SÃO CARLOS/SP - A Matemática é frequentemente percebida como um "bicho de sete cabeças" por muitos estudantes, uma visão que costuma desencorajar e criar barreiras no processo de aprendizagem. Essa percepção negativa pode ser atribuída a vários fatores, incluindo métodos de ensino pouco inspiradores, falta de compreensão dos conceitos fundamentais e uma abordagem que não conecta a Matemática com a vida cotidiana dos alunos.
Nesse contexto, a grande questão que comumente perturba os professores é: como desmistificar a aprendizagem da Matemática? "O primeiro passo para os professores encararem esse problema está em refletir se a dificuldade de aprendizagem do estudante não começa pelo próprio professor, inseguro no que acha que está ensinando. Para melhorar a aprendizagem, é preciso entender o ensino em si. O ensino não pode ser encarado, nem praticado, apenas como uma transmissão de informações - de quem sabe para quem não sabe -, nem como um mero treinamento do que se tem que fazer, descontextualizado, sem que o aluno se convença do porquê e para que", indica Yuriko Baldin, Professora Sênior do Departamento de Matemática (DM) da UFSCar e que há mais de 20 anos se dedica a pesquisar sobre o ensino de Matemática, a formação inicial e continuada de professores, o desenvolvimento de materiais didáticos, a utilização das tecnologias no ensino da Matemática, entre outros temas relacionados.
Pesquisas mostram que a ansiedade matemática é uma realidade para muitos estudantes. Essa ansiedade pode ser alimentada por experiências anteriores frustrantes, pressão para ter um bom desempenho e uma abordagem pedagógica que prioriza a memorização em vez da compreensão profunda dos conceitos. Em muitos casos, a Matemática é ensinada de forma fragmentada, com pouca ênfase na aplicação prática, o que pode levar os alunos a ver a disciplina como um conjunto de regras abstratas sem conexão com o mundo real.
De acordo com Baldin, diante dessa realidade, muitas alternativas metodológicas são recomendadas, como centrar o planejamento das aulas em torno da Resolução de Problemas (aprendizagem matemática que parte de uma situação-problema, discutida e questionada, para se chegar ao resultado); Problemas de modelagem (estratégia de ensino que relaciona situações do dia a dia do estudante a conteúdos matemáticos); aplicações interdisciplinares, projetos e discussões em grupo, uso de tecnologias digitais, utilização de recursos lúdicos, entre outros.
"Não existe receita única ou fixa, mas o caminho está em centrar o ensino em Resolução de Problemas planejados para desenvolver o pensamento matemático, isto é, a compreensão dos conceitos que estão subjacentes na situação proposta; usar o conhecimento prévio dos estudantes; explorar o problema com questionamentos para descobrir respostas às perguntas levantadas, estimulando o pensamento crítico. Esse enfoque da Resolução de Problemas é a base de qualquer atividade matemática. E é disso que as salas de aula estão precisando", defende a pesquisadora da UFSCar.
Além disso, integrar tecnologias e ferramentas digitais no ensino pode tornar a Matemática mais atraente. Jogos matemáticos, simulações e softwares educacionais podem ajudar os alunos a visualizar conceitos abstratos e a praticar habilidades de forma divertida. "Há uma preocupação cada vez mais forte com a presença de tecnologias digitais no ambiente educacional. Para mim, as tecnologias digitais são ferramentas auxiliares na comunicação, e especialmente o uso pedagógico de programas e ferramentas computacionais na resolução de problemas é o modo correto de encará-las", aponta Baldin. Ainda de acordo com ela, as tecnologias digitais não podem substituir a figura humana na relação professor-aluno no processo de ensino e aprendizagem. "Elas existem para apoiar o estudo, e logo, o ensino e a aprendizagem podem, sim, ser modificados ou adaptados pelo uso das tecnologias, mas não devemos esquecer a essência do conhecimento matemático para o desenvolvimento do estudante. Assim, as tecnologias devem ser usadas sempre considerando quais são os objetivos de aprendizagem", enfatiza.
Mas, os professores foram capacitados para dar conta dessas demandas? "Claro que não". Estão sendo assistidos para usar todos os recursos nas suas salas de aula, de maneira confiante? "Também, não. E documentos de recomendação não são suficientes", responde Baldin. Para ela, "deve haver um esforço coletivo de todas as camadas do sistema educacional para entender as possibilidades, e também as limitações, na construção da aprendizagem dos próprios professores que signifique aprendizagem dos alunos. Nesse esforço coletivo, precisa haver harmonia entre os processos de avaliação eficientes que não apenas apontem lacunas de conhecimento, mas também que sirvam de base para elaborar materiais de ensino adequados".
