo pluviométrico como causas para o aumento do custo médio dos alimentos, em especial dos itens que têm origem no campo. O clima, de fato, tem impactado as colheitas e os valores finais que chegam ao consumidor”, explica Livia Piola, analista do IEMB–Acirp.
No panorama geral da cesta básica, as carnes correspondem a 35,94% do orçamento total, seguidas por frutas e legumes (31,55%), farináceos (18,75%), laticínios (5,81%), leguminosas (4,76%), cereais (2,5%) e óleos (0,69%).
Segundo cálculos estimados pelo IEMB–Acirp, em fevereiro de 2024 a cesta de consumo alimentar respondeu por 53,79% do poder de compra do trabalhador que ganha um salário mínimo bruto de R$1.412,00 (considerando-se a remuneração líquida de R$1.305,82, deduzidos os 7,52% da contribuição à Previdência Social).
“Foi uma alta de 1,3 pontos percentuais em um mês. Em carga horária, equivale a trabalhar 118,35 horas das 220 horas previstas na jornada do assalariado só para comprar comida”, destaca Piola.
A analista lembra ainda que o tomate italiano teve alta média de +14,98% devido à queda nas produções no Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais provocada pela chuva intensa. O açúcar cristal foi outro vilão geral, com aumento médio de 10,79% devido à queda de produção na Índia, que fez elevar em 20% a cotação internacional.
Dados do estudo
Os 13 itens avaliados mensalmente pela Acirp são os mesmos considerados pela cesta descrita no decreto nº 399/1938, que define as quantidades alimentares mínimas necessárias para atender às necessidades nutricionais mensais de um indivíduo de idade adulta.
A cesta inclui carne bovina (6 kg de alcatra), leite longa vida (7,5 litros), feijão carioca (4,5 kg), arroz branco tipo 1 (3 kg), farinha de trigo (1,5 kg), batata inglesa (6 kg), tomate italiano (9 kg), pão francês (6 kg), café em pó (0,6 kg), banana nanica (90 unidades), óleo de soja (0,8 litro), açúcar cristal (3 kg) e margarina (0,75 kg).
Os locais de compra são determinados com base na Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2017-2018. O pão francês é o único item cotado também em padarias, uma vez que 60% dos ribeirão-pretanos preferem comprar este produto nestes estabelecimentos.
IEMB
O Instituto de Economia Maurílio Biagi (IEMB) é um órgão do Departamento de Relações Institucionais da Acirp, entidade que em 2024 completa 120 anos de atuação em Ribeirão Preto. O IEMB-Acirp foi criado em 1954 com objetivo de gerar dados socioeconômicos para orientação na gestão de empresas e da cidade. O Índice Mensal da Cesta Básica do IEMB-Acirp tem sido aferido desde maio de 2023.
CANADÁ - O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, disse, na terça-feira, 20, que está otimista com a possibilidade de queda da taxa de juros neste ano, após dados indicarem desaceleração relevante da inflação em janeiro. O departamento de estatísticas do Canadá revelou que a inflação desacelerou em janeiro para 2,9%, após uma variação de 3,4% no mês anterior.
A desaceleração foi mais pronunciada do que as expectativas do mercado, uma vez que os economistas projetavam 3,3% no primeiro mês do ano.
O Banco Central do Canadá deixou sua taxa de juros inalterada no mês passado em 5%, enquanto busca atingir uma inflação de 2%, ou o ponto médio da faixa entre 1% e 3%. A próxima decisão de política monetária do BC canadense está prevista para 6 de março.
“Estamos otimistas que o Banco do Canadá começará a reduzir as taxas de juro em algum momento deste ano – esperemos que mais cedo do que tarde”, disse Trudeau em evento para anúncio de financiamento para a construção de casas em Vancouver, na Colúmbia Britânica. Fonte: Dow Jones Newswires.
EUA - A inflação ao consumidor (Consumer Price Index, CPI) ficou acima do esperado em janeiro. O índice cheio variou 0,3% no mês, acima das expectativas e da variação de dezembro, que eram de 0,2%. Em 12 meses, o CPI geral desacelerou para 3,1% ante os 3,4% nos 12 meses até dezembro, mas ficou acima dos 2,9% esperados.
