De acordo com a gastroenterologista Amanda Morêto Longo, substâncias costumam ser usadas sem prescrição médica para aumentar massa muscular.
ARARAQUARA/SP - Os hormônios são substâncias essenciais para o bom funcionamento do nosso corpo e, se estiverem em falta, podem prejudicar muito a qualidade de vida do paciente. Contudo, o abuso dessas substâncias – seja devido às doses irregulares de reposição ou para a aceleração do ganho de massa – pode ser extremamente prejudicial ao fígado.
De acordo com a gastroenterologista Amanda Morêto Longo, o fígado é um órgão localizado no lado direito do abdome, que possui diversas funções, sendo que uma delas, e uma das mais importantes, é o comando metabolismo do corpo humano, incluindo as substâncias ingeridas ou injetáveis. Dessa maneira, o fígado é o grande maestro da metabolização das altas doses de hormônios inseridas no corpo.
“Existem hormônios femininos e masculinos e ambos podem resultar em problemas hepáticos se repostos de maneira inadequada e sem vigilância. No entanto, a situação mais comum de lesão no fígado associada a essas substâncias é o uso de hormônios esteroides, mais conhecidos como anabolizantes, ou seja, a testosterona, para aumentar a massa muscular”, diz.
Segundo a médica, a reposição de testosterona sem indicação pode trazer diversos problemas, tais como infertilidade, problemas psiquiátricos, câncer hepático, além de poder desencadear problemas do coração e nos rins.
As lesões hepáticas por uso de anabolizantes podem gerar quatro principais sinais: alteração nos exames básicos do fígado sem trazer sintomas; coloração amarelada na pele (icterícia); lesões hipervasculares no fígado, chamadas de Peliose Hepática, que podem causar sangramentos no abdome; e também os tumores hepáticos.
“A alteração das enzimas do fígado e a pele amarelada, na grande maioria das vezes, são reversíveis quando interrompemos o uso do anabolizante, podendo demorar algum tempo até a normalização total. Já a Peliose Hepática é parcialmente reversível, enquanto os tumores, quando são formados, são mais difíceis de desaparecerem”, explica.
De acordo com Amanda, o tratamento dessas lesões, infelizmente, é feito apenas com o suporte clínico e vigilância laboratorial, por parte do médico. O primeiro passo é interromper a droga e fazer o acompanhamento com o especialista, que é capaz de dar o diagnóstico certeiro e diferencial de outras doenças.
“O que os hepatologistas e os gastroenterologistas veem quando chega um paciente por uso abusivo de hormônios é só a ponta do iceberg. Se tivesse o acompanhamento de um endocrinologista, por exemplo, a gente não encontraria essas alterações, porque elas são previsíveis e passíveis de intervenção precoce, pois existem indicações precisas da reposição de testosterona. O foco no aumento de massa magra, definitivamente não é uma dessas indicações. Quando o uso é feito sem orientação médica, o paciente chega muito fora dos padrões e descompensado, clinicamente”, explica.
Reposição acompanhada
Existem várias situações em que os médicos podem solicitar a reposição dos hormônios com acompanhamento, como durante a menopausa, no caso das mulheres, ou pela dificuldade em produção da testosterona devido a alguma doença nos testículos, no caso dos homens.
“As reposições são ditadas por ginecologistas e endocrinologistas e são constantemente monitoradas. Por isso, na grande maioria das vezes, a gente consegue antever esses problemas com relação ao fígado e, normalmente, intervir antes que evoluam”, explicou.
Para evitar lesões hepáticas graves devido ao uso de substâncias, a gastroenterologista aconselha que os pacientes que precisam de reposição procurem um profissional especializado e evitem consumir sem prescrição médica.
“Qualquer substância que a gente ingira, seja remédio, erva, substâncias injetáveis ou mesmo o anabolizante podem prejudicar seriamente o fígado. Por isso, é importante que um médico seja consultado para fazer o acompanhamento das condições hepáticas e de possíveis danos ao bom funcionamento do organismo”, diz.
Quem é Dra. Amanda Morêto Longo?
Formada em 2012 pela Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM), Amanda Morêto Longo fez residência de clínica médica pelo Hospital da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e, na sequência, de Gastroenterologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Possui fellowship na Unidade de Gastroenterologia do Hospital Clinic de Barcelona, na Espanha. É especialista titulada pela Federação Brasileira de Gastroenterologia e também é doutoranda em Hepatologia pela Faculdade de Medicina da USP.
Atualmente, faz parte do corpo clínico da GastroVita Araraquara, é médica assistente do Hospital Estadual de Américo Brasiliense e professora da disciplina e do internato de Gastroenterologia, do curso de medicina, da Universidade de Araraquara (Uniara).