SÃO CARLOS/SP - Enquanto os números de casos e de mortes causadas pelo novo coronavírus não param de aumentar no Brasil. Porém, em São Carlos, os casos continuam estabilizados e uma coisa chama atenção dos agentes de saúde das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), pacientes com outras enfermidades estão deixando de buscar atendimento por medo da covid-19. A situação, segundo entidades que representam os estabelecimentos, ameaça o equilíbrio financeiro do setor de saúde suplementar.
De acordo com Secretário de Saúde de São Carlos, Marcos Palermo, o atendimento caiu cerca de 60%. “Ivan Lucas, cerca de 60% no atendimento nas UPAs. As pessoas estão se conscientizando, antigamente as pessoas que tinham uma simples dor como uma dor no calcanhar, por exemplo, eu buscava a UPA, agora as pessoas estão com medo de ir ao equipamento de saúde e se contaminar e talvez pegar um Covid-19 e ir a óbito” disse secretário.
MEDO
O medo existe de ser contaminado pelo vírus e o que acontece em São Carlos acontece em todo Brasil, tanto no setor público quanto privado. O diretor da Associação Médica Brasileira (AMB), José Bonamigo, disse que muitos pacientes adiaram não só os atendimentos mais simples, mas também os de maior complexidade – o que, segundo ele, deixou ociosos alguns serviços médicos não voltados ao atendimento de pessoas com síndromes respiratórias.
“Há muitos hospitais e clínicas de medicina diagnóstica particulares querendo desesperadamente retomar suas atividades porque estão enfrentando dificuldades financeiras devido à redução expressiva do número de atendimentos. Temos notícias de que, em São Paulo, alguns hospitais reduziram a carga horária de alguns profissionais. E até mesmo de alguns casos de demissões – o que parece surpreendente considerando o momento”, afirmou Bonamigo.
Marco Aurélio Ferreira, da Anahp, diz não ter conhecimento de demissões em hospitais particulares. “Estamos vendo muitos hospitais privados contratando profissionais para o lugar daqueles que foram atingidos pelo novo coronavírus. Hoje, cerca de 3% dos nossos profissionais [que atendem a pessoas infectadas pelo novo coronavírus ou suspeitas de terem contraído a covid-19] estão afastados por causa da doença ou da suspeita de estarem doentes. A respeito de demissões em outros setores [cujos médicos não atendem aos infectados], não tenho informação”.
O diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), Gerson Salvador, confirma as demissões, embora afirme que a entidade não tem números. De acordo com Salvador, os maiores prejudicados foram os profissionais que atuam com procedimentos eletivos, entre eles anestesistas – informação mencionada também por Bonamigo, da AMB. “Um absurdo, pois ninguém tem tanta habilidade ao entubar um paciente quanto esses médicos, que podem vir a ser fundamentais na linha de frente do tratamento de pessoas com a covid-19”, diz Salvador.
Entrevistados pela Rádio Sanca mencionaram o receio de ir até os equipamentos públicos e ser infectado pelo covid-19.
“Só vou no último caso mesmo, pois não sabemos o que vamos encontrar na UPA. As pessoas podem estar apenas resfriadas, mas podem estar com coronavírus. Eu tenho medo, pois estou no grupo de risco pela minha idade” afirmou Maria Inês.