O “núcleo” da inflação, que não considera os preços mais voláteis dos alimentos e da energia, também ficou acima das projeções. A variação de janeiro foi de 0,4%, acima dos 0,3% previstos e dos 0,3% de variação em dezembro. No acumulado de 12 meses, o “núcleo” do CPI subiu 3,9%, mesma variação até dezembro, mas acima dos 3,7% projetados.
A inflação acima do previsto está afetando os preços das ações no início do pregão nos Estados Unidos. Os contratos futuros do índice americano S&P 500 estavam caindo 1,25% às 11h (hora de Brasília). A inflação acima do esperado tornou menos provável uma redução dos juros pelo Federal Reserve (FED), o banco central americano nas reuniões de março e de maio, o que afeta os preços das ações.
Segundo analistas, os diretores do FED podem interpretar a inflação de janeiro como um sinal de que precisam de permanecer cautelosos com os juros. Jerome Powell, presidente do FED, e seus colegas, têm evitado dizer que a inflação voltou às metas. Eles insistem em que precisam de mais provas de baixa dos preços antes de começar a reduzir os juros.
Os juros americanos vêm subindo desde o início de 2022. As taxas referenciais (“FED Funds”) estavam a zero no início do ano retrasado, mas foram progressivamente elevadas até atingir o patamar atual de 5,25% a 5,50% ao ano em meados de 2023. É o nível mais alto desde 2007, e foi a maior elevação sistemática dos juros desde a década de 1970.
O aperto dos juros desacelerou a inflação para os níveis atuais. Os índices chegaram a registrar quase 10% em 12 meses em meados de 2022, e agora os investidores especulam quando as taxas vão começar a cair. No fim de 2023 a expectativa era de uma queda já na reunião do FED agendada para 19 e 20 de março, mas as declarações de Powell e seus colegas fizeram o mercado adiar essa projeção para maio. Agora, com a inflação acima do esperado, é provável que os investidores refaçam suas contas, o que vai provocar oscilações nos preços.
Cláudio Gradilone / FORBES BRASIL
ALEMANHA - A inflação da zona do euro pode cair mais rápido do que o esperado este ano uma vez que o crescimento econômico permanecerá anêmico, de acordo com uma série de pesquisas e indicadores nesta sexta-feira, reforçando as apostas de um início antecipado dos cortes nas taxas de juros pelo Banco Central Europeu.
O BCE manteve as taxas de juros na quinta-feira e insistiu que até mesmo uma discussão sobre cortes é prematura porque as pressões sobre os preços ainda não foram totalmente extintas.
Mas novos números mostram que a inflação está esfriando rapidamente, o crescimento está anêmico e o aumento dos empréstimos está, na melhor das hipóteses, saindo do fundo do poço após um 2023 excepcionalmente fraco.
Uma pesquisa do BCE agora vê a inflação em 2,4% este ano, abaixo dos 2,7% observados há três meses e dos 2,7% projetados pela equipe do BCE.
Em 2025, o aumento dos preços poderia então ser em média de 2,0%, na meta do BCE, de acordo com a Pesquisa de Analistas Profissionais, um dado importante para as deliberações de política monetária do banco.
"Quanto mais avançarmos em 2024, maior será a chance de um corte de juros", disse Gediminas Simkus, membro do Conselho do BCE.
"O aumento das chances é exponencial, e não linear", disse Simkus, considerando quase certo um corte em 2024, mesmo que março não seja a data apropriada para começar.
Essa redução na perspectiva de inflação foi consistente com os resultados de uma pesquisa separada de contatos do BCE com empresas e corresponde às opiniões de muitos economistas do mercado.
"Os contatos relataram que o crescimento dos preços de venda permaneceu moderado no quarto trimestre de 2023, com a expectativa de um pouco mais de flexibilização no curto prazo", disse o BCE.