Formação de professores
No que se refere à formação inicial dos professores, a pesquisadora da UFSCar acredita que as licenciaturas precisam ter como meta a educação de um professor preparado para o futuro, não se resumindo em um retrato da formação que foi válida no passado. "É preciso estimular o entendimento da Matemática como conhecimento da humanidade que perpassa a História, e que continua na base do progresso; e permitir a compreensão do que deve ser trabalhado na sala de aula para que os alunos estejam preparados para usar o conhecimento em desafios futuros".
Ao mesmo tempo, a "educação continuada é extremamente importante, sendo uma missão da Universidade e da sociedade para sustentar os professores que estão no presente na linha de frente dos desafios educacionais que nem imaginavam quando estavam se formando. É o que se chama de programas de desenvolvimento profissional, grande foco das pesquisas em Educação Matemática em nível mundial", conclui Baldin.
Os desafios do ensino da Matemática e da formação de professores, além das pesquisas de ponta e os caminhos para a extensão universitária na área são tema de muitas atividades da XI Bienal de Matemática, que está acontecendo na UFSCar até o dia 2 agosto. As discussões indicam que com uma abordagem pedagógica inovadora baseada em resolução de problemas e centrada no aluno, o uso de tecnologias educacionais, a conexão com o mundo real e o suporte adequado, é sim possível transformar o ensino da Matemática. Saiba mais em https://sbm.org.br/xi-bienal/.
País tem o melhor histórico da América Latina na competição, reflexo de treinamento e mentoria de professores e de executivos da Giant Steps, maior gestora quantitativa da América Latina
SÃO PAULO/SP - Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil conquistou o ouro na Olimpíada Internacional de Matemática (IMO), maior competição de exatas do mundo a nível estudantil. Além disso, a equipe também conquistou 2 medalhas de prata e 3 de bronze.
Os resultados foram conquistados na 64ª edição da IMO, realizada em Chiba, no Japão, e são reflexo de muito treinamento, dedicação e investimento. A delegação que representou o Brasil na competição foi selecionada entre os melhores estudantes de exatas do país, todos são vencedores da desafiadora Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM). E, antes de partirem para o Japão, os alunos receberam um treinamento intensivo oferecido pela Associação Olimpíada Brasileira de Matemática (AOBM) e pela Giant Steps, maior gestora quantitativa da América Latina.
O primeiro ouro conquistado pelo Brasil foi em 1981. Desde então, o país conquistou 158 medalhas, sendo 14 de ouro, 55 de prata e 89 de bronze, além de 35 menções honrosas. Resultados que tornam o Brasil o país latino-americano com melhor retrospecto na história da IMO.
Mestrado profissional é desenvolvido em rede nacional, e UFSCar tem vagas em São Carlos e Sorocaba
SÃO CARLOS/SP - Até o dia 18 de dezembro, às 17 horas, estão abertas as inscrições no exame nacional de acesso para ingresso em 2021 (ENA 2021) no Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (Profmat). O curso tem como objetivo proporcionar formação matemática aprofundada relevante para o exercício da docência na Educação Básica, especialmente a docentes de escolas públicas que buscam aprimoramento.
O Profmat é desenvolvido por meio de uma rede de instituições de Ensino Superior que, para 2021, estão oferecendo um total de 1.400 vagas. Destas, 20 são para a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), sendo 10 no Campus São Carlos e 10 no Campus Sorocaba. O curso é semipresencial, e as aulas em São Carlos e Sorocaba estão previstas para acontecer às sextas-feiras. O Mestrado Profissional foi avaliado com conceito 5 pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), nota máxima para programas com curso de mestrado apenas.
Excepcionalmente no contexto da pandemia de Covid-19, o exame nacional para as vagas de algumas instituições, incluindo a UFSCar, será realizado em duas fases. A primeira, eliminatória, será realizada online no dia 9 de janeiro, com questões de múltipla escolha. Uma segunda fase, com prova discursiva, está prevista para o dia 30 de janeiro, e acontecerá presencialmente se as condições sanitárias no momento assim o permitirem (caso contrário, também será online).
As inscrições devem ser feitas exclusivamente pela Internet, em www.profmat-sbm.org.br, onde também estão mais informações sobre o Profmat e o edital do processo seletivo. O Profmat é oferecido no contexto do programa Universidade Aberta do Brasil (UAB), da Capes, sob a coordenação da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) e com apoio do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa).
PPGECE
Além das 20 vagas oferecidas pela UFSCar no âmbito do próprio Profmat, o ENA 2021 também constituirá o processo seletivo para outras 20 vagas, 10 em São Carlos e 10 em Sorocaba, oferecidas no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Exatas (PPGECE) da Instituição. Os detalhes deste processo podem ser conferidos no site do PPGECE, em www.ppgece.ufscar.br.
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