Muitos economistas argumentam que o BCE está excessivamente pessimista em relação à inflação uma vez que o crescimento fraco, a moderação dos preços das commodities, o crescimento dos salários menor do que o temido e o impacto dos aumentos anteriores das taxas de juros apontam para que a alta dos preços volte à meta de 2% do BCE antes de sua projeção para 2025.
Na verdade, a pesquisa dos analistas prevê um crescimento econômico anêmico neste ano e o PIB deve crescer 0,6% em 2024, menos do que os 0,9% da previsão anterior. Em 2025, eles veem um crescimento de 1,3%, abaixo dos 1,5% de antes.
Novos números de empréstimos também foram consistentes com o quadro geral de baixo crescimento alimentando a desinflação.
Os empréstimos para empresas expandiram apenas 0,4% em dezembro, enquanto o crescimento dos empréstimos para famílias desacelerou de 0,5% para 0,3%.
Embora esses números apontem para uma atividade fraca, os números corporativos incluíram um lado positivo, já que o volume mensal de empréstimos foi o maior em mais de um ano.
Ainda assim, a pesquisa corporativa apontou para a continuação da estagnação econômica.
"Os contatos pintaram um quadro praticamente inalterado de estagnação ou ligeira contração da atividade no quarto trimestre de 2023, com pouca ou nenhuma recuperação esperada no primeiro trimestre de 2024", disse o BCE.
(Reportagem adicional de Andrius Sytas)
por Por Balazs Koranyi / REUTERS
BRASÍLIA/DF - A inflação do país foi de 0,56% em dezembro. Com isso, o IPCA fechou 2023 com alta acumulada de 4,62%, dentro do intervalo da meta da inflação determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que era de 3,25%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, ou seja, entre 1,75% e 4,75%. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado ontem (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em dezembro, todos os nove grupos de produtos e serviços analisados pela pesquisa registraram alta. A maior veio de alimentação e bebidas (1,11%), grupo que acelerou em relação ao mês anterior (0,63%) e exerceu o maior impacto sobre o resultado geral (0,23 ponto percentual). Com o aumento nos preços da batata-inglesa (19,09%), do feijão-carioca (13,79%), do arroz (5,81%) e das frutas (3,37%), a alimentação no domicílio subiu 1,34%. Por outro lado, o preço do leite longa vida baixou pelo sétimo mês seguido (-1,26%).
“O aumento da temperatura e o maior volume de chuvas em diversas regiões do país influenciaram a produção dos alimentos, principalmente dos in natura, como os tubérculos, hortaliças e frutas, que são mais sensíveis a essas variações climáticas”, explicou, em nota, o gerente do IPCA, André Almeida.
“No caso do arroz, que registrou alta pelo quinto mês seguido, a produção foi impactada pelo clima desfavorável”, disse o pesquisador. “Já a alta do feijão tem relação com a redução da área plantada, o clima adverso e o aumento do custo de fertilizantes”, completou.
No mesmo período, a alimentação fora do domicílio (0,53%) acelerou frente ao mês anterior (0,32%), com as altas do lanche (0,74%) e da refeição (0,48%). Esses dois itens também tiveram aumento na comparação com novembro.
No grupo dos transportes (0,48%), o segundo que mais contribuiu para o índice geral 0,10 pontos percentuais (p.p), as passagens aéreas (8,87%) continuaram subindo. Dezembro foi o quarto mês seguido com variações positivas desse subitem, que representou o maior impacto individual sobre a inflação do país (0,08 p.p.). Por outro lado, todos os combustíveis pesquisados (-0,50%) tiveram deflação: óleo diesel (-1,96%), etanol (-1,24%), gasolina (-0,34%) e gás veicular (-0,21%).
“Pelo fato de a gasolina ser o subitem de maior peso entre os 377 pesquisados pelo IPCA, com essa queda, ela segurou o resultado no índice do mês”, ressaltou André. Em dezembro, os preços desse combustível caíram pelo terceiro mês consecutivo.
Já em habitação (0,34%), que desacelerou na comparação com novembro (0,48%), os destaques foram as altas da energia elétrica residencial (0,54%), da taxa de água e esgoto (0,85%) e do gás encanado (1,25%). Os demais grupos registraram os seguintes resultados: artigos de residência (0,76%), vestuário (0,70%), despesas pessoais (0,48%) saúde e cuidados pessoais (0,35%), educação (0,24%) e comunicação (0,04%).
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) registrou alta de 0,55% em dezembro, acima do resultado do mês anterior (0,10%). O índice acumulou aumento de 3,71% no ano, abaixo do registrado no ano anterior (5,93%). No acumulado de 2023, houve alta de 0,33% nos produtos alimentícios e de 4,83% nos não alimentícios. “O resultado acumulado do ano do INPC ficou abaixo do IPCA principalmente por conta do maior peso que o grupo alimentação e bebidas tem dentro da cesta”, explicou o pesquisador.
Em dezembro do ano passado, os preços dos produtos alimentícios aceleraram (de 0,57% para 1,20%). Os não alimentícios também registraram variações maiores (0,35% em dezembro contra -0,05% no mês anterior).
Por Ana Cristina Campos – Repórter da Agência Brasil
SÃO PAULO/SP - O El Niño, fenômeno natural responsável pelo aumento das temperaturas do oceano Pacífico, surgiu mais forte do que o esperado e tem causado fortes chuvas na região Sul e um clima quente e seco no restante país.
Segundo especialistas ouvidos pelo R7, a permanência do cenário põe a agricultura em estado de alerta e ameaça o bolso dos brasileiros nos próximos meses. O real arrefecimento dos efeitos climáticos é estimado apenas para fevereiro.
Alê Delara, diretor da Pine Agronegócios, explica que o efeito surpreendente do fenômeno resultou no aquecimento do oceano em um nível 1,5ºC superior à previsão inicial, de 0,5ºC. "Veio um 'Super El Niño', com um aumento de até 2ºC nas temperaturas [do Pacífico]", diz ele.
Para André Braz, coordenador dos índices de preços do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), o El Niño mais rigoroso tem potencial para comprometer parte da safra de 2024, a depender do volume de chuvas nos últimos dias deste ano, e impactar diretamente o preço dos alimentos.
"Se essa frente fria não for muito significativa, a situação pode se complicar, porque, se não chover agora, o enchimento dos grãos é comprometido, e, consequentemente, podemos ter um preço mais alto das commodities em 2024", afirma Braz. "Se as chuvas realmente ocorrerem, a pressão dos preços tende a ser menor", complementa Delara, na mesma linha de raciocínio.
O BC (Banco Central) também demonstra preocupação com o possível impacto do fenômeno climático nos preços. "O Comitê, após acumular mais evidência, elevou um pouco o impacto inflacionário do fenômeno climático do El Niño sobre a inflação de alimentos", destaca um trecho da última ata do Copom (Comitê de Política Monetária).
O cenário também foi listado no RTI (Relatório Trimestral de Inflação) divulgado na quinta-feira (21) como uma das preocupações para o futuro dos preços no Brasil. "Eventos climáticos e, especificamente, a chegada do El Niño têm ampliado as preocupações com a oferta global de grãos, como trigo, milho, arroz, soja, café e açúcar", diz o texto.
Na tentativa de driblarem os efeitos climáticos, produtores do Centro-Oeste têm assumido parte da plantação do arroz, historicamente realizada no Sul, região muito afetada pelas chuvas. “O arroz subiu muito no mundo inteiro, e os produtores com alguma condição migraram para o arroz e não estão finalizando o plantio da soja. A depender da área plantada, isso pode compensar, em parte, a redução de produtividade do Rio Grande do Sul”, relata Delara.
O movimento tende a agravar a situação da inflação de alimentos, que voltou a subir nos últimos dois meses, após uma sequência de quatro deflações apuradas entre junho e setembro. Em novembro, a alta de 0,63% do grupo de alimentação e bebidas guiou o avanço de 0,28% do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação oficial do Brasil.
"O El Niño já reflete parte dessas variações, mas não muito, porque nessa época do ano é comum existir uma redução da oferta de alguns alimentos devido ao calor. A questão é que o fenômeno intensifica as temperaturas, o que acaba prejudicando os preços além do previsto. Não dá para culpar 100% o El Niño", explica Braz, ao ressaltar que parte da inflação do período é sazonal.
Efeito cascata
Como consequência dos impactos do El Niño nas lavouras de soja e milho, a tendência se reflete na possível contaminação dos preços da carne, do frango, dos ovos e de outros alimentos, já que as rações utilizadas na alimentação do gado e das aves são produzidas a partir das duas commodities.
"A oferta dessas commodities vai influenciar diretamente nos produtos que os consumidores compram nos supermercados, como as carnes, o óleo de soja, os derivados de milho e as massas, que devem aumentar de preço no primeiro semestre de 2024", prevê Delara.
André Braz reforça que o milho e a soja são a base do trato animal na pecuária, e as eventuais altas chegam, inevitavelmente, até o bolso das famílias. "É provável que os preços de todos os derivados avancem, porque as aves dependem do milho para a produção de ovos, e isso afeta outros alimentos."
O pesquisador da FGV/Ibre destaca ainda que as proteínas são os produtos mais afetados pelo efeito dominó. "Neste ano, a situação foi favorável, porque o milho e a soja caíram muito de preço. Graças a essa queda de quase 30%, as carnes não foram as vilãs da inflação", recorda.
O diretor da Pine Agronegócios estima ainda que o efeito cascata envolva algumas hortaliças, que já tiveram movimento de alta, e outros grãos. "O feijão pode ser impactado, porque o atraso do plantio da soja vai retirar uma parte da janela de plantio do milho de primeira safra", observa ele.
Alexandre Garcia, do R7
TÓQUIO - O núcleo da inflação no Japão desacelerou acentuadamente em novembro, atingindo um ritmo nunca visto em mais de um ano, mostraram dados nesta sexta-feira, destacando a diminuição das pressões de custo que podem dar ao banco central mais tempo antes de eliminar gradualmente seu estímulo monetário.
Embora os preços dos serviços tenham continuado a subir, alguns analistas duvidam que o aumento acelere o suficiente para criar uma inflação mais impulsionada pela demanda, vista como um pré-requisito para que o Banco do Japão abandone a política monetária ultrafrouxa.
"A inflação está caindo à medida que os fatores do lado da oferta que impulsionaram os preços desaparecem. Enquanto isso, as evidências de inflação impulsionada pela demanda, um subproduto dos fortes gastos domésticos e ganhos salariais, continuam preciosamente escassas", disse Jeemin Bang, economista associado da Moody's Analytics.
"Nosso cenário básico é de que o Banco do Japão abandonará as taxas de juros negativas em 2024, mas esperamos que o banco central mantenha algum nível de apoio, dado o estado fraco da economia."
O núcleo do índice de preços ao consumidor, que exclui os alimentos frescos, mas inclui os custos de combustível, aumentou 2,5% em novembro em relação ao ano anterior, correspondendo às previsões do mercado e desacelerando em relação ao ganho de 2,9% em outubro. Esse foi o ritmo mais lento de aumento desde a taxa de 2,4% registrado em julho de 2022.
O detalhamento dos dados mostrou que os preços de bens aumentaram 3,3% em novembro em relação ao ano anterior, mais devagar do que o avanço de 4,4% em outubro, devido à queda dos custos de combustível e à moderação dos aumentos de alimentos.
No entanto, a inflação de serviços acelerou para 2,3% em novembro, de 2,1% no mês anterior, ressaltando a opinião do banco central de que as perspectivas de salários mais altos estão estimulando algumas empresas a repassar o aumento dos custos de mão de obra.
O Japão tem visto a inflação se manter acima de 2% desde abril do ano passado e algumas empresas sinalizaram sua disposição de continuar aumentando os salários, elevando a chance de que o banco central finalmente abandone seu status de exceção entre os bancos centrais globais.
No entanto, o Banco do Japão manteve a política monetária ultrafrouxa na terça-feira e o presidente Kazuo Ueda não deu indícios de uma saída antecipada, enfatizando que o banco precisa continuar avaliando se um ciclo positivo de inflação e salários se concretizará.
por Por Leika Kihara e Takahiko Wada / REUTERS
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